Pelo o que entendi, o esquema é mais ou menos assim: A futura mamãe passa meses pesquisando as melhores opções de lembrancinhas para distribuir às visitas, algumas até decoram a ante sala da maternidade para receber os “convidados” em grande estilo. Devido aos agendamentos de cesária, é possível encomendar lembrancinhas comestíveis, que são entregues fresquinhas às visitas. Então o bebê nasce, alguém fica encarregado de espalhar a notícia e os destinatários da boa nova começam a dizer: “Preciso visitar o filho da fulana que nasceu”. "Preciso comprar um presentinho”. “Preciso arrumar um tempinho para passar na maternidade”.
Tenho a impressão de ouvir mais a palavra preciso, do que um quero muito. Aliás, quantas pessoas, senão os avós, tios e amigos muito próximo querem realmente ir até a maternidade, pagar uma fortuna de estacionamento, os olhos da cara pelo presentinho comprado às pressas e depois passar pela saia justa de chegar bem na hora da mamada, ou do berreiro daquele serzinho amassado de pele vermelhinha e enrrugada?
Na minha primeira gravidez não tive esta experiência de preparar lembrancinhas, tampouco recebi visitas na maternidade, Pedro nasceu às 4:18 e às 12:00 já estávamos em casa. O costume na Holanda é bem diferente – quando a mamãe vai para a maternidade, ou logo após “parir em domicílio”, as amigas da nova mamãe arrumam e decoram a casa com cegonhas e outras fofuras para acolher mamãe e bebê e ainda anunciar a vizinhaça da chegada do novo morador. Os amigos e vizinhos enviam, pelo correio, cartões celebrando o nascimento. Algumas semanas após o nascimento, os pais mandam cartões para os amigos mais próximos, comunicando os dados do nascimento (dia, hora, peso) e os convidam para uma breve visita, em dias e horários pré-agendados. O convite para a visita costuma ter horário de começo e fim, tipo das 15:00 às 16:00!
O Felipe vai nascer no Brasil, mas faltam 4 meses, por isto ainda não sei dizer se acho mais legal o estilo holandês ou o brasileiro. O que posso é afirmar que o modelo holandês foi muito saudável do ponto de vista físico e emocional para o Pedro e para mim. Eu não precisei fazer sala para ninguém. O Pedro não passou de colo em colo, tampouco teve que conviver com tumulto e falatório. Seus primeiros dias de vida foram tão ou mais silenciosos do que seus últimos dias intra uterinos. Eu tive total liberdade de ficar com os peitos de fora, colocar roupa feia e confortável e não sofri nenhum tipo de interrupção nas cruciais primeiras mamadas.
É verdade, eu não tenho nenhuma foto do Pedro todo lindo vestido naqueles conjuntinhos ultra mega fofos de golinha e botões nas costas que só as enfermeiras PhD sabem colocar. Também não lembro dele estar muito cheiroso nestes primeiros dias, já que eu penei uns bons dois dias para conseguir tirar todo o sanguezinho que grudou no cabelo dele durante o parto. E doeu muito não receber o abraço dos meus irmãos e amigas e de não sentir a emoção de vê-los segurando o Pedro tão pequenininho em seus braços amorosos.
Vivi intensamente e sem nenhum romantismo estes primeiros dias da minha maternidade. Não precisei fingir estar feliz, realizada, disposta e chique para ninguém. Fiquei exausta já nas primeiras horas de vida do Pedro e chorei muito de cansaço, desespero e frustração já na primeira noite. Porém, não tive o choque de chegar em casa depois de 3 dias de mimos, visitas, presentinhos e bebê cheiroso e me deparar com a minha cara pálida, 9 trocas de cocô e a solidão.
É fato, a tradição holandesa não tem um décimo do glamour brasileiro, mas só eu sei a emoção que sentia ao ler cada cartão, enquanto amamentava o Pedro no silêncio da minha casa. Os votos de felicidade e saúde que recebi via correio e e-mail tiveram o poder de um abraço bem apertado e encheram nossa casa de carinho, amor e respeito à este momento tão especial e nada social que foi o nascimento do Pedro.
Poderíamos então concluir que os holandeses se preocupam mais em acolher mamãe e bebê e os brasileiros se perderem um pouco com a conotação conturbada de evento social que demos ao nascimento de um bebê?
Talvez, mas aqui arrisco apenas um palpite: se você achar que precisa visitar um recém nascido, não vá! Mande um cartão bem carinhoso - vai te custar muito menos do que o estacionamento da maternidade e emocionará mamãe e bebê muito mais do que um fofo macacão de botão nas costas!