15 de mar. de 2012

Visita na maternidade - uma reflexão

Pelo o que entendi, o esquema é mais ou menos assim: A futura mamãe passa meses pesquisando as melhores opções de lembrancinhas para distribuir às visitas, algumas até decoram a ante sala da maternidade para receber os “convidados” em grande estilo. Devido aos agendamentos de cesária, é possível encomendar lembrancinhas comestíveis, que são entregues fresquinhas às visitas. Então o bebê nasce, alguém fica encarregado de espalhar a notícia e os destinatários da boa nova começam a dizer: “Preciso visitar o filho da fulana que nasceu”. "Preciso comprar um presentinho”. “Preciso arrumar um tempinho para passar na maternidade”.

Tenho a impressão de ouvir mais a palavra preciso, do que um quero muito. Aliás, quantas pessoas, senão os avós, tios e amigos muito próximo querem realmente ir até a maternidade, pagar uma fortuna de estacionamento, os olhos da cara pelo presentinho comprado às pressas e depois passar pela saia justa de chegar bem na hora da mamada, ou do berreiro daquele serzinho amassado de pele vermelhinha e enrrugada?

Na minha primeira gravidez não tive esta experiência de preparar lembrancinhas, tampouco recebi visitas na maternidade, Pedro nasceu às 4:18 e às 12:00 já estávamos em casa. O costume na Holanda é bem diferente – quando a mamãe vai para a maternidade, ou logo após “parir em domicílio”, as amigas da nova mamãe arrumam e decoram a casa com cegonhas e outras fofuras para acolher mamãe e bebê e ainda anunciar a vizinhaça da chegada do novo morador. Os amigos e vizinhos enviam, pelo correio, cartões celebrando o nascimento. Algumas semanas após o nascimento, os pais mandam cartões para os amigos mais próximos, comunicando os dados do nascimento (dia, hora, peso) e os convidam para uma breve visita, em dias e horários pré-agendados. O convite para a visita costuma ter horário de começo e fim, tipo das 15:00 às 16:00!

O Felipe vai nascer no Brasil, mas faltam 4 meses, por isto ainda não sei dizer se acho mais legal o estilo holandês ou o brasileiro. O que posso é afirmar que o modelo holandês foi muito saudável do ponto de vista físico e emocional para o Pedro e para mim. Eu não precisei fazer sala para ninguém. O Pedro não passou de colo em colo, tampouco teve que conviver com tumulto e falatório. Seus primeiros dias de vida foram tão ou mais silenciosos do que seus últimos dias intra uterinos. Eu tive total liberdade de ficar com os peitos de fora, colocar roupa feia e confortável e não sofri nenhum tipo de interrupção nas cruciais primeiras mamadas.

É verdade, eu não tenho nenhuma foto do Pedro todo lindo vestido naqueles conjuntinhos ultra mega fofos de golinha e botões nas costas que só as enfermeiras PhD sabem colocar. Também não lembro dele estar muito cheiroso nestes primeiros dias, já que eu penei uns bons dois dias para conseguir tirar todo o sanguezinho que grudou no cabelo dele durante o parto. E doeu muito não receber o abraço dos meus irmãos e amigas e de não sentir a emoção de vê-los segurando o Pedro tão pequenininho em seus braços amorosos.

Vivi intensamente e sem nenhum romantismo estes primeiros dias da minha maternidade. Não precisei fingir estar feliz, realizada, disposta e chique para ninguém. Fiquei exausta já nas primeiras horas de vida do Pedro e chorei muito de cansaço, desespero e frustração já na primeira noite. Porém, não tive o choque de chegar em casa depois de 3 dias de mimos, visitas, presentinhos e bebê cheiroso e me deparar com a minha cara pálida, 9 trocas de cocô e a solidão.

É fato, a tradição holandesa não tem um décimo do glamour brasileiro, mas só eu sei a emoção que sentia ao ler cada cartão, enquanto amamentava o Pedro no silêncio da minha casa. Os votos de felicidade e saúde que recebi via correio e e-mail tiveram o poder de um abraço bem apertado e encheram nossa casa de carinho, amor e respeito à este momento tão especial e nada social que foi o nascimento do Pedro.

Poderíamos então concluir que os holandeses se preocupam mais em acolher mamãe e bebê e os brasileiros se perderem um pouco com a conotação conturbada de evento social que demos ao nascimento de um bebê?

Talvez, mas aqui arrisco apenas um palpite: se você achar que precisa visitar um recém nascido, não vá! Mande um cartão bem carinhoso - vai te custar muito menos do que o estacionamento da maternidade e emocionará mamãe e bebê muito mais do que um fofo macacão de botão nas costas!

29 de fev. de 2012

Porque havia parado de blogar.

Minha vontade de escrever não cessou. Segui tomando nota de tudo, mas o compartilhar ficou difícil.

No Velho Mundo experimentei uma vida mais reservada; os europeus são discretos, há pouca curiosidade e quase nenhuma intromissão no comportamento do outro; o respeito à individualidade chega a parecer descaso. 

Então, naquele período, só compartilhei de minha vida aquilo que desejei. Via blog contei fatos e pensamentos sobre os quais eu queria que as pessoas comentassem, debatessem e discordassem.

Agora, já há um ano de volta à minha terra, penso que o não blogar foi uma forma de preservar um pouco minha intimidade. Diferente do europeu, que por conta do rígido, escuro e longo inverno está acostumado à reclusão, agasalhamento e introspecção, o brasileiro expõe sua pele, não precisa se agasalhar, nossos dias são longamente claros e quentes e a reclusão é quase um pecado. Talvez estes fatores nos convidem mesmo a abrir a porta de nossas casas, nos deixando também à vontade para entrar, comentar, opinar e até solucionar os problemas das casas dos outros. Penso serem estes fatores igualmente responsáveis pela dificuldade que temos de praticar a introspecção e reflexão sobre nossos próprios desejos e comportamentos.

Mas o fato é que demorei para me acostumar novamente ao hábito de expor mais minha vida e receber comentários sobre como deveria agir. Não posso negar que valiosos palpites me ajudaram a tomar muitas decisões importantes no ano passado, mas havia uma sensação de perda de privacidade que me incomodava. Precisei de tempo e não blogar foi uma forma estranha de me esconder. 

Quando já tinha organizado minhas idéias e estava pronta para voltar a escrever, com direito a esta ilustração linda da Lu, me descobri GRÁVIDA!

Meu Deus! Depois de viver a gestação e maternidade do Pedro de uma forma quase solitária, fazendo somente o que mandava o meu coração e do meu marido, comecei a experimentar a gestação quase reality show! Palpites, opiniões e desejos alheios invadiram minha gravidez e me perdi.

Comecei a imaginar que não seria capaz de ter a liberdade e paz que tive na maternidade européia, e que meu instinto materno já não seria mais tão puro. Precisei de tempo, terapia, homeopatia e reclusão para me blindar e aprender a viver e amar esta nova maternidade. Até mesmo os suspiros do "ai que legal ser for uma menina" me fizeram acreditar por alguns minutos que só é feliz a família margarina com papai, mamãe, filho, filha, cachorro, gato e piscina.

Mas hoje volto a blogar, cansando a beleza de vocês com um texto tão longo, para dizer que estou com o FELIPE na minha barriga, vivendo a alegria da gestar em dias longamente claros e quentes, ao lado da família, amigos e blogueiras, e com a porta da minha casa bem aberta, mas com protetor de tela para não entrar mosquito.
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