Título original: Ungeduld des Herzens
Ano da edição original: 1939
Autor: Stefan Zweig
Tradução: Maria Henriques Osswald, F.I.L.
Editora: Livraria Civilização - Editora
Ano da edição original: 1939
Autor: Stefan Zweig
Tradução: Maria Henriques Osswald, F.I.L.
Editora: Livraria Civilização - Editora
"Stefan Zweig, mestre em psicologia, artista humaníssimo que constrói figuras vivas, palpitantes - obra de carne e nervos - enriqueceu a sua obra notabilíssima com um romance profundamente humano, em cujas páginas palpita a tragédia inigualável de uma rapariga riquíssima, que pode com o seu dinheiro comprar quanto a vida tem de belo para vender, mas não a perfeição física, pois é irremediavelmente uma pobre aleijada... nem o amor, pelo menos o amor-paixão tal como a sua alma vibrante ambiciona.
Só pode ser amada por caridade, pobre farrapo humano, cercado de fausto, só a mentira a rodeia, a mentira piedosa de uns, a mentira aduladora de outros, mas sempre como uma maldição, só a mentira a cerca: a mentira, a mentira...
Os caracteres deste romance são vincados com rara mestria. O homem que se deixa arrastar, sugestionar pela piedade e pela ternura de um pai amantíssimo que ambicionava dar à sua filha querida a felicidade, é fortemente traçado neste romance apaixonante e tão rico de psicologia humana.
Zweig, neste livro, ergue ainda mais alto se é possível, o seu nome de artista."
Um soldado que descobre o poder da caridade e começa a sentir-se invencível na sua bondade, vai descobrir da pior forma que as pessoas não precisam de caridade, precisam de amor, verdadeiro e genuíno, precisam de amizade desinteressada e honesta.
Um pai, rico, que tudo pode comprar, vive angustiado com a doença incapacitante da sua única e amada filha. A menina, quase uma mulher, foi perdendo, ao longo dos anos a capacidade de andar. Depende de uma cadeira de rodas e de muletas para se deslocar. É doce e tirana, compreensiva e cruel, tudo ao mesmo tempo. Generosa e egoísta, vive presa na dualidade entre o que é e consegue fazer, e aquilo que sabe que poderia ser e fazer se a doença não lhe tivesse batido à porta.
É na dinâmica que se cria entre o soldado solitário, que descobre a caridade, a menina entrevada, sedenta de amor e um pai, meio louco, que nada consegue fazer para que a filha seja feliz, que a trama de Coração Impaciente se vai desenrolando.
Coração Impaciente é, entre outras coisas, uma história sobre piedade e sobre o facto de a caridade ter, por vezes, efeitos perversos para quem é alvo dela.
Mesmo quando achamos que estamos a fazer bem, não podemos descurar o outro e a forma como o outro está a receber aquilo que temos para oferecer.
Enquanto fala de incapacidade física, de doenças desconhecidas e incuráveis fala, na verdade, de inseguranças e da enorme incapacidade que temos de viver confrontados com a imperfeição. Temos dificuldade em vermos o lado positivo de situações menos boas.
Coração Impaciente, é sobre desequilíbrio mental, violência psicológica, sacrifício, por vezes é sobre amor, esperança e boa-vontade mas, essencialmente, acaba por ser sobre desespero, confusão e arrependimento. É um livro pesado? Nada disso, lê-se muito bem.
Gosto muito da escrita de Stefan Zweig. Gosto das personagens que cria, das suas personalidades, complexas e pouco previsíveis. Consegue retratar muito bem como as relações humanas são complexas e frágeis.
Gostei e só posso recomendar.
Boas leituras!
Excerto (pág.158):
"«Não sei e nunca saberei tudo o que prometi e afiancei a Kekesfalva nesse banco dos pobres. Assim como as minhas palavras embriagavam o seu ouvido ansioso, também a felicidade com que escutava me embriagava, e sentia o prazer de lhe prometer cada vez mais. Nenhum de nós reparava nos relâmpagos que flamejavam em volta, nenhum de nós ouvia o estalar ameaçador do trovão. Permanecíamos unidos; um falava, outro escutava e eu afirmava-lhe convicto, honestamente convicto: - «Sim, ela há-de sarar, muito breve, há-de sarar em absoluto». E de novo ele balbuciava: «Ah! Deus seja louvado!» Como era maravilhoso, contagioso, este êxtase, este delírio! Quem sabe quanto tempo ali teríamos permanecido sentados, se, de repente, não sobreviesse aquela rajada decisiva que sempre vem na vanguarda de uma tempestade, como que a abrir-lhe o caminho?! Curvavam-se as árvores com tanta violência, que os troncos estalavam, vergavam; dos castanheiros, sacudidos furiosamente, caía forte saraivada de projécteis e quase nos sufocou uma gigantesca nuvem de pó."