Pages

Subscribe:

9.1.12

A esperteza da mulher e o que o Bungee Jump tem a ver com isso


Quando recebi a notícia de que uma australiana teria sobrevivido ao cair de 111 metros de altura porque a corda amarrada a ela havia rompido, tive a recordação de uma história que ouvi a respeito da origem desse esporte a que se submeteu essa menina, o Bungee Jump.

Dizem que vem de uma tribo situada no sul do Oceano Pacífico, onde é construída uma torre de bambus e nela são amarrados pedaços de cipós, escolhidos e medidos por cada homem que deve saltar de uma determinada altura, de acordo com a respectiva idade. É um ritual que representa a passagem da infância para a fase adulta. E, ao contrário do que geralmente se vê nos saltos do Bungee Jump, os homens dessa tribo devem pular em direção a terra, e não à água. Por isso, eles ainda precisam preparar o terreno lá em baixo, de maneira que o impacto, se houver, seja mais ameno.

Na explicação acima, mencionei apenas “homens” participando do ritual. Dá pra imaginar o motivo? Seriam eles mais corajosos? Deveriam eles comprovar o amadurecimento por meio da audácia, bravura?

Não é bem isso: conta a lenda que tudo nasceu de uma briga entre um homem e uma mulher. Por ter se sentido ameaçada a mulher havia escalado uma árvore a fim de escapar do rapaz. Lá em cima, ela passa a amarrar filetes de trepadeira em seus tornozelos, enquanto ele sobe na árvore. Assim que os dois se encontram novamente, ela simula um suicídio e joga-se. Assustado, ele faz o mesmo, porém sem ter conhecimento do plano da mulher.  

O ritual nasceu, então, para alertar os homens de suas fraquezas e, a meu ver, principalmente, da sagacidade das mulheres. Por que não? É tanto que, a cada etapa do ritual, o homem precisa ficar duas semanas sem deitar-se com uma mulher, visto que deve estar completamente puro para o salto. Outro dado importante é que se o cipó romper ou a colisão com a terra provocar a morte, diz-se que foi algum espírito feminino que prevaleceu.



Bom, já estou convencida de que nós, mulheres, somos capazes de tudo, até de termos espíritos malignos e devastadores. Então, teria sido só azar ou algum espírito feminino que resolveu se vingar da pobre australiana? Duas coisas são certas: mulher é bicho esperto mesmo. E, por mim, Bungee Jump seria esporte só de homem, de preferência daqueles que se comportam à maneira do homem que caiu na cilada e virou lenda, ou seja, dos homens que tratam as mulheres como suas serviçais, ou brinquedos, ou objetos.      

5.1.12

Hoje a festa é nossa e de quem quiser?


Muito bem. As férias estão aí e eu não parei com minhas leituras não. Algumas pessoas já me chamaram de nerd ou soltaram um “tadinha!” só porque agora tenho tempo para as minhas leituras, as leituras sem compromisso, as leituras que eu quiser, as pessoas acham que estou sofrendo ou coisa parecida. Dentre os vários sites que compõem minha lista de favoritos no Google Chrome está o Observatório da Imprensa, que eu leio pouco, mas intensifiquei a leitura graças às adoráveis férias. Eu indico, inclusive, para o ano todo, e todos os anos. Li principalmente este artigo (é só clicar para saber) do professor Luís Eustáquio Soares (professor da UFES, poeta e muito mais), que escreve sobre a utopia, a ilusão que a mídia cria em torno dessa tal liberdade democrática tão hierárquica e elitista que temos hoje. Fala ainda da carnavalização gerada em torno da apropriação da cultura popular e o que o famoso plim plim global tem a ver com isso. Assim, o artigo discute com muita propriedade aspectos que nós, telespectadores ativos e ao mesmo tempo inativos, precisamos nos atentar. Além disso, tantas dúvidas brotaram diante de um assunto tão complexo, que o professor fez este outro artigo, que responde a uma pergunta feita por mim mesma. Leitura de férias? Não, não. Leitura obrigatória para toda época. Por falar em leitura obrigatória, abaixo vai um trecho do mais recente romance-povo, romance-novo, romance-rizoma, como já foi chamado, do professor mencionado. É pra não perder de vista:


Nessas vidas, ganhamos perdemos nossos dias, com nossas mediocridades, campo de barbáries gerais, de modo que, morando também nesses insuportáveis vazios, escrevo também vazios como o de dar/desagradar-me perante os meus ímpares, pra me ajudar no currículo, e, como não sou exatamente um carreirista, ou um imbecil positivista, completamente alienado – olha esta palavra fora de moda, um alienado, quase boto uma exclamação! – e envolvido com seu próprio umbigo, embora seja ou tenha um pouco ou um muito disso tudo, confesso que também continuo a escrever porque tenho, e como não basta, como se fosse vantagem, que apenas eu os tenha, porque temos aqueles cheios e vitais mundos ausentes em nós, esses que ausentam as infames presenças soldadescas de escritas meramente literárias, esteticamente consensuais, de ilustrados reacionários e, panfletário que sou, arrivista que sou, engajado que sou, preciso plenamente começar a estar, a tocar as perturbações, pois sei que só a morte é meu limite, e todos morremos.

[Tirado de O evangelho segundo satanás, 2010, Vitória-ES, Lei Rubem Braga de Cultura]


4.1.12

Difícil é ser nativo


Esta semana estive em um bar de Vila Velha-ES com os amigos e deparei-me com uma porção de turistas de diversos (e inesperados) lugares. Sim, porque para quem estava acostumado com mineiros por todo canto da Grande Vitória, já pode começar a saborear outros sotaques. Mas que problema há nisso? Nenhum, aparentemente. Embora seja muito interessante tal contato, percebi que, enquanto esses visitantes procuram se sentir bem longe de seus lares, nós, os donos da casa, ficamos no dilema entre nos sentirmos em casa ou cair na graça da turistada e fingir que também estamos longe. Muitas vezes, estar longe proporciona o desejo de comportar-se como outro, não é? A preocupação é certa: manter a classe, ou mudar de nome, vivendo como um desconhecido em seu próprio território? Não, não é verdade que eu esteja realmente interessada nessa questão, mas parece-me uma boa forma de negar o importuno do decorrer do ano. Se viajar no momento não é possível, talvez vestir essa capa e fingir-se como um qualquer, estrangeiro ou clandestino, seja uma opção, no mínimo, divertida. Seu tempo anda ocioso demais? Eu prometo não te reconhecer por essas bandas.  
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...