domingo, 30 de dezembro de 2007
António Andrade de Albuquerque - Dick Haskins
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
À ESPERA...
domingo, 23 de dezembro de 2007
FELIZ NATAL
Que o Pai Natal vos traga tudo aquilo que querem.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Circo de Feras 9/12/2007
Longa se torna a espera, hoje vim sózinha, mas entretanto chega o Jorge (que também cá esteve ontem) e depois a Madalena. O tempo passa... e a hora aproxima-se... cá vou eu novamente para as grades, do lado direito do palco.
Que grande espectáculo! O jogo de luzes, o som, os convidados, os números de circo... Mais uma vez destaco o coro de Gospel, em especial a actuação em "Estupidez" e os Tocá Rufar, brilhantes em toda a exibição, com uma entrada fenomenal - umas verdadeiras Feras em palco.
E os Xutos... bem... esses estavam brilhantes, fenomenais, lindos... iguais a si mesmos, os maiores e os melhores. Um belo solo do João Cabeleira, o "Homem do Leme" acústico, "Nesta Cidade" com o Tim mesmo à minha frente, o som do sax que sempre adorei...
Que mais posso dizer... Foram 20 anos de Circo de Feras e 20 anos de fã, comemorados da melhor forma.
Aos Xutos, a todos os que estiveram em palco, aos que idealizaram, produziram, conceberam e criaram este espectáculo, um BEM HAJA!
Deixo mais umas fotos:
domingo, 9 de dezembro de 2007
CIRCO DE FERAS - 8/12/2007
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Tess Gerritsen
A sua escrita, viva e plena de acção, assume características pouco recomendáveis a leitores mais sensíveis, com descrições quase cirúrgicas dos crimes que relata. Ao longo dos seus livros, as personagens vão criando uma história própria, individual, uma certa cumplicidade com os leitores, que passa de livro para livro, onde as suas vidas se desenvolvem ao mesmo tempo que as mentes mórbidas e sádicas dos assassinos vão pondo em prática as suas loucuras, desejos e fantasias.
Jane Rizzoli é a detective que, num mundo dominado pelos homens, procura não mostrar fraquezas, apesar de também as sentir como todos os seus colegas. É uma mulher aparentemente fria, pronta para ser a primeira a enfrentar o perigo e correr riscos, mas que no fundo procura superar a sua fragilidade. Ao longo dos diversos títulos, a Jane Rizzoli detective e a Jane Rizzoli mulher vão-se cruzando e, muitas vezes, contradizendo.
A patologista Maura Isles é, ao contrário da detective, uma mulher que desperta a curiosidade masculina. Conhecida por "Rainha dos Mortos" é a ela que cabe a tarefa de autopsiar os corpos das vítimas, de "falar" com os cadáveres e dar, algumas vezes, respostas, outras vezes, levantar questões. Fechada no seu casulo, dá a imagem de mulher inacessível, inabalável, mas que no fundo, esconde uma vida e um passado.
Em Portugal, o "Círculo de Leitores" já editou 5 títulos desta autora:
"O Cirurgião" - Um assassino silencioso entra em casa das mulheres enquanto elas dormem. Fere-as com a precisão de um cirurgião... Os jornais de Boston começam a denominá-lo de "O Cirurgião"... Catherine Cordell, médica e sobrevivente de um ataque muito semelhante ao de "O Cirurgião", é a única pista que os detectives Jane Rizzoli e Thomas Moore têm. Mas, como é possível os crimes estarem a ser repetidos se Catherine Cordell matou o seu agressor?...
"O Aprendiz" - Boston; um verão escaldante e uma série de crimes horrendos. Homens abastados são forçados a assistir, enquanto as suas esposas são brutalizadas, após o que também eles serão assassinados. Quem será este assassino, cujo sadismo amedontra a cidade? O perfil sugere o assassino "O Cirurgião", recentemente preso. A polícia segue a pista de um acólito à distância, que imita o seu ídolo maníaco e louco. Jane Rizzoli vê-se, novamente, na pista do assassino que a marcou... Só que desta vez está decidida a acabar com ele, mas espera-a uma vingança mais cruel do que se possa imaginar...
"A Pecadora" - No interior do convento, na Capela de Nossa Senhora da Luz Divina, encontra-se o mal: duas freiras jazem no chão, uma sem vida, outra gravemente ferida, vítimas de um assassino sem piedade. Ao autopsiar a irmã Camille, de 20 anos, a patologista Maura Isles descobre que esta freira tinha dado à luz pouco antes de ser assassinada. A seguir, é descoberto outro cadáver, mutilado e irreconhecível. Maura Isles e a detective Rizzoli juntam-se, para descobrir que estes dois homicídios se ligam por um antigo horror.
"Duplo Crime" - E se de repente, o corpo que jaz na nossa frente fosse o nosso? Foi isso que aconteceu a Maura Isles, ao descobrir que a mulher que foi assassinada à porta de sua casa, era igual a si própria... O ADN confirma que essa mulher é sua irmã gémea. Mas , Maura sempre fora filha única... Uma investigação de homicídio que se transforma numa viagem a um passado desconhecido... à descoberta de uma mãe que, paralelamente ao poder de lher ter dado a vida, julga ter o poder de lha tirar...
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Salvador Dali
Canibalismo de Outono (1936 - 1937)
Esta obra relaciona o comer à morte, através de um macabro banquete. Todos os pormenores são retratados, desde os utensílios aos diversos alimentos. A violência da cena é suavizada pelos tons outonais.
Outro tema frequente na obra de Dali, são as gavetas. Dalí inspira-se nas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud para pintar os seus célebres quadros "O Contador Antropomórfico" (1936), "Girafa em Chamas" (1936 - 1937) ou "Espanha" (1938). Segundo Salvador Dali, "A única diferença entre a Grécia imortal e a época contemporânea é Freud, que descobriu que o corpo humano, que era puramente neoplatónico na época dos Gregos, está hoje cheio de gavetas secretas que só a psicanálise é capaz de abrir."
O Contador Antropomórfico (1936)
Neste quadro, a figura encontra-se com a cabeça debruçada sobre as suas próprias gavetas, numa alegoria psicanalítica da tendência para aspirarmos o odor narcísico das nossas próprias gavetas.
Espanha (1938)
Uma gaveta pode abrir-se para deixar sair os odores nauseabundos da guerra, numa alusão aos horrores da Geuerra Civil Espanhola.
Este quadro conduz-nos a um outro tema nobre de Dali - as imagens duplas, anamorfoses ou imagens distorcidas que só são visíveis quando se observa o quadro de determinado ponto de vista. Trata-se de um dos exemplos mais evidentes do método paranóico-crítico. É como se existissem dois quadros num só, originando uma terceira dimensão. Nestas obras, Dali revela a inapreensível relatividade do mundo das imagens.
No quadro acima reproduzido "Espanha" dois cavaleiros num duelo à lança formam os peitos da mulher, cuja cabeça é formada por um grupo de pessoas num violento combate.
O Enigma sem Fim (1938)
De acordo com a atenção fixada numa parte ou outra do quadro, pode ver-se o busto de Freud, uma natureza morta, um homem reclinado, um galgo,...
Dois outros elementos constantes na obra de Dali são as muletas e a criança com o arco, que aparecem juntas este quadro.
O Espectro do Sex-Appeal (1934)
A criança representa Dali, testemunha infantil das suas próprias visões, enquanto que as muletas têm duas interpretações - fazem a ligação entre o surreal, o imaginário, o paranóico e o real (estando enterradas no solo, suportando as imagens) ou por vezes representam a sublimação da ideia de impotência, a dualidade entre o duro e o mole tâo característica de toda a obra deste artista.
O Grande Paranóico (1936)
As várias pessoas do quadro formam um rosto.
Muito mais há a dizer sobre a vasta obra de Salvador Dali... talvez num outro post...
domingo, 4 de novembro de 2007
Desafio
1. Pegue num livro.
2. Abra na página 161.
3. Procure a 5ª frase completa na referida página.
4. Transcrever a frase no blogue. Tal como identificar o livro, o(a) autor(a) do mesmo.
5. Passar o desafio a cinco bloggers.
"Ana de Áustria baixou a cabeça, deixou esgotar a torrente sem responder, esperando que ele, depois de cansado, se calasse; mas não era isso o que queria Luís XIII; Luís XIII queria uma discussão de onde obtivesse qualquer esclarecimento; tal era a convicção que tinha de que o Cardeal ocultava alguma segunda ideia e lhe maquinava uma dessas surpresas terríveis, daquelas que Sua Eminência sabia preparar."
("Os Três Mosqueteiros" - Alexandre Dumas)
Se alguém quiser, que agarre este desafio...
sábado, 3 de novembro de 2007
O meu professor de Filosofia
A forma apaixonada com que fazia o seu trabalho, a dedicação com que dava as aulas, sempre foram, para mim, um modelo a seguir.
Aquele homem conseguia dar as suas aulas porque nos dava o que nós queríamos: uma nova realidade, novas formas de questionar o que nos era apresentado como verdade, sentido crítico. Nas suas aulas, aquele grupo de jovens vestidos de preto, com correntes à cintura, cruzes e caveiras, fazia-se ouvir, podia expor as suas ideias tantas vezes apelidadas de anárquicas. E em resposta, lá vinha mais um autor e as suas ideias, umas vezes concordantes, outras nem por isso, mas sempre a aprendermos que até para defendermos aquilo em que acreditamos é importante conhecer o contraditório.
Foi nas suas aulas que conheci Freud, Nietzsche, Einstein, Salvador Dali, as teorias do Caos, da Relatividade, o Big Bang, o Surrealismo, o Niilismo,...
Quantas vezes foram as letras das músicas que ouvíamos o mote para uma qualquer matéria... Numa idade em que queremos mudar o Mundo, um professor mostrou-me que isso é possível: se todos mudar-mos e melhorar-mos o nosso Mundo, o Mundo de todos é mudado e melhorado.
Ainda hoje, quase 19 anos passados (tenho agora a idade que o professor tinha naquela altura), lembro o Professor Álvaro Daniel Formigo Nunes, como um dos grandes mestres da minha vida.
E aqui fica uma música que esse professor assobiava enquanto nós fazíamos os testes.
http://www.youtube.com/watch?v=kPp_0sOZr4E
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
As amizades são assim...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
(Albert Einstein )
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Manoel de Oliveira
terça-feira, 16 de outubro de 2007
A POMBA - Patrick Suskind
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
O PSICANALISTA - John Katzenbach
"Um 53.º aniversário muito feliz, senhor doutor. Seja bem vindo ao primeiro dia da sua morte. Existo algures no seu passado. O senhor destruiu-me a vida. Pode não saber como, nem porquê, nem sequer quando, mas destruiu. Desgraçou e entristeceu cada segundo da minha existência. Destruiu-me a vida. E agora eu tenciono destruir a sua.(...)
Mate-se, doutor.(...)
Portanto vamos jogar o seguinte jogo: O senhor tem exactamente quinze dias, a contar das seis horas de amanhã, para descobrir quem sou.(...) Se não conseguir, então... Essa é que é a parte divertida.(...)"
Ricky Starks, um psicanalista de Nova Iorque, recebe uma carta no dia do seu 53.º aniversário. Nessa carta, alguém que o conhece e à sua rotina diária, mas cuja identidade ele desconhece, define uma espécie de jogo em que o prémio é a vida ou a morte do psicanalista. Se descobrir quem é o autor da carta, sobrevive; se não descobrir terá de se matar ou alguém da sua família será destruído. Ricky Starks tem 15 dias para viver ou morrer.
"O Psicanalista" é um livro sobre o mal e a vingança; é um livro em que o passado procura acertar contas no presente, em que o ressentimento não tem limites... Para compreender o que está a acontecer, Ricky Starks terá de viajar até ao seu passado, ao início da sua carreira como psiquiatra e psicanalista, terá de pensar como o assassino que o persegue, terá de aprender a não confiar, terá de renascer...
Uma história brilhante de corrida contra o tempo, um perverso jogo de vingança que nos prende da primeira à última página.
De acordo com The Washington Post: "Em parte thriller, em parte tratado existencial, em parte registo freudiano do inferno... Um ritmo tenso, com um impecável sentido do tempo... A prosa ágil de Katzenbach é densa de atmosferas."
Já li e adorei. Um livro ao meu estilo: frio, intenso, onde as emoções e a racionalidade se cruzam, na busca da verdade, na busca da vida.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Aung San Suu Kyi
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Eça de Queiróz
De forma a não tornar o texto muito descritivo, farei uma breve biografia do autor e o restante texto criei-o em forma de entrevista virtual a Eça de Queiróz. Espero que gostem.
**********************************************************************************
José Maria Eça de Queiróz nasceu a 25 de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim. É filho de José Maria de Almeida Teixeira de Queiróz, magistrado e homem de letras, que só se casa com a mãe de Eça de Queiróz quatro anos após o seu nascimento. Estuda, como interno, no Colégio da Lapa, no Porto e é aí que se inicia nas leituras de Garrett, por influência do director, pai de Ramalho Ortigão.
Em 1861 vai para Coimbra, onde se forma em Direito, no ano de 1866. É então que conhece Antero de Quental e outros, que virão a formar a chamada "Geração de 70". Em Março de 1866 publica na "Gazeta de Portugal" o seu primeiro texto: "Notas Marginais". Juntamente com Antero de Quental, e sob influência de Baudelaire, cria a figura "satânica" de Fradique Mendes, verdadeiro duplo de Eça. Ainda em 1866 instala-se em Lisboa, na casa de seu pai, onde cria o "Grupo do Cenáculo"
Três anos depois assiste à abertura do canal do Suez e visita o Egipto e a Palestina, onde recolhe material para o romance "A Relíquia", publicado em 1887. Em Évora cria um jornal da oposição, "ODistrito de Évora". Em Julho de 1870 é nomeado administrador do concelho de Leiria, cargo que ocupa durante um ano, e cujo ambiente social é recriado em "O Crime do Padre Amaro". Escreve durante esse período, em colaboração com Ramalho Ortigão, um folhetim para o "Diário de Notícias": "O Mistério da Estrada de Sintra", cuja intriga marcadamente policial abala a tranquilidade estagnante dos leitores.
Em Novembro de 1872, parte como cônsul para o Havana, seguindo em missão oficial para os Estados Unidos. É transferido para o consulado de Newcastle, Inglaterra em Novembro de 1874, seguindo-se Bristol. Em 1883 é eleito sócio da Academia das Ciências (sem nunca lá ter ido) e casa-se com a irmã do Conde de Resende, seu amigo. Em 1888 é nomeado cônsul em Paris, concretizando assim, o sonho da sua vida, e aí permanece até à sua morte, a 17 de Agosto de 1900.
**********************************************************************************
E agora, a entrevista virtual a Eça de Queiróz, sobre o contexto sócio-cultural e histórico de "Os Maias".
Homem do Leme - Sabemos que os maiores acontecimentos da década de 70 foram: a Geração de 70 e, consequentemente, a Questão Coimbrã. Tudo começou com uma carta de Feliciano de Castilho, onde ele atacava ironicamente os dois novatos com maior influência em Coimbra - Antero de Quental e Teófilo Braga. Podia-nos contar estes acontecimentos mais detalhadamente?
Eça de Queiroz - Antes de mais queria agradecer o facto de me terem convidado a vir aqui, falar de acontecimentos tão marcantes para a minha vida e para a vida de todos os portugueses, acontecimentos esses que influenciaram homens de letras de hoje e que influenciarão homens de letras de gerações futuras. Retomando agora o assunto da nossa conversa: tal como foi dito, toda a questão Coimbrã teve início com uma carta-posfácio escrita por Castilho e editada com o "Poema da Mocidade" de Pinheiro Chagas, em 1865. Essa carta, atacava desapropriadamente, Antero de Quental e Teófilo Braga que tinham publicado respectivamente, "Odes Modernas" e "Visão dos Tempos" e que pelas ideias expressas tinham perturbado Castilho...
HL - ... entretanto, Castilho nomeia Pinheiro de Chagas para regente da cadeira de Literatura Moderna da Faculdade de Letras...
Eça - ... sim, sim; cargo esse que era disputado também por Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro. Mas é claro que Feliciano de Castilho se opôs a todos estes candidatos, alegando que era necessário pôr fim à desorientação presente na língua portuguesa. É então que Antero de Quental escreve uma carta, conhecida pelo nome de "Bom Senso e Bom Gosto", onde insulta violentamente o velho Castilho.
HL - Mas nesta luta de Antero e Castilho, como em todas as lutas, existiam apoiantes de ambas as partes...
Eça - ... é claro. Antero era apoiado por Teófilo Braga, Oliveira Martins e por mim, entre outros. Ao lado de Castilho aparecem Pinheiro Chagas e Camilo. A juventude apoiante de Antero ficou conhecida por Geração de 70 e toda esta questão por Questão Coimbrã.
HL - Há quem diga que a geração de 70 corresponde a um "terceiro romantismo". Concorda com esta afirmação?
Eça - Concordo. Se se considerar Herculano e Garrett como o "primeiro romantismo"e António Feliciano de Castilho como o "segundo romantismo", então nós somos o "terceiro romantismo".
HL- Terceiro romantismo esse que se opõe ao segundo romantismo...
Eça- ...é claro, pois se Antero e Castilho são opositores, logo os romantismos por eles defendidos também se opõem!
HL - Apesar do terceiro romantismo adoptar, de certo modo, as ideias políticas e culturais do romantismo de Garrett, as suas influências ideológicas são bastante diferentes.
Eça - Sim. A nossa ideologia é influenciada por Hegel, Marx, e outros; a nível de elementos estéticos, os mais marcantes são o realismo e o naturalismo de Zola e de Flaubert,estes últimos que consistem em...
HL - Sr. Eça, deesculpe interrompê-lo, mas gostaria de lhe pedir que guardasse esse tema do Naturalismo e do Realismo para daqui a pouco, pois é um tema que também aqui vamos desenvolver. Mas agora gostaria de lhe fazer uma outra pergunta, se não se importa...
Eça - Não, de maneira nenhuma. Sabe como é, são tão raras as oportunidades de se fazer história completa, que nos deixamos levar pelo entusiasmo. Mas continue...
HL - A próxima questão é a seguinte: O Sr. fez parte da sociedade "inter-amicos", os Vencidos da Vida, formada em Lisboa no ano de 1887/88. Qual a finalidade desta sociedade?
Eça - Os Vencidos da Vida era um grupo de personalidades de relevo na vida literária (isto só cá para nós, de grandes personalidades!). A ideia partiu de Ramalho Ortigão e tinha como objectivo juntar colegas que outrora tinham pertencido à Geração de 70.
HL - Isso quer dizer que os assuntos discutidos em tais reuniões eram uma continuação da Questão Coimbrã?
Eça - Não propriamente, pois a questão Coimbrã foi mais uma questão literária e a manifestação dos Vencidos era uma atitude de protesto perante a vida portuguesa. É claro que a nossa manifestação, era a manifestação do espírito de reforma, inaugurada com a questão Coimbrã, simbolizando o objectivo aristocrático e intelectual do movimento da Geração de 70, que em conflito com as leis regentes do constitucionalismo tornou-se um pessimismo irónico e elegante. Talvez nós (os vencidos) não tenhamos sido uma continuação da questão Coimbrã, mas sim uma evolução da mesma. É também nesta fase que eu, Antero de Quental e Oliveira Martins renunciamos à acção política, surgindo assim o socialismo utópico.
HL - Agora sim, vamos falar do Naturalismo e do Realismo. O período do realismo teve início com a questão Coimbrã. Posteriormente aparecem as conferências do Casino. No que é que consistiam essas conferências?
Eça - A ideia partiu de Antero de Quantal, com a finalidade de unir os adeptos das novas ideias, que tinham sido colegas em Coimbra. Essa conferências permitiam-nos discutir (e essa é que era a sua verdadeira finalidade) as questões contemporâneas: religiosas, políticas, sociais e científicas.
HL - Por isso elas eram chamadas de "livres, democráticas e científicas"...
Eça - Sim, pois elas tornaram-se num meio de propaganda aberta de um ideal revolucionário para a transformação social, moral e política dos povos.
HL - Toda a base destas conferências poder-se-á chamar de dupla, uma vez que se baseiam nas ciências humanas despertadas ao nível desta geração e nas ciências políticas consciencializadas pela geração anterior. Concorda?
Eça - Sim, concordo. Senão vejamos as preocupações dos conferencistas de 71:
1.º - Ligar Portugal ao movimento moderno
2.º - Agitar, na opinião pública, as grandes questões da filosofia e da ciência modernas
3.º - Estudar todas as ideias e todas as correntes do século
4.º - Adquirir a consciência dos factos que nos rodeiam na Europa.
HL - É todo esse interesse pela realidade e pela análise social que caracteriza o realismo.
Eça - Ideologicamente falando é, pois o Realismo opõe-se ao Idealismo, ou seja, ao Romantismo, com toda a sua formalidade e sentimentalismo. O Realismo não é nada disso, pelo contrário, ele é anti-idealista; o Realismo quer observar os factos e analisá-los rigorosamente.
HL - E quais os temas de interesse dos realistas?
Eça - Os realistas preocupavam-se em exteriorizar a vida burguesa nos seus aspectos negativos: a ambição, a avareza, a cobiça, a corrupção; representavam também a vida urbana, pois é nas grandes cidades que mais se fazem sentir as tensões sociais, políticas e económicas.
HL - Sendo assim, os realistas procuram mostrar o sofrimento social e moral da frustração, da corrupção e do vício.
(...) Ega, horrorizado, apertava as mãos na cabeça - quando do outro lado Carlos declarou que o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos, a sua pretensiosa estética deduzida de uma filosofia alheia, e a invocação de Claude Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mill e de Darwin, a propósito de uma lavadeira que dorme com um carpinteiro!" (Os Maias)
HL - Também se pode interpretar essa discussão como o simbolizar da questão Coimbrã?
Eça - Sim, nesse caso Alencar, que defende o Romantismo, corresponde a Castilho, e Ega,
defensor das teorias naturalistas, simboliza Antero.
HL - As conferências do Casino também estão presentes neste romance?
Eça - Estão, no capítuo IV, onde se relata todo o ambiente nocturno nos Paços de Celas, e onde se discutia a Arte, o Positivismo, o Realismo e outros assuntos relacionados com o Naturalismo.
"Os Paços de Celas, sob a sua aparência preguiçosa e campestre, tornaram-se uma fornalha de actividades. No quintal fazia-se uma ginástica científica. Uma velha cozinha fora convertida em sala de armas - porque naquele grupo a esgrima passava como uma necessiade social. À noite, na sala de jantar, moços sérios faziam um wist sério: e no salão, sob o lustre de cristal, com o Fígaro, o Times e as revistas de Paris e de Londres espalhadas pelas mesas, o Gamacho ao piano tocava Chopin e Mozart, os literatos estirados pelas poltronas - havia ruídosos e ardentes cavacos, em que a Democracia, a Arte, o Positivismo, o Realismo, o Papado, Bismarck, o Amor, Hugo e a Evolução, tudo por seu turno flamejava no fumo do tabaco, tudo tão ligeiro e vago como o fumo. E as discussões metafísicas, as próprias certezas revolucionárias adquiriram um sabor mais requintado com a presença do criado de farda desarrolhando a cerveja, ou servindo croquetes." (Os Maias)
HL - Sr. Eça, o sr. não manifesta a sua discordância com o Romantismo neste romance?
Eça - Mas é claro que sim! E faço-o no capítulo III através de Afonso da Maia, na sua conversa com o abade.
"(...) Mas enfim os clássicos - arriscou timidamente o abade.
- Qual clássicos! O primeiro dever do homem é viver. E para isso é necessário ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consiste nisto :criar a saúde, a força e os seus hábitos, desenvolver exclusivamente o animal, armá-lo de uma grande superioridade física, Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois .... A alma é outro luxo. É um luxo de gente grande...
O abade coçava a cabeça, com o ar arrepiado.
- A instruçãozinha é necessária - disse ele. - Você não acha, Vilaça? Que Vossa Excelência, Sr. Afondo da Maia, tem visto mais mundo do que eu... Mas enfim a instruçãozinha...
- A instrução para uma criança não é recitar Tityre, tu patulae recubans... É saber factos, noções, coisas úteis, coisas práticas..." (Os Maias)
HL - E a fase dos vencidos da vida, onde é que se situa?
Eça - Essa fase está no último capítulo, quando Carlos, após 10 anos de permanência por terras francesas volta a Lisboa e encontra tudo na mesma, é a desilusão, a tomada de consciência de que a sua luta foi em vão.
"(...) E Carlos reconhecia, escostados às mesmas portas, sujeitos que lá deixara havia dez anos, já assim encostados, já assim melancólicos. (...)
- Falhámos a vida, menino!
- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: "Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim." E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. (...) Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...
A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
-Ainda o apanhamos! (...)" (Os Maias)
HL - Obrigado, por esta lição de literatura!
Birmânia
A Rússia considera a crise como um "assunto interno".
A China recusa condenar ataques a monges budistas.
E NÓS???? Mais uma vez indiferentes? Com agendas demasiado ocupadas? Espero que não!
Fotos de www.paraviajar.net
terça-feira, 25 de setembro de 2007
O teatro da vida ou como se morre no fim de cada acto
A peça vai começar.
-"Um poeta, por favor!... Para declamar..."
Pode ser o Viegas...
Esperem,... calem a música, apaguem as luzes... O Viegas não pode ser! Esse já é livre... Tem de ser um preso... Um preso como eu... Algemado à vida.
Acendam as luzes! Ponham a música a tocar! Na assistência não quero ninguém. Só rosas... rosas vermelhas... da cor da vida que em breve cobrirá este palco.
Este palco... é a minha morte, aquela que desde sempre construí, com amor, com garra, com luta, com paixão. Este palco é toda a minha vida.
Calem a música. Iluminem o palco. Esta vida á qual ponho fim foi feliz. Por isso tem de acabar enquanto ainda há felicidade. A morte que construo desde que nasci, é livre! LIVRE! ouviram? Vou-me matar?! Não, apenas vou finalizar a grande construção da vida. Sim, sinto-me livre. Não posso mais viver, a vida prende-me, agarra-me. Agora, vou começar livremente a viver.
Chegou a hora? Não sei! Dentro de segundos já me matei - já não sou a que agora penso ser. Sou livre de escolher, de ser quem quiser, amar ou morrer.
Adeus, ou... até ao próximo acto
Cai o pano
POETA
Não como toda a gente
Mas como só ele sabe sofrer
Sofre de alegria
Sofre de tristeza
Sofre, porque sofrer é ser.
Poeta é o que sente
O que sente profundo
O que sente sentido.
Poeta é o que olha e vê
Vê, não o que vê, mas o que não vê.
Poeta é o que olha um pássaro
e vê liberdade
O que olha o Tejo
e vê solidão
Poeta é o que sente o que sofre
e sofre o que sente
Poeta é aqule que sonha com o que sofre
Olhando o que não vê.
Poeta... sou eu!
EU
sábado, 15 de setembro de 2007
Bons momentos para recordar
Negras como a noite
Com mãos de veludo
Negras como a noite
Tu deste-me tudo
E eu parti
Um homem trabalha
Do outro lado do rio
Com as suas duas mãos
Repara um navio
Está sózinho e triste
Mas tem de aguentar
Já falta tão pouco
Para poder voltar
Vai ficar tudo bem
Isso eu sei
Vai ficar tudo bem
Isso eu sei
Quando o sol
Se juntar ao mar
E eu te voltar a beijar
Só mais uma vez, só mais uma vez
Só maios uma vez, só mais esta vez
Com adeus começa
Outro dia igual
Ficou a promessa
Escondida no lençol
Negras como a noite
Vindas de outra terra
As mãos de veludo
Estão à sua espera
Vai ficar tudo bem
Isso eu sei
Vai ficar tudo bem
Isso eu sei
Quando o sol
Se juntar ao mar
E eu te voltar a beijar
Só mais uma vez, só mais uma vez
Só mais uma, só mais esta vez
(Tim/Xutos e Pontapés)
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
BEM VINDO DALAI LAMA
sábado, 8 de setembro de 2007
DALAI-LAMA EM PORTUGAL
Mais uma vez o nosso país me desilude- já devia estar habituada, mas parece que não estou.
Como é do conhecimento de todos, e já publicitei aqui, o Dalai-Lama vem a Portugal para a semana, para um círculo de conferências budistas e espirituais. Para mim é, ou devia ser, um motivo de orgulho ter no meu país o líder espiritual que admiro. Então o que é que me indigna? A hipocrisia dos nossos dirigentes políticos, a falta de coragem da classe política que nos governa e que escolhemos como nossos representantes.
Hoje ouvi o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros dizer que o Dalai-Lama não será recebido oficialmente "como é óbvio". Óbvio para quem? Para a hipocrisia política, para o poder económico, que tudo colocam acima do direito à liberdade. Os tibetanos foram obrigados ao exílio após a invasão chinesa, o Dalai-Lama, líder político e espiritual do seu país - o Tibete - teve de se exilar na Índia para poder professar a filosofia de vida que é o budismo e poder lutar pelo direito à independência do território livre que foi ocupado, violado e profanado no seu íntimo.
O "óbvio" do nosso ministro para mim traduz-se em cobardia - já vi terroristas sob a capa de líderes políticos, serem recebidos no nosso país com honras de estado, e pela segunda vez, o líder espiritual budista, vem ao nosso país e não é recebido oficialmente!!! Acima de tudo, o Dalai-Lama é um líder espiritual que luta pelo seu povo e pela sua independência e não um líder político a chafurdar na hipocrisia do poder e dos interesses.
Não é recebido oficialmente, mas é recebido nos nossos corações com todo o amor, paz e compaixão. Para ele é o suficiente.
Ainda estou à espera de ver uma mobilização pública pela independência do Tibete, e ver as organizações defensoras dos direitos do Homem, as associações humanitárias e afins acordarem para o problema tibetano.
BEM VINDO DALAI-LAMA
Estou orgulhosa
É por isso que me sinto orgulhosa, porque brinquei com ela, lhe peguei ao colo, a adormeci, e agora vejo a vencer!
Que tenhas sempre muito sucesso na vida.
III Festival de Vídeo Jovem de Sintra
O FILME VENCEDOR
A REPRESENTANTE DO FILME VENCEDOR
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
30 de Agosto de 2007
Enfim, depois de um dia passado em família, com algumas e boas prendas e o tradicional bolo de aniversário, eis que chega a hora de partir, rumo a Viseu, para ver mais uma vez, os Xutos e Pontapés ao vivo. Desta vez, partilhando o meu dia, ou melhor, o final da noite, de aniversário com a minha banda de culto, com aqueles que admiro e sigo há 20 anos.
E assim foi... indo eu, indo eu, a caminho de Viseu... lá cheguei e encontrei outros como eu, que fazemos quilómetros para ver a maior banda de rock portuguesa, que vibramos nas grades ao som das guitarras do Zé Pedro e do João Cabeleira, que acertamos os nossos corações pelas batidas do Kalú, nos deixamos embalar pela voz do Tim, ao som do sax do Gui.
Bem, chega de palavras, aqui deixo algumas imagens que captei...
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Cântico Negro
Vem por aqui!
Dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem:- Vem por aqui!
Eu olho-os com olhos lassos...
Há nos meus olhos ironias e cansaços,
E cruzo os braços, e nunca vim por ali.
A minha glória é esta:
Criar desumanidade, não acompanhar ninguém...
Que eu vivo com o mesmo sem vaidade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, Não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos,
Se ao que busco saber, nenhum de vós responde,
Porque me repetis:- Vem por aqui!
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhos aos ventos,
Como farrapos arrastar os pés sangrentos...
- A ir por aí!
Se vim ao mundo...
Foi só para desflorar florestas virgens
O mais que faço, não vale nada.
Como pois sereis vós!
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem,
Para eu derrubar os meus obstáculos.
Corre nas nossas veias
Sangue velho dos avós,
- E vós amais o que é belo
Eu amo o longe e a miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos.
Ide!
Tendes estradas, tendes jardins , tendes canteiros
Tendes pátrias e tendes tectos,
E tendes regras e tratados, filósofos e sábios
- Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura
E sinto espuma e sangue
E cânticos nos lábios.
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
-Todos tiveram pai, todos tiveram mãe,
Mas eu, que nunca principío nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah! que ninguém me dê piedosas intenções
Ninguém me peça definições,
Ninguém me diga: - Vem por aqui!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou.´
É um átomo a mais que se animou,
Não sei por onde vou, não sei para onde vou:
- Sei que não vou por aí!
domingo, 26 de agosto de 2007
As Mãos
Para alimentar o Mundo
Mãos que lutam
Para serem alguém
Mãos que falam, que gritam
Que roubam e matam
Na luta da vida
Mãos que amam, acariciam
Beijam e adormecem
Mãos com vida
Vida nas mãos
E as minhas mãos
Que lutam na vida
Têm a vida adormecida
Por não te poderem tocar!
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Casal Ventoso
"A Voz do Mal"
Sei que te queres esconder
Sei que me queres deixar
Vais ter muito que correr
Sabes que te vou achar
Na aldeia mais distante
Acabarei por te encontrar
Esperarei por um sinal
Da tua sombra ao passar
Á luz da lua
A voz do mal
Uma rua mais sombria
O cenário habitual
Uma noite vazia
Mudares o teu final
Para acabar tudo de vez
Tu vais ter que me matar
Eu ficarei para sempre em ti
Esse remorso fatal
Desconheço a voz de Deus
Só conheço a voz do mal
Desconheço a voz de Deus
Só conheço a voz do mal
(Tim/Xutos e Pontapés)
Hoje, ia a caminho do trabalho e ouvi esta música no meu mp3. De imediato vieram-me à mente imagens de um tempo passado, que deixou marcas em mim e me tornou na pessoa que sou hoje - o tempo em que trabalhei no Casal Ventoso.
É verdade, em 1998 eu trabalhava no Casal Ventoso, como voluntária - fui para esse bairro porque queria trabalhar lá, foi uma escolha minha. E não me arrependo, bem pelo contrário, voltaria. Era outro mundo, outra realidade, que começava na Meia-Laranja e acabava ao fundo da Rua Arco do Carvalhão. Muito próximo fica o Cemitério dos Prazeres - sempre achei irónico...
Percorri quilómetros naquele bairro, a pôr em prática o que o curso de terapeuta de toxicodependentes me tinha ensinado e o que o Curso de Psicologia me ia ensinando... mas não há teoria que sobreviva, não há saber que resista, se não formos aquilo que aquelas pessoas procuravam em nós - sermos pessoas, sermos humanos...
Passava os dias naquelas ruas, com os toxicodependentes, e quando regressava a casa, muitas vezes chorei de revolta, de impotência, de desespero por aquilo que via, mas regressava sempre com o coração cheio.
Vi muitas coisas, que ainda hoje não me parecem reais, vi partos no meio da rua, de mulheres que não sabiam que estavam grávidas e julgavam estar a sofrer as dores da ressaca, vi crianças de 10 anos a consumir heroína, vi gente a morrer, vi mortos, vi corpos que se arrastavam sem consciência que ainda viviam... mas também vi olhares de esperança, lágrimas de gratidão, pais à procura de filhos, filhos a encontrar os pais, acima de tudo, vi PESSOAS.
Ouvi histórias inacreditáveis, conheci vidas impensáveis, vivi tempos indescritíveis...
Mas foi enquanto lá trabalhava, que mais aprendi sobre o ser humano, que mais cresci... Foi lá que conheci as pessoas mais bonitas que conheci até hoje...
Para lá do toxicodependente, da degradação que todos viam e a que todos viravam a cara, eu vi, eu conheci, pessoas com uma enorme capacidade de amar, em sofrimento, a pedir ajuda, a pedir apenas uma palavra amiga ou um sorriso... Pessoas a quem um dia faltou algo que a droga preencheu...
Adorei o trabalho que fiz... Voltaria a fazer tudo outra vez...
domingo, 19 de agosto de 2007
"EQUADOR" - Miguel Sousa Tavares
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Dois momentos de poesia ...
Se tu fosses o mar
Eu seria uma praia
Onde virias em cada momento
Com o teu corpo embalado pelo vento
Tocar o meu, muito de leve
Como se dos cabelos de um anjo se tratasse
Depois envolver-me-ias na espuma das tuas ondas
E contigo navegaria em oceanos desconhecidos
Se tu fosses uma flor
Eu seria um pássaro
Leve e pequenino - tal qual um beija-flor
E quando me alimentasse do teu pólen
Não o faria, mas antes
Envolver-te.ia com as minhas asas
Beijar-te-ia e enlaçados num amor mágico
Levava-te comigo e voaríamos
Num bailado de amantes alados
Se tu fosses o Sol
Eu queria ser a Lua
Para que eternamente
Na magia da noite ou na beleza do dia
Brincassemos, sem ninguém perceber
Nos amássemos em segredo
E de seguida repousassemos
No leito da cumplicidade
NA ALQUIMIA DA VIDA...
Na alquimia das letras
Descobri as tuas palavras
Profundas e sentidas
Leves e divertidas
Trocadas com prazer
Na alquimia dos sons
Ouvi a tua voz
Melodia suave
Como o toque de um amante
Que embala os momentos partilhados
Na alquimia dos sentidos
Cruzei o teu olhar
Intensidade enebriante
Que sem palavras me diz
Que posso confiar
Vi o teu sorriso
Tímido e sedutor
Que me faz viajar
Num universo calmo
Numa galáxia de ternura
Na alquimia das emoções
Encontrei a tua amizade
Sentimento forte e profundo
Sensações envolventes
Onde me perco sem culpa
Onde navego sem rumo
Com a certeza que me levarás
De regresso a porto seguro
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Circo de Feras
A vida vai torta
Jamais se endireita
O azar persegue
Esconde-se à espreita
Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo
E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto
De modo que a vida
É um circo de feras
E os entretantos
São as minhas esperas
E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto
quarta-feira, 25 de julho de 2007
A vós...
Por vezes, muitas vezes, quase sempre, nos esquecemos de dizer a essas pessoas "Gosto de ti" ou "És um(a) bom (a) amigo(a)". Se calhar não nos esquecemos, se calhar pensamos que não vale a pena, que não é preciso. Eu acho que é! É preciso dizer às pessoas de quem gostamos, o quanto gostamos delas, como a sua existência na nossa vida é importante.
A todos vós, aos que me atendem sempre os telefonemas, aos que comigo partilham mensagens, àqueles que nunca dão notícias, aos que estão sempre presentes, aos que aparecem quando e onde menos espero, ....
Obrigado pelos bons momentos, gosto de vocês!
terça-feira, 17 de julho de 2007
Natascha Kampusch - A rapariga da cave
No dia 23 de Agosto de 2006, o Mundo falava de Natascha Kampusch. A menina que tinha sido raptada aos 10 anos, a caminho da escola e de quem nunca mais se conheceu o rasto. A jovem que aos 18 anos fugiu do seu raptor para dar a conhecer a sua história de 8 anos de cativeiro.
Natascha Kampusch fugiu do seu raptor enquanto lhe lavava e aspirava o carro. O telemóvel dele tocou e os breves momentos de distração com a conversa foram suficientes para permitir a Natascha terminar com o seu cativeiro. Durante 8 anos vivera numa cave, num único quarto, de dimensões muito reduzidas, com uma única pessoa - o seu raptor, que se suicidou poucas horas após a fuga do seu "troféu".
Alguns dias depois, Natascha dá uma entrevista à televisão austríaca, onde a sua imagem perante o público é bastante alterada - a vítima que todos esperavam ver, as histórias horrendas que todos esperavam ouvir não correspondem ao que se passa diante dos seus olhos, no écran da televisão. Natascha Kampusch recusa-se a falar de pormenores sobre a sua vida, ao longo dos 8 anos em que viveu confinada. Quando lhe perguntam se foi vítima de abusos sexuais refere que não vai responder a questões que só pertencem à sua intimidade e que tudo o que aconteceu entre ela e o Sr. Priklopil (o seu raptor) implicou sempre consentimento.
O Mundo questionava: quem era afinal aquela jovem, que chorava a morte do seu carcereiro, querendo preservar a sua imagem dos olhares indiscretos?
Muitas questões surgiram; falou-se do seu papel dominador na relação com o raptor, na possibilidade de o rapto ter sido algo mais que isso, falou-se da possível cumplicidade de familiares de Natascha, principalmente da sua mãe.
Sobre todas estas hipóteses, os jornalistas Allan Hall e Michael Leidig, escreveram o livro intitulado "Natascha Kampusch - A rapariga da cave". Não pretende responder às questões por nós colocadas, mas sim dar a conhecer o resultado de uma investigação jornalística séria, tentando desvelar algumas questões sobre a vida de Natascha antes, durante e após o seu rapto.
Não condena nem iliba ninguém, relata os factos apurados, revelando ao longo das suas páginas o perfil de raptor e raptada.
Um livro bem escrito, que em vez de respostas, levanta questões, num caso real com tanto ainda por revelar. E será que deverá ser revelado, ou tal como diz Natascha Kampusch, pertence a uma esfera pessoal?
Leiam e tiram as vossas conclusões.
A editora é a DIFEL, de cujo site retirei a foto da capa do livro (www.difel.pt)