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quinta-feira, outubro 27, 2011

projecto de documentação.

VOU A TUA CASA
PROJECTO DE DOCUMENTAÇÃO



Um concept book de Rogério Nuno Costa

Coordenação editorial de Mónica Guerreiro

Direcção gráfica de Nuno Coelho

Pré-publicação online: http://vouatuacasa.wordpress.com






Cinco anos após o início do processo documental que compilou o arquivo de um projecto performativo, assim como produziu materiais novos (textuais e visuais) sobre e à volta desse mesmo projecto, chega finalmente a oportunidade do espectador/leitor apropriar-se de uma selecção especial dos melhores conteúdos do livro e do vídeo-documentário Vou A Tua Casa. Da selecção agora tornada disponível constam alguns textos integrais, outros em formato teaser, outros em processo/plano de intenções, todos ilustrados com imagens que fazem parte do arquivo Vou A Tua Casa. Colaboram um grupo vasto e heterogéneo de artistas e teóricos portugueses e estrangeiros oriundos das mais diversas áreas: curadoria, história da arte, escrita, artes plásticas, design, ilustração, joalharia, jornalismo, crítica, teatro, música, cinema, antropologia, geografia, arquitectura, filosofia... Mais informações:


Blog: www.vouatuacasa.blogspot.com [etiqueta: projecto de documentação]



©José Luís Neves, excerto de trabalho fotográfico incluído no livro, Lisboa, 2006.



VOU A TUA CASA
Uma trilogia teatral em forma de mapa-percurso: o ponto 'A' é a tua casa, o ponto 'C' é a minha, o ponto 'B' é aquele sítio impossível onde por ti sou apanhado no meio.


Vou A Tua Casa — Projecto de Documentação é um projecto transdisciplinar que compila uma panóplia de materiais documentais oriundos da trilogia Vou A Tua Casa (2003/2006), conjunto de três performances (a primeira na casa dos espectadores, a segunda em espaços públicos à escolha do espectador, a terceira na casa do criador) num catálogo e num vídeo-documentário. Mais do que uma prospecção sobre materiais residuais de uma performance circunscrita a um tempo e um espaço específicos, o projecto alicerça-se numa reflexão sobre a própria prática documental quando aplicada às artes performativas, operando criticamente em conceitos como os da efemeridade, memória, intimidade/privacidade e discurso autobiográfico. À distância de 5 anos, o catálogo revê o trajecto geo-emocional e performativo percorrido por um artista, uma peça e os seus espectadores, visitando Lisboa, Torres Vedras, Londres, Porto, Hamburgo, Covilhã, Berlim, Braga, Caldas da Rainha, Évora, Arnhem e Amares.


Autoria & Concepção
Rogério Nuno Costa

Direcção Gráfica
Nuno Coelho

Coordenação Editorial
Mónica Guerreiro 

Colaboradores
Ana Cardim, Ana Pais, André e. Teodósio, André Guedes, Beatriz Cantinho, Carlos Bunga, Cláudia Jardim, Cláudia Madeira, DJ Next Track, Franz Anton Cramer, Jeremy Xido, João Carneiro, José Luís Neves, Luís Firmo, Luísa Casella, Maria de Assis, Maria Lemos, Natacha Paulino, Nelson Guerreiro, Pierre von Kleist Editions (André Príncipe & José Pedro Cortes), Ramiro Guerreiro, Rui Ribeiro, Teresa Prima, Verónica Metello & um grupo vasto de ex-espectadores.

Financiamento
Presidência do Conselho de Ministros/Direcção-Geral das Artes

Apoios
Transforma AC, Artinsite, Câmara Municipal de Amares, Advancing Performing Arts Project, Prado/espaço ruminante, Teatro Académico Gil Vicente, Andar Filmes, DIF, Censura Prévia AC, Núcleo de Experimentação Coreográfica, Companhia de Danca Contemporânea de Évora, Dance Kiosk, Tanzfabrik, ArtEZ/Hogeschool voor de Kunsten, [msdm], Ninho de Víboras, Forum Dança, Centro em Movimento, Festival Sonda, Festival Alkantara, Lupa Festival, Circular/Festival de Artes Performativas de Vila do Conde, Festival Encontrarte, A Sala, Geraldine, Atelier Re.Al, Nomad Dance Academy, O Espaço do Tempo, Quarta Parede, Teatro Universitário do Minho, Universidade Católica do Porto, Escola Superior de Comunicação Social, Escola Superior de Artes e Design/Caldas da Rainha, Galeria ZDB, Teatro Praga.

sábado, outubro 22, 2011

projecto de documentação.

TEASER #13


CRONOLOGIA
A história verdadeira




[...]

No final de Outubro de 2007, conto um total de 132 espectáculos realizados em 9 cidades de 3 países. Desses, 71 pertencem ao Lado A, 26 ao Lado B e 35 ao Lado C. Número total de espectadores: 449. Destes, 259 são mulheres, 189 são homens, 1 é transsexual; 128 são amigos e conhecidos, 111 são conhecidos de vista ou de nome, 210 são totalmente desconhecidos; 358 são portugueses, 32 alemães, 20 ingleses, 5 brasileiros, 4 franceses, 3 escoceses, 2 suecos, 2 brasileiros, 2 turcos, 2 espanhóis, 2 austríacos, 1 polaco, 1 italiano, 1 holandês, 1 belga, 1 arménio e 1 iraniano; 11 têm nacionalidade indefinida. 235 são artistas; 47 jornalistas ou críticos; 17 crianças; 12 animais. Destes, 8 são gatos, 2 são tartarugas, 1 é hamster e 1 é cão. Dos 210 totalmente desconhecidos, 40 nunca mais os vi, 141 encontrei-os por diversas vezes em contextos sociais e/ou mantive contacto com eles por e-mail/MSN, 29 tornaram-se meus amigos para sempre e é como se ainda estivéssemos “em performance” de cada vez que nos encontramos. Apaixonei-me por 6. 12 apaixonaram-se por mim. Dos 449, lembro-me da cara de todos. Objectivo cumprido.


©Vou A Tua Casa/Lado A (espectáculo), Braga, 2006.



Mais um teaser que sucede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que foi disponibilizado no passado dia 21 de Outubro de 2011. A seguir também aqui!

quinta-feira, outubro 20, 2011

projecto de documentação.

TEASER #08


ENSAIO
Donativo individual



©Vou A Tua Casa/Lado A, Braga, 2006.




“Tentar escrever sobre o evento indocumentável da performance é invocar as regras do documento escrito e, logo, alterar o evento em si mesmo.”

[Peggy Phelan, in A Ontologia da Performance]



[...] Foi você que pediu um espectáculo? Sobre Vou A Tua Casa fui projectando uma série de imagens relativas à sua natureza e fui formulando uma série de perguntas em torno dos modos de recepção. Eis o conteúdo do álbum e respectivas anotações. Imagem 1: espectáculo portátil. Imagem 2: espectáculo transportado dentro de um tupperware. Imagem 3: serviço de espectáculo ao domicílio. “Serviço” ao domicílio, não digo “entrega” porque o espectáculo não está pronto nem o Rogério fica à porta como os estafetas da Pizza Hut ou da Telepizza. Destas imagens, ressaltam as noções de portabilidade, flexibilidade e adaptabilidade do espectáculo. Imagem 4: espectáculo antídoto do síndrome À Espera de Godot. Passo a explicar: esta síndrome revela-se na impossibilidade de avaliar a atractividade dos espectáculos. Logo, quem faz fica sempre à espera de que apareça uma expectativa positiva dessa entidade diversa, por vezes inclassificável, denominada espectador, à semelhança do que me aconteceu quando assisti ao espectáculo pela primeira vez na vida, sem conhecimento prévio do conteúdo do texto de Beckett. Acreditei, tal como Vladimir e Estragão parecem acreditar, que Godot acabaria por aparecer. O mesmo acontece quando revejo um filme, ainda dou por mim a acreditar que uma determinada personagem fará qualquer coisa de diferente para escapar ao seu destino predeterminado. Ao disponibilizar-se a ir à casa das pessoas, o Rogério está a combater essa síndrome, sabendo que vai ser recebido — por alguém que nunca viu, que já não vê há muito tempo (podendo tratar-se de pessoas reais por si bem ou mal conhecidas ou, em sentido metafórico, de potenciais públicos dos seus espectáculos), que não espera encontrar —, mas são sabendo ao que vai, quem lá está, o que lá existe, qual o cheiro, qual a decoração. É a eternização da primeira vez. Esteve em estreia permanente. Porém, desejava reencontros futuros, exclamando em silêncio através do papel um Ne Me Quitte Pas. [...]


Mais um teaser que antecede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que será disponibilizado amanhã. A seguir!

projecto de documentação.

TEASER #07


ENSAIO
Lado C ou o éter da distância

Verónica Metello






"O teatro acontece todo o tempo, onde quer que se esteja.
A arte só facilita o entendimento dessa situação."

[John Cage]



[...] Mas, no entanto, não obstante a potencialidade inerente à instauração do mecanismo performance no trabalho "Vou A Tua Casa" [...], revelando e evidenciando a realidade, o estado gasoso do belo não se esgota neste aspecto. Porque assenta, notavelmente, num outro território de subjectividade, trazendo para o jogo comunicacional a expectativa de um tempo e de um momento outro. Um tempo que é o da superação de uma distância. Mas uma distância que seria apenas superada, jamais na sua totalidade, mas na continuidade, no devir de cada um dos trabalhos. Dado que cada trabalho implica a definição de uma relação — vários dispositivos sublinham conscientemente esse objectivo — enceta-se o diálogo, são pedidos considerandos e opiniões sobre o curso da vida e trabalho do performer, trocam-se contactos, é tirada, no final do "Lado C", uma “fotografia de família”. É no devir da relação estabelecida, e na expectativa da superação de uma ordem de distância em virtude da continuidade dessa relação, que se situa de modo notável a aura destes trabalhos. Os mecanismos utilizados assentam na aparente intimidade, pois os dados pessoais — a intimidade que se parece encetar é meramente estatística e salvaguarda a dúvida — mantém a distância. Sabe-se o número do bilhete de identidade do performer, sabe-se o número de habitantes da sua cidade natal, sabe-se de algumas das suas afinidades electivas. Mas é um performer, a distância imposta é a da estatística, e jamais saberemos se esses dados correspondem a uma identidade que não performática. Mas é também por aí que este trabalho funciona — a sua aura é remetida para um tempo que ainda não existe, para uma diaclase alimentada por estas dúvidas, uma distância da qual não se está certo, jamais da superação. Paradoxalmente, falamos da aura, teorizada por Walter Benjamin, porque, efectivamente, a intensidade de que se reveste a expectativa no devir de cada um desses encontros é a da lonjura por mais perto que se esteja. Espero que o Rogério venha jantar a minha casa [...]


Mais um teaser que antecede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que será disponibilizado amanhã. A seguir!

projecto de documentação.

TEASER #06


Porque o mais importante é a pergunta
[DEBATE]


Em Setembro de 2007 realizou-se em casa de Mónica Guerreiro, e sem a presença de Rogério Nuno Costa, um debate em torno de várias problemáticas caras à trilogia Vou A Tua Casa; para além de Mónica Guerreiro, que moderou, estiveram presentes os críticos de teatro João Carneiro e Ana Pais, os actores Cláudia Jardim e André e. Teodósio, a bailarina e coreógrafa Beatriz Cantinho, a socióloga e investigadora Cláudia Madeira, e a actriz e crítica de teatro Natacha Paulino. Mónica Guerreiro foi espectadora das três partes da trilogia e observadora de Lado C; João Carneiro foi espectador de Lado A e Lado C, tendo publicado críticas aos dois espectáculos; Ana Pais foi espectadora de Lado C; Cláudia Jardim foi espectadora de Lado A e participou na fase inicial de pesquisa para o Lado B, juntamente com Rogério Nuno Costa e o actor Victor Gonçalves; André e. Teodósio foi espectador e artista convidado de Lado C; Beatriz Cantinho foi espectadora de Lado A e artista convidada de Lado C; Cláudia Madeira foi espectadora das fases experimental (2005) e oficial (2006) de Lado C e escreveu sobre toda a trilogia; Natacha Paulino foi espectadora de Lado B, cobaia e espectadora das duas fases de Lado C, e publicou críticas sobre essas duas experiências.




Um excerto para cada orador:


Cláudia Madeira
Ver uma peça do Rogério é como “comprar” uma experiência. Comprar uma experiência diferente. Como quando vamos comprar uns ténis mais excêntricos ou fazer um corte de cabelo insólito. E nós hoje temos cada vez mais necessidade de comprar experiências novas. Lembro-me que ele me falou da segunda parte do espectáculo (Lado B), no qual os espectadores escolhiam um sítio, e lembro-me que um dos espectadores escolheu um bar de prostitutas. Eu gostava de perceber o seguinte: porquê fazer um espectáculo num sítio que é já em si um espectáculo? [...]

João Carneiro
Acho interessante este tipo de experiência em que é possível existir ou não existir qualquer coisa parecida com um espectáculo e em que isso se desfaz por efeito, justamente, de uma grande proximidade entre quem faz e quem recebe. No caso destes espectáculos, continuo a achar muito interessante a ideia, mas continuo a ter muitas dúvidas sobre aquilo que se passou, porque não estou nada interessado na biografia do Rogério, como geralmente não estou nada interessado na biografia de ninguém. Eu posso virar isto ao contrário e dizer: ele está a afirmar, e eu não estou a querer perceber, que tudo na vida pode eventualmente ser transformado em espectáculo. Mas isso é uma banalidade de todo o tamanho! [...]

Beatriz Cantinho
Eu senti que há um discurso que me surpreende e que me prende, mas que depois é tão nuclear que deixa de me interessar. Mas eu acho que não houve só um – esse nuclear –, acho que houve outro. Há um discurso do Rogério que é interessante e prende-me, porque são experiências várias, íntimas, que são partilháveis, quase como dádivas, e eu sinto-me bem em recebê-las. [...]

Natacha Paulino
[...] Depois, claro, caiu-me tudo em cima: o que é espectáculo?, o que é teatro?, o que não é? Depois disso tive várias conversas com ele e escrevi dois textos sobre os seus trabalhos. Até porque ele quer sempre pôr estas coisas todas na mesa, em avaliação, levando-te a pensar, ou a repensar, os conceitos de espectáculo, performance, vida real… E tu tentas procurar fronteiras para te situares, por uma questão de segurança. Mas a verdade é que o meu Lado B foi único, não se pode repetir com mais ninguém. [...]

Mónica Guerreiro
Portanto, tudo isso eram coisas emanadas da vida real. E o potencial performativo vem desse prazer real, dessa coisa que se sente realmente… Ou seja, ele quer sempre perseguir temas, motivos e obsessões que já fazem parte da vida de qualquer pessoa. Mas como é que ele transforma depois isso em matéria de espectáculo, sem que o espectáculo deixe de ser uma coisa construída, e continuando sempre a ser uma coisa com ele e sobre ele? [...]

Ana Pais
Para mim, o espectáculo levanta fundamentalmente a questão do encontro, relativamente àquilo que nós imaginamos e temos por tradição ser o teatro, que é um espaço físico mas também um espaço social e público, por oposição à casa como espaço íntimo e privado. A questão do encontro parece-me muito importante, tendo em conta que ele acontece por convite. O que considero interessante questionar em relação ao Lado C é se ele se designa, precisamente, por espectáculo. O contraste entre espaço público e privado, que cria um espaço de encontro com o outro, suscita uma relação com o público que se deseja, no mínimo, diferente; relativamente à minha experiência, o Lado C lança para a mesa uma expressão que é a “experiência do insólito”. Os dois universos contrastantes, público e privado, provocam essa experiência. E essa estranheza, que me parece estar inerente ao projecto, é um dos aspectos mais interessantes. [...]

Cláudia Jardim
A partir do momento em que ele nos coloca tantas dúvidas sobre se é ou não espectáculo, e quando ele frisa, no próprio espectáculo, que aquilo é um espectáculo, então isso já quer dizer alguma coisa. [...]

André e. Teodósio
Por isso é que ele chama teatro. Quer dizer, o teatro é o sítio onde tu vês qualquer coisa. Tu estás ali para ver. Não é a “Passagem do Terror”. A tua condição ali é ver. Logo, é teatro, não é outra coisa. Havia aquele movimento na Alemanha dos anos 40, em que iam todos para a rua e faziam peças todos juntos… Não é nada disso! É teatro. Quando tu compras o livro do Foucault e lês o título O Que É A Filososofia?, é uma pergunta, não é? Mas tu não respondes ao livro. Tu compras o livro e lês. Pronto, é isso. [...]


Mais um teaser que antecede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que será disponibilizado até ao final do mês de Outubro. A seguir!

sábado, outubro 15, 2011

projecto de documentação.

TEASER #02
GUIÃO/LADO C



Da vontade de ir embora
[terceira figura do excesso]


André Guedes [Obra Visual]


©André Guedes [excerto de "S/ Título (Vila de Amares)", 2006]


"O indivíduo quer-se um mundo."
[Augé, p. 35]


[...] O espectáculo começa quando os espectadores chegam a casa. Encontro-me na cozinha, a terminar a confecção da refeição que lhes vou servir. [...] Dentro de casa já se encontram o artista e o observador convidados. Os casacos e as malas são colocados num dos quartos. Os espectadores são convidados a entrar na sala e a sentarem-se à mesa, atravessando para tal uma linha no chão com a inscrição “THINKING AREA”, desenhada com fita-cola de papel. O ambiente geral é o do aparato de um jantar sofisticado instalado no meio de um estaleiro em obras. Cada pessoa tem o nome escrito num cartão, colocado em frente ao prato, indicando o lugar onde deve sentar-se. Um projector de vídeo projecta na parede uma imagem com a frase “MY LIFE IN RANDOM MODE”, a partir de um PowerPoint instalado no meu computador. Todos os slides estão ilustrados com imagens dos materiais de trabalho utilizados nas obras em curso. Como som de fundo, ouvem-se músicas muito distintas, que se sucedem umas atrás das outras em modo aleatório, a partir de um segundo computador. A refeição é servida. À mesa, estão sentadas 8 pessoas. Durante cerca de uma hora, os comensais conversam e conhecem-se. Finda a refeição, baixo o volume da música e chamo a atenção dos espectadores para o momento que se segue, pedindo-lhes que sejam pacientes e disponíveis — a refeição gourmet por mim preparada terá servido como retribuição da ajuda que lhes vou pedir a seguir. [...] Abro um dossier e leio: [...]

Mais um teaser que antecede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que será disponibilizado até ao final do mês de Outubro. A seguir!

sexta-feira, outubro 14, 2011

projecto de documentação.

TEASER #01
[PREFÁCIO]



Vou A Tua Casa, No Caminho, Lado C
Luís Firmo


Presidente & Director Artístico da Transforma AC/Torres Vedras 


[...] Nas diversas acções desta Trilogia, Rogério Nuno Costa cria situações que se localizam artística e conceptualmente num território sem fronteiras claramente definidas, onde ficção e realidade, isto é, onde prática artística e vida quotidiana (a do criador e a do observador, em ambas as situações) se combinam e, sem hierarquias de género ou outras de qualquer espécie, se aventuram No Caminho da experiência reveladora do momento do encontro, acto de comunicação intenso que envolve uma particular percepção do tempo, do lugar e dos diversos aspectos que diferenciadamente os definem e compõem. As diversas acções da Trilogia são pretextos e oportunidades para a consumação desse acto comunicacional. São providas de um radicalismo experimental que pressupõe a experiência do outro e/ou a experiência do lugar do outro (em simultâneo, quando ambas ocorrem), num qualquer espaço do seu quotidiano, e muito em particular quando Vou A Tua Casa. São acções/espaços marginais, de grande exposição e vulnerabilidade, em larga escala dependentes da co-humanidade e da participação desse outro, simultaneamente também transformado em observador/intérprete. São situações que pressupõem a existência de alguma forma de cumplicidade, onde o autor opera construindo intrincadas e persuasivas cadeias de significados que propõem uma outra experiência do mundo, qual Lado C aqui revelado por uma deslocação momentânea da percepção das mais elementares situações vivenciais do quotidiano de um qualquer ser humano. Neste contexto, mais do que questionar o observador sobre qual o seu lugar e qual o seu papel nos diversos momentos de desenvolvimento/apresentação da obra, e de o confrontar com outras noções de espaço e de tempo, Rogério Nuno Costa desempenha simultaneamente o papel de facilitador/indutor/revelador de uma outra relação com o nosso quotidiano (como se dele passássemos a ser intérprete), modificado pela sua acção em algo de surpreendente e raramente antes descoberto. [...]


Assim se inicia a pré-publicação online e parcial de "Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação", com a aparição de teasers diários neste blog e a compilação quase-integral do livro e do documentário num website. A seguir!

domingo, outubro 09, 2011

projecto de documentação.

EM CONTAGEM DECRESCENTE
para a pré-publicação online (não integral)

do livro e do documentário:



VOU A TUA CASA | FUI

Uma trilogia teatral em forma de mapa-percurso: o ponto 'A' é a tua casa, o ponto 'C' é a minha, o ponto 'B' é aquele sítio impossível onde por ti sou apanhado no meio. Em Lisboa e noutros sítios.




Teasers, previews, trailers e outros anglicismos cool, neste blog, até ao final de Outubro de 2011 Workshop Vou A Tua Casa" (TAGV/Coimbra), nos dias 11 e 12 de Outubro de 2011.


Vou A Tua Casa — Projecto de Documentação é um projecto transdisciplinar que compila uma panóplia de materiais documentais oriundos da trilogia Vou A Tua Casa (2003/2006), conjunto de três performances (a primeira na casa dos espectadores, a segunda em espaços públicos à escolha do espectador, a terceira na casa do criador) num catálogo e num vídeo-documentário. Mais do que uma prospecção sobre materiais residuais de uma performance circunscrita a um tempo e um espaço específicos, o projecto alicerça-se numa reflexão sobre a própria prática documental quando aplicada às artes performativas, operando criticamente em conceitos como os da efemeridade, memória, intimidade/privacidade e discurso autobiográfico. À distância de 5 anos, o catálogo revê o trajecto geo-emocional e performativo percorrido por um artista, uma peça e os seus espectadores, visitando Lisboa, Torres Vedras, Londres, Porto, Hamburgo, Covilhã, Berlim, Braga, Caldas da Rainha, Évora, Arnhem e Amares.

Autoria & Concepção—Rogério Nuno Costa
Direcção Gráfica—Nuno Coelho
Coordenação Editorial—Mónica Guerreiro 

Colaboradores
Ana Cardim, Ana Pais, André e. Teodósio, André Guedes, Beatriz Cantinho, Carlos Bunga, Cláudia Jardim, Cláudia Madeira, DJ Next Track, Franz Anton Cramer, Jeremy Xido, João Carneiro, José Luís Neves, Luís Firmo, Luísa Casella, Maria de Assis, Maria Lemos, Natacha Paulino, Nelson Guerreiro, Pierre von Kleist Editions (André Príncipe & José Pedro Cortes), Ramiro Guerreiro, Rui Ribeiro, Teresa Prima, Verónica Metello & um grupo selecto de ex-espectadores.


segunda-feira, fevereiro 28, 2011

lado c.

BACK HOME EDITION


Porque agora ele vai MESMO embora para Amares fazer performances para as vaquinhas, para que fique claro que: 1) o Rogério Nuno Costa cumpre o que promete (apesar de todas as indicações contrárias), 2) o Rogério Nuno Costa não é adepto "concreto" do tão pós-moderno adiamento permanente (diz que odeia todo o campo semântico, mais ou menos anglo-saxónico, da expressão work-in-progress), 3) o Rogério Nuno Costa é adepto, sim, da tão orwelliana correcção retroactiva da realidade: não foi, mas podia ter ido, então vai agora. Tudo isto para dizer: "Adeus, gostei muito, obrigado, vocês são todos uns giros e uns queridos. Beijinhos e até nunca mais!".

...ou então:


BACK HOME EDITION
3.ª parte da trilogia Vou A Tua Casa



Historinha

A trilogia Vou A Tua Casa estreou em Lisboa no Verão de 2003 e transformou-se imediatamente na “imagem de marca”, mais ou menos estruturante, mais ou menos destrutiva, do seu autor. A performance acontecia nas casas dos próprios espectadores mediante marcação e foi sendo apresentada até sensivelmente Março de 2004. Até à data, já passou por Torres Vedras (Festival A8, Transforma AC, 2004), Londres (Postscript Festival, [msdm], 2004), Covilhã (Quarta Parede, 2006), Braga (Censura Prévia AC, 2006), Caldas da Rainha (Festival Sonda, 2006), Porto (A Sala, 2006) e Hamburgo (Dance Kiosk Festival, 2007). A segunda parte da trilogia, intitulada No Caminho, estreou em Torres Vedras (Festival A8, Transforma AC) no final de 2004, tendo seguido para Lisboa no ano seguinte. A performance acontecia para um só espectador de cada vez, em espaços públicos escolhidos por este, e sem duração definida. A terceira e última parte da trilogia — Lado C — regressa ao espaço privado, mais concretamente à casa do criador, que convida os espectadores para um jantar cozinhado pelo próprio e para uma síntese antológica de todo o projecto, feita em conjunto com o público e alguns convidados especiais. Estreou em Lisboa no Festival Alkantara em 2006 e já foi apresentada em casas particulares de Évora (Festival Internacional de Dança Contemporânea “Habitar A Cidade”, 2006), Porto (LUPA Festival, 2009) e Amares/Braga (Festival Encontrarte, 2009). A experiência gastronómico-filosófica de Lado C está agora a ser desenvolvida num projecto autónomo — Vou À Tua Mesa (2010/2011) — onde a comida deixa de ser um mero pretexto para um encontro para passar a elemento definidor de toda a peça. A trilogia foi também compilada num catálogo e num documentário em vídeo intitulados Vou A Tua Casa — Projecto de Documentação, no prelo (ou no prego) e à espera de melhores dias.

Pecinha

À mesa (para almoçar, lanchar, jantar, cear...) encontram-se: 15 espectadores [que fazem as vezes de alunos ou então de elementos de uma qualquer sociedade anónima], 1 artista [que faz as vezes de professor-cozinheiro ou então de guru de uma nova seita nominalista-conceptual], 1 observador misterioso [que ora faz de conta que não sabe ao que vai, ora faz de conta que ensaiou muito bem o papel], e 1 outro artista, convidado pelo primeiro para boicotar 5 minutos do espectáculo. Lado C, na verdade, nada mais é que um assumido plano maquiavélico de auto-ajuda perpetrado pelo seu autor, sendo este simultaneamente o seu maior e mais acérrimo destruidor. Discute-se o próprio espectáculo, à medida que o mesmo se vai construindo; duvida-se dos papéis que executamos só porque sim, e tenta-se, a custo, baralhá-los; reflecte-se sobre a razão de estarmos ali e o facto de não estarmos noutro sítio qualquer; pensa-se o porquê de tudo isto nos parecer tão familiar e aponta-se o dedo ao primeiro que disser donde vem a “inspiração”; revela-se a imanência de uma síntese dialéctica que não permite que as coisas possam ser divididas em sim e não, sendo que o talvez não é admitido como resolução do problema. LADO C é um evento insólito, mas ao mesmo tempo acolhedor, que vive em cima de uma dose inimaginável de ambiguidade, apenas porque tenciona verdadeiramente ver-se livre dela: concordar com a realidade para a podermos mudar. Uma performance que é política [nome] e não “política” [adjectivo]. A reunião extraordinária de um grupo de pessoas mais ou menos anónimas que se sentam para resolver os problemas de um artista, em troca perversa de comida gourmet e créditos curriculares.


Quem quiser dizer adeus ao Rogério Nuno Costa as we know him, é reservar lugar para o último "LADO C", a realizar no dia 4 de Março na Geraldine, pelas 20:00 horas. Marcações para e-mail: geraldine.lisboa@gmail.com

quarta-feira, setembro 09, 2009

o espectáculo continua.

AFTER HOURS
Pós-Lado C

25.02.2009
E-mail

Querido Rogério, a tua amabilidade dá-me um enorme contentamento. Mas sobretudo queria dizer o quanto admiro o teu amor pelos outros (...). Fiquei a perceber isso muito bem na última conversa que tivemos. Também fiquei a perceber melhor um bocadinho daquilo que me disseste (...), aquilo do meta-meta-Dogma. Eu acho que no teu trabalho é muito importante essa coisa do "Estás comigo? Estás a seguir-me?", mas na viagem e na simultaneidade de níveis discursivos divergentes eu queria dizer "Tu pensas que me estás a seguir, mas as regras do jogo não são as que eu te disse que eram." Na realidade, isto é também um acto de amor da minha parte, na medida em que eu te estou a alertar para as minhas mentiras... Eu acho que tu percebeste isto muito bem, eu é que ainda não sabia o que era um meta-meta-Dogma... E essa coisa das regras invisíveis é algo que me preocupa muito e com o qual eu sinto uma responsabilidade como artista, valha isso o que valer. Anyway, resolvi trabalhar mais sobre este projecto e apresentar um novo desenvolvimento brevemente. Com um bocadinho de sorte estarás cá (...). Fiquei ainda a perceber o quanto é importante para ti a tua liberdade de dizeres aquilo que pensas, da forma que pensas. Na realidade, não te acho tão subversivo quanto te acho fiel a ti mesmo. És muito centrado, apesar de Gémeos... Por isto ser inspirador e refrescante, só te posso agradecer. (...) És mais do que bem vindo (...) sempre que quiseres, e a nossa cidade, como sabes, está sempre de braços abertos para pessoas honestas com a arte... Acho... Eu sempre pensei que o Porto é uma cidade de excelência, que não se deixa enganar com meia dúzia de truques como às vezes em Lisboa eu penso que acontece. Aqui chove muito e faz mais frio, as pessoas estão mais atentas e sorriem apenas quando há mesmo razão para isso. Tu sabes isso, és um homem do Norte. (...) Tudo de bom! M.


©Carla Valquaresma [at LUPA Festival, Porto, Fevereiro 2009]

segunda-feira, julho 20, 2009

lado c.

VERSÃO 2009
—regresso a casa—


[terceira parte da trilogia Vou A Tua Casa]
[uma performance/conferência/jantar]




LADO C está na TERCEIRA VIA™ porque não nega o passado, mas também não aceita o passado. Agradece que existe e segue. Não é um espectáculo sobre. É um espectáculo. E é, portanto, "sobre" ele que se fala: para que serve, quem o legitima, quem o analisa, quem o cataloga, quem o contextualiza, quem o ignora, quem lhe cospe em cima, quem o faz, quem o vê, quem o compra, quem o programa, quem o documenta, para quem é dirigido, porque é que existe, porque é que existe assim, que outras formas teria ele para poder existir? Ou seja: estratégias de marketing e relações públicas adaptadas ao ambiente doméstico, compra e venda de materiais de escritório, nouvelle cuisine minhota, cura de enxaquecas, pesquisas Google, conspirações ultra-secretas, candidatura a apoios pontuais do Ministério da Cultura, troca de bilhetinhos debaixo da mesa e postais ilustrados. Tudo misturado num espectáculo simultaneamente ergonómico, nutricional, esotérico, medicinal e muito politicamente cultural. Para espectadores desconfortáveis com a sua condição de espectadores. Espectadores que não acreditam, mas que discutem. E para espectadores que gostam de comer.

No evento participam Rogério Nuno Costa [simultaneamente cozinheiro, mestre de cerimónias, orador, pensador, professor, DJ e trolha], dois assistentes [de mesa e de cozinha], oito espectadores [que serão também criadores, alunos, assistentes, amigos íntimos e aprendizes de feiticeiro] e ainda um artista convidado por cada sessão. LADO C é uma promessa de felicidade. Um momento de partilha que se deseja eterno. Um regresso às origens.



24 e 25 de Julho, 20:00
Lugar da Granja Velha [casa particular]
Amares, Braga 

reservas: amarense@gmail.com

sábado, abril 25, 2009

o espectáculo continua.

MISTICISMOS
a oportunidade de um espectador


EU — Tu és assim o exemplo típico do "amigo Vou A Tua Casa". Pertences ao clube. Eu queria fazer qualquer coisa com isto, mas não sei bem o quê. Só me ocorrem coisas visuais e totós da art contemporaine...
ELE — Hehehehe! Fui à tua casa, convidei-te para a minha... Isso é interessante. Vou desatar a despejar mochilas em cima das mesas das pessoas para fazer amigos como tu! Por acaso senti uma coisa estranhíssima quando os teus alunos do workshop comentaram o meu trabalho...
EU — Nem tudo são rosas, meu caro... Também fazes muitos inimigos. Na verdade, fazes mais inimigos que amigos...
ELE — Parece que por segundos estavam todos apaixonados por mim...
EU — Bem-vindo ao universo Vou A Tua Casa, no que ele tem de bom e de mau. O que fizeste potenciou isso.
ELE — Que estranho poder!... Por momentos pensei: "Podia fazer isto a vida toda"...
EU — Dizia isso a mim próprio de cada vez que terminava um espectáculo, mas acho que estava enganado... Não quero fazer isto a vida toda, porque isso implicaria que houvesse muitas pessoas disponíveis para isto, e não há. Ser-se "generoso" não é da moda.
ELE — Bem sei...
EU — Eu "apaixono-me" sempre. A sério ou a brincar. Não tenho outra hipótese. Se houver algum entendimento "técnico" em relação a este projecto, é esse. Faço os possíveis para me apaixonar. mesmo. A sério ou a brincar. Mas mesmo. Uma das relações "a sério" mais bonitas que tive foi com um espectador; apaixonamo-nos durante o No Caminho.
ELE — Ai sim!?
EU — Sim. Tenho a sensação (acho que ambos temos) que a "performance" só acabou no dia em que terminámos a relação, um ano e meio depois.
ELE — Que lindo!!!!

[...]

ELE — É... Às vezes baixam-me capacidades mediúnicas... Já jantei à borla muitas vezes por causa disso!
EU — Estás a falar a sério?
ELE — Bom... Não foram assim tantas vezes... Embora uma amiga me queira pôr a render no Chiado.
EU — Hahaha! Temos que falar melhor disso, do mediúnico... Lembras-te daquela conversa de abrir um livro ao calhas num espectáculo e o que leio bater certo em relação à situação em que estou ou em relação ao que acabei de dizer no instante imediatamente anterior?
ELE — Muito bem, sim.
EU — Bom, há pessoas que vêem naquilo algo mais que uma coincidência "performativa", ou então um trabalho de observação artística que por ser muito sensível (para ambas as partes: actor e espectador) faz provocar situações e associações entre situações que são de uma coincidência quase-mística... Seja como for, eu tenho uma grande dificuldade em assumir que possa ser possuidor de super-poderes, que não sou. LOL
ELE — Haahah! Eu com o que já vi, abstenho-me de comentar... LOL. Mas para mim, um pensar e o outro dizer não encerra qualquer tipo de mistério. Parece-me naturalíssimo 'adivinhar' pensamentos.
EU — A mim também me parece naturalíssimo. Por isso não sei falar destas coisas. Elas acontecem. Ponto final. Sabes, eu não te conheço bem, mas tenho a sensação que tu tens uma sensibilidade muito vou a tua cas'iana. E com esta me retiro.
ELE — Faz boa viagem e que tudo corra bem!



Lisboa
Agosto 2007

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

lado c.

A LATE NIGHT SUPPER
@ Lupa Festival, Porto





Uma performance, uma conferência, um jantar, um encontro semanal dos membros do Clube Das Pessoas Que Se Juntam Para Ajudar O Artista Rogério Nuno Costa a ser melhor artista. Ou não. Dias 20, 21 e 22 de Fevereiro, às 22:00.


COLLECTIONNOIR_BATALHA
produção_salabranca lab
co-produção_collectionnoir, joão mm costa, helena machado

reservas: 910902525, collectionnoir@yahoo.fr
rua augusto rosa, 176, 3.º dto. [porto]

domingo, dezembro 14, 2008

.

MSN — A HISTÓRIA COMPLETA
em 97 segundos


1 — O que é a "responsabilidade máxima do espectador"?
2 — Uma coisa de 2005. Queres mesmo saber?
1 — Quero.
2 — Não é um sinal de cena. É um sinal dos tempos em que não se dizia texto.
1 — Agora diz-se?
2 — Não.
1 — Então qual é a diferença?
2 — Nenhuma. Simplesmente continuam a existir muitos actores interessantes, que fazem muitas coisas interessantes, em muitas peças interessantes, montadas em muitos sítios interessantes, e que versam muitos temas interessantes. E eu achava que 3 anos era tempo suficiente para acabar com isso tudo. Enganei-me...
1 — Então qual é a diferença?
2 — Em 2005 havia esperança.
1 — Continua a ser importante?
2 — Continuo farto. Estou farto desde 2005, desde 2003, desde 2001, desde 1999, desde 1996, desde 1994, desde 1990, desde 1984, desde 1978.
1 — Estás farto de mim?
2 — Tu fazes o trabalho de casa. És pontual. Estudas a lição do dia. Participas na aula. És uma aluna crítica, opinativa, dinâmica, bem educada, informada, culta, criativa. És uma boa aluna. Tu vês. Não "vês". E "fazes" espectáculo. Tu não "dás" espectáculo.
1 — Mas eu só quero é divertir-me!
2 — Então pede à Câmara Municipal de Lisboa que reabra a Feira Popular.
1 — Dá trabalho. E nem sempre me apetece fazê-lo. Muito menos em casa. O teatro é o sítio onde se vai, não é o sítio onde se fica.
2 — Temos pena. Temos muita pena. Muita muita pena. Temos muita pena mesmo!
1 — Eu não quero ser "responsável".
2 — Então tu não queres nada. Não queres ver. Não queres fazer. Não queres ir. Não queres estar. Não queres! Não queres, reabre a Feira Popular. Fica em casa a jogar Trivial Pursuit. Abana as mamas.
1 — Demito-me.
2 — Pois demites.
1 — É por deixares que isto aconteça que tu falhas. É por isso que tu estás velho. É por isso que tu não prestas para nada. É por isso que tu te suicidas em público.
2 — É por isso, é.
1 — Está tudo mal. Isso está tudo mal. Tu fazes tudo mal. Está tudo mal. Está tudo mal. Mal. Mal. Mal.
2 — Pois está.
1 — Então corrige.
2 — Não.
1 — Então desiste.
2 — Pois desisto. Nem on, nem off. Out! Gratidão. Terceira Via. Empate técnico.
1 — Porque fazes?
2 — Fizeste...
1 — Porque fizeste?
2 — Nostalgia. Folhas de papel escritas. Declarações de amor. Jogos sem fronteiras. Festivais da canção. Playbacks. Gincanas minhotas. Papas de sarrabulho. Material de escritório. Poemas conceptuais. Comunicação social. Fita-cola. Paredes. Objectos enferrujados. Pessoas de estimação. Casas. Portas. Transportes públicos. Comboios intercidades. Livros de cozinha. Muito amor. Cartas de tarot. Astro-psico-socio-filosofia. Meta-óptica. Semiótica. Se-me-amas...
1 — Porque nos chamas?
2 — Para vos conhecer melhor.
1 — Porquê?
2 — Para me lembrar da vossa cara em 2010, 2012, 2018, 2023, 2035...
1 — E se nós não quisermos?
2 — Ninguém quer, ninguém quis, desisto.
1 — E vais fazer o quê? O que vais fazer a seguir? Qual é o teu próximo espectáculo?
2 — Quero fazer um espectáculo cujo cenário é um tabuleiro de Trivial Pursuit, com luzes tecnotrónicas e muito electro-indie-pop-rock da modixa, várias cenas a acontecer ao mesmo tempo, caos, party people, actrizes a abanar as mamas e actores a abanar os caralhos, a história do teatro a passar em rodapé e a minha história a passar em rodacabeça, muitos confettis, máquinas de cena, coisas que sobem e descem, participações especiais, disc jockeys, artistas plásticos, antropólogos, cineastas, vozes off distorcidas, bombeiros voluntários, escuteiros, tunas académicas, ranchos folclóricos, inter-media, inter-actions, inter-galactic planetary planetary inter-galactic, beijos na boca, neve artificial, um prólogo, vários meios e um epílogo. Vai-se chamar "Bem-vindos ao mundo encantado dos brinquedos onde há reis, princesas, dragões, heróis de banda desenhada, muitos saltos e muitos trambolhões, o mundo dos brinquedos é no (nome do teatro onde o espectáculo será apresentado), onde tudo tem mais fantasia, brinquedos, brinquedos, eles são a nossa maior alegria!" e o cartaz são só os logotipos de todos os apoios, patrocínios, parcerias, co-produções, mecenas, residências e festivais, com o título, companhia e actores num rodapé pequenino, no fundo.
1 — Vais fazer audições?
2 — Claro. Quero um grupo coeso, mas heterogéneo, de intérpretes que dominem a arte de bem se digladiarem nos ensaios para conseguir boas cenas no fim.
1 — Eu não vou ao teu casting. Para competir, prefiro ficar em casa a jogar Trivial Pursuit.
2 — Pois. Acabou-se a Oportunidade do Espectador.
1 — Eu pensava que tu não querias pessoas que cantem, que dancem, que esperneiem, que estrebuchem, que façam rir, que sejam giras e bem-dispostas, com um forte sentido de improvisação, intuitivas e carismáticas, físicas, loucas, pessoas loucas, pessoas giras e loucas... Eu pensava que tu querias pessoas que... Eu gostava tanto de ser uma...
2 — Cala-te! Só dizes disparates. Odeio-te.
1 — Eu também te odeio. Não és um artista, és um arpista, um artolas, um artimanhoso, um artpobre, um cromo!
2 — E tu não és uma espectadora. És uma espectaburra, uma espectaculosa, uma expecturada, uma croma!
1 — É tudo mentira. Tu nunca te foste embora. Tu nunca vais embora. Tu só enuncias. Tu não fazes. E nós só queremos que nos façam. E por isso nos rimos agora. Porque é sempre o espectador que ri por último. E quem ri por último, ri melhor.
2 — O melhor não é necessariamente bom. O que fazes não interessa pra nada; interessa como fazes o que fazes. Energy: yes! Quality: no!
1 — 2005!
2 — 2005.

[...]



quinta-feira, outubro 30, 2008

lado c.

REMEMBERING 2005
[before Dogma]


A seguinte declaração foi entregue a todos os espectadores que comigo construíram a primeira versão do Lado C, tornada disponível em Maio de 2005 e abortada em Outubro do mesmo ano devido a contingências financeiras. Quando regressou, em 2006 [after Dogma], já vinha com outra cara. O antes, foi mais ou menos assim:


DECLARAÇÃO
Para os devidos efeitos, declara-se que (nome), portador do bilhete de identidade número (número), emitido em (cidade) a (data), colaborou artisticamente, na condição de (riscar o que não interessa: ESPECTADOR, ESPECTADOR-CRIADOR), no projecto Vou A Tua Casa — Lado C, da autoria de Rogério Nuno Costa. A performance aconteceu no passado dia (data), em casa do autor, sita na Rua Amadeo de Souza Cardoso, n.º 24, 1.º andar, em Lisboa, entre as (hora) e as (hora). Para efeitos curriculares, declara-se portanto ser verdade que o (riscar o que não interessa: ESPECTADOR, ESPECTADOR-CRIADOR) em questão trabalhou com o criador português Rogério Nuno Costa, portador do bilhete de identidade número 11362056, emitido em Lisboa a 10 de Novembro de 2000, e inscrito na repartição de finanças de Amares (Braga) como Artista de Teatro.

Lisboa, (data) de 2005

(assinatura)

[Rogério Nuno Costa]

©José Luís Neves

sexta-feira, julho 25, 2008

"lo-fi" - sophy.

APOCALYPSE NOW
Google Talk


00:41

ELE: Já decoraste A Voz Humana? EU: Já decorei, sim senhor. Tal como manda a tradição... Decoro o texto primeiro e faço depois. Este espectáculo tem que ser tudo como manda a tradição. Quero fazer um readymade da tradição. ELE: Eu sei, eu sei. Muito rogeriano, de resto... EU: Isso é que eu ainda não sei. A ver... ELE: Não paras! EU: Páro. Para mim acabou. Estou farto. Findo este ano, vou dedicar-me à minha carreira de cozinheiro. Vou "deixar tudo" para ser cozinheiro. Não é bonito? ELE: 'tás sempre a dizer que acabou, mas nunca mais acaba!!! [...] Quando se é artista, é sempre a acumular funções... EU: ...onde é que isso está escrito, que eu sou "artista"? Um "artista" que trabalha no McDonald's para ganhar dinheiro é "artista" quando está a trabalhar no McDonald's? Os hamburgers que vende são "arte"? "Artista" não é uma profissão... ELE: Depende. EU: "Artista" não é coisa que se seja. Não se é artista. Ninguém "é" artista. O artista não existe. Já o cozinheiro "existe". Cozinheiro é-se. ELE: Hummm... Tanto como artista, parece-me... EU: ...ando sempre a dizer que as coisas que faço são o que são, e que aquilo que são é o nome que têm... ELE: Pois, eu sei... EU: Pronto, a Universidade vai ser isso mesmo: uma universidade. Sem metáforas. ELE: A arte não tem que ser metafórica!!! EU: É sempre vista como tal. Eu tenho muita pena. Para mim, acabou-se a dialéctica do real/ficcional. Quero continuar a fazer coisas sem ter que estar dentro dessa dialéctica, e ao mesmo tempo sem ter que fazer de conta que ela não existe. Nem que para tal tenha que sair da construção artística. Vai ter que ser. Fazer o caminho inverso ao do Godard, que diz ter deixado de fazer cinema para passar a fazer arte. ELE: Hummm... Pois, já tinha percebido. EU: Não quero mais "fazer de conta" que sou curador, mesmo que o seja, de facto. É divertido, mas não passa disso... Quero ser mesmo. Mesmo que esse mesmo seja, ainda assim, "a brincar" (uma das minhas expressões preferidas...) ELE: Eu gostava mais quando eras artista, de facto, e sem metáforas nem ficções. EU: ...ou faço mesmo dentro da construção artística (como vai acontecer no Espectáculo de Teatro), ou faço mesmo fora dela, como vai acontecer na Universidade. (resumi grosseiramente, mas acho que bem...) Farto de ter um pé dentro, outro fora. ELE: ...ou pelo menos sem mais ficção do que aquela que a vida já tem, n'est-ce pas? EU: Isso foram os últimos 6 anos da minha vida, não quero mais... Que venham outros e façam por mim. EU: Compreendo, mas sou melancólico, o que é que queres? EU: Eu acho isso bem e até acho bonito, mas, honestamente, estou-me a cagar para o que já fiz. Não sinto qualquer nostalgia mais ou menos melancólica. Sinto que tenho que desrespeitar o meu trabalho na mesma medida em que desrespeito os dos outros antes de mim. Jamais me poderei levar a sério. Morro só de pensar nisso. ELE: Melancolia não tem a ver com isso... EU: A tua melancolia é a do espectador. É a mesma melancolia que eu sinto quando penso nas coisas que a Sigalho fazia em 1999, que eram maravilhosas e me influenciaram imenso. Mas é passado. ELE: ...mas agora não fiques igual a ela só porque fizeste 30, please! EU: Não. Porque eu recuso-me a fazer Vou A Tua Casa's para o resto dos meus dias. Ainda que, na verdade, seja isso que toda a gente espera de mim. Eu só quero ser cozinheiro. E dos bons! Abro um restaurante maravilhoso e as pessoas vão lá como se fossem ver um espectáculo melancólico do Rogério. Cada um vê o que quer. Isso já não é da minha responsabilidade. Acabou-se a Oportunidade do Espectador. Quero uma "oportunidade do criador". Preciso. ELE: ...uma melancolia niilista pós-espectacular rogeriana... Não gosto muito. Gosto mais do artista que faz comida verdadeira que se come mesmo e ainda assim é ficcional...

01:10

ELE: Eu gosto de poesia. EU: Eu abomino poesia. ELE: Pois, eu sei... EU: Eu já só leio livros de cozinha. São os melhores livros de filosofia do mundo. Estética pura. Estética no seu estado mais elevado. Físico-químico. Humano. ELE: Isso já não concordo. A metáfora culinária é uma metáfora para o artesanato e não para a arte. EU: Primeiras: ninguém falou em arte aqui. Segundas: eu disse "livros de cozinha", não disse "culinária". Estou a falar-te de estética, não te estou a falar de antropossociologia alimentar! ELE: Não... EU: ...e depois a Oprah é outra lição sublime de estética. A Oprah é a representante máxima do triunfo filosófico da estética. Mais importante que qualquer rizomada publicada em livro. Mais importante que a própria filosofia. Mais importante que a Madonna. Primeiro: porque é preta. Segundo: porque é americana. Três: porque jamais irá cometer suicídio. Ela é o futuro da filosofia na sua máxima expressão. Sem ela, não existiria Zizek. ELE: ...temos dúvidas. EU: Hahahaah. Acho maravilhoso que me continues a levar a sério. Isso é bonito. Acredito mesmo que a cultura popular é a mais sublime das culturas. Na verdade, só existe cultura popular. As outras não existem. A cultura popular é a única cultura físico-química. É a única cultura verdadeiramente "humana". ELE: ...tu afinal és o Stanislavski. Eu sempre disse isso! Vou guardar o catálogo do Vou A Tua Casa e ler o texto do Lado C todos os dias... EU: Porquê? ELE: Protesto melancólico...