Qual é a visão que tem da história da sua vida?
Eu sou testemunha de uma época ultrapassada, que conta histórias povoando-as com as suas experiências, as suas recordações, as fábulas que lhe foram transmitidas na infância. A minha vida está cada vez mais desligada do presente. Em Córdova, desde 1989, na sequência de uma exposição e do portfolio Corto em Cordoba, editado pelos meus amigos italianos da libraria parisiense Tour de BabeI, o município cede-me uma residência muito antiga da luderia, o velho bairro judeu. Lá organizo festas, reunindo todo tipo de amigos, desde os santos ébrios às putas moralizantes: gosto de reunir gente diversa, e de provocar assim situações originais. Convido os ciganos, que dançam e tocam uma música que remonta à Idade Média. Em Córdova, não há como os ciganos para poder dar um espectáculo de romanças sefarditas.
Algumas das pessoas que convido são consideradas importantes: homens de negócios apressados, editores sempre entre dois aviões, entre dois contratos. Observam e escutam esse espectáculo, e dizem-me que aquela é que é a verdadeira vida. Eles começam a interrogar-se sobre o seu modo de vida, sobre o interesse real do que fazem, e já não querem saber do trabalho. Essas festas são uma viagem ao passado, uma viagem estética em busca da beleza perdida. E graças a essas festas, a beleza do passado faz-se de novo presente. Nessa música sefardita, no olhar dessa bela judia renasce a luderia de Córdoba. Nessas ciganas de sangue judaico, é Rebeca que está de regresso a Córdova, e Rebeca é sempre bela.
Convoco também as descendentes dos Almorávidas berberes, elas vestem-se como outrora, elas dançam, elas cantam, e através delas Fátima é sempre bela. Lá fora, está muito calor, mas aqui o pátio cheio de sombra está florido todo o ano. Ouve-se o repuxo de água, um cigano toca guitarra, uma nuvem passageira confere uma nova tonalidade aos azulejos. As rolas levantam voo das laranjeiras que rodeiam a mesquita. Essa maravilha de pedra é trabalhada como um bordado, cujos motivos fossem fechaduras: falta apenas a chave para abrir a porta do paraíso muçulmano. No pavimento do pátio -um tapete mineral -as jovens dançam, pavimento do pátio -um tapete mineral -as jovens dançam, e Rebeca e Fátima são sempre belas.
Hugo Pratt, “O desejo de ser inútil”
Eu sou testemunha de uma época ultrapassada, que conta histórias povoando-as com as suas experiências, as suas recordações, as fábulas que lhe foram transmitidas na infância. A minha vida está cada vez mais desligada do presente. Em Córdova, desde 1989, na sequência de uma exposição e do portfolio Corto em Cordoba, editado pelos meus amigos italianos da libraria parisiense Tour de BabeI, o município cede-me uma residência muito antiga da luderia, o velho bairro judeu. Lá organizo festas, reunindo todo tipo de amigos, desde os santos ébrios às putas moralizantes: gosto de reunir gente diversa, e de provocar assim situações originais. Convido os ciganos, que dançam e tocam uma música que remonta à Idade Média. Em Córdova, não há como os ciganos para poder dar um espectáculo de romanças sefarditas.
Algumas das pessoas que convido são consideradas importantes: homens de negócios apressados, editores sempre entre dois aviões, entre dois contratos. Observam e escutam esse espectáculo, e dizem-me que aquela é que é a verdadeira vida. Eles começam a interrogar-se sobre o seu modo de vida, sobre o interesse real do que fazem, e já não querem saber do trabalho. Essas festas são uma viagem ao passado, uma viagem estética em busca da beleza perdida. E graças a essas festas, a beleza do passado faz-se de novo presente. Nessa música sefardita, no olhar dessa bela judia renasce a luderia de Córdoba. Nessas ciganas de sangue judaico, é Rebeca que está de regresso a Córdova, e Rebeca é sempre bela.
Convoco também as descendentes dos Almorávidas berberes, elas vestem-se como outrora, elas dançam, elas cantam, e através delas Fátima é sempre bela. Lá fora, está muito calor, mas aqui o pátio cheio de sombra está florido todo o ano. Ouve-se o repuxo de água, um cigano toca guitarra, uma nuvem passageira confere uma nova tonalidade aos azulejos. As rolas levantam voo das laranjeiras que rodeiam a mesquita. Essa maravilha de pedra é trabalhada como um bordado, cujos motivos fossem fechaduras: falta apenas a chave para abrir a porta do paraíso muçulmano. No pavimento do pátio -um tapete mineral -as jovens dançam, pavimento do pátio -um tapete mineral -as jovens dançam, e Rebeca e Fátima são sempre belas.
Hugo Pratt, “O desejo de ser inútil”
6 comentários:
Lindo!
Fica uma sensação de nostalgia por algo q nunca vivi.
É por isso q adoro o Hugo Pratt!
Nice colors. Keep up the good work. thnx!
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