Três homens pequenos de meia-idade estavam dicutindo sobre a altura de uma jovem paixão que saltitava, viçosa, ali numa avenida com nome de mulher grandiosa - como devem ser as santas. O discurso alimentava uma inveja não-declarada até o ponto em que o garçom do pequeno boteco onde eles se desencontravam anunciou que a bebida amarela de rótulo azul acabara. Ao pequeno estabelecimento e aos três últimos clientes daquela noite sem escrúpulos, restava a última garrafa daquela bebida branca do rótulo vermelho. A transparência do líquido, a aspereza sincera na garganta e o vermelho afetivo do rótulo trouxeram a conversa para o seu devido lugar. Ali, transtornados, compartilharam enfim seu fracasso. Reconhecer o fracasso era inviabilizar qualquer argumento crítico em relação a altura daquela paixão. Da metade da garrafa em diante, já era possível sentir quase um cheiro de admiração. Ou nostalgia travestida. Era uma rua com nome de santa, mas historicamente permissiva com todas as vestimentas do desejo humano. Aqueles três homens pequenos já foram imensos. O menor de todos, finalizou a conversa tocando exatamente nesse ponto. "O que me conforta sobre esse meu tamanho diminuto é que todo homem, por menor que seja, tem a capacidade de ter a altura de um gigante, quando faz possível uma paixão" - disse ele sem nenhuma soberba na voz simples.
"A elasticidade de um homem pequeno, cada vez mais rara, ainda me encanta". Foi o que me contou a dona do boteco, quando terminava de me contar essa pequena historieta.
"A elasticidade de um homem pequeno, cada vez mais rara, ainda me encanta". Foi o que me contou a dona do boteco, quando terminava de me contar essa pequena historieta.