Cidade de pescadores, de aguadas, baía retemperadora de antigas caravelas transatlânticas. Namibe é altar de flores à deusa do mar.
Aqui, neste sul bem sul de Angola, a cidade do Namibe. Porta de mar para um deserto que não conhece fronteiras. Cidade de pescadores, de aguadas, baía retemperadora de antigas caravelas transatlânticas. Namibe é altar de flores à deusa do mar.
Uma baía. Plácida. Tranquila. Água vai, traineira vem. Ponto final do mar angolano, lá no sul, o Namibe é província contrastante de terra gretada pela sede e de areia molhada pela água gelada que vem de onde o pólo também é sul.
A pequena cidade, piscatória até à espinha dorsal, é um dos lugares com uma luz muito especial nesta nossa Angola. Plantada às portas do deserto e do mar, a capital da província com o mesmo nome tem história e carisma. Dizem as lendas que a enseada era paragem obrigatória de corsários, piratas e navegadores que por ali passaram muito antes da descoberta oficial, assinalada pelo padrão que Diogo Cão levantou no Cabo Negro, em 1485. A partir dessa data, passaram a escalar a baía as caravelas que viajavam para a Índia e o Brasil.
Os enormes recursos marinhos, principalmente o peixe que, nesta região, apanha boleia na Corrente Fria de Benguela, logo chamaram a atenção dos colonizadores lusos. À terra dos Kuvale chegou, em 1849, directamente do Brasil, um primeiro grupo de colonizadores liderados por Bernardino de Abreu e Castro. Mais tarde, juntaram-se famílias algarvias, também elas gentes de mar. Ao lugar, chamaram-lhe “Angra do Negro”. A actividade pesqueira foi uma constante a partir desse momento. Hoje, o Namibe é a principal produtora de peixe, mariscos e produtos marinhos.
O nome colonial que ficou para a história, Moçâmedes, surgiu apenas em 1849, em honra a um barão general do exército colonial. Não foi por acaso. Por estes anos, os portugueses lutavam desesperadamente para dominar o sul de Angola. O porto do Moçâmedes converteu-se, naturalmente, num importante posto avançado do exército colonial. Aqui chegavam barcos carregados de armas e soldados, que eram, depois enviado para as tragicamente chamadas “campanhas de pacificação”.
Hoje, já com o nome de Namibe, a cidade é uma pequena pérola com uma marginal longa, cuja imagem de marca são as arcadas coloridas que nos abrigam do sol. São vários os exemplares de arquitectura colonial que merecem uma visita, como o Edifício dos Correios e telégrafos, o Palácio do Governo, em plena marginal, ou a Estação de Caminho-de-ferro de Moçâmedes. No município do Namibe, não deixe também de ver a Fortaleza de São Fernando, actual unidade militar da Marinha angolana, e a Torre do Tombo, guardiã do arquivo histórico da cidade.
Se quiser sair um pouco da capital da província, tenha em conta que o Namibe é o centro focal de uma linha de costa com 480 km de praias que vão da Lucira ao Cabo Negro, pontilhada por antigos portos como o Saco Mar, onde se escoava o ferro das minas da Jamba, na Huíla. Não perca a Praia das Miragens, em plena cidade, a Praia Azul, Praia Amélia, Praia das Barreiras, Praia dos Flamingos. Em alguns pontos da costa, o deserto termina abruptamente em dunas de areia enormes que apenas dão passagem na maré baixa.
Se o mar não for o seu forte, aventure-se pelo interior da província do Namibe. Esta é a terra da Welwitschia Mirabilis, do Parque Nacional do Iona, e desse deserto enorme que anula a fronteira com a Namíbia, e que é considerado o mais antigo do mundo.
Aproveitamos para dar-lhe uma dica: embora as festas da cidade se celebrem a 4 de Agosto, data da sua fundação, é em Março e Abril que o Namibe explode em afirmação da sua identidade. Por estas alturas, celebram-se as Festas do Mar, tradição que vem já do tempo colonial e que foi retomada em 1985, depois de uma longa pausa. Vem gente de todos os lados, até da África do Sul e da Namíbia.
Estas festas começam, invariavelmente, com a oferta de flores à Deusa do Mar, em que os habitantes da cidade lançam à baía milhares e milhares de pétalas ao som das sirenes dos barcos de pesca. Depois, é pura festa, com Mucubais e Kuvale a invadirem a sua cidade com danças e tradições. Há corridas de automóveis e motorizadas, concertos, exposições, concursos de figuras de areia, feira de diversões.
Na agitação das Festas do Mar, ou na calma que reina no resto do ano, explore esse território tão contrastante feito de mar e de deserto. De água e de terra seca. De sonho e de miragens que fizeram da antiga Angra dos Negros um lugar com uma magia especial.
Como ir
Pode chegar por estrada ao Namibe via Benguela (a estrada está em reconstrução) ou via Lubango (a melhor opção). A cidade conta com um aeroporto, para onde viajam com regularidade várias companhias áreas nacionais, como a TAAG. O Namibe está ligado ao Lubango e a Menongue pelo Caminho-de-ferro de Moçâmedes.