Você está no alto de uma árvore, falando com muitas pessoas nas mentes delas depois de um terremoto e talvez você esteja morto.
Em 11 de março de 2009, um tsunami, provocado por um terremoto de 9,1 graus abalou a sociedade japonesa ao dizimar vinte mil pessoas e atingir uma usina nuclear. É a partir daí que Seiko Ito cria a narrativa intimista de seu livro. Sua ideia? Falar dos mortos, ou melhor, deixar os mortos falarem.
Construída com elementos fantásticos, Rádio Imaginação começa com uma transmissão ouvida no país inteiro após o terremoto, mas a transmissão está na cabeça das pessoas, elas não sabem de onde vem ou quem está falando. Seriam os mortos?
“Sua imaginação são as ondas de rádio, o microfone, o estúdio, a torre de transmissão, e até a minha própria voz.”
O livro de Ito é lento, calmo, triste e estranho. Borrando a fronteira entre os vivos e os mortos, o livro nos dá a certeza de que estamos ouvindo os que se foram, mas não temos certeza de que podemos escutar os vivos. Nas cenas da rádio funcionando, a dinâmica da escrita é muito criativa, com entrevistas, personagens sem nome conversando, músicas sendo tocadas, é, ironicamente, algo vivo.
Quando passamos pro mundo dos vivos há a incerteza de que aquela cena seja real, os que ficaram não parecem tão capazes de aproveitar a vida quanto os que foram vitimados pelo tsunami.
“(...) achei a história muito estranha, tipo um sonho.”
Nunca tinha lido nada do autor, o livro foi uma surpresa agradável e bem-vinda, penso que ficaria ainda melhor se fosse um audiobook com toda a transmissão acontecendo como uma rádio de verdade.
O que ficou mais marcado na minha cabeça foi a dúvida que a narrativa introduz sem sanar: como homenagear aqueles que se foram de forma trágica? Existe uma forma correta de fazer isso? Se sim, qual?
Ao longo do livro, através de recortes narrativos, vamos descobrindo mais sobre a vida do interlocutor, DJ Ark, um homem comum, com defeitos e acertos que não sabe explicar como consegue falar com as pessoas e porquê elas também respondem. Conhecemos os ouvintes, alguns pelo nome e outros não, descobrimos onde estavam durante o tsunami até que aos poucos o interlocutor se dá conta do que aconteceu com ele e seus ouvintes, a partir daí o livro fala sobre flashbacks, sobre a vida e a efemeridade dela.
Rádio Imaginação é aquele livro para se ler num dia de clima ameno, sozinho em casa, vendo as árvores balançarem e aproveitar todas as perguntas que existem nele.
Título: Rádio Imaginação
Autor: Seiko Ito
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 184
Ano: 2023
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A princípio essa combinação de triste lento calmo e estranho não me atraiu mas lendo o post completo percebi que é um livro brn reflexivo e emocionante
ResponderExcluirDizem pelo mundo literário que quem lê uma obra de Ito, começa a enxergar a vida de forma diferente!
ResponderExcluirTemas pesados, morte, perdas trágicas...fiquei aqui me questionando como homenagear os que se foram de forma tão abrupta.
Olha, adorei a ideia de um ouvir um livro assim, como matéria jornalística!!!
Quero ler com certeza!!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Ola
ResponderExcluirO livro deve ser bem reflexivo e também emociona porque traz um tema bem triste que são o caso de pessoas que se foram de maneira trágica.
Oi, Ingrid! Tenho alguns livros do autor na minha lista de desejados e Rádio imaginação é um deles. Essa atmosfera melancólica que abraça as páginas dessa história me atrai muito. Sem dúvida é um livro pra ser lido contemplando todos os questionamentos e emoções que surgem dele.
ResponderExcluirOlá! Eu acredito que esse é aquele tipo de livro que durante a leitura nos leva a fazer vários questionamentos, o que é ótimo, mesmo trazendo um tema triste e até mesmo incomodo, acho que vale demais a leitura.
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