02 março 2025


O texto não tem nada de melhor para oferecer do que dizer que a vida transcende-o. É nisto que acredito e penso sinceramente - mas quando não conseguimos dormir, o texto oferece-nos a vantagem de lavrar a insónia no rosto do que nos atormenta; pensando, para quem o espera entender, que a vida transcende tudo.


Eu procuro Paz numa relação; a paz é condição sine qua non e primeva a tudo. Talvez por estar a viver uma segunda rebeldia - eu sei que sim -, procuro alguém que apazigue as minhas inquietações. Alguém que me dê uma imensidão de sentidos adicionais, caminhos, que me ajude a perder o juízo também. Esta paz não é o silêncio retemperador ou uma imensidão calada. É um espraiamento do Eu que esteve amordaçado e passou pelo canil das feras ameaçando com latidos raivosos o Inferno. Não é uma projecção psicanalítica, coisa de marquesa clínica e terapêutica. Jamais quereria um amor que me servisse como pantufa...

26 fevereiro 2025

Manhã Poente

Silêncio, niente, o deserto da tua palma do pé. Mais uma noite.
O estalo entre os olhos diz fogo nos olhos. Um vôo pronto.
Tudo é ruído. Esta luva de detonar bombas. Não me sinto eviscerado.
Inteiro é o olhar das centopeias. Dardos que ecoam o limite.
PLAY, o meu clítoris é linguagem de surpresa e limite.

As manhãs estão mais longas do que o universo expandindo-se.
Acordo às tantas, e sem ouvir o chilreio de pássaros e outros animais
distendendo músculos. O espelho devolve-me a ti. O café abre
do outro lado da rua.

Aqui estou eu a pensar em mim.

Um verso para pensar em mim.

Bardo?
Aranhas tecem os seus fios na penumbra porque não há já dia.
Esta é a terra onde as manhãs começam.
Debaixo do mesmo sol aranhas tecem os seus fios porque não
há já a noite.

18 janeiro 2025

para a dona da barca.


Porque temos amor um pelo outro.

07 dezembro 2024

 




e, a propósito de notre-dame,












24 novembro 2024

29 outubro 2024

Realmente, coitadito do Miguel, nunca viu ou sentiu um momento que fosse superior às palavras. Tenho muita pena dele. E deve gostar delas feias e trogloditas.

(chocou-me tanto aquela merda que até fiz dois posts)

É o nível do ateísmo que temos.

Projecto abortado. Desculpem, mas o Miguel Real é um porquito... Às tantas, vou lançado em capítulos sete ou oito, e deparo-me com isto:

Com 13 anos, perguntei-lhe se ele já experimentara o traseiro das ovelhas ou das cabras, como eu o estava experimentando, eu e todas as crianças de Nazaré, ele afastou-se como se eu tivesse lepra, chamou-me pecador nojento, voltou atrás e cuspiu aos meus pés.

Eu até aceito que se ponha a vida de Jesus em trajes menores, mas isto senhores, esta cena da bestialidade ultrapassa qualquer limite, ultrapassa-me mesmo. Esta falta de senso... que grande estupor. O que nos vale é que esta cena fala mais do Miguel, que tem uma pancada óbvia pela questão sexual, do que da vida de Jesus.

De resto, previamente, no livro, é Miguel Real a ser ateu e só ateu: Maria é vista como uma vulgar esposa, José revolucionário; há uma tentativa de preencher brechas...

O resto do livro, que não aconselho ninguém a ler, é na mesma toada: Jesus à procura das revelações sexuais, Jesus traído, Jesus prostrado. 

Pode ser que te saia o tiro pela culatra, ó Miguel!

Segue direitinho para venda.

25 outubro 2024

cosa mentale ou apresentação sem filtros.

O livro do Miguel Real começa com uma breve Apresentação, sobretudo com os motivos que o levam a esta empreitada de fazer uma biografia(auto) de Jesus. Às tantas, Miguel Real diz que foi aos 14 anos de idade que decidiu separar-se da Igreja Católica, «por motivos que não quero revelar»; mas pela pancada com o sexo, entrementes a opulência dos bispos, até parece que caiu nas mãos de algum criminoso.

Acho justo que, eu próprio, faça uma breve apresentação, não dos motivos que me levam à empreitada de criticar o livro, mas da minha biografia-erótica e como ela vai dar a certos cruzamentos de estrada com a Apresentação e as críticas à Igreja por parte do Miguel Real, que parece tão ensombrado pelo que ele chama de «mutilados sexuais», ou seja, os católicos. 

Mas agora sem filtros.

A minha vida sexual tem sido terrível. E a culpa é só minha. Não ponho Deus neste meio. Eu sou o culpado de toda a merda que fiz e não-fiz. Conheci o amor relativamente tarde, ou considero tarde. Mas, para mim, era super-importante conhecê-lo, com uma mulher. Acho que não conseguia ser o que sou hoje sem esse conhecimento. E seria muito pior pessoa. Esteja onde estiver, haja o que houver. Uma dica que os padres virgens deviam acatar é esta: o sexo, o bom sexo, não é o vilão da vossa estória. Já o mau, que também o fiz, é um problema...

Enfim, quando era o dealbar da minha vida, andava eu entretido a pensar em Deus, se existia, se não existia. Assim, nesses termos tão afiados, limitados. Mas aquilo preenchia-me de uma forma louca. Os primeiros filósofos que li, talvez Camus, Kant e Nietzsche, davam-me o resto. Tanto lutei, mas tanto, que Ele veio fazer o reconhecimento do terreno: um surto psicótico, estávamos em 2011, que é mais um monumento épico pessoal do que um momento de afetação patológica. Para mim, e alguns bons filósofos, é tudo muito claro. De lá para cá, deixei de fazer papéis: sim, antes, eu era ateu num momento e pseudo-crente noutro; mas o que tinha verdadeiramente, era um transtorno de personalidade. Hoje, desapareceu o borderline e as linhas apertaram-se e coseram o crente ainda não realizado que sou.

23 outubro 2024

Antes morrer do que não ir à batalha.

Agora tenho um projecto em mente. Projecto simples. De poeta. Comprar e ler o livro do Miguel Real, comentando-o passo-a-passo até ser expulso do Imprecisões pela dona da barca (risos). Exilado como uma besta marcada para morrer.

Porquê?

Acho que devemos combater o radicalismo com a verdade, mesmo que uma verdade desigual. Já estive na Bertrand com o livro do Miguel Real na mão, estive mesmo para trazê-lo, mas depois vi a sorrir para mim um Dylan Thomas e fui logo trocar. Ainda bem, porque, pelo excerto que se pode ler nas livrarias online, o Autobiografia de Jesus...

Deus nunca faria uma autobiografia. Primeiro, porque não precisa, segundo e mais importante, lega essa tarefa aos homens. Deus QUER que sejam os homens a ensinar o caminho até Ele. A mostrá-Lo, a encontrá-Lo. Uns entre os outros...

E o que é da vontade de Deus não pode ser confundido com Ausência de Deus, pois é perfeitamente o contrário. No fundo, Deus gosta de almas em guerra. Em trânsito. O lodo, o pântano, o maluco sobre a ponte que são alguns, sem tomar posição, Deus não aprecia nada. Deus gosta de quebrar as nossas seguranças, os confortos, os lugares-comuns. Sempre ativo...

20 outubro 2024

imposição do tempo.

 



O conhecimento imediato do ruído

O som que me anima é distante
e desconheço que incerteza possui
na lama de um poder caótico -
sempre caótico que teima enlear-me.

Mas eis a vida, sugerindo frases, noites de Verão, abraços vespertinos, arabescos como ombros imperfeitos onde chorar sem razão aparente. Ei-la, cantando pelo desenho do leito de um rio abundante e tímido como as raízes expostas ao Sol, cicatriz ferrada por tigres leucísticos, lua omnisciente no tratado da alma imensa, descendo como lenha ao fragor humano e inspirador.

Era uma noite vazia
eu eu eu
ninguém -
espreitando a inbeleza da mulher
da música concreta e definitiva,
Era um Sol crescendo só em mim
e não aquecia,

rosnava, julgava e enviava-me ao lugar de início. Hoje encontro-me e divido-me na tua espera. Puxo a cadeira para trás como um fantasma farpado. Sinto o coração eléctrico. Onde estou, estou de pé. Toco, limpo, resguardo e sopro o melhor para o teu lado. Se vieres.

14 outubro 2024

é no gozo, certo?

Lembro-me de Miguel Real no Jornal de Letras. Sempre assíduo na crítica literária, mas em espaços à volta também. Escreve muito, mas nunca apreciei a sua prosa, nem crítica, sempre de encômios quase automáticos aos grandes nomes [Saramago e Pessoa à cabeça]. E assim tem sido. Agora, parece, lançou-se a Deus, que diz banal e não senhor da História não senhor, e ao Catolicismo com unhas e dentes. Não interessa que Miguel Real só destaque a religião, e a ICAR, pela negativa, escondendo o positivo porque sim. A mim interessa-me mais numa perspectiva pessoal e de crítica íntima a Deus, fora da religião enquanto forma institucional. E está a ir bem, é um orgulho nacional... Porque, dígamo-lo já, é mais grato guerrear com o Miguel Real, enformado pela universidade, e por isso com melhor pulso, do que com o pacóvio do Saramago, que é fraquinho e só vaidade oca. Tem um sentimento mais profundo e melhor conhecimento das pessoas, circunstâncias, costumes. E por isso faz pensar, o Miguel. Diz coisas de Santo! Como ele sabe tanto destas coisas de vida de padre! Esta é uma delas (neste artigo do DN):


A religião nunca morre porque não é encarada a sério, apenas como consolo da mente e suavização da vida, depois cada um faz a sua vida sem nada ligar à igreja. E, sobretudo, como esperança do futuro.

26 agosto 2024

quase sem importância.

O corpo e alma, à medida que envelhecem, começam a ser cínicos. O que antes faziam com uma pré-disposição absurda, agora medem, projectam. O que antes era entrega pura, hoje é hesitação e medidas sanitárias. A vida encarrega-se de me dar razão. E exemplos práticos.

Pode, o escrito, não ter muito que ver com o que vou escrever a seguir. Mas creio que tem tudo. Hoje entrei na Igreja Matriz de Ponte de Lima e o que vi foi: um católico rezando, compenetrado. E depois andavam ali umas abelhas que não tem nada que ver com o assunto, pousam de aparato em aparato até ao altar sem ouvir Deus dizer-lhes que detesta cínicos. Que, se quiserem, terá de ser pura a entrega. Mais grave do que isto e quando os ordenados religiosos, que mais do que cínicos turistas do olhar e das mãos, assassinam todo e qualquer contrato com Deus, porque deixaram que o cinismo se instalasse no mais profundo do ser.

Sim, começou por uma coisa tão pequena, quase não tinha importância.

11 agosto 2024

https://bartleby-zoo.blogspot.com/

Este é meu e pretende contribuir para controlar o défice de imaginação de que sofremos, como sociedade do "real" (acho que nunca empreguei tão bem umas aspas). Questões, questiúnculas, dores de escrita.