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Tuesday, August 02, 2011

Esquizofonia: Sinfronia da Alvomerda

Composição de uma esquizofonia baseada na Sinfonia da Alvorada. O que está em questão: o oba-oba, o monumentalismo, a sacralização do Estado, a verborragia e a ladainha do Progresso. Os procedimentos: Parte 1: alterar aqui e ali pra trazer à tona o insólito, grotesco, encoberto. Parte 2: mudar alguma coisa pra pensar o verdadeiro herói do Cerrado, não O Homem e sim O Playboy. Nas citações de Lúcio Costa e Niemeyer (Horemheb e Aracnodactilia): distorcer as palavras para esquizofrenizar a paranóia do signo despótico. Parte 3: Hiperbolizar a hipérbole: megalomanizar a megalomania: o resulto é expor o seu irrisório. Trocar os locutores por locupletores, fazer o texto falar. Parte 4: Despojar, que no caso torna até mais insano, se é que isso é possível. No CantoCão Picotar as frases, fazer a sinfonia gaguejar. Parte 5: enfim, o couro procurando o nome da cidade de suas taras.



I O Deserto

No princípio meio termo
A porra de um espaço (vazio?) sobre as máguas
O faraó ejacula ao vislumbrar o infinito
No princípio era o término
O céu azul-olho-do-cu, a terra vermelho-hemorróidas
E as fezes verdes do deserto.
Já era velha a solidão banhada
O que os rios têm a ver com quem ama ou odeia
Por entre as matas trituradas?
Não havia ninguém (ou será que tinha?)
Mais parecia um povo inexistente
Dizendo coisas sobre nada.
Os campos pediam perdão ao sem-alma
Pareciam gritar, e a voz que vinha
Das grandes podridões, do fundo
Dos colhões crepusculares de Akhenaton
Nem parecia mais ouvir os passos
Da tv bandeirantes, a rude pioneira da borracha
Que, em busca de ouro e diamantes,
Metendo bala nas quebradas,
A tristeza de seus gritos e o tropel da alegria desta sinfonia
É de bom tom um verso sobre a violência contra o índio,
Expandir essa porra muito além do limite dos tarados.
- Fernão Dias, Anhanguera, Borba Gato,
Serão os programadores dos cinemas desta terra,
Nenhum filme que preste
E do umidificador pra residência do Sr ministro!
Foda-se, já era. E da convergência
Das três grandes bacias
Dos esqueletos de três gigantes militares:
Amazonas, São Francisco, Rio da Prata ;
Telhado de vidro do planalto iluminado
Partiram também as velhas tribos malferidas
E as feras aterradas.
E só ficaram poucas palavras grandiloqüentes
Fora dessa sinfonia sem-termo como infinito descampado
Onde, nos campos destinados ao Setor de Diversões
Se ouvia o grito da perdiz
A que respondia nos estirões de mata à beira dos campos de golfe
O pio melancólico da família JK.
E vinha a noite. Nas campinas celestes
Rebrilhavam mais próximas as estrelas nas noites de Lei Seca
E o Cruzeiro do Sul resplandecente
Parecia um penduricalho
A ser usado como luminária nos shopping centers pátrios:
Também precisamos falar da Grande Cruz alçada
Sobre a noturna mata do cerrado
Para abençoar os novos sacerdotes
O desbravador ousado
O ser de conquista
O Playboy!


II O Playboy
Sim, era o Playboy
Não tem escapatória, saca só
É o novo reizinho dessas ruas. Tinha nos olhos
A força de um propósito: vencer
E tocar fogo nos representantes do povo inexistente lamentado na primeira parte desta sinfurnia
E meter os pés pelas mãos
Já não traziam outras armas
Fora o carro rebaixado. Sim,
Era finalmente o Homem: o Fundador. Trazia no rosto
A antiga determinação dos bandeirantes,
Mas já não eram o ouro e os diamantes o objeto
De sua cobiça, papai já me deu tudo
Queria um farol de milha crepuscular, a iluminar em sua fuga para a noite
Os soturnos monstros e feras do expoente.
Depois mirou as putas, a luzirem
Na imensa abóbada suspensa pelos jatos de extintor de incêndio
Pelas invisíveis colunas da treva nos pontos de ônibus.
Sim, é o Cara...
Vinha de longe, através de muitas solidões,
Lenta, penosamente. Sofria ainda da penúria
Mental, da indolência dos desejos,
Do cansaço da bandidagem enredada
Nas vagabundas a se entredevorarem na luta subterrânea
De suas raízes gigantescas e no abraço uníssono ao seu carro
E o cartão de crédito. Mas agora
É quem manda nessa porra. Seus pés plantaram-se
Na terra vermelha dos reis da bossa nova. Seu olhar
Descortinou a extensão dos sonhos vis de Akhenaton
No círculo infinito do horizonte. Seu peito
Encheu-se do ar puro da moral. Sim, ele plantaria
Sua pica no deserto de uma cidade muita branca e muito pura...

Citação de Horemheb
- "... comi uma flor naquela turra agruste e folidária…"
“Uma cidríade ergugitada em plana soleidão do descapado”.

Horemheb
- " ... comi uma massagem permanunte de greta e poessaia..."
“- Uma celeidade que ao sul vestasse um vestido de nevoado”

Horemheb
- " ... em que a arquiterrortura se destaquisse bronca, como que flatulando na imensa escrotidão do planálito..."
- Uma secrecidade que de dia trombalhasse alergicamente”

Horemheb
- "…numa atmersfera de dogna monalmentalidade..."
- E à nulte, nas hidras do langror e da sudade

Horemheb
" ... numa laminação funérica e drumática..."
“- Dormíssil num Pelácio de Alvomerda!”

Horemheb
- " ... uma cicatricidade de zumens fulizes, ímens que mintam a vidinha em toda a sua planitude, em tuda a sua esfragilidade; comens que comprem-e-vendam o falor das coisas púrias..."
“E que fóssil como a vertimagem do Crazeiro
No caralhoção da pétria derrumada.”

Citação de Aracnodactilia
- "…nascerida do gasto primordiário de quem assinula um lagar ou dele trona posse: dois feixos que se cruzam no ângulo do reto, ou soja, o próprio sinal da cruz."



III Nem todo mundo que mora em Brasília é Candango

Alguém teria que trabalhar e num ritmo novo, imenso:

Para tanto, era necessário obrigar todas as forças vivas da Nação, todos os homens que, com confiança no trabalhar e vontade de futuro, pudessem erguer, num templo novo, um novo Templo.
E, à imensa e gutural e poderosíssima voz faraônica sanguinária sanguinolenta e imensamente vomitante tonitruante reverberante e verborrágica que açoitava o povo para a gigantesca tarefa absurdamente grandiosa e inaudita, inédita e oceânica, sublime e monstruosa, maior do que todos os desertos, todas as florestas começaram a chegar de todos os quinhentos mil milhões de cantos da imensa e gigantesca e enorme pátria desproporcional em sua elefantíase em seu inchaço e sua infinitude e sua imensurabilidade e sua inumerável pança de leviatã que comeu megatoneladas de ultrafermento com Síndrome de Marfan, os trabalhadores: os homens extremamente simples e quietos ao extremo, calados como se um faraó tivesse comido suas pequeninas línguas, olhos no chão, fechados, suados, com pés de raiz arrancada à foice da terra, rostos de couro forjados no imenso curtume da nação vencedora entre as vencedoras e mãos de pedra polida a dentadas pelos caninos gigantescos de aço de Akhenaton, e que, no calcanho, em carro de boi, em lombo de burro, em paus-de-arara, por todas as formas possíveis e imagináveis, por telepatia, por abdução, na velocidade da luz, deitados e amarfanhados como ferro fazendo-se de porrilhões megaquilométricos de trilhos de trens onde vinham os heróis fundadores tocando bossa nova e tomando uísque com o faraó, montados em elefantes, em girafas, em onças, voando no dorso de pterodáctilos, começaram a chegar de todos os dez mil milhões de lados da imensamente imensa patriona no aumentativo dos aumentativos, sobretudo sem Norte; foram chegando do Grande Norte, do Meio Norte e do Nordeste, e Noroeste e Sudeste e Sudoeste e Sul e, Super Norte, Infra Sul, Lesteoeste, Sulnorte, Desnorte, Sulsul, Nortenortedeste, Centro, Descentro, Meio Centro em sua simples e áspera doçura; foram chegando em grandes levas do Grande Leste, da Zona da Mata, do Centro-Oeste e do Grande Sul, do Espaço Sideral, dos Vales Perdidos, do Éden e do Fio da Navalha; foram chegando em sua mudez cheia de esperança vazia, muitas vezes deixando para trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de melhores dias mentirosas; foram chegando de tantos povoados, tantas cidades, tantas vias, tantas ruelas, tantos becos, tantas calçadas, tantas estradas, tantos quartos de hotel, tantos postos de gasolina, tantas viagens astrais na mente e no corpo do grande faraó cujo nome parecia cantar saudades aos seus ouvidos ínfimos, dentro dos antigos ritmos da imensa pátria alguém tinha que trabalhar...


Dois locupletores alternados:

- Boa Viagem! Marte! Saturno! Netuno! Mercúrio! Vênus! Júpiter! Sol! Lua Cheia! Lua Nova! Asteróides! Plutão! Vesúvio! New York! Paris! Triunfo! Aurora! Cometa de Halley! Disneylândia! Poeira Cósmica! Estrela Cadente! Buraco Negro! Inferno! Purgatório! Paraíso!

Locupletor 2
- Golgota...

Locupletor 1
- Que foram superchegando de todos os megalados da plurimensa ultrapátria...

Locupletor 2
- Para construir uma cidade branca e pura alguém tinha que trabalhar...

Locupletor 1
- E alguém tinha que ser feliz...



IV Deu trabalho no concreto

1 milhão de metros
100 mil toneladas
500 mil metros
2 mil quilômetros
1 milhão de metros cúbicos

1 milhão de metros
100 mil toneladas
500 mil metros
2 mil quilômetros
1 milhão de metros cúbicos

1 milhão de metros
100 mil toneladas
500 mil metros
2 mil quilômetros
1 milhão de metros cúbicos

60 mil
60 mil
60 mil operários

Música lancinante
Pungente
Matemática do progresso

60 mil
60 mil
60 mil candangos

A sorte está lançada
A ação é irreversível.



CantoCão

E ao crespúsculo dos ídolos, findo o labor do. Rudes mãos vaz... De dinheiro e os olhos cheios de horiz... Não têm fi... Partem os trabalhadores para o oblívio, na saudade de seus lares tão ausentes e de suas mulheres tão. O canto com que. Ainda mais que o sol-das-almas. Chamar as companh... Ficar para trás. Melhores di... Na moldura de uma por... Devem permane... Mãos cheias de... Olhos cheios de... Que se deixaram. Terras, serras, na esperança de. Ao lado de. Poderem participar também da. Cidade nascendo com as estre... Partir os companheiros. Busca do trabal. Pequena felici. Pequeno nada. Poder sentir brilhOlhar de. Esse mesmo. Agora, findo o labor do. Bando para. Solidão da noite que cai sobre o plllllla.


Citaçao de Akhenaton

" Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os oito olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino."


V Coural

Couro Couro Couro

Brasália, Brasélia, Brasólia, Brasúlia.
Brasália, Brasélia, Brasólia, Brasúlia.
Brasália, Brasélia, Brasólia, Brasúlia.
Brasália, Brasélia, Brasólia, Brasúlia.
Brasália, Brasélia, Brasólia, Brasúlia.

Brasal! Brasal! Brasal!


Tara de sol
Tara de luz
Tara que guarda no céu
A brilhar um sinal da cruz
Tara de luz
Tara-esperança, promessa
De um mundo de paz e amor
Tara de irmãos
Ó braseira ala mil
... braseira ala mil...
Tara-poesia de canções e de perdão
Tara que um dia encontrou seu coração

Brasal! Brasal!
Ai... Ai... Ai...
B r a s á l i a!
Dlem dlem dlem
Ui... Ui... Ui...