30/11/10

Ainda a "Aliança de Esquerda Unida" irlandesa

No blogue irlandês Cedar Loungue Revolution, um artigo sobre o primeiro comício da ULA.Mais interessante que o post propriamente dito, parece-me ser a discussão nos comentários sobre o que poderá acontecer nas próximas eleições (para compreender melhor a discussão, nomeadamente a conversa de os partidos receberem "preferences", convém saber algo sobre o sistema eleitoral irlandês).

Um post saudosista

Um Paulo Moura bolchevique?

Afinal, parece que os anarquistas de Paulo Moura e o seu "sonho mais selvagem" (ver velhos militantes do PCP espancados pela polícia), já aqui evocados pelo Zé Neves, pelo Ricardo Noronha e pelo Luís Rainha, não só existiram como formaram — objectivamente — um contingente de sabotadores comandado pela NATO. Um post de André Levy denuncia-o com inconfundível têmpera leninista e patriótica e permite-nos concluir que a negociação com as forças da ordem do regime do seu isolamento na manifestação foi afinal uma jogada táctica genial — emulando o comboio blindado de Lenine a caminho da estação finlandesa. Porque, se "a NATO é capaz de criar as suas próprias estruturas anti-NATO" em benefício dos seus desígnios,  os responsáveis da área do CPPC não lhes ficam atrás em inteligência: conseguiram, num regime burguês, pôr a polícia de choque — como se fosse a Volkpolizei de um regime operário dos saudosos tempos do "socialismo real"— ao serviço dos seus desígnios e dos interesses de todo o povo, levando-a a controlar os anarquistas, afinal ao serviço da NATO, e a proteger os manifestantes verdadeiramente anti-imperialistas.

A queda em directo e ao vivo


Apesar do tom “telenovelesco” da maior parte dos documentos diplomáticos norte-americanos que têm chegado a público, cedidos pela Wikileaks, um assalto desta dimensão não é para brincadeiras. Anda tudo a assobiar para o lado, com poucas excepções (uma foi Chávez que já veio dizer as coisas do costume), mas que os EUA se expuseram ao ridículo expuseram.
Podem os próprios — e os visados nos telegramas — fazer diplomaticamente de conta que continua tudo bem. No fundo, no fundo, estamos a assistir ao vivo e em directo à queda de um Império. The times they are a-changin. Ou como bem disse o Tom Waits, "estamos no meio de uma revolução [só que desta vez] ninguém sabe de que lado vêm as pedras".

StopBanque: a animada proposta política de Cantona continua ao ataque

Uma peça singularmente tendenciosa do Público acaba, não obstante, por publicitar uma animada proposta política de Cantona. No essencial, e deixando de parte as distorções reaccionárias do texto de Rosa Soares, trata-se, na ideia de Éric, do seguinte:

Cantona, actualmente com 44 anos, defendeu numa entrevista a um jornal regional francês que são precisas formas de contestação alternativas às greves e às manifestações e que é necessário que se faça "uma verdadeira revolução".
"Não peguemos em armas para matar pessoas e começar uma revolução. Nos dias de hoje, é muito fácil fazer uma revolução. O sistema assenta no poder dos bancos, por isso tem de ser destruído através dos bancos", defendeu o ex-jogador, que, nos últimos anos, tem dividido o seu tempo entre o cinema e as acções de beneficência, através da Fundação Abbé Pierre, que presta apoio a pobres e sem-abrigo.
Na entrevista, dada depois da forte contestação dos franceses ao plano de austeridade, com implicações nos impostos, redução da despesa pública e aumento da idade da reforma, o antigo jogador (…) sustentou que o seu conceito de revolução é simples: "Em vez de irmos para as ruas, conduzir durante quilómetros, basta ir ao banco e levantar o dinheiro. Se houver muita gente a fazer levantamentos, o sistema colapsa. Sem armas, sem sangue."
(…)
Mas a proposta de Cantona teve uma consequência imediata que não pode ser desprezada, já que serviu de mote a um movimento na Internet, o StopBanque, que apela aos cidadãos europeus, e não apenas aos franceses, para que façam levantamento de dinheiro, aos balcões dos bancos, num dia em concreto: 7 de Dezembro.
Já terão sido manifestadas mais de 14 mil intenções de adesão a esta iniciativa, e a mensagem do StopBanque começa a ser replicada noutros países, com destaque para a Inglaterra, e também noutras redes sociais, designadamente no Facebook.


Para saber mais e apoiar a iniciativa, pode clicar em StopBanque.

29/11/10

Viva a vitória militar da narco-resistência brasileira ao governo burguês de Dilma?

Se bem compreendi este post do Renato Teixeira — Na guerra entre a Favela e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), escolho a derrota da Dilma — a posição rubra é a seguinte: tal como, não sendo "guerreiros do islão", devemos apoiar a "vitória militar" da "resistência islâmica" no Médio Oriente e outras paragens, contra o imperialismo e o Estado de Israel, assim também, embora não sendo narcotraficantes, devemos apoiar a narco-resistência brasileira e latino-americana em geral, contra o governo burguês de Dilma e os restantes políticos burgueses da região (e do mundo). Resta-nos, pois, adoptar a palavra de ordem que, na síntese mais rubra, reúne os dois combates e proclamar, escolhendo o nosso campo: "Viva a vitória militar da narco-resistência islâmica!". Haverá outras opções de combate à oligarquia?

O programa da "Aliança de Esquerda Unida" irlandesa

Um dos nossos leitores teve a gentiliza de traduzir o programa da nova aliança de partidos de esquerda irlandeses:

PROGRAMA DA ALIANÇA ESQUERDA UNIDA (IRLANDA): PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ALTERNATIVA POLÍTICA REAL

A crise económica tem-se traduzido num ataque sem precedentes ao nível de vida dos irlandeses, criando uma espiral de desemprego em massa e aumento de pobreza. Entretanto, tira-se milhões a quem trabalha para se dar a banqueiros e especuladores internacionais.

A recém-criada ULA (United Left Alliance) opõe-se à política de bailout e cortes orçamentais, políticas que pioram a crise. Nas eleições legislativas, temos por objectivo fornecer uma alternativa real aos partidos do sistema, bem como o Labour e o Sinn Fein, que também aceitam o capitalismo e se recusam a descartar a hipótese de se coligarem com partidos de direita. Um governo Fine Gael / Labour no poder não seria fundamentalmente diferente deste governo.

28/11/10

A Dupla Vida Portuguesa de Catarina Portas

«Zé Neves e Ricardo Noronha: podem garantir que entre os milhares de manifestantes que desfilaram nesse dia não havia ABSOLUTAMENTE NINGUÉM com intenção ou vontade de provocar a polícia? Podem falar pela cabeça de cada uma das pessoas que lá estava? Se calhar podem, com o mesmo à vontade e ligeireza, tão caracteristicamente portugueses, com que falam, acusam, julgam e condenam a seriedade profissional de alguém na praça pública, sem factos nem provas». Pergunta e responde Catarina Portas, aqui, em defesa de Paulo Moura.

A esta hora, provavelmente, neste debate, eu deveria estar interessado, sobretudo, em sublinhar o modo tortuoso em que incorre a lógica de uma parte do jornalismo e da generalidade da polícia, lógica que se inscreve de modo inocente (vou ser simpático, pronto) nas palavras de Portas. A lógica resume-se a isto: “se não fez, podia ter feito”.

No caso da notícia de Moura, é assim: começou por dizer que anarquistas queriam violência e queriam que a polícia batesse em velhos do PCP. Foi dito aqui que isso era uma aldrabice, entre outras coisas porque o jornalista não invoca fontes algumas para dizer o que diz (é esta "acusação" que Catarina Portas considera ser um julgamento sem provas). Respondeu-me Paulo Moura dizendo que se baseou em fontes anarquistas anónimas (embora não o tenha referido na notícia, ausência que justifica dizendo que tal se subentenderia). E admite ainda o jornalista que terá errado no tom que utilizou aqui e ali, acabando por limitar o que está aqui em causa a uma questão do seu estilo de escrita e do nosso posicionamento político, isentando-se de discutir o problema da verdade. Pelo meio, o jornalista ameçou-me com um processo em tribunal.

Houve um tempo em que muitos jornalistas se legitimavam dizendo que era de factos que tratavam. Era o tempo de uma concepção simplista do seu trabalho e da ideia de facto. Agora, existem também jornalistas que se legitimam dizendo que é de intenções de que se trata nas suas peças. Algo que, de facto, torna bastante mais difícil refutar o que quer que seja que esses jornalistas afirmem. Passámos de uma ideia ingénua de verdadeira realidade para uma jornalismo que apresenta os seus sonhos selvagens como se fossem a mais límpida verdade. Mas vou deixar o Paulo Moura em paz porque o único advogado que tenho na família está reformado e porque tanto o Ricardo Noronha (neste post) como a São José Almeida (no Público de ontem) já disseram várias coisas com as quais concordo acerca do caso particular (no caso do post do Ricardo) e acerca da cobertura jornalística da cimeira da NATO (no caso do texto da São José Almeida). Concentremo-nos no comentário de Catarina Portas que comecei por citar. O que aí mais me chateia mesmo é aquele «tão caracteristicamente portugueses» a que recorre para responder a mim e ao Ricardo. E chateia porque o mínimo que se espera de quem faz riqueza à boleia da “Vida Portuguesa” (orgulhando-se de vender bebidas que julga tipicamente portuguesas e de não vender bebidas tipicamente estrangeiras como uma bela imperial sagres) é que vá beber ideias a outra fonte que não a das mais deprimidas psicologias étnicas que por aí circulam. Que isto não constitua um problema para a própria empresária-cidadã-ex-jornalista, mostra apenas como é possível encontrarmos as alianças mais astuciosas entre o mundo das ideias e o mundo das coisas. Por outro lado, e agora recorrendo a um modo mais, digamos, reconfortante de encontrarmos um final feliz para tudo isto, deixo a pergunta: será que, sendo eu e o Ricardo «tão caracteristicamente portugueses", não deveríamos pedir ao Paulo Moura que nos emprestasse o seu advogado para processarmos Catarina Portas? Pois se somos "tão caracteristicamente portugueses" e se Portas vende produtos «tão caracteristicamente portugueses", não será de concluir que esses produtos são a expressão acabada do nosso modo de vida e não será, então, este modo de vida que também dará de lucrar à nossa empresária da "Vida Portuguesa"? Fontes anónimas dizem-me que isto tudo ainda vai correr bem para a causa da emancipação do proletariado e que chegará o dia em que será possível todos bebermos uma maravilhosa coca-cola num quiosque cor-de-rosa perto de nós.

Apesar do Teixeira ter garantido que o mundo tinha os olhos postos em nós ainda não vi nenhuma referência a Portugal na Wikileaks [siga os links]

Os links não confirmam a megalomania do Teixeira.

El País

The Guardian

Der Spiegel

The New York Times

Le Monde

WikiLeaks

27/11/10

E se, para celebrarmos um pouco mais animadamente o centenário da República Portuguesa, fizéssemos nossa a reivindicação desses irlandeses que se declaram cidadãos, e não súbditos, e exigem que a república lhes seja devolvida?

Para mais informação, ler este post do Miguel Madeira.

Protestos em Dublin


The Irish TimesApproximately 50,000 people marched in Dublin this afternoon in a protest organised by the Irish Congress of Trade Unions (Ictu) against the Government’s austerity plan.

The protest started on Wood Quay at noon, before crossing over to the north quays to Ormond Quay, continuing on to Bachelors Walk and then onto O’Connell Street, arriving at the GPO at 1pm.

Addressing the crowd on a podium at the GPO, Irish Times  columnist Fintan O’Toole said the Government was doing a deal with people who had not been elected.

He said the country was paying billions to bail out the banks and the Government had declared war on the poor. He said Irish people were not subjects, but citizens, and wanted their republic back.

Zapatero presta vassalagem ao governo financeiro global e à oligarquia-capitalista-mor do reino

No Público.es de hoje (27.11.2010):

El presidente del Gobierno se ha comprometido con los 37 empresarios españoles que han acudido a la reunión en La Moncloa a acelerar las reformas estructurales para evitar más ataques de los mercados hacia España, según ha anunciado Zapatero en rueda de prensa posterior a la reunión.
(…)
Entre los compromisos concretos avanzó la creación de una Comisión Nacional de la Competitividad, independiente e integrada por "personalidades de relieve". Zapatero explicó que "llevará a la práctica con la mayor celeridad posible" el desarrollo de la reforma laboral, la modificación del sistema de pensiones, la finalización de la reestructuración del sistema financiero y otras medidas para ganar competitividad y fomentar la inversión y las exportaciones.

Quando a verdade perturba uma boa história


O Zé Neves escreveu um post sobre a reportagem assinada por Paulo Moura no jornal Público, na sequência da manifestação realizada no dia 19 de Novembro. Paulo Moura veio à caixa de comentários ameaçar com um processo judicial quem o apelidasse de mentiroso, mas entretanto parece ter mudado de ideias. Diz-nos agora que nos limitamos a censurar o seu «estilo» e que ninguém pode pôr em causa a veracidade das fontes anónimas a que tem acesso. 
Como qualquer pessoa compreenderá, um jornalista pode escrever praticamente tudo o que lhe apetecer à boleia de semelhante argumento. Seria aliás possível afirmar - de acordo com informações providenciadas por alguém que o conhecesse bem mas que preferisse reservar o seu anonimato - que  Paulo Moura nunca escreveu uma notícia verídica na sua carreira de jornalista. Não se trata aqui  por isso de uma questão de estilo, como se falar de jornalismo fosse equivalente a falar de literatura. Quando começa a projectar cenários plausíveis, mas cuja veracidade é incapaz de comprovar, o jornalista entra automaticamente no terreno da ficção. Mais ainda quando apresenta a plausibilidade como se ela equivalesse à realidade.
Foi isso mesmo que fez Moura na sua reportagem, como tem feito Valentina Marcelino no Diário de Notícias - a construção de uma ficção policial assente nos mais óbvios lugares comuns de uma estratégia de criminalização preventiva de movimentos e pessoas com determinadas posições políticas.
Quando nos informa de que existia um «plano» por parte de indivíduos «violentos» de «provocar os polícias, na esperança de que estes ripostassem indiscriminadamente contra a manifestação», estará realmente Paulo Moura à espera que acreditemos que semelhante «plano» lhe seria revelado para que ele o escrevesse no seu jornal? Ou que estes «elementos cujo objectivo era de facto provocar a violência» considerariam irrelevante a revelação de uma estratégia desta natureza? Não se dará Paulo Moura conta de que este suposto «plano» é a  calúnia mais frequentemente empregue pela polícia contra anarquistas ? De que a sua reportagem foi já escrita, milhares de vezes, desde o século XIX?

Um outro exemplo de que tudo isto se passou sobretudo na sua imaginação é o uso de um advérbio de modo. Diz-nos ele que «Um cenário de a polícia a carregar sobre os velhos militantes do PCP era provavelmente o sonho mais selvagem dos elementos anarquistas». Notem bem.: «Provavelmente». Com um acesso tão exclusivo a fontes tão comprometidas com um «plano», Paulo Moura admite ainda desconhecer qual seria o «sonho mais selvagem dos elementos anarquistas»? 
O corolário lógico de toda esta operação é o que se segue: «O Corpo de Intervenção da PSP decidiu não correr riscos. Cercou num cordão feito de corpos maciços, escudos, capacetes e cassetetes o grupo da terceira manifestação e desceu assim com eles a avenida»
Fica tudo absolutamente claro, como quando jornalistas afirmam que «a polícia foi obrigada a intervir» neste ou naquele bairro «problemático». Havia um «plano» ao qual Paulo Moura teve acesso, do qual ninguém naquela manifestação havia sido informado, mas que o Corpo de Intervenção antecipou, previu e calculou, preferindo «não correr riscos». E assim se compreende porque razão estiveram algumas centenas de pessoas sequestradas durante horas pela polícia, ao abrigo de qualquer simulacro de legalidade. Foi para seu próprio bem.

É bem verdade que durante semanas foi prometida à imprensa a deslocação a Portugal de pessoas extremamente perigosas, daquelas capazes de tudo e cujas inconfessáveis intenções justificariam um estado de excepção, uma espécie de lei marcial, com todo o tipo de limitações às liberdades e garantias que o Estado de Direito deve respeitar. Após tamanha expectativa, tudo o que fosse menos do que um motim nas ruas de Lisboa pareceria aquém da promessa. Este filme perderia todo o interesse sem «elementos violentos» e «sonhos selvagens». Foram necessários alguns efeitos especiais e o jornalista do Público revelou-se capaz de manejar os mais espectaculares.
As qualidades de semelhante jornalismo são bem conhecidas, assim um pouco como as «reflexões» de José Manuel Anes acerca do tema da segurança. Ambas conferem à actuação policial toda a amplitude de que ela necessita para defender a ordem pública e privada, os que nos governam e os que nos querem governar, quem aqui nos conduziu e quem pretende levar as coisas um pouco mais longe. Paulo Moura pôs no papel tudo aquilo que convinha ao Comando da PSP após aquela gloriosa operação policial. Nada faltou à sua história, a não ser o rigor e o respeito pela verdade. Tanto basta para que dele se possa afirmar tratar-se de um contador de histórias com carteira de jornalista, um mercenário de bloco de notas em punho, um caluniador profissional e um assalariado do regime.


Isto não tem nada que ver com a realidade

Ainda na frente irlandesa

O Sinn Feín ganhou uma eleições intercalares algures na Irlanda, reduzindo a maioria governamental para dois lugares.

Face às eleições gerais de 2007, o candidato do SF passou de 21 para 40% da votação.

O primeiro panfleto da nova "Aliança de Esquerda Unida" irlandesa


26/11/10

Viva a Liberdade de Informação e de Expressão! Abaixo a Segurança Nacional!

Algumas razões da oportunidade deste cartaz podem ler-se aqui:

El Reino Unido es el primer país que ha tomado medidas después de recibir el aviso de EEUU. La inminente difusión de nuevo material confidencial por parte de Wikileaks ha provocado una campaña diplomática contrarreloj de Washington para prevenir a otros países sobre los documentos que aparecerán en los próximos días.
La mayoría de ellos parecen ser despachos diplomáticos de las embajadas norteamericanas con múltiples referencias a la política de terceros países.
El Gobierno británico ha comunicado a los medios de comunicación que no desea que se publiquen ciertos documentos. Lo ha hecho a través de las 'DA-Notices', un sistema por el que se solicita, no se ordena, que los medios no hagan públicas informaciones que puedan perjudicar a la “seguridad nacional”.

Convém ter em conta as diferenças


Em termos de orçamento 2011, as responsabilidades pelo saque não serão iguais quanto ao PS e ao PSD. Um vai atacar-nos o bolso esquerdo, outro trata-nos do bolso direito.

(publicado também aqui)

Se pensar pode não resolver, sempre dá uma ajuda

Rui Namorado, militante socialista e grevista em 24 de Novembro, desabafou através de uma reflexão do “dia seguinte”. Vale a pena lê-lo com a atenção devida aos lúcidos.

As esquerdas parecem epicamente condenadas a degladiarem-se entre si. As direitas navegam em águas aparentemente mais tranquilas. Abaixam-se para ver se a tempestade lhes passa por cima e se no fim ficam mais fortes e as esquerdas mais fracas.

O sector dominante da esquerda institucional resmunga oficiosamente uma imagem de fracasso da greve que a realidade teimosamente desmente. Os sectores dominantes das esquerdas sociais desenham um cenário demolidor que, se tivesse a dimensão afixada, já teria varrido qualquer governo. Esgrimem entre si números como se o peso da greve não fosse o resultado de um balanço sócio-politico, mas um hipotético apuramento impessoal de uma luta entre números.

O primeiro parece acreditar que, se fizer os sindicatos morder o pó, poderá navegar tranquilamente numa imaginária harmonia, gerida pelos generosos e altruístas senhores do dinheiro, que lhes continuarão a deixar movimentar as alavancas do poder. Os segundos parecem acreditar que se destroçarem o sector dominante da esquerda institucional verão abrir-se as portas de um outro poder político, onde os interesses que defendem tenham verdadeiro eco.

Mas se os trabalhadores forem vencidos e os sindicatos aniquilados, na constância do capitalismo, nenhum governo de esquerda respirará sequer cinco minutos de poder institucional. E se a esquerda institucional dominante for desmoronada, seguir-se-ão governos de direita, cuja novidade será o agravamento brutal de tudo aquilo que fez com que os sectores dominantes das esquerdas sociais combatessem o sector dominante da esquerda institucional.

Por isso, esta greve teve também uma dimensão trágica. Ela fez-me recordar aquela história do sapo que para ajudar um escorpião a atravessar um ribeiro o transportou no seu dorso. Contudo, a meio da travessia o escorpião espetou o seu ferrão venenoso no sapo. E ferido mortalmente o sapo perguntou. "Porque me matas, sabendo que se eu morrer também tu morres". E o escorpião respondeu: "É da minha própria natureza". E morreram os dois.

Mas neste caso, é como se a história envolvesse dois pares de sapos e de escorpiões. Num deles é a esquerda institucional que faz de sapo; no outro, são as esquerdas sociais. O desenlace é o desaparecimento de todos, seja qual for o papel que desempenharam.

Há uma subtil ironia, impregnando tudo isto. Embora pareçam desconhecê-lo, para cada uma das partes, os problemas da outra são afinal também seus. E cada uma delas precisa da força da outra para que, a prazo, não fique irremediavelmente enfraquecida.

Reconheço que a probabilidade de isto ser entendido por qualquer das partes, é escassa. Possivelmente, cada um dos lados continuará a incensar a sua própria santidade e a construir infernos onde gostaria de ver o outro; a construir minuciosamente a culpa do outro e a inocência própria.

Mas quem conseguir despir o seu olhar, por um momento, da neblina das aparências mais prementes, facilmente verá que, se ambos os lados continuarem a intercambiar sucessivamente entre si os papéis de sapo e de escorpião, acabarão por se afundar.


(publicado também aqui)

Matar o mensageiro

Ao que parece, a Wikileaks está na iminência de fazer algumas revelações bem escabrosas sobre as relações entre os EUA e o seu aliado dilecto, a Turquia. Incluindo o apoio secreto dos americanos aos separatistas curdos do PKK ou o auxílio prestado à socapa por Ancara aos rapazes de Bin Laden.
A resposta foi literalmente delirante: «These revelations... are going to create tensions in relationships between our diplomats and our friends around the world»  disse o porta-voz do Departamento de Estado Philip Crowley.
Que cada amigo ajude o terrorista do outro é uma minudência – a maldade que vem criar tensões é sim a divulgação do arranjinho. O Assange que se ponha a pau; está visto que neste caso o culpado é mesmo o mensageiro.

A quadradura do círculo ou há tipos que mesmo órfãos tentariam vender a mãe

O Sócrates tem duas prioridades para o futuro: "Executar este orçamento em 2011 e ter uma agenda para o crescimento económico e emprego"
Alguém o quer propor para Nobel da Economia?

Assim, até um matraquilho geria bem a EDP

Se eu e os meus sócios decidirmos investir numa nova tecnologia ou em quadros especializados, a nossa empresa terá de assumir os respectivos riscos. Fazer repercutir de imediato esse custo nas facturas que passamos aos clientes levaria à sua debandada imediata. Assim, apostamos parte dos lucros da empresa a cada investimento; se funcionar, todos felizes. Se não, azarito.
A EDP, por ter a sua clientela amarrada de pés e mãos a um monopólio, pode fazer as coisas de outra maneira. Experimenta novas tecnologias, como a do projecto-piloto Inovcity, e trata logo de passar o custo para os consumidores, com o argumento, acolhido pela ERSE, de que se trata de coisa eventualmente benéfica para o consumidor. Assim, este projecto, entre outros, «foi já financiado pelas tarifas eléctricas» como admitiu sem rebuços o administrador da EDP Martins da Costa.
Começo a entender como é que o Mexia merece um ordenado maior do que o do Horta Osório, há pouco contratado para chefiar um dos maiores bancos do Reino Unido: investimentos sem qualquer risco, a pagar por clientes reféns, são mesmo uma grande ideia.

Não pára aqui

Já vimos como a aristocracia financeira necessariamente se pôs à frente do partido da ordem, o mesmo acontecendo com o proletariado no partido da "anarquia". [...]
O governo, desprezado pelos seus inimigos, maltratado e diariamente humilhado pelos seus pretensos amigos, viu apenas um meio de sair da situação desagradável e insustentável em que se encontrava: o motim. Um motim em Paris teria permitido impor o estado de sítio a Paris e aos departamentos e, desse modo, pôr e dispor nas eleições. Por outro lado, perante um governo que tinha conseguido uma vitória sobre a anarquia, os amigos da ordem seriam obrigados a concessões se não quisessem, eles próprios, aparecer como anarquistas.
O governo pôs mão à obra. Princípio de Fevereiro de 1850: provocações ao povo com a destruição das árvores da liberdade. Em vão. Quando as árvores da liberdade foram arrancadas, o próprio governo perdeu a cabeça e recuou perante a sua própria provocação. [...] Em vão finalmente a profecia de uma insurreição para o dia 24 de Fevereiro. 
O governo conseguiu que o 24 de Fevereiro fosse ignorado pelo povo. O proletariado não se deixou provocar para um motim porque estava prestes a fazer uma revolução.
Karl Marx, As Lutas de classes em França, Edições Avante!, pp.132-133

A despedida envenenada do deputado Candal

Quando o deputado Candal, no seu adeus ao parlamento, disse hoje: «Não tenho dúvidas em afirmar, neste momento, que o ponto mais sólido que nós temos à nossa disposição é a resistência do primeiro-ministro que está em funções», obviamente que quis causar impacto através do sublinhar de uma evidência, no sentido de demonstrar porque é que o PS ainda é governo. Mas se falou verdade, Candal expôs, transformando a sua despedida num adeus envenenado, a essência grotesca do absurdo acantonado no poder, a de um governo que está entregue às malvas, esperando pela infusão que facilite limpezas íntimas, simplesmente preso do desespero teimoso e idólatra de um alçado social e politicamente que pagou com esquizofrenia optimista a ascensão de um apagado e vil talento. E, por linhas tortas, Candal revelou como se deita abaixo este governo: abanem Sócrates o suficiente, o resto cai logo que arranquem a raiz solitária, porque PS propriamente dito, além do seu arrivista-em-chefe, deixou de existir por mor de esmagamento pelo umbigo deste.

(publicado também aqui)

9 anos e 50 dias

27 de Dezembro de 1979 - 15 de Fevereiro de 1989 - intervenção soviética no Afeganistão
7 de Outubro de 2001 - .... - intervenção da NATO no Afeganistão

União Europeia: Federalismo e Democracia ou Soberania Nacional e Certidão de Óbito?

El País de hoje (26.11.2010) intitula La crisis desinfla el liderazgo europeo. El hundimiento potencia soluciones nacionales frente a los intereses globales, uma peça de Andreu Missé, correspondente do jornal em Bruxelas. O artigo permite, à margem e para além das suas intenções imediatas, delinear claramente os termos da alternativa entre:

a) por um lado, uma via de reforço do federalismo e da democratização através da confluência e coordenação acções políticas dos trabalhadores e conjunto dos cidadãos europeus e, por outro lado,

b) o reforço provisório e superficial do soberanismo e da subordinação hierárquica das regiões mais fracas aos centros oligárquicos mais poderosos, enquanto canais de uma globalização não menos devastadora das "independências nacionais", mas antidemocrática no quadro da normalização da precariedade dos governados e da legitimação através das razões da economia política dominante do exercício de um poder político cada vez menos limitado pelos seus responsáveis e aparelhos de direcção.

La doble crisis financiera y económica está imprimiendo un fuerte cambio en el desarrollo político de la Unión Europea. A pesar de las buenas intenciones del Tratado de Lisboa de potenciar las instituciones comunitarias, la realidad es que la crisis está reforzando más que nunca las soluciones nacionales. Alemania, Francia y Reino Unido, con distintas combinaciones bilaterales, según las circunstancias, pesan más que nunca en los designios de la Unión. (…) Los intereses nacionales eclipsan los intereses europeos. El ejemplo de Alemania es paradigmático. Merkel retrasó dos meses la ayuda de la UE a Grecia, agravando la crisis del euro, para no dañar a su partido en las elecciones del pasado mayo en Renania Westfalia, aunque igualmente las perdió . Ahora la UE se ve condicionada por lo que ocurra en los comicios del 27 de marzo en Baden-Württemberg, en los que Merkel corre también grandes riesgos.
"La crisis de la zona euro está cambiando la forma de funcionamiento de la Unión Europea", asegura Katinka Barysh, investigadora del Centre for European Reform. Barysh sostiene que se están reforzando unas tendencias que ya se habían observado en la última década: "Un cambio hacia una Unión en la que los Gobiernos están en el puesto de mando, los grandes países importan más que los pequeños y muchas decisiones son tomadas por subconjuntos de Estados". En su opinión, la crisis "ha debilitado también la alianza franco-alemana y revelado el crecimiento del sentimiento del euroescepticismo alemán". (…)La crisis está agudizando esta percepción de la pérdida de peso de la UE en la escena internacional. Las expectativas económicas revelan que la Unión va a la zaga. Con un crecimiento del 1,7% este año, se sitúa muy por detrás de Estados Unidos (2,6), Japón (2,8), Brasil (7,7), India (9,7) o China (10,4). El desempleo afecta a 23,1 millones de ciudadanos. Los europeos tienen razones para estar preocupados y tampoco ven en la UE ninguna voz más inspirada que las que oyen sus países.

25/11/10

De Livrão a Aldrabão (2) - uma glosa à boleia de Ruy Belo

Assim como uma memória reatada a partir do post do Luís.

Soneto Superdesenvolvido

É tão suave ter bons sentimentos
consola tanto a alma de quem os tem
que as boas acções são inesquecíveis momentos
e é um prazer fazer bem


Por isso se no verão se chega a uma esplanada
sabe melhor dar esmola que beber a laranjada
Consola mais assim viver no meio de muitos pobres
que conviver com gente a quem não falta nada


E ao fim de tantos anos a dar do que é seu
independentemente da maneira como se alcançou
ainda por cima se tem lugar garantido no céu
gozo acrescido ao muito que se gozou


Teria este (se não tivesse outro sentido)
ser natural de um país subdesenvolvido

Ruy Belo, Homem de Palavra[s], Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1969.

Ontem

Dois problemas maiores de qualquer acção de luta habitam, por regra, nas tentações na hora do seu balanço. É a da chapa gasta dos burocratas louvaminhas que coleccionam "sucessos da luta de classes" como se fossem cromos da bola. Também a dos cépticos sistemáticos que pedem mais além de mais. Assim, um balanço de uma greve geral é um apelo irresistível aos semeadores de lugares comuns e de estereótipos. Contra a corrente, o Rui Bebiano apresentou um conjunto de notas de reflexão sobre a greve geral de ontem que merecem serem fios para discussão.

O melhor da greve geral foi o envolvimento de novos sectores laborais normalmente relapsos a participarem neste tipo de iniciativa. Factor positivo, a que nem o empolamento cretino dos “mais de três milhões de grevistas” retira significado. Tanto mais que foi evidente que a greve geral se não foi máxima no sector público foi, isso sim, mínima no sector privado. E se revelou novas disposições de participação e luta, também salientou a forma enraizada como estão acantonadas as resistências à luta e à partilha de esperança em efeitos de mudança (a esquerda revolucionária e os sindicatos continuam incapazes de indicarem alternativas e muito menos de as construirem). E é por esta minha interpretação da semi-decepção na ressaca sobre a greve que julgo que o Rui Bebiano onde viu limitações por ausência de acções complementares (dando visibilidade e participação pública ao evento) ao acto grevista propriamente dito elevou as suas expectativas acima das possibilidades pelas limitações da greve em si mesma. As insuficiências estiveram “dentro da greve” e não por esta “não ter saído à rua”.

(publicado também aqui)

Contributo para uma discussão teológica que não chegou a haver mas com o tempo lá chegaremos quiçá (II)

Crónica de uma ocupação terminada

Durou cerca de 24 horas a ocupação de uma casa devoluta, propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, onde se servia sopa e faziam planos. Todos sabemos o que esperar daqui.
O prédio (em cima da sede da ILGA) continuará vazio e será provavelmente emparedado, como aconteceu na Rua do Passadiço. Daqui a uns anos, quando o PDM deixar de ser um problema e todos os cordelinhos certos tiverem sido puxados, aparecerá ali um qualquer hotel («de charme») ou um luxuoso condomínio.
Entretanto, a luta continua e o jantar popular desta noite decorrerá no Espaço RDA 69 (Regueirão dos Anjos, nº69). A greve não pára aqui. Eis a notícia do Público. Parece que desta vez pediram a jornalistas que escrevessem sobre o assunto. Já fazia falta.

Entenderem-se “com recato”, pois claro

Diogo Feio, do CDS/PP, no JN:

Nos próximos tempos, para além da contenção no sector público, Portugal vai necessitar de reduzir os seus custos de trabalho, o que pode passar por maior flexibilização laboral e uma reforma do sistema de Segurança Social. Vamos precisar de profundas reformas estruturais em áreas com a Educação e a Justiça. Teremos de baixar os custos da burocracia. Será natural ter de repensar o sistema de subsídios.
Muitos outros aspectos terão de fazer parte dos programas reformistas (e a eles voltarei mais tarde) mas hoje pretendo analisar as necessárias condições políticas. Portugal tem, actualmente, três partidos com vocação de Governo. Terão de ser eles a assumir, de forma duradoura e em conjunto, o caderno de encargos. Para isso é necessário que com recato se entendam sobre um conjunto de linhas gerais.


Ora aqui está a medida de transparência política preferida pela direita. “Com recato”, diz o Feio.

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De Livrão a Aldrabão

Há dois anos, apareceu por aí a bela ideia do Livrão: livros escolares já usados poderiam vir a ser úteis para mais crianças.
Agora, aguçado engenho pelas necessidades da crise, alguém se lembrou de iniciativa parecida, mas com uma diferença crucial: a coisa dá dinheiro. Na Bertrand, podemos oferecer livros às criancinhas e aos idosos desvalidos. Com um senão: têm de ser livros comprados na dita cuja Bertrand. De Maria Barroso à Rebelo Pinto, já se multiplicam as madrinhas deste natalício conto de ganância e esperteza saloia.
E não me venham dizer que é o que faz o Banco Alimentar nos supermercados; se os livros oferecidos pudessem ser em segunda-mão, tal iria aumentar a adesão e os resultados da iniciativa – enquanto que os géneros alimentícios não ficam lá muito agradáveis depois de usados.
Um dia, alguém ainda vai legislar a sério sobre estas manobras de marquetingue chunga; no Reino Unido, por exemplo, o uso e abuso das boas causas tem regras apertadas e mais que justificadas.
 Dei por isto no interessante Horas Extraordinárias.

Terá começado uma guerra civil?

Em pleno Rio de Janeiro, já rodam os blindados.

Bad times are comin and I reap what I don't sow

As sopas de S. Lázaro



"Cria e semeia, viverás com alegria!"
Provérbio popular.

Por quê neste dia de greve geral?
Ao encetarmos esta iniciativa neste dia, pretendemos mostrar-nos solidári@s com toda a gente que luta por uma melhor qualidade de vida. Contudo temos uma proposta que, mais do que o acto de pedir algo a um terceiro, se constitui já como uma satisfação da nossa necessidade. Não pedimos nem ao patrão nem ao governo aquilo de que necessitamos, mas organizamo-nos com os nossos companheiros e as nossas companheiras de forma a sermos senhores e senhoras das nossas vidas.
Propomos a tod@s que se organizem e tomem nas suas mãos, o peso mas também o fruto do trabalho colectivo. Como incentivo poder-se-ão dar exemplos de várias iniciativas de trabalhadores e trabalhadoras que assumiram nas suas mãos a gestão do respectivo trabalho, desde o norte de Portugal até à Argentina.

Por quê sopa?
A sopa é desde sempre uma base da alimentação humana, feita a partir de ingredientes simples que podem ser cultivados em qualquer espaço, desde o quintal das traseiras até aos espaços verdes públicos. Como tal é uma solução simples, barata e acessível, para muita gente que começa a sentir dificuldade até para se alimentar.
No nosso caso iremos oferecer sopa a qualquer pessoa que a deseje e que apareça neste espaço que agora se recupera, numa perspectiva de partilha humana de recursos, solidariedade e construção comunitária de alternativas, seja económica seja social.

Por quê ocupar?
Em Portugal existem mais de 300.000 fogos vazios. Lisboa tem 4.600 fogos vazios considerados devolutos e que, se estivessem ocupados, dariam para acolher mais de 25 mil pessoas, muitos dos quais pertencem à Câmara Municipal de Lisboa ou à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Ao mesmo tempo que passamos por estes fogos nas ruas, encontramos milhares de pessoas com dificuldades em juntar o dinheiro necessário para comer satisfatoriamente, cruzamo-nos com um número crescente de pessoas sem-abrigo e tomamos conhecimento de pessoas, colectivos ou associações que desejam realizar trabalho ou iniciativas sociais, culturais ou ecológicas sem que tenham um espaço para isso.
A habitação existe para satisfazer a necessidade humana de abrigo. É um local privilegiado para nos reunirmos durante as refeições, repousarmos, convivermos, debatermos e aprendermos em conjunto. A existência simultânea de milhares de fogos devolutos e de pessoas com vontade de realizar iniciativas com interesse para a comunidade sem que encontrem um espaço para tal, revela que a habitação não está a desempenhar o papel social que lhe cabe.
Sendo esta uma situação que se arrasta há largos anos, chegou o momento de alterar esta situação. Ocupamos um edifício da CML para recriar nele valor social, oferecendo sopa quente neste dia de greve fria.

Autogestão Já!

Colectivo Matéria Bruta

Ordem e Progresso



24/11/10

Também acerca de letras do hino da dependência do inevitavelmente fatal

Isto fez-me lembrar de algo que escrevi há uns tempos - porque é que se diz que os empresários criam postos de trabalho e nunca se diz que os trabalhadores criam postos de investimento?

E também de outra coisa - quando se fala de potenciais trabalhadores que não conseguem arranjar emprego, vem frequentemente a conversa de "têm que melhorar a sua formação para corresponderem ao que os empregadores procuram"*, ou "têm que ser mais flexíveis e estarem dispostos a procurar trabalho noutros ramos", ou coisa assim. Quando se fala de empresas que não conseguem arranjar trabalhadores (e de vez em quando aparecem notícias sobre isso), a conversa nunca é "as empresas têm que alterar a sua maneira de funcionar de forma a corresponder ao que os potenciais empregados procuram" - costuma ser sempre qualquer coisa relacionado com subsídios de desemprego ou RSI "demasiado generosos".

* eu lembro-me de, quando andava no secundário, a dado altura ter visto na escola um anúncio sobre qualquer coisa (imagino que fosse uma formação qualquer) que tinha como título (ou uma das rubricas, ou coisa assim...) "O que procuram os empregadores"; nunca vi formações (não digo que não existam, mas nunca as vi) sobre o tema "O que procuram os empregados" (a única excepção a essa regra é alguns artigos que li sobre "tecnologias de informação" que andam à volta do tema "como conseguir que os melhores programadores queiram trabalhar na sua empresa"; mas fora isso costuma ser assumido como um dado a existência de trabalhadores disponíveis para trabalhar e apenas à espera que apareça uma empresa a querer contratá-los)

O jogo ideal para um dia de greve

Burger Tycoon é o jogo online que nos coloca ao leme de um gigante da fast food. E dá-nos todas as ferramentas necessárias para o sucesso global: do envenenamento dos solos às overdoses de antibióticos nas nossas vacas, passando por corrupção, BSE, atentados ambientais vários... um fartote, enfim.
Resumindo: o jogo perfeito para o militante carente de diversão politicamente empenhada.

Uma das letras do hino da dependência do inevitavelmente fatal

Alberto Castro, no JN:

Acabar com os ricos não resolve nenhum problema. Aos ricos exija-se mais investimento que induza crescimento e mais empregos. Sem uma base económica sólida não conseguiremos resolver os problemas sociais. Sem uma economia competitiva não será possível aumentar, consistentemente, os salários e o nível de vida. Esse é ciclo natural das coisas: a riqueza e o rendimento não se inventam, criam-se. O "como" poderia ser uma boa plataforma de convergência entre trabalhadores e patrões. O resto é quase só fumaça.

Repare-se na distribuição “perfeita” de “funções”: Aos ricos, o investimento, o crescimento, a criação de emprego; aos pobres, a procura, quando há e onde há, de salário e nível de vida, ou então ficarem-se pela “fumaça”. É esta repartição hierarquizada de “funções”, no conceito ideológico que lhe subjaz, e só esta, que alimenta a oratória dos defensores da “convergência entre trabalhadores e patrões”. Ou seja, na continuação do jeito que seja como foi.

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Os ciber-amarelos

Como na farmácia, aparece de tudo:

Criado ontem, segunda-feira, o grupo aberto "Eu digo 'Não' à greve geral de 24 de Novembro" tem por objectivo, diz o criador Nuno Pires, "juntar as pessoas que se opõem à realização da greve" e "despertar a reflexão sobre o tema". Porquê? A greve, diz o consultor de 28 anos, "deve ser o último recurso dos trabalhadores para a obtenção de melhores condições junto dos seus empregadores" e a maneira como esta foi organizada, pode ler-se no grupo, foi incorrecta. "Os sindicatos escusaram-se à negociação, rejeitaram o diálogo. Optaram, de imediato, por avançar para a greve", continua.

"Hoje em dia a greve parece ser o primeiro recurso dos trabalhadores, mesmo antes da via negocial", entende Nuno Pires. "Caso estas centrais estivessem, de facto, interessadas em defender os direitos dos trabalhadores, teriam aproveitado esta oportunidade para, através da negociação, diminuir alguns dos aspectos que irão afectar os trabalhadores que representam", explica.

Por isso mesmo, e "no momento que o país atravessa", "caracterizado por uma elevada pressão por parte dos mercados financeiros", a "imagem que é enviada ao exterior é altamente prejudicial", entende o consultor. Fazer uma greve agora, diz Nuno Pires, é "brincar com o fogo", pois a iniciativa vai apenas tornar-se "mais um factor de instabilidade", "que vai colocar Portugal ainda em pior posição face aos mercados internacionais". Uma paralisação nacional é, então, considerada "um atentado a Portugal e ao direito à greve".

Este foi o primeiro grupo criado por Nuno Pires. Escolheu o Facebook Groups pois entende que esta é, hoje em dia, "a via mais rápida de divulgar uma opinião, junto do maior número de pessoas possível". O grupo ainda não tem, no entanto, muita representatividade no Facebook, contando, para já, com 29 membros.


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23/11/10

Viva a Greve Geral

Canção anarquista ídiche contra a repressão.

Os vampiros não descansam

O PS conseguiu fazer aprovar uma alteração à norma dos cortes salariais para os trabalhadores das empresas públicas ou entidades públicas empresariais.

Descodificando: a clientela política colocada nas empresas controladas pelo Estado tenta pôr-se a salvo dos cortes salariais na função pública.

Com o apoio do PSD.

Ambos os partidos estão podres até ao tutano, invadidos por vampiros, apenas interessados em sugarem o mais que puderem. É altura de varrer PS e PSD para o caixote do lixo.

Contributo para uma discussão teológica que não chegou a haver mas com o tempo lá chegaremos quiçá (I)


À atenção de Miguel Serras Pereira

Animais à solta em Israel


A nova estratégia dos colonos israelitas é atacar palestinianos e as suas propriedades como retaliação por cada colonato que for demolido. Olivais, automóveis, pessoas. Nada está a salvo das bestas que não descansarão até que o último árabe saia da terra que a sua superstição de Estado toma por prometida. Tudo serve para expulsar estas famílias: violência, vandalismo, julgamentos aberrantes – como este, que levou à expulsão de uma família palestiniana da sua casa e à instantânea ocupação da mesma por colonos. É bom que nos lembremos disto sempre que nos falem da "única democracia do Médio Oriente".

Diana e Pedro: Trovas d'Embalagem para a Greve Geral

 Aqui ficam as trovas d'embalar da Diana e do Pedro — para que amanhã não falte embalagem à greve geral. Do álbum os dois lados da cassete (2004).

trovas d'embalar

Belmiro gera riqueza
a partir do seu umbigo
nunca explorou ninguém
de todos é grande amigo

vai ao centro de belém
o colombo é uma beleza
a partir do seu umbigo
Belmiro gera riqueza

champalimou seu imposto
até ficar pequenino
já foi indemnizado
mas ai que tempo perdido

dizem que gosta de fado
e de rei morto rei posto
até ficar pequenino
champalimou seu imposto

Uma pedrada contra o charco fatalista



Não tenho dúvidas: a greve geral de amanhã será o momento mais alto de cidadania colectiva dos últimos anos. Tem de ser, e será, tão forte que até os surdos políticos a vão ouvir.

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22/11/10

Avenida da Liberdade


Já várias coisas foram escritas e afirmadas sobre a manifestação de Sábado e penso que o essencial vem sendo dito. Queria contudo acrescentar alguns apontamentos.
1- É verdade e eu pude ver, que elementos do PCP solicitaram ao Corpo de Intervenção que bloqueasse e vigiasse os movimentos de manifestantes que não estavam enquadrados pelo partido ou por um dos seus apêndices.  Como Vítor Dias já o veio negar em várias caixas de comentários, gostaria de esclarecer que era João Dias Coelho, membro do Comité Central e da Comissão Política do PCP, quem estava a assumir essa tarefa (ei-lo na fotografia aqui em baixo).
Fazia-o tanto com o recurso a palavras («são estes aqui») como a gestos (desenhando com os braços a forma de um cordão e assinalando com um dedo apontado a sua localização privilegiada), demonstrando perceber perfeitamente o fraquinho (se assim lhe podemos chamar) dos agentes da PSP  pela linguagem corporal.


2- A um manifestante - aparentemente galego, a julgar pelo seu sotaque - que discutia com um elemento do serviço de ordem (esse mesmo jovem barbudo e calvo que garantia perante as câmaras que aquele sector da manifestação não estava «credenciado») a conveniência e legitimidade das suas funções, foi afirmado que ele deveria ir «para a sua terra», o que não deixa de ser instrutivo no que respeita à habitual tensão entre internacionalismo e patriotismo que anima a relação do PCP com o conjunto da humanidade.
Internacionalismo, naturalmente, porque todos somos afectados pelos grandes acontecimentos da política mundial. Patriotismo, está bem de ver, porque devemos demonstrar os nossos sentimentos a esse respeito única e exclusivamente na nossa terra.

3- Por último, toda esta triste história de quem se antecipou a convocar a manifestação e ganhou por isso o direito a governar a Av. da Liberdade durante um final de tarde, convoca uma outra, um pouco mais dramática (primeiro em tragédia e depois em farsa, avisava o velho).
Quiseram o acaso e a fortuna que existam, fora do partido comunista português, vários comunistas portugueses, que têm destas coisas uma ligeira reminiscência ou, pelo menos, a informação suficiente para o relembrarem a quem o esquece. Em 1982, a União de Sindicatos do Porto (CGTP) quis comemorar, como o fizera nos anos anteriores, o feriado do Dia do Trabalhador na Praça da Liberdade. Aconteceu então que a UGT comunicou ao Governo Civil do Porto que desejava organizar ali a sua própria comemoração e que este resolveu dar preferência ao seu pedido. O resto, bom, o resto é história
"O Governo, numa atitude de força e provocação, montou na Baixa do Porto um aparato policial que envolveu centenas de polícias e uma companhia completa da Policia de Intervenção vinda directamente de Lisboa, armada de espingardas metralhadoras e que cerca das 23h30 investiram à bastonada e a tiros de rajada sobre os milhares de trabalhadores que pacificamente realizavam a sua festa. [...]
Dois operários, Pedro Vieira e Mário Emílio Gonçalves, foram assassinados a tiro e dezenas de outros foram feridos, muitos em estado grave, pela polícia. Pedro, delegado sindical da CGTP e empregado têxtil foi atingido nas costas. Mário, vendedor ambulante, um mero curioso, foi atingido na cara. Ninguém foi culpabilizado pelas mortes, nem o próprio autor político, o então ministro da Administração Interna Angelo Correia."

4- Enquanto descia a Av. da Liberdade, e como estava no ponto mais recuado da cauda da manifestação, tive a oportunidade de ouvir o comandante do corpo de intervenção perguntar a um superior, pela rádio, o que fazer com aquelas centenas de pessoas sequestradas pelos seus agentes. Dizia ele que o melhor e mais fácil era mesmo deixa-los ali mais umas horas, para não correr risco algum. O Estado de Direito democrático está por isso em boas mão e todos podemos dormir descansados. pensando que a nossa liberdade está protegida. A qualidade do jornalismo também está assegurada, como o demonstra Paulo Moura, procurando ultrapassar Valentina Marcelino em zelo policial (não vai ser fácil, Paulo).
A próxima militante da JCP que for obrigada a despir-se numa esquadra poderá encontrar algum consolo na ideia de que a polícia não o faz por mal, mas apenas por estar a ser instrumentalizada pelo governo ao serviço das suas políticas de direita. Ainda vamos ouvir dizer que eles são apenas trabalhadores fardados. O que começa a fazer algum sentido, considerando a predisposição dos serviços de ordem para agir como polícias à civil. Eis uma boa imagem para as duas faces do «partido da ordem»: uns policiam os nossos momentos de resignação, outros administram os nossos momentos de revolta. O círculo fecha-se. Até ao dia.

Commoniversity

Fazer política com (o) conhecimento. Organizado pela Universidade Nómada e a Traficantes de Sueños em Barcelona, no fim desta semana. Ora vejam.

Bolseiros, investigadores, professores e estudantes em greve!

A greve geral do próximo dia 24 de Novembro é um momento privilegiado para questionar as respostas políticas, manifestamente desequilibradas, a um quadro económico de crise. Mas a greve pode assinalar também uma insatisfação mais difusa, prolongada, que atinge a relação das pessoas com o seu trabalho, mas que cada vez mais invade outras dimensões do quotidiano. A imposição de uma austeridade assimétrica, que protege os mais fortes, restringe progressivamente a autonomia pessoal e a possibilidade de escolha, corrói as capacidades de definir projectos de vida individuais e colectivos, destrói direitos que constituem a base elementar de uma sociedade minimamente justa.

É indiscutível que em Portugal se tem vindo a fazer um esforço de investimento na ciência. Todas as pessoas envolvidas na criação científica não deixam, no entanto, de ser afectadas por dinâmicas sociais mais alargadas que, atingido a maioria da população, se traduzem na erosão progressiva de direitos e na imposição de lógicas de organização de trabalho que assentam numa progressiva precariedade. Tal paradigma, sempre apresentado como uma inevitabilidade, constitui uma forte ameaça à autonomia do conhecimento científico.

Etapa de uma resposta colectiva ao futuro de inevitabilidades que nos é proposto, a greve assinala também a visível necessidade de criar formas de debate que permitam pensar modos mais eficazes de enfrentar estes problemas. Por isso, dia 24 fazemos greve.

A declaração já ultrapassou as 400 assinaturas; assinem aqui e divulguem junto dos colegas

“Estamos”? Dobre a língua, se faz favor




O presidente do conselho de administração da Sonae, Belmiro de Azevedo, manifestou hoje, segunda-feira, preocupação quanto ao Estado do país, afirmando que "estamos mais pobres" e remetendo uma posição sobre o Orçamento do Estado para depois da sua aprovação, na sexta-feira.

(publicado também aqui)

Ligação directa com distinção e louvor para um post sem título de Luís Januário

Este post, no blogue A Natureza do Mal, do Luís Januário diz boa parte do essencial. Por isso, aqui fica na íntegra, com a devida vénia e uma ponta de inveja por quem consegue escrever assim:

Eu não estive na manifestação. Mas posso ter uma ideia aproximada do que se passou a partrir de três relatos: o ponto de vista da polícia, que Paulo Moura, acolitado pelo especialista americano em contagem de multidões, transmite no Público, a reportagem da sic e o texto de José Neves no Vias de Facto. Não estive na manifestação porque a minha forma física actual não recomenda ficar muito tempo com o joelho de um polícia nas costas. Depois porque não saberia onde me integrar: como é que se pode ter um pensamento original e participar numa manifestação que leva à frente o serviço de ordem do PC? Se estivesse nas margens escolheria o sector dito anarquista. As pessoas pareciam mais bonitas e a sua indignação mais genuína. Mas toda a multidão tem por detrás o seu maître a penser, o seu organizador, o que confere um sentido global ao conjunto de opiniões. E não poderia ficar um segundo como figurante da estratégia islamofila do Renato Teixeira.

Dito isto, importa considerar que a manifestação foi parte da encenação do Parque das Nações. O sistema político ocidental transporta ainda como reliquat estes epifenómenos, através dos quais se mostra uma esquerda moribunda, impotente, pavloviana que nem sequer o sistema político constitucional sabe utilizar (como sugere José Neves seria uma exigência prioritária levar o sinistro Anes ao Parlamento).
A gente comum, os europeus que dos escombros deste saldo hão-de construir ou não uma outra coisa, ficaram em casa, desviados por Sacavém.

*Sobre este tema veja-se também o interessante diálogo entre Zé Neves e Vítor Dias (lui-même) na caixa de comentários de Vias de Facto.

Uns blindados à imagem do nosso governo

O novo conceito estratégico de defesa da ordem em Portugal: as armas de papel. Anuncia-se a chegada de dissuasores terríveis. Na realidade, nada aparece. Mas, entrementes, os facínoras anarquistas que nos iam invadir ficaram transidos de medo. Os mais atrevidos foram catados pelas alfândegas, que lhes apreenderam os perigosos panfletos, e pelos gorilas partidários, que trataram de os impedir de se juntarem à luta.

PSR (1978-2010)

O Partido Socialista Revolucionário (PSR) foi um partido político português trotskista criado em 1978, durante o congresso em que a Liga Comunista Internacionalista (LCI) se fundiu com o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT). Em 1983 concorreu às eleições legislativas em coligação com a UDP, então frente eleitoral de um movimento maoísta, o PCP (R). Os resultados eleitorais são desastrosos. Em 1985, depois de um recuo organizativo, o PSR ganha novo alento, iniciando campanhas antimilitaristas e anti-racistas, especialmente dirigidas à juventude. Em 1987 participa nas eleições para o Parlamento Europeu, integrando nas suas listas candidatos independentes. Nesse mesmo ano e mantendo a linha de colaboração com independentes, inicia a publicação da Revista Combate em novo figurino. Em 1999, juntamente com a UDP e a Política XXI, esteve na origem da criação do Bloco de Esquerda. Nos anos seguintes, de uma extraordinária atenção aos temas lgbt, passa a uma estratégia de secundarização do tema, no quadro de um processo de construção da chamada esquerda grande. No mesmo processo, os seus dirigentes com maior visibilidade mediática apoiam a candidatura patriótica do republicano Manuel Alegre. Em Novembro de 2010, desfila pela Avenida da Liberdade com a assistência do serviço de ordem do PCP e o apoio da polícia de intervenção, que protege os partidos com assento parlamentar do perigoso radicalismo de esquerda: anarquistas, activistas lgbt, activistas ecológicos, o Major Mário Tomé, alguns militantes do próprio PSR. Se em 2006, o PSR extinguira-se enquanto partido político, transformando-se na Associação Política Socialista Revolucionária, APSR, nesta ocasião extinguiu-se politicamente. Sobram apenas algumas ovelhas negras fora do rebanho.

Conseguiram o que queriam: 80% de vermelho, 0% de negro e outras cores suspeitas

«Por muito que algumas televisões tentem esconder e manipular o que se passou, a verdade é que mais de 80% das dezenas de milhares de manifestantes estavam enquadrados por bandeiras do PCP. Mesmo que tentem mostrar apenas dirigentes do BE, quem lá esteve sabe a verdade. A luta continua.»
Aqui está, pela voz de Ilda Figueiredo, o que é mesmo importante na luta: dominar, monopolizar, agitar a nossa bandeira. A luta, a seguir assim, vai mesmo continuar até à irrelevância final – o que é pena.


Obrigado ao Ricardo Coelho pela dica.

Eu também tenho uma versão dos acontecimentos

O Imprensa Falsa passou um dia com um activista anti-nato, defensor da paz, das drogas livres, dos direitos dos animais, e contra os transgénicos, casacos de peles e organização mundial de comércio.
Pouco passava das nove da manhã e mal tínhamos posto o pé na rua, já estávamos a comer na boca. O dia começou por volta das oito da manhã, quando fomos acordados por um despertador de pano alimentado a energia solar. Tomámos banho todos com a mesma água e escovámos os dentes com a roupa interior do dia anterior.
Às nove da manhã estávamos a sair do prédio, mas sem bater a porta, pois está provado que o bater de uma porta em Benfica pode incomodar a migração dos colibris nesta altura do ano.
Logo à saída, poucos minutos passavam das nove da manhã, dois cavalheiros encorpados não gostaram da nossa oferta — uma flor pela paz — e sovaram-nos até o activista perder os sentidos. Nós, sem experiência, ficámos muito preocupados, mas o activista diz que é normal perder os sentidos quatro a cinco vezes por dia, por isso deixou-nos à-vontade.
Mais à frente, já no autocarro, a recusa em pagar o bilhete levou-nos à prisão, onde cinco polícias puseram em prática os conhecimentos adquiridos num workshop de defesa pessoal. O activista perdeu os sentidos enquanto discutia “direitos e liberdades” com o subcomissário Garcia.
Já levemente macerados, dirigimo-nos em plena hora de almoço a um McDonald’s para denunciar os crimes de guerra perpetrados pelos norte-americanos, mas a acção foi abruptamente interrompida por um jovem do 5.º ano que arrumou o activista com um tabuleiro.
Já almoçados — os putos obrigaram-nos a comer cinco hambúrgueres duplos sem nos deixarem beber um único copo de água — seguimos para uma manifestação anti-Nato do Largo Camões, que acabou, como se esperava, com o activista inanimado depois de uma carga policial. Ainda por cima apareceu o subcomissário Garcia, que mal o viu quis logo continuar a “argumentar”.
Regressámos então a casa, não sem antes passar pela embaixada de Israel com cartazes pró-palestinianos. Cinco minutos depois de começar o protesto, e supostamente por causa do barulho, levámos com um balde de água. O activista fez choque térmico e perdeu os sentidos.