Voltei a esta foto esta semana.
É uma das minha fotos preferidas- o meu pai, com um olhar triste, mas não resignado, rodeado do amor de dois dos seus netos.
O meu pai teve o primeiro AVC aos sessenta e sete anos. Com fisioterapia e esforço, recuperou mobilidade e autonomia, mas durante muitos anos ficou a coxear. Tenho a certeza que ele, vaidoso, detestava o arrastar da sua perna, mas assumia que agora "era coxo" e nunca deixou de ir ao café, de ir aos programas do Viver Ativo, de sair de casa...
E foi assim até ao fim.
Com o avançar do tempo e com a mobilidade ganha a ser perdida de novo, o meu pai usou bengala, andarilho e cadeira de rodas, mas nunca se escondeu em casa e eu e a minha irmã, sempre passámos aos nossos filhos normalidade em cada situação que o avô viveu.
Nem sempre foram fáceis os olhares de pena e chegámos a sentir que ele deveria ficar mais por casa. Tenho a certeza que ele sentiu isso tudo, mesmo se nunca nos tenha dito nada.
Voltei então a esta foto, esta semana, enquanto conversava com uma amiga sobre os olhares que muitas vezes se lançam aos velhos, aos que fogem ao dito normal, aos que apresentam incapacidades que não queremos ver por nos lembrarem, talvez, para onde poderemos ir.
E o que dizer também dos que, a todo custo, escondem dos mais novos tudo o que receiam provocar-lhes sofrimento? Se me permitem, o caminho é outro- adequar linguagem, mas assumir verdade sempre.
E não nos esqueçamos..
Vivemos mais anos e somos um país de velhos.
E precisamos de acreditar que somos Futuro e que sabedoria e aceitação darão origem a um legado eterno.
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