(Publicada em O Diabo em 28 de Agosto de 2006)
Cresci a ouvir que «Portugal não é um País pequeno» e que «Portugal é uno e indivisível». Quanto à primeira asserção considero-a hoje totalmente correcta, pois se fosse pequeno não podia albergar tantos fogos florestais simultâneos que se repetem todos os anos, apesar das lindas promessas dos governantes. Quanto à segunda frase, não posso deixar de a considerar errada, face às mais recentes decisões políticas: há áreas que não têm direito a continuar a ter as escolas de que beneficiavam havia décadas, nem as maternidades, nem as urgências dos Centros de Saúde, etc. E esta divisão entre o Portugal privilegiado e o desprezado está também visível nos fogos florestais que não afectam o País das grandes cidades e dos condomínios de luxo, mas a parte rural, do interior profundo ou remoto, tão desconhecido dos governantes, que só lá dão uma fugida em vésperas de eleições para vender peixe estragado.
E o País é tão grande que não tem sido possível um bom entendimento e convergência de esforços entre os ministérios da Administração Interna, da Agricultura e do Ambiente, bem como do ICN, no que diz respeito à prevenção dos fogos florestais, como ontem ressaltou das palavras de dois governantes. Estes, em virtude de o País ser tão grande e tão desconhecido, fariam melhor em não abrir a boca durante as suas visitas ao «mato». Neste aspecto, é sintomática a referência à necessidade de a população limpar a floresta e abrir aceiros. Estas são operações relativamente fáceis nas grandes áreas do Estado, mas daí vem um exemplo negativo. Pelo contrário, na área de minifúndios particulares, cada um não pode por si decidir sobre os aceiros dada a minúscula dimensão de muitas parcelas, e, por outro lado, a limpeza tem custos incompatíveis com as pensões de miséria que os velhotes recebem. Na maior parte das aldeias, vivem pessoas sem capacidade física ou financeira para efectuar tais limpezas. As pessoas válidas ou estão no estrangeiro, ou migraram para o litoral, tomando a atitude mais consentânea com as decisões governamentais quanto a apoios de ensino, saúde, etc, apesar das declaradas intenções de combater a desertificação, a interioridade e a exclusão. Para a limpeza das matas ser eficaz pareceria ser conveniente proceder à sua nacionalização, o que é desde logo desaconselhável, pelo exemplo dado pelas Matas Nacionais. Talvez, de entre as muitas dezenas de assessores, apesar de serem nomeados por critérios de confiança política e não de competência técnica (segundo vereadora da CML), apareça algum com uma ideia aproveitável para o reordenamento jurídico das terras incultas do país, com a colaboração de representantes dos proprietários (o que é de bom tom democrático).
A realidade evidencia que os políticos não se entendem entre si e pouco conhecem dos problemas que quotidianamente afectam os cidadãos. Esta ignorância desculpa-os da ausência de decisões coerentes e convergentes com o objectivo de conseguir uma melhoria sustentada da qualidade de vida da população. Resta-nos a frase bíblica: «Perdoai-lhes Senhor...»
SOMBRA NEGRA
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