Saltar para o conteúdo

Ensaio: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
 
(Há 19 revisões intermédias de 11 utilizadores que não estão a ser apresentadas)
Linha 1: Linha 1:
{{Mais notas|data=junho de 2022}}
{{TOC-direita}}
{{Ver desambig}}
'''Ensaio''' é um texto [[literatura|literário]] breve, situado entre o [[poesia|poético]] e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões éticas e [[filosofia|filosóficas]] a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o [[Tratado (estudo)|tratado]]. Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, religioso, etc.) <ref name="principal">{{citar web |url=https://www.todamateria.com.br/o-ensaio-como-genero-textual/ |titulo=<i>O Ensaio como Gênero Textual</i> |publicado=<i>TodaMatéria</i> |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160410022637/http://www.todamateria.com.br/o-ensaio-como-genero-textual/ |arquivodata=10/04/2016}}</ref> <ref name="segunda">{{citar web |url=http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/216024 |titulo=<i>O ensaio literário (do Latim exagiu[m] = ação de pensar)</i> |author=Ricardo Sérgio, Alfredo Bosi e Massaud Moisés |data=14/08/2006 |publicado=<i>Recanto das Letras</i> |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20161203182045/http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/216024 |arquivodata=03/12/2016}}</ref>, sem que se paute em formalidades como documentos ou provas [[empirismo|empíricas]] ou [[dedução|dedutivas]] de caráter científico.
'''Ensaio''' é uma obra de reflexão que versa sobre determinado tema, sem que o autor pretenda esgotá-lo, exposta de maneira pessoal ou mesmo subjetiva. Ao contrário do [[estudo]], o ensaio não é investigativo, podendo ser impressionista ou opinativo. É um texto breve, situado entre o [[poesia|poético]] e o didático, contendo ideias, críticas e reflexões sobre diferentes temas. Menos formal que o [[Tratado (estudo)|tratado]], presta-se à defesa de um ponto de vista pessoal acerca de um dado tema (filosófico, científico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, religioso etc.),<ref name="principal">{{citar web |url=https://www.todamateria.com.br/o-ensaio-como-genero-textual/ |titulo=<i>O Ensaio como Gênero Textual</i> |publicado=<i>TodaMatéria</i> |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160410022637/http://www.todamateria.com.br/o-ensaio-como-genero-textual/ |arquivodata=10/04/2016}}</ref><ref name="segunda">{{citar web |url=http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/216024 |titulo=<i>O ensaio literário (do Latim exagiu[m] = ação de pensar)</i> |autor =Ricardo Sérgio, Alfredo Bosi e Massaud Moisés |data=14/08/2006 |publicado=<i>Recanto das Letras</i> |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20161203182045/http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/216024 |arquivodata=03/12/2016}}</ref> sem que se paute em formalidades como documentos ou provas [[empirismo|empíricas]] ou [[dedução|dedutivas]] de caráter científico.<ref name="segunda"/>
<ref name="segunda"/>


O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Por essa razão, o filósofo [[Espanha|espanhol]] [[José Ortega y Gasset]] o definiu como "a ciência sem prova explícita". <ref name="terceira">{{citar web |url=http://www.unig.br/cadernosdafael/ARTIGO%20CADERNOS%208%20LINDINEI.pdf |titulo=A inscrição do ensaio nos gêneros literários |author=Lindinei Rocha Silva e Andrea Targino da Silva |publicado=[[Universidade Iguaçu]] |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20161203184552/http://www.unig.br/cadernosdafael/ARTIGO%20CADERNOS%208%20LINDINEI.pdf |arquivodata=03/12/2016}}</ref>
O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Por essa razão, o filósofo [[Espanha|espanhol]] [[José Ortega y Gasset]] o definiu como "a ciência sem prova explícita".<ref name="terceira">{{citar web |url=http://www.unig.br/cadernosdafael/ARTIGO%20CADERNOS%208%20LINDINEI.pdf |titulo=A inscrição do ensaio nos gêneros literários |autor =Lindinei Rocha Silva e Andrea Targino da Silva |publicado=[[Universidade Iguaçu]] |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20161203184552/http://www.unig.br/cadernosdafael/ARTIGO%20CADERNOS%208%20LINDINEI.pdf |arquivodata=03/12/2016}}</ref>
[[Ficheiro:Essais Titelblatt (1588).png|miniaturadaimagem|Ensaios de [[Michel de Montaigne]]]]


== Origens ==
== Origens ==
Surgidos no final do século XVI, ensaios são simples opiniões, pensamentos que não devem ser levados muito a sério. Foi isso que o escritor e filósofo francês [[Michel de Montaigne]] ([[1533]]-[[1592]]) idealizou <ref name="terceira"/> <ref name="quarta">{{citar web |url=https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/65/o_ensaio_como_genero_textual.pdf |titulo=<i>O ensaio como gênero textual</i> |data=<i>[[2009#Agosto|Agosto de 2009]]</i> |author=Prof. Dr. Jayme Paviani |publicado=[[Universidade de Caxias do Sul]] |issn=1808-7655 |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20161203191221/https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/65/o_ensaio_como_genero_textual.pdf |arquivodata=03/12/2016}}</ref> ao escrever seus ''essais'' (1580; Ensaios). <ref name="principal"/> <ref name="segunda"/> Ele queria dizer que aquilo eram tentativas, simples esboços literários (o termo francês deriva do verbo ''essayer,'' que significa "tentar"). Na [[Inglaterra]], o filósofo [[Francis Bacon]], primeiro grande ensaísta inglês, publicava ''essays'' (1597; Ensaios). Porém, o que Michel de Montaigne criaria, junto com Bacon <ref name="quarta"/>, séculos mais tarde se tornaria um dos principais gêneros literários dos [[crítica literária|críticos]] e filósofos, além de influenciar radicalmente a [[história]].
Surgidos no final do século XVI, ensaios são simples opiniões, pensamentos que não devem ser levados muito a sério. Foi isso que o escritor e filósofo francês [[Michel de Montaigne]] ([[1533]]-[[1592]]) idealizou<ref name="terceira"/><ref name="quarta">{{citar web |url=https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/65/o_ensaio_como_genero_textual.pdf |titulo=<i>O ensaio como gênero textual</i> |data=agosto de 2009|autor =Prof. Dr. Jayme Paviani |publicado=[[Universidade de Caxias do Sul]] |issn=1808-7655 |acessodata=3 de dezembro de 2016 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20161203191221/https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/65/o_ensaio_como_genero_textual.pdf |arquivodata=03/12/2016}}</ref> ao escrever seus ''essais'' (1580; Ensaios).<ref name="principal"/><ref name="segunda"/> Ele queria dizer que aquilo eram tentativas, simples esboços literários (o termo francês deriva do verbo ''essayer,'' que significa "tentar"). Na [[Inglaterra]], o filósofo [[Francis Bacon]], primeiro grande ensaísta inglês, publicava ''essays'' (1597; Ensaios). Porém, o que Michel de Montaigne criaria, junto com Bacon,<ref name="quarta"/> séculos mais tarde se tornaria um dos principais gêneros literários dos [[crítica literária|críticos]] e filósofos, além de influenciar radicalmente a [[história]].


== Divisões ==
== Divisões ==
Originalmente, o ensaio se divide em formal ou discursivo e informal ou comum. No formal, os textos são objetivos, metódicos e estruturados, dirigidos mais a assuntos didáticos, críticas oficiais, etc... Já o informal é mais subjetivo e caprichoso em fantasia, o que o torna muito mais veiculável. Com essa característica, o ensaio comum explodiu na [[Europa]] do século XIX e primeira metade do século XX. O objetivo do ensaio é fazer algo comum, de fácil leitura, em que se possa fazer rápido, sem compromisso em dizer a verdade ou provar tal coisa, algo que possa ser discutido em casas de cafés, de intelectuais a cidadãos comuns. É por isso que o ensaio se tornou um [[gênero literário]] tão popular.
Originalmente, o ensaio se divide em formal ou discursivo e informal ou comum. No formal, os textos são objetivos, metódicos e estruturados, dirigidos mais a assuntos didáticos, críticas oficiais, etc.. Já o informal é mais subjetivo e caprichoso em fantasia, o que o torna muito mais vinculável. Com essa característica, o ensaio comum explodiu na [[Europa]] do século XIX e primeira metade do século XX. O objetivo do ensaio é fazer algo comum, de fácil leitura, em que se possa fazer rápido, sem compromisso em dizer a verdade ou provar tal coisa, algo que possa ser discutido em casas de cafés, de intelectuais a cidadãos comuns. É por isso que o ensaio se tornou um [[gênero literário]] tão popular.
[[Ficheiro:Locke Essay 1690.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|''Ensaio acerca do Entendimento Humano'' de John Locke 1690 ]]


== Ensaios modernos ==
== Ensaios modernos ==
Depois de Montaigne e Bacon lançarem as bases do ensaio <ref name="quarta"/>, ele ficou esquecido durante quase todo o [[século XVII]], sendo que poucos foram os que dele lembraram. Em 1666, o filósofo empirista [[John Locke]] <ref name="quarta"/> publicou ''Essay Concerning Toleration'' (Ensaio sobre a tolerância). Mas o reformador do ensaio inglês foi o poeta [[Abraham Cowley]], com ''"Several Discourses by Way of Essays"'' ("Vários discursos à maneira de ensaios") e ''"Of Myself"'' ("Sobre mim mesmo"), incluídos em ''Essays'', só publicados em 1906.
Depois de Montaigne e Bacon lançarem as bases do ensaio,<ref name="quarta"/> ele ficou esquecido durante quase todo o [[século XVII]], sendo que poucos foram os que dele lembraram. Em 1666, o filósofo empirista [[John Locke]]<ref name="quarta"/> publicou ''Essay Concerning Toleration'' (Ensaio sobre a tolerância). Mas o reformador do ensaio inglês foi o poeta [[Abraham Cowley]], com ''"Several Discourses by Way of Essays"'' ("Vários discursos à maneira de ensaios") e ''"Of Myself"'' ("Sobre mim mesmo"), incluídos em ''Essays'', só publicados em 1906.


Em princípios do século XVIII, o ensaio informal invadiu o [[jornalismo]] inglês, com [[Daniel Defoe]]. Estava aberto o caminho para a contribuição decisiva de [[Joseph Addison]] e [[Richard Steele]], que levaram o gênero à perfeição estilística e a um êxito sem precedentes nas páginas dos periódicos The Tatler (1709-1711), The Spectator (1711-1714) e The Guardian (1713), que eles próprios fundaram e dirigiram, e em cujas páginas brilharam os poetas [[Alexander Pope]] (o único a produzir ensaios em verso) e [[John Gay]]. Addison e Steele influenciaram toda uma geração de mestres ingleses, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Outro notável ensaísta inglês do século XVIII foi [[Samuel Johnson]], que, praticamente sozinho, fundou e dirigiu as revistas The Rambler (1750-1752), Adventurer (1752) e The Idler (1759). Destacaram-se também [[Henry Fielding]] e [[Oliver Goldsmith]], autor de ''Citizen of the World'' (1760; Cidadão do mundo).
Em princípios do século XVIII, o ensaio informal invadiu o [[jornalismo]] inglês, com [[Daniel Defoe]]. Estava aberto o caminho para a contribuição decisiva de [[Joseph Addison]] e [[Richard Steele]], que levaram o gênero à perfeição estilística e a um êxito sem precedentes nas páginas dos periódicos The Tatler (1709-1711), The Spectator (1711-1714) e The Guardian (1713), que eles próprios fundaram e dirigiram, e em cujas páginas brilharam os poetas [[Alexander Pope]] (o único a produzir ensaios em verso) e [[John Gay]]. Addison e Steele influenciaram toda uma geração de mestres ingleses, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Outro notável ensaísta inglês do século XVIII foi [[Samuel Johnson]], que, praticamente sozinho, fundou e dirigiu as revistas The Rambler (1750-1752), Adventurer (1752) e The Idler (1759). Destacaram-se também [[Henry Fielding]] e [[Oliver Goldsmith]], autor de ''Citizen of the World'' (1760; Cidadão do mundo).
Linha 20: Linha 22:
Na Inglaterra, o ensaísmo conservou suas virtudes durante todo o século XIX. Foram grandes ensaístas: [[Charles Lamb]], [[William Hazlitt]], [[Thomas Carlyle]], [[Percy B. Shelley]], [[Thomas Macaulay]], [[William Thackeray]], [[Walter Bagehot]], [[John Ruskin]] e muitos outros. O século XIX assinalou também o aparecimento de bons ensaístas nos Estados Unidos, como [[Ralph Emerson]], [[Henry David Thoreau]], [[Washington Irving]] e [[James Lowell]]. Outros foram o italiano [[Francesco de Sanctis]] e [[Benedetto Croce]], embora o melhor de Croce já pertencesse ao século XX. Em Portugal, o ensaísmo restringiu-se a [[Antero de Quental]] e [[Alexandre Herculano]]. Na Russia destaca-se [[Leo Tolstoy]] e [[Yevgeny Zamyatin]].
Na Inglaterra, o ensaísmo conservou suas virtudes durante todo o século XIX. Foram grandes ensaístas: [[Charles Lamb]], [[William Hazlitt]], [[Thomas Carlyle]], [[Percy B. Shelley]], [[Thomas Macaulay]], [[William Thackeray]], [[Walter Bagehot]], [[John Ruskin]] e muitos outros. O século XIX assinalou também o aparecimento de bons ensaístas nos Estados Unidos, como [[Ralph Emerson]], [[Henry David Thoreau]], [[Washington Irving]] e [[James Lowell]]. Outros foram o italiano [[Francesco de Sanctis]] e [[Benedetto Croce]], embora o melhor de Croce já pertencesse ao século XX. Em Portugal, o ensaísmo restringiu-se a [[Antero de Quental]] e [[Alexandre Herculano]]. Na Russia destaca-se [[Leo Tolstoy]] e [[Yevgeny Zamyatin]].


No século XX destacaram-se os ingleses [[Gilbert Keith Chesterton]], [[Aldous Huxley]], [[Thomas Eliot]] e [[George Orwell]]; o [[Áustria|austríaco]] [[Stefan Zweig]] e o [[alemanha|alemão]] [[Thomas Mann]]; os [[espanha|espanhóis]] [[Miguel de Unamuno]] e [[José Ortega y Gasset]]; os franceses [[Remy de Gourmont]], [[Paul Valéry]], [[Albert Camus]], [[Maurice Maeterlinck]] e [[Marguerite Yourcenar]]; os [[portugal|portugueses]] [[Eduardo Lourenço]], [[António Sérgio]], [[Jorge de Sena]] e [[José Régio]]; a russa [[Ayn Rand]]; e os [[brasil]]eiros [[Sérgio Buarque de Hollanda]], Nelson Rodrigues, [[Gilberto Freyre]], [[Augusto Meyer]], [[Alceu Amoroso Lima]].
No século XX destacaram-se os ingleses [[Gilbert Keith Chesterton]], [[Aldous Huxley]], [[Thomas Eliot]] e [[George Orwell]]; o [[Áustria|austríaco]] [[Stefan Zweig]] e o [[alemanha|alemão]] [[Thomas Mann]]; os [[espanha|espanhóis]] [[Miguel de Unamuno]] e [[José Ortega y Gasset]]; os franceses [[Remy de Gourmont]], [[Paul Valéry]], [[Albert Camus]], [[Maurice Maeterlinck]] e [[Marguerite Yourcenar]]; os [[portugal|portugueses]] [[Eduardo Lourenço]], [[António Sérgio]], [[Jorge de Sena]] e [[José Régio]]; a russa [[Ayn Rand]]; e os [[brasil]]eiros [[Sérgio Buarque de Hollanda]], [[Nelson Rodrigues]], [[Gilberto Freyre]], [[Augusto Meyer]], [[Alceu Amoroso Lima]].


=== Ensaios e a História. ===
=== Ensaios e a História. ===
Linha 29: Linha 31:
Ele deixou bem claras as razões para escolher esse subtítulo na introdução do livro, que começa com a frase: "Essa obra leva o título de mero ensaio no sentido estrito da palavra", e prossegue sustentando que "a cada olho, talvez, os contornos de uma dada civilização apresentam uma figura diversa" e que "os mesmos estudos que serviram a esse trabalho podem facilmente, em outras mãos (...), conduzir a conclusões essencialmente diversas".
Ele deixou bem claras as razões para escolher esse subtítulo na introdução do livro, que começa com a frase: "Essa obra leva o título de mero ensaio no sentido estrito da palavra", e prossegue sustentando que "a cada olho, talvez, os contornos de uma dada civilização apresentam uma figura diversa" e que "os mesmos estudos que serviram a esse trabalho podem facilmente, em outras mãos (...), conduzir a conclusões essencialmente diversas".


Para muitos [[crítica literária|críticos]], há inúmeras razões para Jacob descrever suas obras como ensaios. Uma delas é para que ele se afastasse da história profissional, criando suas próprias versões da história, e fugindo do rigor imposto pelos profissionais de [[ciências sociais]]. Deste modo, faria com que a história ganhasse mais flexibilidade e se abrissem novas possibilidades de interpre
Para muitos [[crítica literária|críticos]], há inúmeras razões para Jacob descrever suas obras como ensaios. Uma delas é para que ele se afastasse da história profissional, criando suas próprias versões da história, e fugindo do rigor imposto pelos profissionais de [[ciências sociais]]. Deste modo, faria com que a história ganhasse mais flexibilidade e se abrissem novas possibilidades de interpretação.


== Ensaístas famosos ==
{{Referências}}
*[[Susan Sontag]]
*[[Plutarco]]<ref name="quarta" />
*[[Aldous Huxley]] ([[1894]]-[[1963]])
*[[Ayn Rand]] ([[1905]] - [[1982]])
*[[Michel de Montaigne]] ([[1533]]-[[1592]])
*[[Voltaire]] ([[1697]]-[[1778]])
*[[Eduardo Lourenço]] ([[1923]]-[[2020]])
*[[Ralph Waldo Emerson]] ([[1803]]–[[1882]])
*[[Henry David Thoreau]] ([[1817]]–[[1862]])
*[[Leo Tolstoy]] ([[1828]]-[[1910]])
*[[George Bernard Shaw]] ([[1856]]-[[1950]])
*[[C.S. Lewis]] ([[1898]]–[[1963]])
*[[Elina Patanè]]
*[[George Orwell]] ([[1903]]-[[1950]])
*[[Marguerite Yourcenar]] ([[1903]]–[[1987]])
*[[J.M. Coetzee]]
*[[Stephen Jay Gould]]
*[[Gilbert Keith Chesterton]]
*[[Richard Dawkins]]
*[[Mario Vargas Llosa]] ([[1936]]-)
*[[José Saramago]] ([[1922]] - [[2010]])
*[[Yevgeny Zamyatin]] ([[1884]] - [[1937]])


== Ver também ==
*[[Redação]]

{{Referências}}{{Controle de autoridade}}
[[Categoria:Ensaios]]
[[Categoria:Ensaios]]

Edição atual tal como às 13h13min de 20 de abril de 2024

 Nota: Para outros significados, veja Ensaio (desambiguação).

Ensaio é uma obra de reflexão que versa sobre determinado tema, sem que o autor pretenda esgotá-lo, exposta de maneira pessoal ou mesmo subjetiva. Ao contrário do estudo, o ensaio não é investigativo, podendo ser impressionista ou opinativo. É um texto breve, situado entre o poético e o didático, contendo ideias, críticas e reflexões sobre diferentes temas. Menos formal que o tratado, presta-se à defesa de um ponto de vista pessoal acerca de um dado tema (filosófico, científico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, religioso etc.),[1][2] sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico.[2]

O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Por essa razão, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset o definiu como "a ciência sem prova explícita".[3]

Ensaios de Michel de Montaigne

Surgidos no final do século XVI, ensaios são simples opiniões, pensamentos que não devem ser levados muito a sério. Foi isso que o escritor e filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) idealizou[3][4] ao escrever seus essais (1580; Ensaios).[1][2] Ele queria dizer que aquilo eram tentativas, simples esboços literários (o termo francês deriva do verbo essayer, que significa "tentar"). Na Inglaterra, o filósofo Francis Bacon, primeiro grande ensaísta inglês, publicava essays (1597; Ensaios). Porém, o que Michel de Montaigne criaria, junto com Bacon,[4] séculos mais tarde se tornaria um dos principais gêneros literários dos críticos e filósofos, além de influenciar radicalmente a história.

Originalmente, o ensaio se divide em formal ou discursivo e informal ou comum. No formal, os textos são objetivos, metódicos e estruturados, dirigidos mais a assuntos didáticos, críticas oficiais, etc.. Já o informal é mais subjetivo e caprichoso em fantasia, o que o torna muito mais vinculável. Com essa característica, o ensaio comum explodiu na Europa do século XIX e primeira metade do século XX. O objetivo do ensaio é fazer algo comum, de fácil leitura, em que se possa fazer rápido, sem compromisso em dizer a verdade ou provar tal coisa, algo que possa ser discutido em casas de cafés, de intelectuais a cidadãos comuns. É por isso que o ensaio se tornou um gênero literário tão popular.

Ensaio acerca do Entendimento Humano de John Locke 1690

Ensaios modernos

[editar | editar código-fonte]

Depois de Montaigne e Bacon lançarem as bases do ensaio,[4] ele ficou esquecido durante quase todo o século XVII, sendo que poucos foram os que dele lembraram. Em 1666, o filósofo empirista John Locke[4] publicou Essay Concerning Toleration (Ensaio sobre a tolerância). Mas o reformador do ensaio inglês foi o poeta Abraham Cowley, com "Several Discourses by Way of Essays" ("Vários discursos à maneira de ensaios") e "Of Myself" ("Sobre mim mesmo"), incluídos em Essays, só publicados em 1906.

Em princípios do século XVIII, o ensaio informal invadiu o jornalismo inglês, com Daniel Defoe. Estava aberto o caminho para a contribuição decisiva de Joseph Addison e Richard Steele, que levaram o gênero à perfeição estilística e a um êxito sem precedentes nas páginas dos periódicos The Tatler (1709-1711), The Spectator (1711-1714) e The Guardian (1713), que eles próprios fundaram e dirigiram, e em cujas páginas brilharam os poetas Alexander Pope (o único a produzir ensaios em verso) e John Gay. Addison e Steele influenciaram toda uma geração de mestres ingleses, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Outro notável ensaísta inglês do século XVIII foi Samuel Johnson, que, praticamente sozinho, fundou e dirigiu as revistas The Rambler (1750-1752), Adventurer (1752) e The Idler (1759). Destacaram-se também Henry Fielding e Oliver Goldsmith, autor de Citizen of the World (1760; Cidadão do mundo).

Na França do século XVIII não havia muitos ensaístas, exceção feita a Montesquieu, em Essai sur le goût (1748; Ensaio sobre o gosto), e Voltaire, em Essai sur les moeurs et l'esprit des nations (1756; Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações), os dois maiores expoentes. No século XIX, entre os grandes ensaístas franceses destacaram-se Hippolyte Taine, autor de Essais de critique et d'histoire (1858; Ensaios de crítica e história), e Charles Augustin Sainte-Beuve, com suas Causeries de lundi (1851-1862; Conversas de segunda-feira) e Nouveaux lundis (1863-1870; Novas segundas-feiras).

Na Inglaterra, o ensaísmo conservou suas virtudes durante todo o século XIX. Foram grandes ensaístas: Charles Lamb, William Hazlitt, Thomas Carlyle, Percy B. Shelley, Thomas Macaulay, William Thackeray, Walter Bagehot, John Ruskin e muitos outros. O século XIX assinalou também o aparecimento de bons ensaístas nos Estados Unidos, como Ralph Emerson, Henry David Thoreau, Washington Irving e James Lowell. Outros foram o italiano Francesco de Sanctis e Benedetto Croce, embora o melhor de Croce já pertencesse ao século XX. Em Portugal, o ensaísmo restringiu-se a Antero de Quental e Alexandre Herculano. Na Russia destaca-se Leo Tolstoy e Yevgeny Zamyatin.

No século XX destacaram-se os ingleses Gilbert Keith Chesterton, Aldous Huxley, Thomas Eliot e George Orwell; o austríaco Stefan Zweig e o alemão Thomas Mann; os espanhóis Miguel de Unamuno e José Ortega y Gasset; os franceses Remy de Gourmont, Paul Valéry, Albert Camus, Maurice Maeterlinck e Marguerite Yourcenar; os portugueses Eduardo Lourenço, António Sérgio, Jorge de Sena e José Régio; a russa Ayn Rand; e os brasileiros Sérgio Buarque de Hollanda, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, Augusto Meyer, Alceu Amoroso Lima.

Ensaios e a História.

[editar | editar código-fonte]

Um campo no qual o termo "ensaio" não perdeu seu poder original de chocar é o da história.

Em meados do século XIX, não muito após Leopold von Ranke (1795-1886) proclamar o ideal da história profissional, a história objetiva baseada em documentos oficiais preservados em arquivos, Jacob Burckhardt publicou seu livro sobre "A Civilização do Renascimento na Itália". O subtítulo do livro era curto, mas expressivo: "Um Ensaio" ("ein Versuch", em alemão).

Ele deixou bem claras as razões para escolher esse subtítulo na introdução do livro, que começa com a frase: "Essa obra leva o título de mero ensaio no sentido estrito da palavra", e prossegue sustentando que "a cada olho, talvez, os contornos de uma dada civilização apresentam uma figura diversa" e que "os mesmos estudos que serviram a esse trabalho podem facilmente, em outras mãos (...), conduzir a conclusões essencialmente diversas".

Para muitos críticos, há inúmeras razões para Jacob descrever suas obras como ensaios. Uma delas é para que ele se afastasse da história profissional, criando suas próprias versões da história, e fugindo do rigor imposto pelos profissionais de ciências sociais. Deste modo, faria com que a história ganhasse mais flexibilidade e se abrissem novas possibilidades de interpretação.

Ensaístas famosos

[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «O Ensaio como Gênero Textual». TodaMatéria. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 10 de abril de 2016 
  2. a b c Ricardo Sérgio, Alfredo Bosi e Massaud Moisés (14 de agosto de 2006). «O ensaio literário (do Latim exagiu[m] = ação de pensar)». Recanto das Letras. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 3 de dezembro de 2016 
  3. a b Lindinei Rocha Silva e Andrea Targino da Silva. «A inscrição do ensaio nos gêneros literários» (PDF). Universidade Iguaçu. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 3 de dezembro de 2016 
  4. a b c d e Prof. Dr. Jayme Paviani (agosto de 2009). «O ensaio como gênero textual» (PDF). Universidade de Caxias do Sul. ISSN 1808-7655. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 3 de dezembro de 2016