Ganda murcon
O Murcon agora tem contador de visitas. Pimba. Cai lá tudo: http://www.sitemeter.com/default.asp?action=stats&site=sm8JMachadoV&report=0.
Escutam-se os arrulhos nas imediações, mesmo do lado de fora da porta ou ao fundo da rua, vai por ali um coro de miadelas e ganidos, uma coisa de partir o coração. O blogbairro tem agora ao dispor seu psi, grátis e online, um sexólogo Moviflor, na cirúrgica, excelente, brilhante expressão da nossa vizinha Zazie.
Confesso que gostaria imenso de ter um dedo dos dois que o homem tem de testa mas, principalmente, não se me dava nada de conseguir ter apenas 10% daquela pinta de gajo porreiro. Só uma comissãozinha de porreirismo, e estaria eu muito bem na existência em geral, e de bem com a vida, em particular. A nosso JMV não faria a mais pequena diferença, porque iria conservar os restantes nove décimos de tipo baril, o que é barilismo até dizer chega. Não é o mesmo que doar um rim, e acarreta muito menos chatices do que doar sangue ou medula óssea. Bastaria, como método de transfusão, que o senhor me explicasse como diabo consegue ser tão irritantemente consensual, tão simpático e compostinho; como consegue passar toda a sua santa vida sem que nunca lhe aconteça a mínima merda; como consegue que nunca ninguém o insulte, ou sequer embirre consigo; morro de curiosidade de saber qual é a marca da laca mental que utiliza no quotidiano, que lhe dá esse aspecto sempre limpo e asseado, acima de qualquer suspeita ou simples inconveniente.
Ao fim e ao cabo, acho tremendamente egoista que alguém - tendo descoberto o segredo da existência - não partilhe os seus conhecimentos com os demais. Einstein, que também era considerado um pouco burro, nos tempos de escola, doou ao resto da humanidade aquilo que sabia sobre a relatividade. Que diabo, até o próprio Cavaco Silva faz questão de, quando em vez, destapar algumas das coisas que pensa sobre o futuro de Portugal, por exemplo. Não é normal que a um gajo apenas aconteçam coisas fixes, que ande sempre satisfeitinho da vida, que nunca tenha nem partido uma perna, nem sido encornado, não tenha nunca amaldiçoado a vida, a porca da política, ou, ao menos, a vaca da sogra, a porra do fecho que não abre, o sacana do puto que não se cala, o cabrão que acabou de ultrapassar pela direita.
É extremamente raro que a um ser-humano absolutamente nada incomode; quer-me parecer que este Vaz é bem capaz de ser exemplar único, o verdadeiro campeão da bonomia, bonacheirão dos quatro canais generalistas. Se um fulaninho qualquer, assim como eu, diz ou escreve coisas tão simples e vulgares como "caralho", e "cona", e "foda-se", não apenas é olimpicamente ignorado pela maioria como - esparsa e monotonamente - lhe desaba na cabeça um coro de protestos de cariz WASP, de porco, suíno e badalhoco para cima; JMV pronuncia rigorosamente as mesmas coisas e imediatamente um coro de aplausos se levanta, e ah, e oh, que admirável loquacidade, eis a verdade, meus amigos, caralho passa a ser fino, cona fina também, foda-se elegante - e tudo sem aspas, agora elevadas essas palavras à categoria de termo técnico, de análise profunda, já que foram pronunciados pelo eminente sexólogo, psicólogo, professor e doutor e tudo. O que o vulgo diz, assim como eu digo, é vulgaridade; o que aquela carola diz, mesmo sendo parecidíssimo, ou rigorosamente igual, é excelência, é sumidade, é alguma porra que a mim me escapa, e acabou-se.
Se isto não é inveja, não sei o que seja. Mas lá que parece, parece; tresanda. Mas enfim, existe uma atenuante fundamental para tão incómoda sensação: é que muita coisa se perde, muita coisa não se cria, muita coisa não se transforma, quando alguém faz caixinha. Se JMV tem os planos da pólvora para acabar com as guerras, as pessoais e as nacionais, se sabe como resolver todos os problemas da humanidade, o que é atestado pelo facto de ele próprio nunca ter tido nem uma nem outros, então, que diabo, explique lá isso à malta. Como se faz essa coisa de "ser feliz"? O que é necessário para estar sempre tudo jóa, nos trinques, entre todos? Afinal, qual é o segredo da existência? Para onde vamos? O que fazemos aqui?
Etc. Chateia-me, em resumo, que tão ilustre personagem faça como o cozinheiro sueco dos marretas. Fala bem ("rum, madum-madum, tuichcadum, tura tadum tachadum, muc muc muc"), mas nunca diz afinal qual é a receita para cozinhar uma galinha inteira, crua e de plástico.