Apesar de ter almoçado com o Yone sexta-feira na Horiba, a minha visita a ele ainda não estava completa, pois eu tinha que visitar sua casa e família. E por que eu deveria visitar sua família? Bom, porque eu faço parte (pelo menos de uma pequena parte) da história dela...
Yone era um dos meus colegas de trabalho quando fiz o estágio em 2003 em Kyoto. Seguidamente nós, os trainees estrangeiros, e alguns outros colegas saíamos para jantar após o trabalho. Na região onde fica a Horiba não havia muitas opções, então costumávamos ir em um pequeno restaurante, cerca de meia da empresa caminhando. Era um restaurante simples e familiar (se bem que, havia boatos, alguns Yakuza costumavam ir lá de vez em quando depois de sair do Pachinko). A dona era uma senhora, e a filha dela, Maki, atendia no restaurante.
Maki, apesar de falar pouco inglês, era sempre muito atenciosa com a gente. Não fosse pelos nossos colegas que nos levavam até lá, dificilmente outros estrangeiros iriam ao seu restaurante, então ela sempre aproveitava a oportunidade para conversar conosco, além de nos explicar os pratos e dar sugestões. Como ela era praticamente da nossa idade, começamos a convidá-la quando nos reuníamos para fazer alguma coisa, ir em algum lugar, ou até cantar no Karaoke.
Sentimos que Yone gostava da Maki, mas não demonstrava muito. Sentimos que Maki talvez gostasse do Yone, mas com a falta de demonstração do Yone também não demonstrava muito. Demos o empurrãozinho necessário, comentando com o Yone que talvez ele devesse convidar a Maki pra sair.
Bom, meu estágio terminou e o resto da história acompanhei pelos mails enviado de tempos em tempos pelo Yone e pela Maki. Nos 3 anos seguintes, eles namoraram, casaram, compraram uma casa e, alguns dias antes de eu chegar ao Japão, tiveram uma linha filhinha, chamada Mao.
Voltei de Osaka para Kyoto no sábado depois do almoço para visitar a nova casa de Yone, reencontrar a Maki e conhecer a pequenina Mao-chan. A casa é grande, nova, bem decorada. E a pequena Mao é calminha e bem comportada. Tem 3 meses e portanto ainda não repara na minha cara de estrangeiro, mas possivelmente ouviu inglês pela primeira vez na minha visita à sua casa. Conversamos muito, eu, Yone e a Maki, enquanto a Mao só dormia. Falamos dos acontecimentos posteriores a minha volta ao Brasil, sobre o que aconteceu com outros estagiários e funcionários da Horiba. A conversa era predominantemente em inglês mas às vezes mudávamos para o japonês. Fiquei umas 3 horas na casa deles, conversamos muito e o tempo voou, mas tive que ir embora pois a tardinha ainda tinha outro compromisso: reencontrar o pessoal da AIESEC.
Já escrevi antes, mas, pra quem não sabe, a AIESEC é a organização de estudantes que promoveu meu estágio em 2003. Muitos dos estudantes do escritório da AIESEC na Universidade Doshisha, responsáveis pelo meu estágio, se tornaram grandes amigos, então não podia deixar de reencontrar alguns deles. Quando avisei que estava indo para Kyoto, logo organizaram de reunir os (ainda) membros e sair para jantar comigo.
Parte dos membros que conheci se formou, e por isso não fazem parte mais da AIESEC. Alguns se mudaram de cidade por causa de seus novos empregos. Mas outros, que na época haviam recém entrado no escritório, hoje já são “veteranos”, e foram jantar com a gente. Além deles, havia os que entraram depois, incluindo os que recém entraram em abril desse ano. Foi legal conversar com esses membros novos, que ainda não tiveram contato com os trainees estrangeiros (a AIESEC Doshisha só os recebe no verão, isto é, na metade do ano). Esse convívio, de forma geral, é o espírito da AIESEC. Conversamos, perguntei sobre o que estudavam, porque entraram na AIESEC e o que esperavam dela. Foi bem divertido. Me contaram, também, que este ano vão receber um outro trainee brasileiro e, mundinho pequeno, também gaúcho, de Santa Maria. Conversei também com o pessoal que conheci da outra vez. Relembramos situações, pessoas, enfim, aquele bom tempo que passei em Kyoto em 2003.
Fomos comer Yakiniku (焼き肉), um tipo de refeição japonesa (na verdade a origem é coreana) que lembra um fondue de carne. São fatias finas de carne que são colocadas sobre uma grelha, e essa fica em cima de um recipiente com carvão em brasa, no centro da mesa. Além da carne, às vezes são servidos também salsichas, espigas de milho, cogumelos e alguns outros vegetais, mas o bom mesmo é a carne. O pessoal vai colocando a comida na grelha com os hashis, e tirando a medida que fica pronto, mergulhando numa tigelinha com um molho parecido com shoyu. É muito bom.
Saímos tarde de lá, passamos ainda em um puricura (プリクラ), um lugar que além de jogos tem aquelas maquininhas de tirar fotos de grupos, e depois enfeitá-las e imprimí-las em adesivos, e depois de tirar algumas fotos pra registrar o momento, peguei o último trem de volta a casa dos Magata. Mais uma vez, uma grande noite de sono.
No domingo, último dia, ainda reencontrei mais algumas pessoas, mas isso fica para o terceiro e “derradeiro” post...