Minha relação com aviões sempre foi confusa: amo viajar mas desde pequena não gosto de voar. Muitas vezes fico nervosa, suo frio e tenho pânico de turbulência. Tudo isso associado a uma hipersensibilidade no labirinto já me fizeram passar mal em muitos vôos. Mas sempre fui levando.
Quando recebi a proposta de trabalhar na função que trabalho, há uns 4 anos, fiquei felicíssima: um trabalho legal cheio de viagens para lugares diferentes. Ia lidando com o medo do jeito que conseguia: um fiasquinho aqui, um suador ali, mas nada demais. Até que houve o acidente com o avião da TAM em Congonhas, e eu precisei voar dois dias depois. Pensei mil vezes em casa se iria ou não e resolvi, pelo menos, ir até o aeroporto. Fiz check-in, e na sala de embarque experimentei um pavor que nunca tinha sentido. Caminhei até o portão de saída pelos menos umas duas vezes, ia desistir. Mas felizmente tive um momento epifânico e me dei conta que seria mais infeliz se abandonasse o emprego certo por um medo de um acidente incerto e fiz um combinado comigo mesma: se estiver trabalhando naquilo que me faz feliz, tudo bem se morrer, vou morrer feliz e realizada. E acredite ou não, depois que pensei isso, nunca mais fiquei em pânico ou passei mal em avião.
Lição número 1: melhor viver feliz assumindo um risco do que morta de medo trancada dentro de casa curtindo uma pseudo-segurança.
Há algumas semanas estava voltando para casa e o avião em que estava começou a espera em Santos. O aeroporto de Congonhas é lotado, e muitas vezes os aviões ficam voando em círculos no litoral esperando sua vez de pousar. Nessa situação é comum ver outros aviões também em espera, todos em círculo. Só que, sei lá porque, um dos aviões parecia desalinhado com os demais e vindo na nossa direção. Por muito pouco não chamei a aeromoça para avisar. Felizmente foi só impressão, pousamos em segurança e eu estou aqui escrevendo esse texto. Mas a sensação que eu tive foi diferente de tudo o que havia sentido: lembrei na hora do combinado que fiz comigo mesma antes de ter filhos, sobre morrer feliz, e vi como isso não vale mais. Definitivamente não tenho medo de morrer, mas simplesmente não posso agora: quem iria cuidar dos meus filhos?
Lição número 2: mais importante do que estar viva, é estar inteira para cuidar dos filhos.
Quando fomos para Porto Alegre no último feriado pegamos uma turbulência terrível. Se estivesse sozinha ou com o Rodrigo apenas, aplicaria minha técnica montanha-russa para turbulências: feche os olhos e imagine que você está na Disney. Juro que dá certo e que você até se diverte. Mas impossível fazer isso com duas crianças, ainda mais acordadas. E o que eu fiz? Nada além de pensar na minha impotência como mãe. Como até podemos organizar e direcionar as coisas, mas não estamos no controle de nada. Não está nas nossas mãos o que vem pela frente, incluindo ai a estabilidade dos vôos que eles farão, com ou sem a gente. Não está nas nossas mãos o futuro que eles terão e como será a vida deles. Fazemos o nosso melhor, mas e não temos garantias de nada.
Lição número 3: o importante é o hoje, porque o amanhã a Deus pertence.
E já viram como eles estão lindos?
Aqui.