Muito
se fala sobre a situação da mulher na sociedade moderna. Acreditam não poucos
que há um grande desnível – ou abismo mesmo – entre os direitos e deveres do
homem e os da mulher, sendo que essa última tem sido historicamente
prejudicada. E não faltam candidatos a carrasco do sexo feminino. A última moda
agora é acusar as religiões de forma geral, e o Cristianismo, em especial.
Não há a menor dúvida de que existem religiões no mundo que cerceiam os
direitos da mulher. O Islamismo é um bom exemplo desse tipo. Tanto seu livro
sagrado como sua literatura teológica discrimina e rebaixa gravemente a
mulher a ponto de torná-la um objeto de propriedade, primeiramente do pai, e
depois do marido. Contudo, neste texto quero provar que não há razão por que
colocar o Cristianismo no mesmo cesto das religiões que pejoram a mulher. Mais
do que isso, vou mostrar como o Cristianismo colocou a mulher em
uma situação muito melhor do que qualquer outro sistema religioso ou filosófico
que já existiu.
Um pouco de história.
A vida da mulher não era fácil nas culturas antigas. Em geral, eram propriedade
dos maridos. Não eram consideradas capazes ou competentes para agir
independentemente. Vejamos a Grécia antiga. Aristóteles disse que a mulher
estava em algum lugar entre o homem livre e o escravo (considerando que a
situação do escravo não era nem um pouco auspiciosa, perceba a pobre situação
feminina), e que era um “homem incompleto” (Política). Platão, por sua vez,
entendia que se o homem vivesse covardemente, ele reencarnaria como mulher. E
se essa se portasse de modo covarde, reencarnaria como pássaro (A República, Livro V).
A
sorte das mulheres não era muito melhor na Roma antiga. Poucas famílias
tinham mais de uma filha. O casamento romano era uma forma de trazer mais
material humano para formação do exército, e assim permitir a Roma a
continuidade de sua expansão; por isso, o interesse estava em ter filhos
homens. Daquelas, porém, que sobreviveram ao infanticídio, eram-lhes reservadas
as tarefas do lar, mas não o exercício da cidadania e a participação política,
coisa reservada apenas aos patrícios homens.
Na China,
até bem recentemente, o infanticídio era uma prática comum. Os bebês do sexo
feminino eram entregues como alimento aos animais selvagens ou deixados para
morrer nas torres dos bebês. Adam Smith escreveu sobre essa prática no seu
famoso livro A Riqueza das Nações,
de 1776. Ele fala inclusive que o descarte de bebês indesejados era mesmo uma
profissão reconhecida e que gerava renda para muitas pessoas.
Vejamos
outros casos. Na Índia, viúvas eram mortas juntamente com seus maridos – a
prática chamada de sati (que significa a boa mulher). Também havia
tanto o infanticídio quanto o aborto feminino. Além disso, meninas eram criadas
para serem prostitutas cultuais – as devadasis. Nessa prática religiosa, a
menina era “casada com” e “dedicada a” um dos deuses hindus. Nos rituais de
adoração a esses deuses, havia dança, música e outros rituais artísticos.
Conforme iam crescendo, as devadasis se tornavam servas sexuais, de
homens e dos “deuses”. Ainda hoje, famílias pobres entregam suas filhas para essas
deidades com o objetivo de alcançar delas algum favor, ou ainda obter algum
meio de renda com os frutos da prostituição.
Na África,
o problema era semelhante à prática do sati da Índia. Quando um líder tribal
morria, as esposas e concubinas do chefe eram mortas juntamente com ele. Mesmo
hoje, no Oriente Médio, o valor da mulher é mínimo.
A mudança trazida pelo
Cristianismo. Que diferença trouxe a vinda
de Jesus Cristo entre nós? Muita, em vários pontos. Na verdade, foi
uma revolução. Muito do que Jesus Cristo ensinou já era praticado pela
sociedade judaica (que era muito diferente das nações à sua volta), e outros pontos
tiveram seus termos desenvolvidos por Ele. Mas mesmo os judeus tinham um
tratamento discriminatório em relação às mulheres; Jesus, entretanto, Se
relacionava de forma saudável com elas. De forma geral, o Cristianismo
colocou a mulher em pé de igualdade com os homens. Como ele fez isso?
–
Dizendo que ambos foram criados por Deus, à Sua imagem e semelhança (“E criou
Deus o homem à Sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” [Gn
1:27]. Para Deus, homens e mulheres têm o mesmo valor [Gl 3:28]).
–
Que ambos deveriam dominar e sujeitar a natureza (“E Deus os abençoou, e Deus
lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e
dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal
que se move sobre a terra” [Gn 1:28]). Não há nada que impeça a mulher, tanto
quanto o homem, de explorar a criação em cumprimento ao mandato cultural.
–
A decisão de Deus criar a mulher a partir de Adão declara que ambos provêm da
mesma essência (Gn 2:22), mostrando que a mulher em nada é inferior ao homem,
nem tampouco lhe é superior. E a declaração de Adão mostra que sua mulher, Eva,
é parte de si mesmo, tendo o mesmo valor que ele próprio (Gn 2:23).
–
Que o casamento, como instituição divina, implica que o homem foi feito para a
mulher, assim como a mulher foi feita para o homem, e dessa forma ambos andam
como uma unidade em dois corpos (Gn 2:24), o que destrói a ideia de que a
mulher é escrava do marido, ou vice-versa. São complementares.
–
O Cristianismo também evitou que a mulher fosse injustiçada, não permitindo a
poligamia, que é inerentemente prejudicial a elas (1Co 7:2).
–
O Cristianismo ensinou o cuidado com as viúvas. Elas, se não tivessem recursos,
deveriam ser cuidadas e sustentadas pela igreja (1Tm 5). Se o marido morre, ela
é livre para continuar viúva ou casar novamente, se quiser.
–
O Cristianismo condenou a prostituição ao declarar que o corpo não pertence a
nós mesmos, mas a Deus, e que ele é templo do Espírito Santo (1Co 6:13,19). O
corpo do homem pertence à mulher, e o da mulher ao homem (1Co 7:4).
–
O Cristianismo aprova a instituição do casamento, que não só protege a mulher
da exposição aos males sociais, como provê um ambiente seguro material,
espiritual e sentimentalmente para seu desenvolvimento integral (Ef 5:28, 29).
–
O Cristianismo protege a vida, que entende começar no momento da concepção.
Dessa maneira, nenhuma criança deixa de nascer devido a características
indesejáveis (pelos pais) que ela tenha ou seja. A vida é direito inviolável,
outorgada por Deus, sendo que somente Ele tem direito de reavê-la (1Sm 2:6; Jó
1:21).
–
O Cristianismo também proíbe a pornografia, pois
entende que ela é equivalente ao adultério. Com isso, a mulher deixa de ser
vista como um objeto aos olhos do homem, e reserva o sexo e a nudez para aquele
que tem direito a essas coisas, a saber, o marido (Mt 5:28).
Uma palavra sobre o
movimento feminista. Se há algum direito, de qualquer pessoa
que seja, que deva ser assegurado, sou completamente a favor da luta por ele. A
sociedade falha em tratar as mulheres adequadamente porque ela não é uma
sociedade moldada exclusivamente pela moral cristã. Muitos dos direitos pelos
quais o movimento feminista luta são justos: direitos trabalhistas iguais aos
do homem, proteção contra violência física e emocional, igualdade de direitos
civis, entre outros. Porém, alguns pontos pelos quais ele luta não são bons,
como, por exemplo, o aborto. Ora, o aborto sempre foi uma ferramenta usada pelo
homem – e geralmente usado para evitar nascimento de mulheres! O aborto se
refere a algo além do corpo da mulher; é outro ser vivo. Ocorre que, ao lutar
por esse “direito”, a mulher trata um bebê ainda não nascido como algo menos
que humano, tal como um objeto: ou seja, do mesmo modo que ela própria já foi
tratada na história. [E muitas feministas não percebem que estão se oferecendo
como objeto às ávidas câmeras de TV, quando protestam usando o corpo nu.]
Outro
problema que eu vejo é que algumas feministas mais exaltadas não querem
simplesmente uma equiparação de direitos; desejam ocupar o lugar do homem que
as explorava, transformando-se em exploradoras. Almejam uma inversão de papéis.
Em lugar de uma sociedade patriarcal, sonham com uma matriarcal. E algumas
feministas ainda descambam para a misandria – o ódio pelo sexo masculino.
Concluindo.
O que o paganismo faz para proteger a mulher? Nunca fez nada, e nunca
fará. E essas outras religiões não cristãs? Normalmente, colocam o sexo
feminino em uma posição inferior à do homem. E o humanismo? Nada trouxe de
bom para as mulheres. Na prática, uma vertente humanista (evolucionista) ensina
que nada há de especial na humanidade; tudo que há é resultante de acaso.
Somente o mais forte sobrevive (ou domina). Se for o sexo masculino, assim deve
continuar a ser. É natural que seja assim. Não há justificativa moral (do ponto
de vista evolucionista) para proibir a violência física, sexual, emocional à
mulher, nem mesmo por que condenar posicionamentos machistas. A máxima é “o que
agora é, é o certo”.
Mas
não é assim com o Cristianismo. Em todos os lugares em que ele chegou, as
condições das mulheres melhoraram. Onde ele não chegou, veem-se coisas
terríveis, como a eugenia sexual, o infanticídio e a prostituição. Contudo,
podemos ver que algumas sociedades, que já foram
declaradamente cristãs, hoje estão decaindo moralmente com o avanço do antigo
paganismo – legalizando o aborto, o homossexualismo e a prostituição. Seria
interessante que algumas feministas, que falam ousadamente contra o
Cristianismo, aprendessem um pouco mais da história da humanidade e assim se apercebessem
de que, se não fosse por essa religião que elas tanto condenam, talvez elas
sequer estivessem vivas hoje.
(Leandro Márcio
Teixeira , Napec)