
Não sei se já desceram ou subiram o Reno. De barco deve ser uma experiência notável, mas eu só acompanhei as suas águas de comboio. De qualquer modo, a homenagem que lhe faço é quase sempre a partir da Hauptsträsse, em Heidelberg, a rua pedonal que é manifestamente o centro vivo da cidade, e de onde se vêem as colinas que separam – ao longe – o Reno do Néckar. Os meus amigos dizem-me, com o coração ao pé da boca, que os alemães têm Heidelberg mas que são como são: a sua poesia é soturna e bebem demasiada cerveja; tiveram o que tiveram nos anos trinta e quarenta e a que sua atitude marcial os torna indisponíveis para o divertimento (não é nada verdade); transformaram a Lorelei mítica morta nas águas do Reno num símbolo nacional, o que diz bem do carácter ainda mais soturno que a música de Wagner e o cinema vagamente expressionista; vestem de maneira estranha e respeitam os horários de trabalho. O que eu assinalo, para esta crónica, é que eles produziram cervejas notáveis e literatura que não desmente as suas qualidades. O resto é, também, muita dor de cotovelo. Por exemplo, foi da Alemanha que os Liebman levaram para Nova Iorque, na segunda metade do século XIX, a arte de fazer cerveja. Era, dizem os registos, uma cerveja clara que sucumbiu duas vezes: nos anos vinte, durante a «proibição» americana de produzir e comercializar álcool; e em 1976, quando a cervejaria faliu. Há cerca de cinco anos, provando que a globalização não quer dizer massificação, Walter Liebman relançou a marca: nesse ano comemorar-se-ia o duplo centenário do nascimento de Samuel Liebman, o fundador da cervejaria e afortunado criador da
Rheingold – o Ouro do Reno. Até 1976, nessa última fase de existência da cervejaria, antes da sua ressurreição, a Rheingold produzia cervejas para quase todos os gostos:
light, pale ale, brown ale e
pilsener. Agora concentra-se mais na tradicional cerveja clara, uma
dry beer com características de
pilsener, muito ao gosto novaiorquino, disponível, culto, liberal, acessível e que vota democrata. No copo, tem uma leveza extraordinária, o que faz dela, claramente, uma cerveja de fim de tarde, de horário pós-laboral, própria para ser bebida ao balcão de um bar medianamente ruidoso enquanto se vê um bom jogo de futebol.
+MARCA: Rheingold
Origem: EUA, NY
Álcool: 5,2%
Avaliação: ***
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