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Por entre as imagens de imensas multidões que nos chegaram do Brasil nas últimas semanas encontramos, publicadas um pouco por toda a internet, fotografias de cidadãos que trouxeram para a rua as suas próprias palavras de ordem. Gente reclamando pela gestão responsável dos dinheiros do Estado, contra o despesismo e a corrupção, por mais investimento na saúde, na educação e em melhores infraestruturas públicas.
É um lugar-comum dizer que o Brasil é um país de futuro. Estima-se que possa ser, em 2020, o sétimo maior produtor de petróleo do mundo, podendo mesmo alcançar o quinto lugar. O Brasil tem hoje todas as condições de partida para assegurar o crescimento da sua economia durante várias décadas. Daqui a vinte anos será, sem qualquer dúvida, um país diferente e melhor. No entanto, apesar de todas as perspectivas promissoras, o caminho que agora se abre aos brasileiros é difícil e o país corre o risco de falhar o objectivo último de alcançar um desenvolvimento sustentável para as futuras gerações.
Se os recursos disponíveis parecem ser imensos, os problemas com que o Brasil se confronta são igualmente grandes e profundos. Com fortes insuficiências de infraestruturas básicas, de transportes, equipamentos públicos, segurança, habitação e urbanismo em geral, o caderno de encargos do progresso é extenso e irá requerer um grande esforço do Estado, ou seja, de todos. Se o Brasil permitir que este ciclo de crescimento seja conduzido como uma corrida ao ouro, entregue à corrupção e ao despesismo, deixando sobrepor a especulação e o lucro fácil ao planeamento e à exigência de boas práticas, todos os benefícios de uma política de investimento podem vir a ser desperdiçados.
Acima de tudo, o risco maior é cair na tentação de tornar os recursos do futuro num aval para o endividamento do presente. Se o país se entregar a políticas de sobreaquecimento rápido da economia por via do expansionismo assente na disponibilidade dos dinheiros públicos, sem critério rigoroso das suas necessidades, da justeza e da boa gestão dos gastos, o Brasil estará trilhando numa armadilha fatal para o seu destino. A maior armadilha de todas – aquela que porventura muitos brasileiros podem nem sequer imaginar – é que é possível fazer má política de investimento público em nome de boas causas. Deus, e o Diabo, estão nos detalhes. Motivos justos à vista de todos – tais como o investimento de larga escala em escolas, hospitais e outros equipamentos públicos – podem também ser usados de forma demagógica para promover o despesismo, o exagero, o favorecimento e a corrupção.
Não basta por isso investir na educação, na saúde ou nos transportes; é preciso investir nessas áreas mas investir bem, de forma justa, equilibrada e planeada.
Daqui a vinte anos o Brasil será diferente e melhor. Mas as suas perspectivas podem ser as de um país na charneira do mundo ou as de um país refém das dívidas e dos erros entretanto cometidos. Os brasileiros que estão saindo para a rua, levando consigo as suas próprias palavras de ordem, reclamam um maior discernimento no uso dos seus recursos e querem fazer parte dessa batalha. O futuro do Brasil decide-se hoje.
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Imagens via Tumblr #changebrazil, #ogiganteacordou, #vemprarua.
Excelente texto! Depois de tanto tempo finalmente as coisas estão mudando no Brasil. Grande parte deste que protestam hoje democraticamente antes viviam abaixo da linha de pobreza . É preciso não cometer os mesmos erros de outros paises que se achavam ricos.
ResponderEliminarObrigado, Fábio, pelo comentário. É difícil o caminho para o progresso. Portugal e Espanha são exemplo disso. Os erros pagam-se caro, a vinte e trinta anos de distância.
ResponderEliminarAbraço.