19 de dez. de 2005

sonho. lúcido. catarse. couto.

"O mundo já não era um lugar de viver. Agora, já nem de morrer é."
Avô Mariano


- É preciso luz para se distinguir as cores, menino.
- Mas no escuro, quando durmo, eu sonho colorido.
- É que aí, acende-se uma luz por dentro.
(...)
- Amanhã estou cansado, posso faltar o dia?
- Pode. Sempre pode. Mas depois não reclame quando o dia lhe faltar.
- Sinto que essa voz não é minha. Entende? Escolho as palavras, mas a voz que as diz não é minha.
- Gosto quando você canta a música do peixe.
- Sinto falta de uma voz própria. Entende?
- Minha voz própria é o silêncio.
- Talvez amanhã eu esqueça de dizer que te amo.
- Não faz mal.
- Eu vou sentir falta. Eu já estou sentindo falta.
- Você tem um pensamento longo. Mas suas palavs são curtas.
- É que sinto muita falta das coisas que vou esquecer.

10 de dez. de 2005

Interlocutores

Pequeno roteiro das sensações dos meus últimos dias, segundo alguns dos meus queridos interlocutores.

"Como conhecer as coisas senão sendo-as?"
Jorge de Lima

"Os sentimentos é que devem conduzir os acontecimentos. Não o contrário."
Bresson

"O amor é velho, velho, velho e... menina"
Tom Zé

"Se expressar é uma questão de vida ou morte"
Ferreira Gullar

"Porque a pior censura é a econômica, não a política."
Glauber Rocha

"Sabiá, vem me dizer, por favor, o quanto que eu devo amar, pra nunca morrer de amor."
Torquato Neto (Música Zabelê, de Gil)

8 de dez. de 2005

Onde nunca toquei

A palavra não é alternativa para nada. Trocar um gesto por uma palavra é irrecuperável. Não se deve procurar espaços para encaixar ou caber uma palavra. A palavra inventa sua própria moradia.