Berço expectante
Lá fora, o vento a despentear o frio, a chuva a dar pernas à saliva das estrelas. Cá dentro o lume, o berço expectante. O abraço enxuto da casa materna. Dentro de mim, dás corda ao relógio que somos, até chegar a hora de nos tocarmos pelo lado de fora. Até chegar a hora de seres brasa no meu, nosso, colo aprendiz. Cá fora, aguardam-te quatro braços, quatro pés, dois sorrisos-luz, dois substantivos ansiosos por contigo serem o princípio de um novo dicionário. Cá fora, eu e o papá esperamos saber ler a palavra que já és cá dentro, esperamos saber conjugar, em ti, os verbos amar, abraçar, aconchegar, mimar, amparar, dar, impulsionar, estimular, incentivar, soltar, semear. Cá fora, esperamos que saibas escrever-te poema neste mundo de gramática entorpecida, esperamos que sejas verbo límpido e que de nós herdes palavras-húmus, gestos-semente. Branquinha, que nunca percas o espanto grato por fazeres parte da existência. Que sejas desordem alfabética se essa ...