Da estrada, via-se a mancha branca do casarão por entre as palmeiras e bananeiras!
Diziam que era a Casa das Meninas… O pecado escondia-se longe da cidade! Cidade pequena onde quase todos se conheciam e os casos extra-conjugais andavam sempre na ribalta, sendo os primeiros interessados os últimos a saberem.
À Casa chamavam também Galo Branco… Quando perguntava a razão desse nome aos meus amigos rapazes, eles mudavam de conversa.
Nessa altura, era eu uma doce colegial de espírito e atitudes e sonhava com o amor da minha vida… Aquele que preencheria todas as horas e minutos do meu dia. Devo confessar que tinha muitos candidatos a esse lugar… talvez devido à minha extrema alegria e boa disposição.
Mais tarde, dar-me-iam outras razões…
Um dia no “meu” cabeleireiro encontrei duas ou três dessas meninas… Pareciam artistas de cinema! Tive de concordar que eram realmente bonitas e elegantes. Autênticos manequins é o que eram! Arranjavam os pés, as pernas, faziam limpeza de pele e pintavam o cabelo.
Curiosamente, eram todas loiras! Tive de fazer um esforço para não fincar os cotovelos e ficar de boca aberta, como os garotos, diante de uma montra de novidades.
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Quando encontrei um dos meus amigos, disse-lhe:
- Hoje vi as meninas da Casa Branca (eu chamava-lhe assim...) e são bonitas de verdade… Arranjaram-se dos pés à cabeça…
- Como tu és inocente! Essas meninas dariam tudo para terem os teus vinte anos, esses olhos negros e cabelo de azeviche de ciganita…
- Mas eu sou baixinha… - e a raiva morava dentro de mim, por não ser alta como as “meninas” e por saber que elas se arranjavam para roubarem o amor dos homens da cidade.
Uma amiga minha, pouco mais velha do que eu, tinha-se casado cedo e já ia no terceiro filho, uma escadinha em caracol como eu lhe dizia. O marido era um pouco mais velho do que ela e um valente pinga-amor, o que toda a gente via… menos ela. Ah! A cegueira do amor!
Um dia, a minha amiga descobriu no colarinho de uma camisa do seu amor, uma mancha de batom. Não podia ser, ela até nem se pintava e mostrando-lhe a “arma do crime” perguntou-lhe:
- Mas o que é isto, se eu não uso batom?
E o Don Juan pôs logo os neurónios a trabalhar…
- Não é batom, minha querida, é um creme que comprei na farmácia para as mordeduras dos mosquitos…
- E perfumado?
- Claro, para os afugentar…
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Não sei se foi nesse dia que a minha amiga decidiu estar mais atenta aos mosquitos ou se evitou dizer-lhe duas que estavam debaixo da língua e no coração.
Como ela o soube, não sei! Mas sei que ela entendeu que o seu ídolo tinha pés de barro e que os serões do escritório decorriam na maior parte das vezes na Casa das Meninas ou da menina que, entretanto, passara do colectivo para um apartamento na cidade montado pelo seu querido.
Uma noite, a minha amiga descobriu o carro do marido à porta do prédio. Foi fácil chegar aonde ela queria…
Não fez qualquer cena, dentro de casa tudo continuava na normalidade de casal.
Uma manhã, depois de o marido sair para o trabalho pegou nos seus três filhos – a tal escadinha em caracol – ainda ensonados, de pijama, e dirigiu-se ao apartamento da Menina!
Abriu-lhe a porta uma loira perfumada e com um ar de espanto…
- Não me conhece e nem o desejo, venho apenas mostrar-lhe as três crianças a quem você rouba o pão e o amor e o tempo do pai…
A minha amiga voltou para casa como se nada tivesse acontecido.
Estranhou que os serões do marido tivessem terminado e perguntou-lhe:
- Agora não fazes serões?
- Não, não… já temos o serviço todo ordenado, felizmente!
Ela sorriu pensando que o estratagema dera resultado e ficou ainda mais feliz quando uma vizinha da menina lhe disse que a mesma partira inesperadamente para Lisboa deixando um bilhete ao papalvo que a sustentara.