Normalmente classificado como conto "fantástico" -- assim tem aparecido nas antologias do género --, sê-lo-á, se o interlocutor do narrador for mesmo o que reclama ser: Deus. Mas poderá também ser um louco, neste caso, dotado de excepcional clarividência.
Deus, ou louco que se crê tal, revela-se insatisfeito e desgostoso com a obra criada, um mundo imperfeito, como imperfeito resultou o Homem, criado à sua imagem.
O ateísmo do autor fica bem expresso, como claramente expostas estão as ideias inconformistas e libertárias que professou. De tal modo que, para a intrigante personagem que dialoga com o narrador, Louco ou Deus, há apenas um tipo de homens que estarão tocados por uma partícula de divino e que assim se aproximam do alegado criador, tal qual ele se mostra nesta curta narrativa: aqueles que questionam, aqueles que se revoltam, e por isso sofrem na carne e no espírito a férula dos poderosos deste mundo -- como sucedeu àquele que em tempos morreu numa cruz.
incipit: «Branca, airosa, pequenita, erguida sobre o tope de uma colina, a Capela do Senhor dos Navegantes divisava-se de longe, como um farol.»
ficha:
Autor: Ferreira de Castro
título: O Senhor dos Navegantes
local: Lisboa
editor: Expo'98
ano: 1998
impressão: Printer Portuguesa
capa: Luís Filipe Cunha
págs.: 37
tiragem: 5000
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