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quinta-feira, outubro 27, 2011

projecto de documentação.

VOU A TUA CASA
PROJECTO DE DOCUMENTAÇÃO



Um concept book de Rogério Nuno Costa

Coordenação editorial de Mónica Guerreiro

Direcção gráfica de Nuno Coelho

Pré-publicação online: http://vouatuacasa.wordpress.com






Cinco anos após o início do processo documental que compilou o arquivo de um projecto performativo, assim como produziu materiais novos (textuais e visuais) sobre e à volta desse mesmo projecto, chega finalmente a oportunidade do espectador/leitor apropriar-se de uma selecção especial dos melhores conteúdos do livro e do vídeo-documentário Vou A Tua Casa. Da selecção agora tornada disponível constam alguns textos integrais, outros em formato teaser, outros em processo/plano de intenções, todos ilustrados com imagens que fazem parte do arquivo Vou A Tua Casa. Colaboram um grupo vasto e heterogéneo de artistas e teóricos portugueses e estrangeiros oriundos das mais diversas áreas: curadoria, história da arte, escrita, artes plásticas, design, ilustração, joalharia, jornalismo, crítica, teatro, música, cinema, antropologia, geografia, arquitectura, filosofia... Mais informações:


Blog: www.vouatuacasa.blogspot.com [etiqueta: projecto de documentação]



©José Luís Neves, excerto de trabalho fotográfico incluído no livro, Lisboa, 2006.



VOU A TUA CASA
Uma trilogia teatral em forma de mapa-percurso: o ponto 'A' é a tua casa, o ponto 'C' é a minha, o ponto 'B' é aquele sítio impossível onde por ti sou apanhado no meio.


Vou A Tua Casa — Projecto de Documentação é um projecto transdisciplinar que compila uma panóplia de materiais documentais oriundos da trilogia Vou A Tua Casa (2003/2006), conjunto de três performances (a primeira na casa dos espectadores, a segunda em espaços públicos à escolha do espectador, a terceira na casa do criador) num catálogo e num vídeo-documentário. Mais do que uma prospecção sobre materiais residuais de uma performance circunscrita a um tempo e um espaço específicos, o projecto alicerça-se numa reflexão sobre a própria prática documental quando aplicada às artes performativas, operando criticamente em conceitos como os da efemeridade, memória, intimidade/privacidade e discurso autobiográfico. À distância de 5 anos, o catálogo revê o trajecto geo-emocional e performativo percorrido por um artista, uma peça e os seus espectadores, visitando Lisboa, Torres Vedras, Londres, Porto, Hamburgo, Covilhã, Berlim, Braga, Caldas da Rainha, Évora, Arnhem e Amares.


Autoria & Concepção
Rogério Nuno Costa

Direcção Gráfica
Nuno Coelho

Coordenação Editorial
Mónica Guerreiro 

Colaboradores
Ana Cardim, Ana Pais, André e. Teodósio, André Guedes, Beatriz Cantinho, Carlos Bunga, Cláudia Jardim, Cláudia Madeira, DJ Next Track, Franz Anton Cramer, Jeremy Xido, João Carneiro, José Luís Neves, Luís Firmo, Luísa Casella, Maria de Assis, Maria Lemos, Natacha Paulino, Nelson Guerreiro, Pierre von Kleist Editions (André Príncipe & José Pedro Cortes), Ramiro Guerreiro, Rui Ribeiro, Teresa Prima, Verónica Metello & um grupo vasto de ex-espectadores.

Financiamento
Presidência do Conselho de Ministros/Direcção-Geral das Artes

Apoios
Transforma AC, Artinsite, Câmara Municipal de Amares, Advancing Performing Arts Project, Prado/espaço ruminante, Teatro Académico Gil Vicente, Andar Filmes, DIF, Censura Prévia AC, Núcleo de Experimentação Coreográfica, Companhia de Danca Contemporânea de Évora, Dance Kiosk, Tanzfabrik, ArtEZ/Hogeschool voor de Kunsten, [msdm], Ninho de Víboras, Forum Dança, Centro em Movimento, Festival Sonda, Festival Alkantara, Lupa Festival, Circular/Festival de Artes Performativas de Vila do Conde, Festival Encontrarte, A Sala, Geraldine, Atelier Re.Al, Nomad Dance Academy, O Espaço do Tempo, Quarta Parede, Teatro Universitário do Minho, Universidade Católica do Porto, Escola Superior de Comunicação Social, Escola Superior de Artes e Design/Caldas da Rainha, Galeria ZDB, Teatro Praga.

quinta-feira, outubro 20, 2011

projecto de documentação.

TEASER #07


ENSAIO
Lado C ou o éter da distância

Verónica Metello






"O teatro acontece todo o tempo, onde quer que se esteja.
A arte só facilita o entendimento dessa situação."

[John Cage]



[...] Mas, no entanto, não obstante a potencialidade inerente à instauração do mecanismo performance no trabalho "Vou A Tua Casa" [...], revelando e evidenciando a realidade, o estado gasoso do belo não se esgota neste aspecto. Porque assenta, notavelmente, num outro território de subjectividade, trazendo para o jogo comunicacional a expectativa de um tempo e de um momento outro. Um tempo que é o da superação de uma distância. Mas uma distância que seria apenas superada, jamais na sua totalidade, mas na continuidade, no devir de cada um dos trabalhos. Dado que cada trabalho implica a definição de uma relação — vários dispositivos sublinham conscientemente esse objectivo — enceta-se o diálogo, são pedidos considerandos e opiniões sobre o curso da vida e trabalho do performer, trocam-se contactos, é tirada, no final do "Lado C", uma “fotografia de família”. É no devir da relação estabelecida, e na expectativa da superação de uma ordem de distância em virtude da continuidade dessa relação, que se situa de modo notável a aura destes trabalhos. Os mecanismos utilizados assentam na aparente intimidade, pois os dados pessoais — a intimidade que se parece encetar é meramente estatística e salvaguarda a dúvida — mantém a distância. Sabe-se o número do bilhete de identidade do performer, sabe-se o número de habitantes da sua cidade natal, sabe-se de algumas das suas afinidades electivas. Mas é um performer, a distância imposta é a da estatística, e jamais saberemos se esses dados correspondem a uma identidade que não performática. Mas é também por aí que este trabalho funciona — a sua aura é remetida para um tempo que ainda não existe, para uma diaclase alimentada por estas dúvidas, uma distância da qual não se está certo, jamais da superação. Paradoxalmente, falamos da aura, teorizada por Walter Benjamin, porque, efectivamente, a intensidade de que se reveste a expectativa no devir de cada um desses encontros é a da lonjura por mais perto que se esteja. Espero que o Rogério venha jantar a minha casa [...]


Mais um teaser que antecede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que será disponibilizado amanhã. A seguir!

sábado, outubro 15, 2011

projecto de documentação.

TEASER #02
GUIÃO/LADO C



Da vontade de ir embora
[terceira figura do excesso]


André Guedes [Obra Visual]


©André Guedes [excerto de "S/ Título (Vila de Amares)", 2006]


"O indivíduo quer-se um mundo."
[Augé, p. 35]


[...] O espectáculo começa quando os espectadores chegam a casa. Encontro-me na cozinha, a terminar a confecção da refeição que lhes vou servir. [...] Dentro de casa já se encontram o artista e o observador convidados. Os casacos e as malas são colocados num dos quartos. Os espectadores são convidados a entrar na sala e a sentarem-se à mesa, atravessando para tal uma linha no chão com a inscrição “THINKING AREA”, desenhada com fita-cola de papel. O ambiente geral é o do aparato de um jantar sofisticado instalado no meio de um estaleiro em obras. Cada pessoa tem o nome escrito num cartão, colocado em frente ao prato, indicando o lugar onde deve sentar-se. Um projector de vídeo projecta na parede uma imagem com a frase “MY LIFE IN RANDOM MODE”, a partir de um PowerPoint instalado no meu computador. Todos os slides estão ilustrados com imagens dos materiais de trabalho utilizados nas obras em curso. Como som de fundo, ouvem-se músicas muito distintas, que se sucedem umas atrás das outras em modo aleatório, a partir de um segundo computador. A refeição é servida. À mesa, estão sentadas 8 pessoas. Durante cerca de uma hora, os comensais conversam e conhecem-se. Finda a refeição, baixo o volume da música e chamo a atenção dos espectadores para o momento que se segue, pedindo-lhes que sejam pacientes e disponíveis — a refeição gourmet por mim preparada terá servido como retribuição da ajuda que lhes vou pedir a seguir. [...] Abro um dossier e leio: [...]

Mais um teaser que antecede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que será disponibilizado até ao final do mês de Outubro. A seguir!

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

lado c.

BACK HOME EDITION


Porque agora ele vai MESMO embora para Amares fazer performances para as vaquinhas, para que fique claro que: 1) o Rogério Nuno Costa cumpre o que promete (apesar de todas as indicações contrárias), 2) o Rogério Nuno Costa não é adepto "concreto" do tão pós-moderno adiamento permanente (diz que odeia todo o campo semântico, mais ou menos anglo-saxónico, da expressão work-in-progress), 3) o Rogério Nuno Costa é adepto, sim, da tão orwelliana correcção retroactiva da realidade: não foi, mas podia ter ido, então vai agora. Tudo isto para dizer: "Adeus, gostei muito, obrigado, vocês são todos uns giros e uns queridos. Beijinhos e até nunca mais!".

...ou então:


BACK HOME EDITION
3.ª parte da trilogia Vou A Tua Casa



Historinha

A trilogia Vou A Tua Casa estreou em Lisboa no Verão de 2003 e transformou-se imediatamente na “imagem de marca”, mais ou menos estruturante, mais ou menos destrutiva, do seu autor. A performance acontecia nas casas dos próprios espectadores mediante marcação e foi sendo apresentada até sensivelmente Março de 2004. Até à data, já passou por Torres Vedras (Festival A8, Transforma AC, 2004), Londres (Postscript Festival, [msdm], 2004), Covilhã (Quarta Parede, 2006), Braga (Censura Prévia AC, 2006), Caldas da Rainha (Festival Sonda, 2006), Porto (A Sala, 2006) e Hamburgo (Dance Kiosk Festival, 2007). A segunda parte da trilogia, intitulada No Caminho, estreou em Torres Vedras (Festival A8, Transforma AC) no final de 2004, tendo seguido para Lisboa no ano seguinte. A performance acontecia para um só espectador de cada vez, em espaços públicos escolhidos por este, e sem duração definida. A terceira e última parte da trilogia — Lado C — regressa ao espaço privado, mais concretamente à casa do criador, que convida os espectadores para um jantar cozinhado pelo próprio e para uma síntese antológica de todo o projecto, feita em conjunto com o público e alguns convidados especiais. Estreou em Lisboa no Festival Alkantara em 2006 e já foi apresentada em casas particulares de Évora (Festival Internacional de Dança Contemporânea “Habitar A Cidade”, 2006), Porto (LUPA Festival, 2009) e Amares/Braga (Festival Encontrarte, 2009). A experiência gastronómico-filosófica de Lado C está agora a ser desenvolvida num projecto autónomo — Vou À Tua Mesa (2010/2011) — onde a comida deixa de ser um mero pretexto para um encontro para passar a elemento definidor de toda a peça. A trilogia foi também compilada num catálogo e num documentário em vídeo intitulados Vou A Tua Casa — Projecto de Documentação, no prelo (ou no prego) e à espera de melhores dias.

Pecinha

À mesa (para almoçar, lanchar, jantar, cear...) encontram-se: 15 espectadores [que fazem as vezes de alunos ou então de elementos de uma qualquer sociedade anónima], 1 artista [que faz as vezes de professor-cozinheiro ou então de guru de uma nova seita nominalista-conceptual], 1 observador misterioso [que ora faz de conta que não sabe ao que vai, ora faz de conta que ensaiou muito bem o papel], e 1 outro artista, convidado pelo primeiro para boicotar 5 minutos do espectáculo. Lado C, na verdade, nada mais é que um assumido plano maquiavélico de auto-ajuda perpetrado pelo seu autor, sendo este simultaneamente o seu maior e mais acérrimo destruidor. Discute-se o próprio espectáculo, à medida que o mesmo se vai construindo; duvida-se dos papéis que executamos só porque sim, e tenta-se, a custo, baralhá-los; reflecte-se sobre a razão de estarmos ali e o facto de não estarmos noutro sítio qualquer; pensa-se o porquê de tudo isto nos parecer tão familiar e aponta-se o dedo ao primeiro que disser donde vem a “inspiração”; revela-se a imanência de uma síntese dialéctica que não permite que as coisas possam ser divididas em sim e não, sendo que o talvez não é admitido como resolução do problema. LADO C é um evento insólito, mas ao mesmo tempo acolhedor, que vive em cima de uma dose inimaginável de ambiguidade, apenas porque tenciona verdadeiramente ver-se livre dela: concordar com a realidade para a podermos mudar. Uma performance que é política [nome] e não “política” [adjectivo]. A reunião extraordinária de um grupo de pessoas mais ou menos anónimas que se sentam para resolver os problemas de um artista, em troca perversa de comida gourmet e créditos curriculares.


Quem quiser dizer adeus ao Rogério Nuno Costa as we know him, é reservar lugar para o último "LADO C", a realizar no dia 4 de Março na Geraldine, pelas 20:00 horas. Marcações para e-mail: geraldine.lisboa@gmail.com

segunda-feira, julho 20, 2009

lado c.

VERSÃO 2009
—regresso a casa—


[terceira parte da trilogia Vou A Tua Casa]
[uma performance/conferência/jantar]




LADO C está na TERCEIRA VIA™ porque não nega o passado, mas também não aceita o passado. Agradece que existe e segue. Não é um espectáculo sobre. É um espectáculo. E é, portanto, "sobre" ele que se fala: para que serve, quem o legitima, quem o analisa, quem o cataloga, quem o contextualiza, quem o ignora, quem lhe cospe em cima, quem o faz, quem o vê, quem o compra, quem o programa, quem o documenta, para quem é dirigido, porque é que existe, porque é que existe assim, que outras formas teria ele para poder existir? Ou seja: estratégias de marketing e relações públicas adaptadas ao ambiente doméstico, compra e venda de materiais de escritório, nouvelle cuisine minhota, cura de enxaquecas, pesquisas Google, conspirações ultra-secretas, candidatura a apoios pontuais do Ministério da Cultura, troca de bilhetinhos debaixo da mesa e postais ilustrados. Tudo misturado num espectáculo simultaneamente ergonómico, nutricional, esotérico, medicinal e muito politicamente cultural. Para espectadores desconfortáveis com a sua condição de espectadores. Espectadores que não acreditam, mas que discutem. E para espectadores que gostam de comer.

No evento participam Rogério Nuno Costa [simultaneamente cozinheiro, mestre de cerimónias, orador, pensador, professor, DJ e trolha], dois assistentes [de mesa e de cozinha], oito espectadores [que serão também criadores, alunos, assistentes, amigos íntimos e aprendizes de feiticeiro] e ainda um artista convidado por cada sessão. LADO C é uma promessa de felicidade. Um momento de partilha que se deseja eterno. Um regresso às origens.



24 e 25 de Julho, 20:00
Lugar da Granja Velha [casa particular]
Amares, Braga 

reservas: amarense@gmail.com

sábado, maio 17, 2008

lado a.

CLAUDINE
12 de Maio de 2003

[9.ª e última casa]


I.
Amares + bibicleta + Claudine = felicidade. Recorrência: fazer coisas juntos. O Vou A Tua Casa, em casa das pessoas, será sobre fazer coisas juntos.

II.
O Tigre é o espertalhão: consegue abrir os portões com os dentes e a língua. O Mike é o preguiçoso: só sabe comer e dormir. O Leão é o ciumento, talvez por ser o mais velho. A Claudine apresenta-me os cães como quem introduz as personagens de uma peça de teatro, no início de um texto que não se sabe onde começou (o livro não tem capa, nem contra-capa, e pode ser lido de trás para a frente e de frente para trás), e não se sabe onde vai acabar. Mas as personagens existem. Mexem-se. Estão vivas. Ladram. Mas são-me apresentadas como se vivessem na bidimensionalidade de uma folha de papel. O Vou A Tua Casa, em casa das pessoas, será sobre o achatamento das mesmas numa folha fina de sentido. Pessoas "importantes" comprimidas em folhas finas de papel. Pessoas "importantes" tão bidimensionais quanto as personagens dos ballets do Luís XIV, para que se vejam bem ao longe, e ao perto como se fossem microorganismos vistos através de uma lupa. Realidades míopes. Pessoas "importantes" que se transformam em personagens porque eu lhes colo um papel na testa com a palavra "importante" escrita em cima. Míopes.

III.
A Claudine, a mais desconcertante "não-actriz" que conheço, mostra-me que o Vou A Tua Casa, em casa das pessoas, será, indubitavelmente, um "espectáculo" de "teatro".

IV.
Quando lhe explico o que quero fazer, ela diz que o mais importante serão os cheiros das casas. Tem tanta certeza do que está a dizer, que passo automaticamente a acreditar que o resto que anotei não interessa (não vai interessar) para nada. E colo um papel na minha própria testa com a palavra "cão" escrita em cima. Agora só terei que escolher se quero ser o Tigre, o Leão ou o Mike.

V.
[Sim, a Claudine apodera-se das coisas que lhe dão como se fossem suas desde sempre, e devolve-as depois com uma marca inextinguível. Esta é a última casa que visito. Aqui se revelam (não se criam) toda a panóplia de cheiros que esta peça vai ter. O Vou A Tua Casa não é sobre "fazer amigos". O Vou A Tua Casa é sobre "ter amigos".]

VI.
Espectáculo de teatro um: a Claudine conta-me a história de uma pequena tragédia doméstica, real, mas com espectadores. Serve. Espectáculo de teatro dois: a Claudine indica-me num pequeno mapa o local exacto onde dá explicações de Francês, e serve-se dessa pequena geografia atrofiada para me dizer que gostava de ver ampliado o mapa, em papel e em ideia. Serve. Espectáculo de teatro três: a Claudine mostra-me o quarto dela, como se eu nunca lá tivesse estado: um quarto que conheço desde que a conheço, quando juntos começámos a aprender a ler: um quarto que está igual ao que era em 1995; a Claudine relembra-me o significado de cada poster, de cada elemento da sua colecção de latas, de cada frasco de perfume, de cada brinquedo antigo; eu já sabia; ela fez de conta que não, rematando: "Não gosto de mudanças”. Serve. O Vou A Tua Casa não é sobre fazer diferente; o Vou A Tua Casa é sobre ser igual. E se ele é "subversivo", é por isso.

VII.
A Claudine é a mais desconcertante "não-actriz" que eu conheço. Bis.

VIII.
A Claudine termina o seu espectáculo de teatro dedicando-me uma música que põe a correr no seu leitor de 1995: You're so pretty, the way you are... Ouvimo-la até ao fim. E no fim, oferece-me uma amêndoa. Doce. Da Páscoa. Regresso a casa com a certeza que tinha acabado de ter o meu primeiro (e único) ensaio possível para um possível espectáculo chamado Vou A Tua Casa. Um espectáculo feito por ela, para os dois. Ou um espectáculo feito pelos dois, para ela. O Vou A Tua Casa é/foi isto. Serve. Serviu.


quinta-feira, maio 08, 2008

lado a.

11 DE MAIO DE 2003
The name of my best friend is Clara

[sétima casa]



[do Lat. "brilhante, luzente, ilustre", Clara revela uma pessoa com forte sentido crítico e muita racionalidade. Nem sempre os outros entendem o seu auto-controle e perfeccionismo, mas é essa a sua forma de lutar pelo sucesso. Geralmente, progride muito na vida.]


I.
Cinco anos depois, traslado palavras grosseiramente do bloco de notas para aqui. Mudo algumas (poucas) coisas: pontuo, virgulo, arranjo. Ponho tudo em minúsculas, um dos meus fetiches cosméticos mais antigos. Digo, porém, que continuo a usar maiúsculas nos nomes das pessoas. Só. Os nomes das pessoas levam sempre letra grande: Clara, por exemplo: e Rogério, por exemplo. Ela tem 24 anos, faz 25 daqui a dois meses. Eu tenho 24 anos. Faço 25 daqui a um mês. Somos de Amares. É lá que estamos agora. Eu estou em casa. Está sol. Combinei lanche em casa dela; com ela e com os pais dela. Os pais chamam-se Manuela e Augusto. Vou a casa da Clara de bicicleta. É a melhor maneira de saber (sentindo na pele e no estômago) que estou na terra onde nasci; o vento é sempre gelado, os pedais levam-me sempre aos sítios mais rápido que o próprio curso dos rios (que amainam quando se encontram, por fim), e há sempre insectos que se homicidam na minha cara. Chego a casa da Clara (diz-se "a casa da Clara" ou "à casa da Clara"?) e o pai Augusto conduz-me ao lago, onde vivem uns peixes gordíssimos chamados "pimpões". Nunca tinha reparado no lago. Não conhecia os peixes da Clara, mas que são do senhor Augusto, mas que é a senhora Manuela que os alimenta. Parece que comem os ovos que as peixas põem, mas não são canibais, não se comem uns aos outros, como no sermão do padre António Vieira. Paro. Ando depois pelo jardim, vou até ao penedo, sento-me à mesa de pedra, olho as laranjeiras da casa ao lado e relembro uma chuva de estrelas falhada, anos antes, com óculos especiais e vento quente na cara. Há qualquer coisa aqui que pertence indubitavelmente ao ritual da celebração; ir a casa ("à casa"?) da Clara não é uma banalidade, é uma ritualidade: a mãe Manuela recebe-me com um lanche que ocupa o espaço quase total de uma mesa, e um sorriso com a mesma luz que se avista do cimo do penedo, e um chá revigorante que trouxe dos Açores ("porque a Clara me disse que gostavas muito de beber chá!"). E a performance começa: primeira nota no caderno das notas — estou dentro de um Vou A Tua Casa tal e qual como os sonhos que tenho o imaginam, e só agora me apercebo. Paro. Sorrio. Continuo.

II.
Temas de/da conversa: parapente no Gerês & outros desportos radicais, cidades visitadas, viagens de avião, as vistas quando vistas de cima, a ria de Aveiro e as nuvens, os Açores, o estreito de Gibraltar, Paris, Casablanca, Rabat, Londres, taras e manias associadas aos artistas num grosso modo genericamente grosseiro (por exemplo: todos os artistas vestem roupas excêntricas), a antropologia (ou será semiótica?) do vestuário — ou sobre "os que vestem o hábito para se fazerem passar por monge...”, diz a mãe Manuela —, ou os porquês da "bengala do maestro Vitorino d’Almeida não servir rigorosamente para nada a não ser para dar o ar..." (diz a Clara). Anoto: este Vou A Tua Casa é, indubitavelmente, um "espectáculo" de "teatro". Tema final: no nosso tempo é que era (Manuela vs. Augusto). Anoto: trasladar estas notas para o folder Saudades Do Tempo Em Que Se Dizia Texto [para Novembro do mesmo ano]. Continuo.

III.
A mãe da Clara sonha muitas vezes que a encarregam de dar de comer aos animais (os pimpões?), mas ela desmazela-se e acaba por deixá-los morrer à fome. Acorda sempre muito aflita. Anoto: "sonhos" [na altura queria dizer qualquer coisa como "realidades demasiado reais", "canções de embalar", "poemas visuais", "segredos", "fairy tales"]. Sei hoje que o Vou A Tua Casa é/foi tudo isso e o contrário de tudo isso também, mas ao mesmo tempo... Sim. E depois todos tentam interpretar o sonho da mãe Manuela à luz daquele outro que toda a gente tem, que é sair à rua nu e ficar cheio de vergonha. Mas o sonho da mãe Manuela é diferente, parece-me. O sonho da mãe Manuela é sobre pessoas e é sobre matar pessoas. Não é desmazelo, é purificação. Não é eliminar todas as pessoas que saem à rua despidas, ou despenteadas, ou sem sapatos; é o contrário. Recordo, conto e anoto: o meu sonho planado, em viagem, serpenteando por ruas e ruas de casas esventradas, casas de pessoas desconhecidas. pessoas despidas. E isto não são os peixes que se comem uns aos outros do padre António Vieira; isto não é intimidade, isto é exposição; isto não é criação, isto é revelação. E é a Clara que agora faz de Freud: Vou A Tua Casa é sobre despir pessoas. Tal como aquele prédio sem fachada que um dia vi, quando descia a rua do alecrim: os vestígios gráficos do que outrora foi a divisão arquitectónica dos andares e das divisões, e o trabalho do Carlos Bunga, que é isto tudo, mas em "fairy tale": e isto não é/foi inspiração, isto é/foi intuição.

IV.
Ideias: correspondência entre artistas, cartas, recortes de jornal, listas de compras, listas de coisas a fazer, outras listas de outras coisas [estamos em 2003, OK?], frases bombásticas, textos ditos como se estivessem a ser escritos (no momento em que se escrevem). Vou A Tua Casa é, indubitavelmente, uma vontade de voltar atrás.

V.
Beijos. Despedidas. Promessas de regresso. Daqui a dois meses, a Clara faz 30 anos. Daqui a um mês, eu também.


quarta-feira, janeiro 09, 2008

objectos.

VIAGEM INAUGURAL
(ao contrário)

2006



Assim o Lado C. O táxi levou-me da Rua do Passadiço à Estação de Santa Apolónia. O Alfa levou-me de Lisboa a Braga. O autocarro da Empresa Hoteleira do Gerês levou-me de Braga a Amares. O meu pai chama-se António e apanhou-me no caminho para casa. A minha cadela chama-se Francisca, reconheceu-me. A minha mãe também, chama-se Custódia. As pernas levaram-me da porta de casa ao quarto arrumado. Foi em abril de 2006.

terça-feira, setembro 20, 2005

2003/2005.

LISTA DE CASAS
Por ordem alfabética:

Alameda das Linhas de Torres, 109, Lisboa
Avenida João XXI, 27, Lisboa
Barbican, Ben Johnson House, London
Blurton Road, 100, London
Corbyn Street, 109, London
Parfitt Street, Elastic Residence, London
Praça 25 de Abril, 17, Torres Vedras
Praça Conde S. Joaquim, 40, Braga
Queens Bridge Road, Middletown Court, London
Quinta dos Barros, 3, Lisboa
Ribbon Dance Mews, Camberwell Grove, London
Rua Actor João Rosa, 3, Lisboa
Rua Almirante Barroso, 14, Lisboa
Rua Amadeo de Souza Cardoso, 24, Lisboa
Rua Artilharia 1, 104, Lisboa
Rua Artur Lamas, 19, Lisboa
Rua Cavaleiros, 8, Amares
Rua Cavaleiros da Espora Dourada, 18, Torres Vedras
Rua Conde de Ficalho, 6, Lisboa
Rua da Alegria, 58, Lisboa
Rua da Rosa, 152, Lisboa
Rua da Trindade, 5, Lisboa
Rua das Gaivotas, 18, Lisboa
Rua de Santo António à Estrela, 5, Lisboa
Rua do Almada, 19, Lisboa
Rua do Olival, 166, Lisboa
Rua do Tejo, 56, Lisboa
Rua Dr. Adolfo Vilela, 42, Amares
Rua dos Sapateiros, 91, Lisboa
Rua Garcia de Orta, 17, Lisboa
Rua General Garcia Rosado, 14, Lisboa
Rua João de Barros, 2, Lisboa
Rua Natália Correia, 10, Lisboa
Rua Nossa Senhora da Paz, 10, Amares
Rua Oliveira do Carmo, 22, Lisboa
Rua Oliveira do Carmo, 29, Lisboa
Rua Quirino da Fonseca, 25, Lisboa
Stepney Green, 7, London
Swedenborg Gardens, Stockholm House, London
Travessa do Giestal, 24, Lisboa
Travessa do Norte, Bloco 3, Alvide
Travessa do Pasteleiro, 28, Lisboa


[...]