DÍPTICO DE UMA CRISE
ANUNCIADA
Com um poslúdio
I – A coincidência
Esta noite tive um pesadelo
sonhei que vivia num país de financeiros gananciosos
sonhei que vivia num país de financeiros gananciosos
com políticos corruptos
que garantiam chorudas reformas para si próprios
e as roubavam aos outros a pretexto de uma crise por eles
gerada
O alvo a abater eram os pobres
já fragilizados pela ignorância em que eram mantidos
e a classe média, porque essa demora a entender a realidade
e sobretudo, tende apenas a cair em depressão e a suicidar-se
O alvo a abater eram, repito,
os pobres e a classe média
os pobres e a classe média
Não os muito pobres,
porque esses insurgem-se e geram confusão
porque esses insurgem-se e geram confusão
Podem fazer a revolução.
Esta noite tive um pesadelo
sonhei que vivia num país de financeiros gananciosos
e políticos corruptos...
sonhei que vivia num país de financeiros gananciosos
e políticos corruptos...
Mas, como todos sabem,
qualquer semelhança entre o sonho e a realidade é pura
coincidência!
II – O Sonho
Esta noite sonhei que vivia
num país sem políticos corruptos
em que estes tinham os mesmos direitos e deveres
de qualquer cidadão
não auferiam mais do que a maioria,
nem se reformavam mais cedo
Esta noite sonhei que vivia
num país de esperança e progresso sustentado
sem muito ricos nem muito pobres
onde a balança da justiça estava equilibrada
e em que a harmonia florescia
favorecendo o bem-estar da maioria
Esta noite sonhei que vivia
num país onde
a todos fosse permitido
ser feliz
Mas, … como já adivinharam foi apenas um sonho!
Poslúdio
Porém, há-de chegar o luminoso momento do despertar...
Pois não há pesadelo que dure sempre
Então, e só então, se cumprirá o vate:
Então, e só então, se cumprirá o vate:
“o povo é quem mais
ordena”!
David Zink
2013-03-21 (no Dia Mundial da Poesia)
Grândola, vila morena (José Afonso)
intérprete: Amália Rodrigues