FIGURAS
MARCANTES
FRANCISCO
GOMES
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Molim e albarda, símbolos do albardeiro |
Nasceu em 1813 e por voltas de meados do século era
considerado albardeiro, uma profissão que admitimos não tivesse falta de
ocupação.
Em 1840 exercia a função de cabo de polícia ou seja
representante do Regedor da Freguesia, entidade policial.
Foi
descobridor com outros, entre os quais, Justo António Torres que foi Presidente
da Câmara de Alcoutim e Administrador do concelho e que era tio, entre outros
de Manuel António Torres, em 1859 de uma mina na Herdade das Provenças,
proximidades de Afonso Vicente que José Gato, morador nos Tacões, traz de foro
à Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim.(Sessão da CMA de 23 de Setembro de
1859)
Em
29 de Junho de 1850 é fiador de João Carlos de Freitas de Afonso Vicente que
arrematou a “Renda do Ver do Limite de Baixo” por 204$000.
A
referida “Renda” tinha a ver com a transgressão das pastagens. Os possuidores
dos gados encontrados nessa situação eram acoimados
revertendo para o arrematante a multa que aplicava. Tinha, por isso, de estar
atento para cobrir a verba da arrematação recolhendo como produto do seu
trabalho o excesso que alcançasse.
Em
1860 fazia parte da Junta de Paróquia de S. Salvador de Alcoutim juntamente com
Bento Afonso do Montinho dos Balurcos, José Dias da Corte das Donas e Manuel
Gomes, possivelmente da mesma família e de Afonso Vicente. Nesta altura
Francisco Gomes estaria a residir nas Cortes Pereiras. (Sessão de 4 de Janeiro
de 1860)
Em
29 de Junho de 1874 arrematou a “Renda do Ver do Limite de Baixo” por 250$000
réis.
MANUEL GOMES
Possivelmente
familiar do anterior, talvez irmão. Em 1860 pertencia à Junta de Paróquia de
Alcoutim e quando Francisco Gomes vivia nas Cortes Pereiras.
Em 1853 era considerado lavrador e foi fiador de
Domingos Dias Sequeira, de S. Martinho que arrematou a “Renda do Ver do limite
de baixo (do concelho)”.
Manuel
Gomes manifestou-se na Câmara de Alcoutim como apoiante do Movimento do Minho
(Maria da Fonte), pugnando pela Carta Constitucional. (Reunião Extraordinária
de 23 de Outubro de 1846).
MANUEL BARTOLOMEU
Em
1836 e 1838 exerceu as funções de cabo de polícia.
Por
ser considerado pessoa de conhecimentos de “rústica” foi nomeado com mais dois
pela Câmara Municipal, para proceder à divisão da Herdade dos Coitos em
courelas (1854.05.24) com vista a serem arrendadas, o que não veio a
verificar-se pelo levantamento que o povo do Coito e Santa Marta originaram.
Um
ano depois é nomeado informador louvado na freguesia de Alcoutim (avaliador
oficial de propriedade urbana e rústica com intervenção nas matrizes prediais)
funções que continuava a exercer em 1865. (Sessão da CMA de 3 de Setembro)
Em
1871 com outro foi fiador de José Martins Coelho de São Martinho da “Renda do
Ver do Limite de Baixo”. (CMA, Sessão de 16 de Julho de 1871)
FRANCISCO RIBEIROS
Era
em 1887 um dos maiores 40 contribuintes do concelho.
Pela
cheia do Guadiana de 1876/77 foi o mais prejudicado proprietário do “monte” e a
grande distância de todos os outros e isto devido às várzeas que possuía no
rio.
Devia
ter sido apoiante de D. Miguel Angel de Leon pois esteve sob a sua orientação o
arranjo nos poços públicos de Cortes Pereiras, Afonso Vicente e Santa Marta,
incluindo o pagamento adiantado que depois foi satisfeito pela Câmara. A cal e
os ladrilhos do de Afonso Vicente montaram a 2.150$000 réis (21)
VIRGOLINO GONÇALVES
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Afonso Vicente. Rua do Alto. Local onde se encontrava a casa onde morou o Ti Virgolino. Foto de JV, 1989 |
Por estas pequenas povoações
ficam sempre retidas na memória de quem as conheceu determinadas pessoas que
por qualquer circunstância faziam a diferença entre as demais.
Esta transmissão tinha lugar
antigamente em duas ou três gerações mas com a desertificação em fase adiantada
o corte de memória acontece mais cedo.
O Ti Virgolino é uma dessas
figuras que ainda hoje é lembrada pelos poucos habitantes do “monte”.
Chamava-se Virgolino
Gonçalves mas todos o conheciam por ti Virgolino. Nasceu por volta dos anos 80
do século XIX e teria falecido cerca de 1965.
E qual a razão para que isso
aconteça?
Numa região que nunca foi
vinhateira e onde o pouco vinho produzido não imperava pela qualidade, que
deixava muito a desejar, o Ti Virgolino “fabricava” o melhor vinho conhecido
nas redondezas e muito apreciado por caçadores vindos de fora, como era o caso
do comerciante de Mértola, António Joaquim Pereira (Feio) que por aqui passavam
dias na actividade cinegética.
Tinha lá o seu processo de
feitura que não era revelado, sabendo-se, contudo, que, além de apanhar a uva
bem madura a deixava uns dias ao sol, o que lhe eliminava parte da água que
continha, aumentando assim o grau alcoólico. A reprodução das cepas fazia-o
pelo sistema de mergulhia.
Um dos pedaços de vinha que
possuía situava-se no Barranco da Lapa.
Solteiro, vivia com uma irmã,
Custódia Castelhana, cujo marido era maioral em Espanha.
Sem descendentes directos, os
sobrinhos que viviam no país vizinho venderam os poucos bens que possuía.
Ainda hoje se houve dizer:
Vinho como o do Ti Virgolino, não havia outro por estes lados!
ALFREDO COSTA
É outra das poucas figuras
ainda hoje lembrada pelos habitantes que restam do “monte”.
Chamava-se Alfredo da Costa e
ainda o conhecemos. Era uma figura meã e sempre com um sorriso nos lábios.
Trabalhou, enquanto pôde, no
campo, lavrando para semear o pão, apanhando mato, o combustível de então para
a confecção das refeições e cozimento do pão. Conhecia bem todas essas tarefas,
desde a lavra aos trabalhos da eira.
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Afonso Vicente. Casa em ruinas que pertenceu e onde residiu Alfredo Costa. Foto JV, 2010 |
Cumpriu o serviço militar
onde aprendeu a ler qualquer coisa. Estava no Porto quando se deu a tentativa de implantação da República. Quiseram-lhe arranjar um lugar para a
“guarda” que declinou, mas que mais tarde se veio a arrepender, como confessava
e justificava.
Casou, não teve filhos e
enviuvou.
Todos os moços do monte eram
amigos do Ti Alfredo pois gostavam de ouvir as suas estórias que transmitia com
propriedade e que tinham sempre uma conclusão lógica e de onde se podia retirar
um ensinamento.
Estavam nestas estórias toda
a sua vivência e experiência de vida. Aplicava ajustadamente alguns rifões que
tinha ouvido aos seus antepassados e aos velhos que escutava.
O Ti Alfredo era aquilo a que
é hábito chamar um “filósofo barato”.
Eis algumas frases e
pensamentos que o ti Alfredo transmitiu aos jovens quando já era entrado na
idade:
O tempo passado esquece e mais tarde ao sentido vem e o
erro só se conhece, quando remédio não tem.
Vive o homem no escuro,
desde que nasce até que morre iludido no futuro e o melhor nunca o discorre.
Já dormi na tua cama e já
mijei no teu penico e já lucrei os teus carinhos e nem por isso sou mais rico.
Vem a morte, acaba a vida,
vem a tumba, leva o corpo e a fazenda para aí fica, faze-a um e estraga-o
outro.
Não se arremata o tempo,
porque o tempo os dá (produtos agrícolas) e o tempo os tira.
Duas
“quadras” feitas e ditas pelo Ti Alfredo:
I
Sem faltas, ninguém nasceu
Sem faltas, não há ninguém
Quem julga que não tem
faltas
É uma falta que tem.
II
A tua mãe não me quer
Porque não tenho fazenda,
Nem a tua mãe é tão rica
Nem tu és tão boa prenda.
Muitas
mais existiram e se perderam e outras que desconhecemos.
Acabou
os seus dias num lar em Vila
Real de Sto. António esta figura ainda lembrada no meio.
MANUEL DO NASCIMENTO MESTRE
Este
poeta popular nasceu em
Afonso Vicente em 1908, filho de Manuel Mestre e de Florência
Maria e faleceu no lar de Alcoutim aos 89 anos.
Pelo
casamento fixou residência no Monte do Poço, nas Cortes Pereiras.
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Afonso Vicente. "Morada de casas" que pertenceu a Manuel do Nascimento Mestre. Foto JV, 2012 |
Conhecê-mo-lo
relativamente bem e por volta de 1987 esteve em nossa casa onde se deslocou no
seu burrinho. Rondava assim os 80 anos e estava razoavelmente bem de saúde. Na
altura, talvez a vista fosse fisicamente a parte mais em decadência.
Conseguimos
recolher nesse dia os seguintes versos:
Mote a glosar.
Alcoutim já construiu
Uma obra de valor
Social e Humanista
P `ro homem trabalhador
I
Troncos
velhos, carcomidos
Movem-se
com lentidão
Da
sala para o salão
E
ficam aí reunidos.
Quase
da vida vencidos
Da
vida que os consumiu
Seus
ais alguém ouviu
Para
a morte esperar
E
para conforto do LAR
Alcoutim já construiu
II
Eu
não me importo de ser pobre
A
riqueza nada me diz
Eu
encontro-me Feliz
E
ter uma alma nobre
Dinheiro
que alguém encobre
É
frio, não tem calor
O
ódio não tem amor
Ter
energia é ter virtude
É
um lar com saúde
Uma obra de valor.
III
Qualquer
pensionista
Se
é homem do Povo
Deseja
um Mundo novo
Mais
fraterno e realista
E
diz a qualquer fadista
Esta
obra tamanha
Maior
que uma montanha
P
`ra esquecer horas amargas
Projectos
de vistas largas
Social e humanista
IV
Nesta
Serra de Sargaço
Algarve
já nordeste
Terra
pobre e agreste
A
quem dou um abraço
Com
estes versos que eu faço
Com
ternura e com amor
Muito
trabalho e suor
P`ra
terra desbravar
E
já tem um novo Lar
P `ro homem trabalhador
Tenho 80 anos de idade
E 70 de trabalhar
Já dei produto à nação
E agora sou sócio do LAR.
Manuel Mestre das Cortes Pereiras
Natural de Afonso Vicente
Foi o autor destas quadras
P `ra ler por aí muita
gente.
Noutra
ocasião fez as seguintes quadras:
I
Viva o nosso Presidente
Que entrou outra vez de
novo
Nós damos-lhe os parabéns
Pois dá grande valor ao
Povo.
II
A vila de Alcoutim estava
morta
E agora tudo vai para a
frente
E a quem tem de se
agradecer
É ao nosso bom Presidente.
III
A estrada das Cortes
Pereiras
Era um beco sem saída
Se não fosse este
Presidente
Nunca mais seria feita na
vida.
IV
Que fazia tanta falta
Já temos uma ponte
Já se pode ali passar
Seja de dia ou de noute.
V
Já temos prédios feitos
Cá na Vila de Alcoutim
E também estrada feita
Em certos caminhos ruins
VI
Viva o nosso Presidente
Criado no Marmeleiro
Foi ele que teve a dita
De contentar o concelho
inteiro.
Não
vamos comentar a rima e muito menos a métrica, interessa-nos sim dar a conhecer
aquilo que alguém escreveu procurando transmitir, através do verso, mais ou
menos bem conseguido, algo que o impressionou.