sexta-feira, março 30, 2012
As duas mãos da terra
Eu procurei e era vapor ou sonho
e era o mundo, o rumor do estio
com os seus barcos de folhagem entre as pedras
e o sol por sobre os muros, a linguagem
dos gestos quase imóveis no ardor
monótono e sombrio de uma brancura
que vencia o tempo e era o ombro
e o seio da terra entre o verde e a cinza.
Eu procurava e recebia o sopro
de um fogo em labirintos áridos
e a violência reunia-se num flanco
vermelho, companheira
que ardia adormecida e se elevava
sem sobressaltos à nudez do cimo.
Era como se a terra amasse o sonho
e com a mão de fogo e a mão de agua
desenhasse o instante da primeira
alegria divina. Eu recebia
as formas que se abriam e encerravam
em círculos vagarosos de uma matéria pura.
António Ramos Rosa
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quarta-feira, março 28, 2012
segunda-feira, março 26, 2012
Agarro-me aos teus dedos
Agarro-me aos teus dedos
como se me afogasse entre os pensamentos:
de bronze são as palavras
as palavras imperecíveis de bronze
que lacrimejam dos teus olhos
como a tortura ou o silêncio
pois é assim, as mãos urdindo
com amor
as confissões que arranquei a outras noites
quando não regressavas...
João Ricardo Lopes
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sábado, março 24, 2012
As pedras
As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.
Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?
As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.
Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.
Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.
Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.
As pedras falam? pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
um coisa para dizer.
Maria Alberta Menéres
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quinta-feira, março 22, 2012
***
Há muitos metros entre um animal que voa
E a escada que desço para me sentar no chão
Mas basta-me um quadrado de sossego
Para a distância absoluta
Está para além do que se vê a janela onde me debruço definitivo
Não é uma aparição
Nem se pode alcançar sem se ir em frente caindo
Só no fim da paisagem estou de pé como um para-quedista que desce
Suspenso como os santos num arroubo místico
Erguido como um anjo em suas asas
E sinto-me ser alto como um astro. Nuvem
Como se fosse um homem
Que levita
Daniel Faria
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terça-feira, março 20, 2012
Whitney Houston meets Michael Jackson in heaven!
Também lá estão: Jimi Hendrix, Kurt Cobain, Elvis, John Lennon, Jim Morrison, Amy Winehouse e o Freddy Mercury.
PS:Desligar o som do blog no lado direito.
domingo, março 18, 2012
A partir dos limites
A partir dos limites
das palavras
das árvores
o amor das árvores
as frases do desejo
as sombras
brancas
de outras palavras
outras
outras palavras
brancas
A partir das palavras
e do amor das árvores
O trajecto
mais breve
de uma sombra a outra
pode ser
outra sombra
António Ramos Rosa
Imagem retirada do Google
sexta-feira, março 16, 2012
Noturno a dois
O silêncio nos invade
quando o teu olhar se afasta
e se despe, em local incerto.
Tu ausente, desamparada, só,
qual criança envergonhada e triste
como uma flor, perdida no deserto.
Uma lágrima tua, desliza
pura gota de orvalho esquecida,
guardada no silêncio da memória.
E mais outra hora passou
com o nimbo da noite invadindo o sono,
numa madrugada sem glória.
João-Maria Nabais
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quarta-feira, março 14, 2012
Lua Nova
Desenha-se no céu a lua nova,
Límpida, casta, tenra como um gomo
De um alto, doce e sumarento pomo
Que a gula adeja, violenta e prova.
Vem doutra lua velha, sonolenta,
Com versos gastos, poeirentos, frios;
Vem com seus bicos doutros céus vazios
Onde a seiva cansada não fermenta.
Puro crescente branco da vontade,
Enquanto a noite, horizontal, ressona,
Mais se precisa, mais exibe à tona
A sua genuína mocidade.
Miguel Torga
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segunda-feira, março 12, 2012
Estou como se não houvesse mais para dizer
Estou como se não houvesse mais para dizer que uma
palavra
uma interminável palavra
no interminável silêncio
Estou como um cavalo esquelético à beira dum horizonte
perdidos todos os caminhos
Estou no entanto familiar
e rodeado de presenças
Escavo no chão absurdo
e uma pedra dá-me confiança
Na solidão da terra encontro
como o vestígio dum segredo
António Ramos Rosa
Imagem retiradado Google
sábado, março 10, 2012
quinta-feira, março 08, 2012
O olhar dos cães abandonados
O olhar dos cães às vezes
Assemelha-se a um mineral escuro
A uma pedra funda e despedaçada
Toca-nos como um olhar humano
Como se desesperado daquilo
Que não tem salvação
Prende a alma
Prende-a por muito tempo
Às vezes penso que é a morte
Que ali nos olha
Apenas ela
À espera de alguém para mostrar-se
Outras vezes esse mesmo olhar
É um fogo assustador
Lavra do fundo dessas retinas pobres
Acordando em nós
A angústia de sempre
Aquela tão simples verdade que diz
- podíamos ser o contrário - ele e eu -
João Ricardo Lopes
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terça-feira, março 06, 2012
Balada do gelo
Há nestas noites perdidas
a dor gelada do teu corpo ausente,
do abraço das tuas pernas fendidas
desabrochando num sorriso quente.
é a saudade dolorida
das tuas mãos cruéis
que me rasgam a pele ferida,
desenhando no meu corpo
o mapa do teu desejo,
a mordedura da tua boca salgada
percorrendo-me insaciada
na tortura de um longo beijo.
sempre nestas noites perdidas,
a dor gelada do teu corpo ausente,
da prisão das tuas pernas rendidas
desabrochando num gemido quente.
e quando o sol começa a despontar
e eu consigo adormecer,
juro-te, minha querida,
que nunca mais quero acordar.
António Maga
Imagem retirada do Google
domingo, março 04, 2012
Impressão
É o fim do dia
um grupo de aves afasta-se ao sabor do vento
dispersas em remoinho
já é curto
este luar de verão
enrolado
em espiral
assim acontece
a lenta aproximação do vapor de mar
nesta noite escura ao longo dos trilhos do campo
João-Maria Nabais
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sexta-feira, março 02, 2012
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