Os Açores foram durante séculos palco de grandes capturas de baleias, bem como grandes aventuras na baleação. As campanhas baleeiras no arquipélago tinham lugar anualmente, de 15 de Maio a 15 de Setembro. Eram utilizados os "botes de boca aberta" (típicos dos Açores) e arpões. Após a captura, as carcaças dos cetáceos eram objeto de desmancha para a extração do óleo ("azeite"), do âmbar-gris, das barbatanas e da carne. Os ossos eram reduzidos a farinha. Até à década de 1930, a extração do chamado "azeite de baleia" ainda era processada pelos próprios baleeiros, num processo artesanal conhecido como "a fogo direto" em instalações denominadas "traiois", constituídas por duas caldeiras adossadas, assentes sobre uma fornalha.
Desde 1987 que se deixou de praticar a "caça" à baleia em Portugal, tendo o último cachalote sido caçado ao largo da vila das Lajes do Pico. O comércio de produtos extraídos da baleia (inclusive o marfim) foi proibido. A caça comercial de baleias foi proibida em 1986 pela CIB (Comissão Internacional da Baleia), o órgão responsável pelo controle da caça à baleia.
Nesta nossa terra do Sol Poente, a prática da baleação não foi excepção, tendo-se tornado uma das principais fontes de rendimento. Algumas mortes ocorreram, alguns traumas permanentes e grandes aventuras se deram, em que os principais protagonistas estão agora a desaparecer, levando consigo um espólio incalculável, sendo mesmo considerado património cultural imaterial (ou património cultural intangível).
Muito grave é o caso que vos apresento nestas imagens: o bote baleeiro São José encontra-se completamente votado ao abandono e à mercê da destruição. Quantas baleias, quantas aventuras, quanta felicidade, quanta esperança, quanta cumplicidade se viveu nas embarcações baleeiras que só os intervenientes puderam testemunhar e em muitos casos tornando-se segredo.
É muito triste, desolador, inconcebível, inaceitável, diria mesmo desumano e ficaria por muitas mais palavras a adjetivar, o facto do bote São José estar desfazer-se a passos largos e nada ser feito. Tantos milhões de euros desaparecem diariamente sem se saber para onde vão... quando para salvar o bote baleeiro São José alguns poucos milhares de euros seriam bastante para que ele repousasse condignamente num lugar onde actuais e futuras gerações pudessem admira-lo e com ele todas as histórias que a História teima em fazer cair no esquecimento.
Não vamos rezar pois não vale a pena, vamos sim ser dignos do nosso passado, da nossa História e salvar, dar a dignidade que esta relíquia merece, todos nós merecemos... A História merece! Em muitos casos é de lamentar que a história seja feita pelos homens, sendo esses mesmos homens a apagarem a História.
José Agostinho Serpa