Partido Pimba
Dantes, chamava-se CDS: Centro Democrático Social. A designação tinha um certo odor a qualquer coisinha democrática... mas em ambiente asséptico, clínico, por assim dizer, algo entre um Centro de Saúde e uma Casa do Povo do antigamente. Não se percebia bem. Talvez por via dessa hesitação de sentido político, acho que foi nosso Paulinho das Feiras quem acrescentou as suas próprias iniciais ao nome do Partido: Partido Popular, glosa de Paulo Portas, gozação de Puta que Pariu.
Foi para mim uma tremenda decepção, quando isto aconteceu, devo confessar. Aquele CDS, que já na altura aglutinava não despicienda soma de trogloditas, burgessos e caceteiros, a massa de "populares" que apoiava fanaticamente quem os odiava, transformava-se assim, por via da nomenclatura, em algo que tinha a ver por força com o chamado "povo" - a massa ignara que representa o que de pior existe na espécie humana. Foi uma pequena tragédia, este artifício, aqueles caralhos do CDS passarem a intitular-se de "populares". Que os pariu, por conseguinte.
Por mim, quero bem que o "povo" se foda. Do "povo", o que pretendo é só distância, toda a distância e nada mais do que distância. Aliás, a minha posição política é muito simples e surge como consequência natural do nojo que me suscita a hipocrisia - seja ela política ou de qualquer outra natureza: varrer, excomungar, excluir da minha vida tudo aquilo que sequer cheire a povo, ou que tenha alguma coisa a ver, por mais remotamente que seja, com essa nojenta, insuportável, asquerosa subespécie humana. O próprio conceito, a noção de "povo" (fedor, porcaria, sujidade, grosseria, trogloditismo, brutalidade), é mais do que suficiente para sustentar qualquer tese antropologicamente racista subjacente. O "povo" é um objectivo a atingir, no sentido de liquidar, do ponto de vista da conservação da espécie humana: é necessário a extinção do povo ou, no mínimo, a limitação drástica dos seus direitos políticos, para que a espécie sobreviva. Caso contrário, se elevarmos à qualidade de valores o que os arautos (burgueses notórios e empedernidos) da chamada "cultura popular" consideram como algo de "bom" e de "belo", o futuro da espécie resumir-se-á ao genocídio cultural; ou seja, assumindo como sendo algo de positivo (seja o que for que tenha a ver com) a chamada cultura popular, tudo o mais desaparecerá num vórtice de estupidez, de mediocridade, de maldade e de violência.
Ao chamado Povo apenas interessa deixar de o ser. O que o "povo" finge combater é, apenas, aquilo que gostaria de ser: rico. A entidade abstracta que se prefigura, nas cabecinhas diminutas tão características das classes populares, como sendo o "gajo rico", o "capitalista", são a única ideia fixa e o único objectivo que são capazes de (vagamente, mas persistentemente) articular.
A pior, a mais gratuita e imbecilmente violenta raça de capitalistas é constituída, precisamente, por pessoas provenientes das classes populares. Qualquer operário ou trabalhador indiferenciado sabe perfeitamente que a pior espécie de patrão que lhe pode tocar em sorte é o chamado "self made man"; ou seja, o gajo que "subiu a pulso" (roubou, explorou, traficou) e mudou rapidamente para o campo do "adversário", passando - à custa de golpadas várias - em pouco tempo de operário a patrão. São fodidíssimos, estes filhos-da-puta. Esmifram tudo aquilo de que forem capazes, no menor prazo possível, e cagam-se positivamente em coisas como os direitos dos trabalhadores, o Direito propriamente dito ou sequer a mais ínfima das noções de decência ou humanidade. Vai tudo raso. "Pequenino" que chegue a "grande" é fodido: vinga-se à força toda. O que antes dizia ser um "direito" fica ali, por ele mesmo imediatamente abolido. O que antes eram "injustiças" do patronato, por artes mágicas se transformam em "leis de mercado", em "competitividade" ou, mais prosaicamente, na lei popular universal: "fazer pela vida", ou seja, "desenrasquem-se, foda-se, caguei para isso". Para o "popular" que roubou o suficiente para deixar de ser "popular", tudo se justifica, está tudo explicado com a seguinte máxima: "é a vida!"
A Polícia de choque, as diversas polícias políticas por esse mundo fora, os algozes, os torturadores, toda essa gente é recrutada de entre as massas populares; não consta que um único "capitalista" se dedique a tão energéticas actividades. Porém, para os maníacos apreciadores dos "pequeninos", isso não é um facto e muito menos indicia a prototipia execrável da própria condição "popular".
Daí, por exemplo, o carácter absolutamente nojento e doentiamente paradoxal da chamada "direita" nacional. Tentam colar-se ou, de alguma forma, absorver um cariz politicamente "popular". É este o maior e mais espantoso contra-senso dos tempos modernos: as forças da chamada "direita" tentando captar para as suas fileiras aquilo e aqueles que supostamente deveriam combater. Quando, pela ordem natural das coisas, o papel da direita política deveria ser o de combate à uniformização, à massificação, à estupidificação e ao embrutecimento. Em resumo, a Direita deveria combater o trogloditismo. Ou, numa palavra ainda mais simples, combater... o Povo.
É necessário estabelecer distâncias. O meu voto (se eu porventura votasse) não pode valer o mesmo que o voto de qualquer labrego que não sabe ler nem escrever, ou qualquer criminoso, marginal, bandido, atrasado mental, idiota chapado. Como não pretendo impor os meus valores, ou gostos, ou hábitos a ninguém, gostaria de ter o direito de que ninguém me impusesse os seus (ruídos), ou aquilo que vagamente julga serem os seus (direitos).
É necessário combater o povo. Lutar contra o povo. Exclui-lo. Limitá-lo. Em última análise, é necessário exterminar o povo, levá-lo à extinção. Não há nada a perder porque, assim que isso acontecer, não se perdeu nada. O povo que o diga.