30/11/10
Ainda a "Aliança de Esquerda Unida" irlandesa
Um Paulo Moura bolchevique?
A queda em directo e ao vivo
Apesar do tom “telenovelesco” da maior parte dos documentos diplomáticos norte-americanos que têm chegado a público, cedidos pela Wikileaks, um assalto desta dimensão não é para brincadeiras. Anda tudo a assobiar para o lado, com poucas excepções (uma foi Chávez que já veio dizer as coisas do costume), mas que os EUA se expuseram ao ridículo expuseram.
Podem os próprios — e os visados nos telegramas — fazer diplomaticamente de conta que continua tudo bem. No fundo, no fundo, estamos a assistir ao vivo e em directo à queda de um Império. The times they are a-changin. Ou como bem disse o Tom Waits, "estamos no meio de uma revolução [só que desta vez] ninguém sabe de que lado vêm as pedras".
StopBanque: a animada proposta política de Cantona continua ao ataque
Cantona, actualmente com 44 anos, defendeu numa entrevista a um jornal regional francês que são precisas formas de contestação alternativas às greves e às manifestações e que é necessário que se faça "uma verdadeira revolução".
"Não peguemos em armas para matar pessoas e começar uma revolução. Nos dias de hoje, é muito fácil fazer uma revolução. O sistema assenta no poder dos bancos, por isso tem de ser destruído através dos bancos", defendeu o ex-jogador, que, nos últimos anos, tem dividido o seu tempo entre o cinema e as acções de beneficência, através da Fundação Abbé Pierre, que presta apoio a pobres e sem-abrigo.
Na entrevista, dada depois da forte contestação dos franceses ao plano de austeridade, com implicações nos impostos, redução da despesa pública e aumento da idade da reforma, o antigo jogador (…) sustentou que o seu conceito de revolução é simples: "Em vez de irmos para as ruas, conduzir durante quilómetros, basta ir ao banco e levantar o dinheiro. Se houver muita gente a fazer levantamentos, o sistema colapsa. Sem armas, sem sangue."
(…)
Mas a proposta de Cantona teve uma consequência imediata que não pode ser desprezada, já que serviu de mote a um movimento na Internet, o StopBanque, que apela aos cidadãos europeus, e não apenas aos franceses, para que façam levantamento de dinheiro, aos balcões dos bancos, num dia em concreto: 7 de Dezembro.
Já terão sido manifestadas mais de 14 mil intenções de adesão a esta iniciativa, e a mensagem do StopBanque começa a ser replicada noutros países, com destaque para a Inglaterra, e também noutras redes sociais, designadamente no Facebook.
Para saber mais e apoiar a iniciativa, pode clicar em StopBanque.
29/11/10
Viva a vitória militar da narco-resistência brasileira ao governo burguês de Dilma?
O programa da "Aliança de Esquerda Unida" irlandesa
PROGRAMA DA ALIANÇA ESQUERDA UNIDA (IRLANDA): PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ALTERNATIVA POLÍTICA REAL
A crise económica tem-se traduzido num ataque sem precedentes ao nível de vida dos irlandeses, criando uma espiral de desemprego em massa e aumento de pobreza. Entretanto, tira-se milhões a quem trabalha para se dar a banqueiros e especuladores internacionais.
A recém-criada ULA (United Left Alliance) opõe-se à política de bailout e cortes orçamentais, políticas que pioram a crise. Nas eleições legislativas, temos por objectivo fornecer uma alternativa real aos partidos do sistema, bem como o Labour e o Sinn Fein, que também aceitam o capitalismo e se recusam a descartar a hipótese de se coligarem com partidos de direita. Um governo Fine Gael / Labour no poder não seria fundamentalmente diferente deste governo.
28/11/10
A Dupla Vida Portuguesa de Catarina Portas
«Zé Neves e Ricardo Noronha: podem garantir que entre os milhares de manifestantes que desfilaram nesse dia não havia ABSOLUTAMENTE NINGUÉM com intenção ou vontade de provocar a polícia? Podem falar pela cabeça de cada uma das pessoas que lá estava? Se calhar podem, com o mesmo à vontade e ligeireza, tão caracteristicamente portugueses, com que falam, acusam, julgam e condenam a seriedade profissional de alguém na praça pública, sem factos nem provas». Pergunta e responde Catarina Portas, aqui, em defesa de Paulo Moura.
A esta hora, provavelmente, neste debate, eu deveria estar interessado, sobretudo, em sublinhar o modo tortuoso em que incorre a lógica de uma parte do jornalismo e da generalidade da polícia, lógica que se inscreve de modo inocente (vou ser simpático, pronto) nas palavras de Portas. A lógica resume-se a isto: “se não fez, podia ter feito”.
No caso da notícia de Moura, é assim: começou por dizer que anarquistas queriam violência e queriam que a polícia batesse em velhos do PCP. Foi dito aqui que isso era uma aldrabice, entre outras coisas porque o jornalista não invoca fontes algumas para dizer o que diz (é esta "acusação" que Catarina Portas considera ser um julgamento sem provas). Respondeu-me Paulo Moura dizendo que se baseou em fontes anarquistas anónimas (embora não o tenha referido na notícia, ausência que justifica dizendo que tal se subentenderia). E admite ainda o jornalista que terá errado no tom que utilizou aqui e ali, acabando por limitar o que está aqui em causa a uma questão do seu estilo de escrita e do nosso posicionamento político, isentando-se de discutir o problema da verdade. Pelo meio, o jornalista ameçou-me com um processo em tribunal.
Houve um tempo em que muitos jornalistas se legitimavam dizendo que era de factos que tratavam. Era o tempo de uma concepção simplista do seu trabalho e da ideia de facto. Agora, existem também jornalistas que se legitimam dizendo que é de intenções de que se trata nas suas peças. Algo que, de facto, torna bastante mais difícil refutar o que quer que seja que esses jornalistas afirmem. Passámos de uma ideia ingénua de verdadeira realidade para uma jornalismo que apresenta os seus sonhos selvagens como se fossem a mais límpida verdade. Mas vou deixar o Paulo Moura em paz porque o único advogado que tenho na família está reformado e porque tanto o Ricardo Noronha (neste post) como a São José Almeida (no Público de ontem) já disseram várias coisas com as quais concordo acerca do caso particular (no caso do post do Ricardo) e acerca da cobertura jornalística da cimeira da NATO (no caso do texto da São José Almeida). Concentremo-nos no comentário de Catarina Portas que comecei por citar. O que aí mais me chateia mesmo é aquele «tão caracteristicamente portugueses» a que recorre para responder a mim e ao Ricardo. E chateia porque o mínimo que se espera de quem faz riqueza à boleia da “Vida Portuguesa” (orgulhando-se de vender bebidas que julga tipicamente portuguesas e de não vender bebidas tipicamente estrangeiras como uma bela imperial sagres) é que vá beber ideias a outra fonte que não a das mais deprimidas psicologias étnicas que por aí circulam. Que isto não constitua um problema para a própria empresária-cidadã-ex-jornalista, mostra apenas como é possível encontrarmos as alianças mais astuciosas entre o mundo das ideias e o mundo das coisas. Por outro lado, e agora recorrendo a um modo mais, digamos, reconfortante de encontrarmos um final feliz para tudo isto, deixo a pergunta: será que, sendo eu e o Ricardo «tão caracteristicamente portugueses", não deveríamos pedir ao Paulo Moura que nos emprestasse o seu advogado para processarmos Catarina Portas? Pois se somos "tão caracteristicamente portugueses" e se Portas vende produtos «tão caracteristicamente portugueses", não será de concluir que esses produtos são a expressão acabada do nosso modo de vida e não será, então, este modo de vida que também dará de lucrar à nossa empresária da "Vida Portuguesa"? Fontes anónimas dizem-me que isto tudo ainda vai correr bem para a causa da emancipação do proletariado e que chegará o dia em que será possível todos bebermos uma maravilhosa coca-cola num quiosque cor-de-rosa perto de nós.
Apesar do Teixeira ter garantido que o mundo tinha os olhos postos em nós ainda não vi nenhuma referência a Portugal na Wikileaks [siga os links]
Os links não confirmam a megalomania do Teixeira.
27/11/10
Protestos em Dublin
The Irish Times - Approximately 50,000 people marched in Dublin this afternoon in a protest organised by the Irish Congress of Trade Unions (Ictu) against the Government’s austerity plan.
The protest started on Wood Quay at noon, before crossing over to the north quays to Ormond Quay, continuing on to Bachelors Walk and then onto O’Connell Street, arriving at the GPO at 1pm.
Addressing the crowd on a podium at the GPO, Irish Times columnist Fintan O’Toole said the Government was doing a deal with people who had not been elected.
He said the country was paying billions to bail out the banks and the Government had declared war on the poor. He said Irish people were not subjects, but citizens, and wanted their republic back.
Zapatero presta vassalagem ao governo financeiro global e à oligarquia-capitalista-mor do reino
El presidente del Gobierno se ha comprometido con los 37 empresarios españoles que han acudido a la reunión en La Moncloa a acelerar las reformas estructurales para evitar más ataques de los mercados hacia España, según ha anunciado Zapatero en rueda de prensa posterior a la reunión.
(…)
Entre los compromisos concretos avanzó la creación de una Comisión Nacional de la Competitividad, independiente e integrada por "personalidades de relieve". Zapatero explicó que "llevará a la práctica con la mayor celeridad posible" el desarrollo de la reforma laboral, la modificación del sistema de pensiones, la finalización de la reestructuración del sistema financiero y otras medidas para ganar competitividad y fomentar la inversión y las exportaciones.
Quando a verdade perturba uma boa história
Ainda na frente irlandesa
Face às eleições gerais de 2007, o candidato do SF passou de 21 para 40% da votação.
26/11/10
Viva a Liberdade de Informação e de Expressão! Abaixo a Segurança Nacional!
Convém ter em conta as diferenças
Em termos de orçamento 2011, as responsabilidades pelo saque não serão iguais quanto ao PS e ao PSD. Um vai atacar-nos o bolso esquerdo, outro trata-nos do bolso direito.
(publicado também aqui)
Se pensar pode não resolver, sempre dá uma ajuda
As esquerdas parecem epicamente condenadas a degladiarem-se entre si. As direitas navegam em águas aparentemente mais tranquilas. Abaixam-se para ver se a tempestade lhes passa por cima e se no fim ficam mais fortes e as esquerdas mais fracas.
O sector dominante da esquerda institucional resmunga oficiosamente uma imagem de fracasso da greve que a realidade teimosamente desmente. Os sectores dominantes das esquerdas sociais desenham um cenário demolidor que, se tivesse a dimensão afixada, já teria varrido qualquer governo. Esgrimem entre si números como se o peso da greve não fosse o resultado de um balanço sócio-politico, mas um hipotético apuramento impessoal de uma luta entre números.
O primeiro parece acreditar que, se fizer os sindicatos morder o pó, poderá navegar tranquilamente numa imaginária harmonia, gerida pelos generosos e altruístas senhores do dinheiro, que lhes continuarão a deixar movimentar as alavancas do poder. Os segundos parecem acreditar que se destroçarem o sector dominante da esquerda institucional verão abrir-se as portas de um outro poder político, onde os interesses que defendem tenham verdadeiro eco.
Mas se os trabalhadores forem vencidos e os sindicatos aniquilados, na constância do capitalismo, nenhum governo de esquerda respirará sequer cinco minutos de poder institucional. E se a esquerda institucional dominante for desmoronada, seguir-se-ão governos de direita, cuja novidade será o agravamento brutal de tudo aquilo que fez com que os sectores dominantes das esquerdas sociais combatessem o sector dominante da esquerda institucional.
Por isso, esta greve teve também uma dimensão trágica. Ela fez-me recordar aquela história do sapo que para ajudar um escorpião a atravessar um ribeiro o transportou no seu dorso. Contudo, a meio da travessia o escorpião espetou o seu ferrão venenoso no sapo. E ferido mortalmente o sapo perguntou. "Porque me matas, sabendo que se eu morrer também tu morres". E o escorpião respondeu: "É da minha própria natureza". E morreram os dois.
Mas neste caso, é como se a história envolvesse dois pares de sapos e de escorpiões. Num deles é a esquerda institucional que faz de sapo; no outro, são as esquerdas sociais. O desenlace é o desaparecimento de todos, seja qual for o papel que desempenharam.
Há uma subtil ironia, impregnando tudo isto. Embora pareçam desconhecê-lo, para cada uma das partes, os problemas da outra são afinal também seus. E cada uma delas precisa da força da outra para que, a prazo, não fique irremediavelmente enfraquecida.
Reconheço que a probabilidade de isto ser entendido por qualquer das partes, é escassa. Possivelmente, cada um dos lados continuará a incensar a sua própria santidade e a construir infernos onde gostaria de ver o outro; a construir minuciosamente a culpa do outro e a inocência própria.
Mas quem conseguir despir o seu olhar, por um momento, da neblina das aparências mais prementes, facilmente verá que, se ambos os lados continuarem a intercambiar sucessivamente entre si os papéis de sapo e de escorpião, acabarão por se afundar.
(publicado também aqui)
Matar o mensageiro
A resposta foi literalmente delirante: «These revelations... are going to create tensions in relationships between our diplomats and our friends around the world» disse o porta-voz do Departamento de Estado Philip Crowley.
Que cada amigo ajude o terrorista do outro é uma minudência – a maldade que vem criar tensões é sim a divulgação do arranjinho. O Assange que se ponha a pau; está visto que neste caso o culpado é mesmo o mensageiro.
A quadradura do círculo ou há tipos que mesmo órfãos tentariam vender a mãe
Alguém o quer propor para Nobel da Economia?
Assim, até um matraquilho geria bem a EDP
A EDP, por ter a sua clientela amarrada de pés e mãos a um monopólio, pode fazer as coisas de outra maneira. Experimenta novas tecnologias, como a do projecto-piloto Inovcity, e trata logo de passar o custo para os consumidores, com o argumento, acolhido pela ERSE, de que se trata de coisa eventualmente benéfica para o consumidor. Assim, este projecto, entre outros, «foi já financiado pelas tarifas eléctricas» como admitiu sem rebuços o administrador da EDP Martins da Costa.
Começo a entender como é que o Mexia merece um ordenado maior do que o do Horta Osório, há pouco contratado para chefiar um dos maiores bancos do Reino Unido: investimentos sem qualquer risco, a pagar por clientes reféns, são mesmo uma grande ideia.
Não pára aqui
A despedida envenenada do deputado Candal
(publicado também aqui)
9 anos e 50 dias
7 de Outubro de 2001 - .... - intervenção da NATO no Afeganistão
União Europeia: Federalismo e Democracia ou Soberania Nacional e Certidão de Óbito?
a) por um lado, uma via de reforço do federalismo e da democratização através da confluência e coordenação acções políticas dos trabalhadores e conjunto dos cidadãos europeus e, por outro lado,
b) o reforço provisório e superficial do soberanismo e da subordinação hierárquica das regiões mais fracas aos centros oligárquicos mais poderosos, enquanto canais de uma globalização não menos devastadora das "independências nacionais", mas antidemocrática no quadro da normalização da precariedade dos governados e da legitimação através das razões da economia política dominante do exercício de um poder político cada vez menos limitado pelos seus responsáveis e aparelhos de direcção.
La doble crisis financiera y económica está imprimiendo un fuerte cambio en el desarrollo político de la Unión Europea. A pesar de las buenas intenciones del Tratado de Lisboa de potenciar las instituciones comunitarias, la realidad es que la crisis está reforzando más que nunca las soluciones nacionales. Alemania, Francia y Reino Unido, con distintas combinaciones bilaterales, según las circunstancias, pesan más que nunca en los designios de la Unión. (…) Los intereses nacionales eclipsan los intereses europeos. El ejemplo de Alemania es paradigmático. Merkel retrasó dos meses la ayuda de la UE a Grecia, agravando la crisis del euro, para no dañar a su partido en las elecciones del pasado mayo en Renania Westfalia, aunque igualmente las perdió . Ahora la UE se ve condicionada por lo que ocurra en los comicios del 27 de marzo en Baden-Württemberg, en los que Merkel corre también grandes riesgos.
"La crisis de la zona euro está cambiando la forma de funcionamiento de la Unión Europea", asegura Katinka Barysh, investigadora del Centre for European Reform. Barysh sostiene que se están reforzando unas tendencias que ya se habían observado en la última década: "Un cambio hacia una Unión en la que los Gobiernos están en el puesto de mando, los grandes países importan más que los pequeños y muchas decisiones son tomadas por subconjuntos de Estados". En su opinión, la crisis "ha debilitado también la alianza franco-alemana y revelado el crecimiento del sentimiento del euroescepticismo alemán". (…)La crisis está agudizando esta percepción de la pérdida de peso de la UE en la escena internacional. Las expectativas económicas revelan que la Unión va a la zaga. Con un crecimiento del 1,7% este año, se sitúa muy por detrás de Estados Unidos (2,6), Japón (2,8), Brasil (7,7), India (9,7) o China (10,4). El desempleo afecta a 23,1 millones de ciudadanos. Los europeos tienen razones para estar preocupados y tampoco ven en la UE ninguna voz más inspirada que las que oyen sus países.
25/11/10
De Livrão a Aldrabão (2) - uma glosa à boleia de Ruy Belo
Soneto Superdesenvolvido
É tão suave ter bons sentimentos
consola tanto a alma de quem os tem
que as boas acções são inesquecíveis momentos
e é um prazer fazer bem
Por isso se no verão se chega a uma esplanada
sabe melhor dar esmola que beber a laranjada
Consola mais assim viver no meio de muitos pobres
que conviver com gente a quem não falta nada
E ao fim de tantos anos a dar do que é seu
independentemente da maneira como se alcançou
ainda por cima se tem lugar garantido no céu
gozo acrescido ao muito que se gozou
Teria este (se não tivesse outro sentido)
ser natural de um país subdesenvolvido
Ontem
O melhor da greve geral foi o envolvimento de novos sectores laborais normalmente relapsos a participarem neste tipo de iniciativa. Factor positivo, a que nem o empolamento cretino dos “mais de três milhões de grevistas” retira significado. Tanto mais que foi evidente que a greve geral se não foi máxima no sector público foi, isso sim, mínima no sector privado. E se revelou novas disposições de participação e luta, também salientou a forma enraizada como estão acantonadas as resistências à luta e à partilha de esperança em efeitos de mudança (a esquerda revolucionária e os sindicatos continuam incapazes de indicarem alternativas e muito menos de as construirem). E é por esta minha interpretação da semi-decepção na ressaca sobre a greve que julgo que o Rui Bebiano onde viu limitações por ausência de acções complementares (dando visibilidade e participação pública ao evento) ao acto grevista propriamente dito elevou as suas expectativas acima das possibilidades pelas limitações da greve em si mesma. As insuficiências estiveram “dentro da greve” e não por esta “não ter saído à rua”.
(publicado também aqui)
Contributo para uma discussão teológica que não chegou a haver mas com o tempo lá chegaremos quiçá (II)
Crónica de uma ocupação terminada
Entenderem-se “com recato”, pois claro
Nos próximos tempos, para além da contenção no sector público, Portugal vai necessitar de reduzir os seus custos de trabalho, o que pode passar por maior flexibilização laboral e uma reforma do sistema de Segurança Social. Vamos precisar de profundas reformas estruturais em áreas com a Educação e a Justiça. Teremos de baixar os custos da burocracia. Será natural ter de repensar o sistema de subsídios.
Muitos outros aspectos terão de fazer parte dos programas reformistas (e a eles voltarei mais tarde) mas hoje pretendo analisar as necessárias condições políticas. Portugal tem, actualmente, três partidos com vocação de Governo. Terão de ser eles a assumir, de forma duradoura e em conjunto, o caderno de encargos. Para isso é necessário que com recato se entendam sobre um conjunto de linhas gerais.
Ora aqui está a medida de transparência política preferida pela direita. “Com recato”, diz o Feio.
(publicado também aqui)
De Livrão a Aldrabão
Agora, aguçado engenho pelas necessidades da crise, alguém se lembrou de iniciativa parecida, mas com uma diferença crucial: a coisa dá dinheiro. Na Bertrand, podemos oferecer livros às criancinhas e aos idosos desvalidos. Com um senão: têm de ser livros comprados na dita cuja Bertrand. De Maria Barroso à Rebelo Pinto, já se multiplicam as madrinhas deste natalício conto de ganância e esperteza saloia.
E não me venham dizer que é o que faz o Banco Alimentar nos supermercados; se os livros oferecidos pudessem ser em segunda-mão, tal iria aumentar a adesão e os resultados da iniciativa – enquanto que os géneros alimentícios não ficam lá muito agradáveis depois de usados.
Um dia, alguém ainda vai legislar a sério sobre estas manobras de marquetingue chunga; no Reino Unido, por exemplo, o uso e abuso das boas causas tem regras apertadas e mais que justificadas.
Dei por isto no interessante Horas Extraordinárias.
As sopas de S. Lázaro
Por quê neste dia de greve geral?
Por quê sopa?
Por quê ocupar?
Autogestão Já!
Colectivo Matéria Bruta
24/11/10
Também acerca de letras do hino da dependência do inevitavelmente fatal
E também de outra coisa - quando se fala de potenciais trabalhadores que não conseguem arranjar emprego, vem frequentemente a conversa de "têm que melhorar a sua formação para corresponderem ao que os empregadores procuram"*, ou "têm que ser mais flexíveis e estarem dispostos a procurar trabalho noutros ramos", ou coisa assim. Quando se fala de empresas que não conseguem arranjar trabalhadores (e de vez em quando aparecem notícias sobre isso), a conversa nunca é "as empresas têm que alterar a sua maneira de funcionar de forma a corresponder ao que os potenciais empregados procuram" - costuma ser sempre qualquer coisa relacionado com subsídios de desemprego ou RSI "demasiado generosos".
* eu lembro-me de, quando andava no secundário, a dado altura ter visto na escola um anúncio sobre qualquer coisa (imagino que fosse uma formação qualquer) que tinha como título (ou uma das rubricas, ou coisa assim...) "O que procuram os empregadores"; nunca vi formações (não digo que não existam, mas nunca as vi) sobre o tema "O que procuram os empregados" (a única excepção a essa regra é alguns artigos que li sobre "tecnologias de informação" que andam à volta do tema "como conseguir que os melhores programadores queiram trabalhar na sua empresa"; mas fora isso costuma ser assumido como um dado a existência de trabalhadores disponíveis para trabalhar e apenas à espera que apareça uma empresa a querer contratá-los)
O jogo ideal para um dia de greve
Resumindo: o jogo perfeito para o militante carente de diversão politicamente empenhada.
Uma das letras do hino da dependência do inevitavelmente fatal
Acabar com os ricos não resolve nenhum problema. Aos ricos exija-se mais investimento que induza crescimento e mais empregos. Sem uma base económica sólida não conseguiremos resolver os problemas sociais. Sem uma economia competitiva não será possível aumentar, consistentemente, os salários e o nível de vida. Esse é ciclo natural das coisas: a riqueza e o rendimento não se inventam, criam-se. O "como" poderia ser uma boa plataforma de convergência entre trabalhadores e patrões. O resto é quase só fumaça.
Repare-se na distribuição “perfeita” de “funções”: Aos ricos, o investimento, o crescimento, a criação de emprego; aos pobres, a procura, quando há e onde há, de salário e nível de vida, ou então ficarem-se pela “fumaça”. É esta repartição hierarquizada de “funções”, no conceito ideológico que lhe subjaz, e só esta, que alimenta a oratória dos defensores da “convergência entre trabalhadores e patrões”. Ou seja, na continuação do jeito que seja como foi.
(publicar também aqui)
Os ciber-amarelos
Criado ontem, segunda-feira, o grupo aberto "Eu digo 'Não' à greve geral de 24 de Novembro" tem por objectivo, diz o criador Nuno Pires, "juntar as pessoas que se opõem à realização da greve" e "despertar a reflexão sobre o tema". Porquê? A greve, diz o consultor de 28 anos, "deve ser o último recurso dos trabalhadores para a obtenção de melhores condições junto dos seus empregadores" e a maneira como esta foi organizada, pode ler-se no grupo, foi incorrecta. "Os sindicatos escusaram-se à negociação, rejeitaram o diálogo. Optaram, de imediato, por avançar para a greve", continua.
"Hoje em dia a greve parece ser o primeiro recurso dos trabalhadores, mesmo antes da via negocial", entende Nuno Pires. "Caso estas centrais estivessem, de facto, interessadas em defender os direitos dos trabalhadores, teriam aproveitado esta oportunidade para, através da negociação, diminuir alguns dos aspectos que irão afectar os trabalhadores que representam", explica.
Por isso mesmo, e "no momento que o país atravessa", "caracterizado por uma elevada pressão por parte dos mercados financeiros", a "imagem que é enviada ao exterior é altamente prejudicial", entende o consultor. Fazer uma greve agora, diz Nuno Pires, é "brincar com o fogo", pois a iniciativa vai apenas tornar-se "mais um factor de instabilidade", "que vai colocar Portugal ainda em pior posição face aos mercados internacionais". Uma paralisação nacional é, então, considerada "um atentado a Portugal e ao direito à greve".
Este foi o primeiro grupo criado por Nuno Pires. Escolheu o Facebook Groups pois entende que esta é, hoje em dia, "a via mais rápida de divulgar uma opinião, junto do maior número de pessoas possível". O grupo ainda não tem, no entanto, muita representatividade no Facebook, contando, para já, com 29 membros.
(publicado também aqui)
23/11/10
Os vampiros não descansam
Descodificando: a clientela política colocada nas empresas controladas pelo Estado tenta pôr-se a salvo dos cortes salariais na função pública.
Com o apoio do PSD.
Ambos os partidos estão podres até ao tutano, invadidos por vampiros, apenas interessados em sugarem o mais que puderem. É altura de varrer PS e PSD para o caixote do lixo.
Contributo para uma discussão teológica que não chegou a haver mas com o tempo lá chegaremos quiçá (I)
Animais à solta em Israel
A nova estratégia dos colonos israelitas é atacar palestinianos e as suas propriedades como retaliação por cada colonato que for demolido. Olivais, automóveis, pessoas. Nada está a salvo das bestas que não descansarão até que o último árabe saia da terra que a sua superstição de Estado toma por prometida. Tudo serve para expulsar estas famílias: violência, vandalismo, julgamentos aberrantes – como este, que levou à expulsão de uma família palestiniana da sua casa e à instantânea ocupação da mesma por colonos. É bom que nos lembremos disto sempre que nos falem da "única democracia do Médio Oriente".
Diana e Pedro: Trovas d'Embalagem para a Greve Geral
trovas d'embalar
Belmiro gera riqueza
a partir do seu umbigo
nunca explorou ninguém
de todos é grande amigo
vai ao centro de belém
o colombo é uma beleza
a partir do seu umbigo
Belmiro gera riqueza
champalimou seu imposto
até ficar pequenino
já foi indemnizado
mas ai que tempo perdido
dizem que gosta de fado
e de rei morto rei posto
até ficar pequenino
champalimou seu imposto
Uma pedrada contra o charco fatalista
Não tenho dúvidas: a greve geral de amanhã será o momento mais alto de cidadania colectiva dos últimos anos. Tem de ser, e será, tão forte que até os surdos políticos a vão ouvir.
22/11/10
Avenida da Liberdade
Já várias coisas foram escritas e afirmadas sobre a manifestação de Sábado e penso que o essencial vem sendo dito. Queria contudo acrescentar alguns apontamentos.
"O Governo, numa atitude de força e provocação, montou na Baixa do Porto um aparato policial que envolveu centenas de polícias e uma companhia completa da Policia de Intervenção vinda directamente de Lisboa, armada de espingardas metralhadoras e que cerca das 23h30 investiram à bastonada e a tiros de rajada sobre os milhares de trabalhadores que pacificamente realizavam a sua festa. [...]
Dois operários, Pedro Vieira e Mário Emílio Gonçalves, foram assassinados a tiro e dezenas de outros foram feridos, muitos em estado grave, pela polícia. Pedro, delegado sindical da CGTP e empregado têxtil foi atingido nas costas. Mário, vendedor ambulante, um mero curioso, foi atingido na cara. Ninguém foi culpabilizado pelas mortes, nem o próprio autor político, o então ministro da Administração Interna Angelo Correia."
Commoniversity
Bolseiros, investigadores, professores e estudantes em greve!
A greve geral do próximo dia 24 de Novembro é um momento privilegiado para questionar as respostas políticas, manifestamente desequilibradas, a um quadro económico de crise. Mas a greve pode assinalar também uma insatisfação mais difusa, prolongada, que atinge a relação das pessoas com o seu trabalho, mas que cada vez mais invade outras dimensões do quotidiano. A imposição de uma austeridade assimétrica, que protege os mais fortes, restringe progressivamente a autonomia pessoal e a possibilidade de escolha, corrói as capacidades de definir projectos de vida individuais e colectivos, destrói direitos que constituem a base elementar de uma sociedade minimamente justa.
É indiscutível que em Portugal se tem vindo a fazer um esforço de investimento na ciência. Todas as pessoas envolvidas na criação científica não deixam, no entanto, de ser afectadas por dinâmicas sociais mais alargadas que, atingido a maioria da população, se traduzem na erosão progressiva de direitos e na imposição de lógicas de organização de trabalho que assentam numa progressiva precariedade. Tal paradigma, sempre apresentado como uma inevitabilidade, constitui uma forte ameaça à autonomia do conhecimento científico.
Etapa de uma resposta colectiva ao futuro de inevitabilidades que nos é proposto, a greve assinala também a visível necessidade de criar formas de debate que permitam pensar modos mais eficazes de enfrentar estes problemas. Por isso, dia 24 fazemos greve.
A declaração já ultrapassou as 400 assinaturas; assinem aqui e divulguem junto dos colegas
“Estamos”? Dobre a língua, se faz favor
Ligação directa com distinção e louvor para um post sem título de Luís Januário
Eu não estive na manifestação. Mas posso ter uma ideia aproximada do que se passou a partrir de três relatos: o ponto de vista da polícia, que Paulo Moura, acolitado pelo especialista americano em contagem de multidões, transmite no Público, a reportagem da sic e o texto de José Neves no Vias de Facto. Não estive na manifestação porque a minha forma física actual não recomenda ficar muito tempo com o joelho de um polícia nas costas. Depois porque não saberia onde me integrar: como é que se pode ter um pensamento original e participar numa manifestação que leva à frente o serviço de ordem do PC? Se estivesse nas margens escolheria o sector dito anarquista. As pessoas pareciam mais bonitas e a sua indignação mais genuína. Mas toda a multidão tem por detrás o seu maître a penser, o seu organizador, o que confere um sentido global ao conjunto de opiniões. E não poderia ficar um segundo como figurante da estratégia islamofila do Renato Teixeira.
Dito isto, importa considerar que a manifestação foi parte da encenação do Parque das Nações. O sistema político ocidental transporta ainda como reliquat estes epifenómenos, através dos quais se mostra uma esquerda moribunda, impotente, pavloviana que nem sequer o sistema político constitucional sabe utilizar (como sugere José Neves seria uma exigência prioritária levar o sinistro Anes ao Parlamento).
A gente comum, os europeus que dos escombros deste saldo hão-de construir ou não uma outra coisa, ficaram em casa, desviados por Sacavém.
*Sobre este tema veja-se também o interessante diálogo entre Zé Neves e Vítor Dias (lui-même) na caixa de comentários de Vias de Facto.
Uns blindados à imagem do nosso governo
PSR (1978-2010)
Conseguiram o que queriam: 80% de vermelho, 0% de negro e outras cores suspeitas
Aqui está, pela voz de Ilda Figueiredo, o que é mesmo importante na luta: dominar, monopolizar, agitar a nossa bandeira. A luta, a seguir assim, vai mesmo continuar até à irrelevância final – o que é pena.
Obrigado ao Ricardo Coelho pela dica.
Eu também tenho uma versão dos acontecimentos
Pouco passava das nove da manhã e mal tínhamos posto o pé na rua, já estávamos a comer na boca. O dia começou por volta das oito da manhã, quando fomos acordados por um despertador de pano alimentado a energia solar. Tomámos banho todos com a mesma água e escovámos os dentes com a roupa interior do dia anterior.
Às nove da manhã estávamos a sair do prédio, mas sem bater a porta, pois está provado que o bater de uma porta em Benfica pode incomodar a migração dos colibris nesta altura do ano.
Logo à saída, poucos minutos passavam das nove da manhã, dois cavalheiros encorpados não gostaram da nossa oferta — uma flor pela paz — e sovaram-nos até o activista perder os sentidos. Nós, sem experiência, ficámos muito preocupados, mas o activista diz que é normal perder os sentidos quatro a cinco vezes por dia, por isso deixou-nos à-vontade.
Mais à frente, já no autocarro, a recusa em pagar o bilhete levou-nos à prisão, onde cinco polícias puseram em prática os conhecimentos adquiridos num workshop de defesa pessoal. O activista perdeu os sentidos enquanto discutia “direitos e liberdades” com o subcomissário Garcia.
Já levemente macerados, dirigimo-nos em plena hora de almoço a um McDonald’s para denunciar os crimes de guerra perpetrados pelos norte-americanos, mas a acção foi abruptamente interrompida por um jovem do 5.º ano que arrumou o activista com um tabuleiro.
Já almoçados — os putos obrigaram-nos a comer cinco hambúrgueres duplos sem nos deixarem beber um único copo de água — seguimos para uma manifestação anti-Nato do Largo Camões, que acabou, como se esperava, com o activista inanimado depois de uma carga policial. Ainda por cima apareceu o subcomissário Garcia, que mal o viu quis logo continuar a “argumentar”.
Regressámos então a casa, não sem antes passar pela embaixada de Israel com cartazes pró-palestinianos. Cinco minutos depois de começar o protesto, e supostamente por causa do barulho, levámos com um balde de água. O activista fez choque térmico e perdeu os sentidos.