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Eles eram como dois livros diferentes
Eles eram como dois livros diferentes, cujas passagens não se encaixam, escritos em idiomas diferentes, lidos de maneiras diferentes. O que ele buscava era alguém que estivesse na mesma página, mas o que havia encontrado era um universo de incompreensões e confusões, como se as palavras se embaralhavam diante dos seus olhos e seus significados se distorciam.
Estavam lendo o mesmo livro? Talvez de cabeça para baixo, de frente para trás, em letras miúdas que precisavam se esforçar para conseguirem ler. À primeira vista, era como mergulhar em um universo completamente desconhecido, no qual as palavras lidas e suas interpretações eram totalmente diferentes.
Em um universo de incompatibilidades, aceitar que as diferenças jamais seriam superadas era tudo o que restava. Não havia razão para continuar tentando encontrar pontos em comum quando havia uma série de muralhas criando distância.
Ele se lembra que costumava ler um livro até o final, mas, de repente, se dá conta de que a vida é muito curta para isso. Se o livro não conseguiu te fisgar nos primeiros capítulos, por que se dar ao trabalho de forçar algo que não está fluindo?
Então, estar numa biblioteca lendo um livro indesejado é algo que o causa certa ansiedade, sabendo que existem livros mais compatíveis com o seu gosto, livros que fluem desde o início e são como embarcar numa viagem só de ida – sem precisar se preocupar com os próximos capítulos, pois tudo está tão claro e natural que é como poder respirar com tranquilidade e simplesmente se deixar levar pela história.
Foi aí que ele compreendeu as pessoas que deixavam os livros pela metade, que simplesmente partiam para a próxima leitura, sem sentir remorso pela escolha que havia feito – um conceito que antes parecia tão estranho para ele, havia se tornado realidade.
Sabia que havia um preço a se pagar quando se evitava o meio e o fim, mas parte dele estava tranquilo por saber que havia tentado e não estava disposto a lidar com o desconforto e a frustração. O livro que ele buscava era o livro que precisava no momento, aqueles que parecem cair na mão na hora certa.
Ele fecha um livro, inspira fundo e deixa todo ar sair, sabendo que não havia espaço para a culpa nem para se justificar em excesso. Não, o livro que ele precisava não abria margem para interpretações duvidosas, era claro do início ao fim. E admitia que talvez o problema não estivesse no livro, só havia caído nas mãos erradas, no tempo incerto, de um leitor que não estava disposto a reler a obra nem se perder nas entrelinhas desconhecidas.
*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle..
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