DEPOIMENTO
Sem
grandes ditirambos porque o espaço é pequeno, escreverei que a fundação do
Circulo Cultural de Setúbal (C.C.S.),
em 1969, obedeceu a motivações generosas
de alguns cidadãos do burgo bocageano, entre as quais sobrelevam as de querer
desmarcar-se do obscurantismo imposto, da estupidez instituída, do hábito
destrutivo, da repetição rotineira e afirmar-se como um posicionamento anti
fascista-salazarista-marcelista.
Efectivamente o C.C.S. assinalou momentos importantes da e na vida citadina porque,
para além de posições assumidamente anti-estado novistas, foi um núcleo de
convívio, de realizações culturais e de ministração do Ensino Liceal de que
resultou, pelo menos, uma licenciatura em Histórico-filosóficas pela
Universidade Clássica de Lisboa.
Se bem me lembro, os professores que
lá tiveram assento foram o Zeca Afonso, o Dimas Pereira, o Tavares da Silva, o
Abílio e mulher, o Jorge Luz e irmão e outros mais que, ao longo de mais de 40
anos, a memória me não traz à tona.
Não fui grande frequentador do C.C.S., o que não impediu que me desse e
fosse considerado por toda aquela plêiade de gente generosa que me soube
distinguir com o seu afecto, o seu apoio e a sua critica!
O C.C.S. é, pois, um capitulo da história da cidade, que esta regista
e a que faço menção, não apenas pensando e pesando a “chicotada” que deu no
marasmo setubalense e que vai na senda das realizações do Ateneu, do Clube de
Campismo, do grupo de teatro amador Ribalta
mas também é uma atitude genuína de desprendimento e de dádiva aos outros,
cuja recompensa foi e é a de acompanhá-los e por eles fazer o que a consciência
cívica, a atitude desprendida e a militância das e pelas causas justas e nobres
impôs e impõe a quem lá permaneceu e permanece, hoje de maneira diferente mas
sempre de cabeça erguida, de mente ao alto e de coração aberto!
Na vida tudo se transforma, a
sociedade portuguesa mudou-se, malbaratou-se em muitos aspectos e o C.C.S. também deu origem ou vai dar
origem a outra instituição, felizmente agora mais alargada (ESPEREMOS!), com menos
grilhetas, mais livre, mais justa e mais abrangente.
Que os poderes autárquicos
instituídos possam compreender que a realidade não é pertença de qualquer um
mas traduz a congregação efectiva de convívios culturais variados,
heterogéneos, heterodoxos e até de disparidade complexa!
Longe, como estou da “cena”
Setubalense, auguro que a nova vivência cultural seja a de ir coroando todos os
esforços de tantos amigos, uns que já lá vão, outros que ainda permanecem e
outros que hão-de chegar e que irão continuar a obra dos primeiros.
É
esta uma das mais consequentes e meritórias lições que a história geracional
transmite como imaterial herança da feitura da cultura!
Daniel Nobre Mendes
http://www.mun-setubal.pt/pt/pagina/casa-da-cultura/260
Daniel Nobre Mendes
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