
Acerca de mim

- Felipa Monteverde
- Poeta por inspiração e imposição da alma... Uma pessoa simples, que vive a vida como se fosse a letra de uma canção, o enredo de um filme, a preparação para uma vida superior, à espera da eternidade e do encontro com o Criador.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Nasci a cantar
Há muito tempo
E essa menina agora é uma lembrança
Plangente de lamento.
Nasci a cantar
Nasci a cantar
Escondei-me a desgraça
Não quero chorar.
Antigamente eu era uma menina
Há demasiado tempo
E essa lembrança esconde-se entre lírios
De um jardim de tormento.
Nasci para rir
Nasci para rir
Quem dera a tristeza
Não queira cá vir.
Antigamente tudo era sonho e sina
Onde se escoava o tempo
E nunca como agora me surgia na lembrança
Um só sonho, um só momento.
Nasci tão alegre
Nasci tão alegre
Deixai-me assim estar
Que a vida é tão breve.
Antigamente houve uma menina
Nascida de um lamento
Lembrança fugidia, casto lírio
Plangente e sem alento.
Nasci a sorrir
Nasci a sorrir
Meu sorriso é fado
Que estou a cumprir.
Antigamente eu era uma menina
Mas foi há tanto tempo
Que perdi toda a lembrança e toda a mágoa
De um sonho que hoje invento.
Nasci a cantar
Nasci a cantar
As mágoas e penas
Que estou a penar…
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Ave à solta
que andava por aí perdido
e trouxe-o comigo.
Agasalhei-o
dei-lhe aconchego e calor
curei-o da solidão e da tristeza
e depois deixei-o ir
ave à solta no universo do amor…
(Felipa Monteverde)
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
O Natal não é ornamento
É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda
para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade
O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande
O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções
O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará
(José Tolentino Mendonça)
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
É NATAL!
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A toda a minha familia e amigos, a todas as pessoas que visitam os meus blogues e a toda a gente em geral, desejo um FELIZ NATAL!
(Eu sei que ainda é cedo, mas com os afazeres da Ceia de amanhã não sei se terei tempo de vir ao blog, por isso desde já aqui ficam os meus votos de Feliz Natal para toda a gente.)
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Tempo
e a vida é sempre o tempo, até que chegue a eternidade.
Eternidade, intemporal espaço de uma esfera de esperança
em que o tempo é apenas brincadeira de criança...
Felipa Monteverde
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Andei à chuva e ao vento
andei ao sabor da vida
perdi meu sonho no tempo
e quedei-me adormecida
dormindo sonos de outrora
sonhando versos de amor
com a alma sempre fora
do meu peito e nesta dor
de embalar melancolias
de lembrar tempos passados
na distância desses dias
que de mim foram tirados
pela vida, pelo tempo
pelo sonho, pela dor
de viver cada momento
lembrando um defunto amor...
(Felipa Monteverde)
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Barquinho que vais passando
No rio da minha terra
Quantos sonhos vais levando
Quantas marés vais matando
Como se foras pra guerra?
Lentamente, lentamente
Olho o rio e olho o mar
Na distância de um batel
Que nunca me leva nele
Por ter medo ao meu olhar.
Olha o barco sem barqueiro
Que vai vogando no rio
Onde está o marinheiro
Destemido e aventureiro
Que matará meu fastio?
O rio passa e não passa
Só eu passo e ele não
Que meu sonho o embaraça
E ele finge ser vidraça
Com cortinas de ilusão.
Olho o barco, olho o rio
Olho as vagas uma a uma
Será que aguento o fastio
Sem temor nem arrepios
De vogar por esta bruma?
Tanta bruma e nevoeiro
Que engolem o meu barquinho
Onde está o marinheiro
Destemido e aventureiro
Que guiará seu caminho?
Lentamente vai vogando
De encontro às marés
Que me chamam, pranteando
Os sonhos que vou deixando
Nas quimeras que não vês…
(Felipa Monteverde)
Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!
Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.
Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?
Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?
Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe.
(Natália Correia)
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
As cordas vibrando
Pelo toque dos meus dedos
São choro, são pranto
Nos teus olhos tão negros.
São sonho, são fado
São mistério, são dor
As cordas vibrando
Vão chorando por nosso amor.
Meu amor, meu fado
Minha canção e frágua
Estas cordas vibrando
Vão chorando a minha mágoa.
Mágoa e desespero
De deixar uns olhos que amei
Teus olhos tão negros
São segredos que nem eu sei.
(Felipa Monteverde)
sábado, 12 de dezembro de 2009
Hoje estive a pensar em ti
E recordei momentos que passaram:
Os dias tristes, em que te não vi
E os mais alegres que ficaram
Deste amor, desta fantasia
De te amar, de te amar sem fim
Dentro de mim
Onde és eternidades e refrãos
De cantigas de amor
Madrigais
E poemas de Camões
Lírica dos teus beijos
Nas ondas dos meus desejos
Maré cheia dos teus fados
Que vives longe de mim…
Hoje estive a pensar em ti
E recordei passeios ao luar
Em jardins e madrugadas
Que guardo dentro do peito
Como um sonho por sonhar
Na distância e na lonjura
Que me mata a cada dia
Que passo longe de ti
Tão longe de quem tu eras
E tão perto da loucura
De te amar perdidamente
Insanamente esperando
O que não me queres dar
Por nada teres pra dar...
(Felipa Monteverde)
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Solidão
mas é apenas dirigido à nossa carteira, nada mais...
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
O passarinho
e que passava em brincadeira
como sempre, à minha beira
começou a procurar o sentido de amar
e não saber a quem amar
nem o porquê de o procurar.
O passarinho que eu via da janela
na tigela e na bebida que se bebe de fugida
(porque o medo tira a sede
e o desgosto de quem bebe)
sem sentir que na garganta
se espanta um sorriso
que não mostra quem não gosta de beber
(só de matar aquela sede
de esquecer quem não se quer)
o passarinho procurou o que não via
e não sentia, nessa sede que o perdia.
E eu já vi um passarinho
sem ter asas nem ter ninho
mas com penas, muitas penas, que penava
ao procurar sem encontrar
o que queria e desejava:
um caminho,
um carinho que buscava e ansiava.
Mas apenas encontrava
(no destino e na sorte que não tinha
e no desgosto de não ser um passarinho
não ter asas, não ter ninho)
os desgostos de uma vida a acumular
na procura de uma escolha a decifrar…
(Felipa Monteverde)
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
As manhãs de Setembro
acordei saudosa das manhãs de Setembro
em que acordava cedo e receosa de que tivesses partido.
A despedida era sempre dolorosa e
por isso não te despedias, abalavas de mansinho
sem que eu pressentisse,
sem que me apercebesse de que
deixavas o meu mundo e partias para o teu,
que me era inalcançável. Que me era
misterioso e tão apetecido como o mar…
Mas
esta manhã acordei com saudades
saudades desse tempo de incertezas, porque
hoje as certezas são previsíveis e eternas.
Hoje sei que partiste e já não voltas, que
jamais regressarás do teu mundo para o meu…
E a minha cama está tão fria e tão vazia do
calor com que o teu corpo me aquecia…
(Felipa Monteverde)
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Apatia
no amor que guardo
dentro do peito
uma
apatia
tão grande em
relação
ao tempo em que
ainda
te amo
que já nem sei
se existo
em ti
ou
tu em
mim
ou eu
em
nós...
(Felipa Monteverde)
sábado, 5 de dezembro de 2009
Hoje o amor fugiu
rodopiando amores ao beijar
os filamentos de lua no meu peito;
E fiquei quase esquecida em teu olhar
ao ver que deixavas o amor passar
e nem já recordavas o meu leito...
Passou, passou o tempo de viver
junto de ti numa cantiga mansa
sussurrada de mansinho pelo vento
E eu que sempre esperei poder dizer
que és berço em que a minh'alma descansa
sinto agora toda a dor do desalento.
Hoje o amor fugiu, evaporou-se em três voltas ao luar
rasou pelo meu peito a suspirar
rodopiou no tempo e lá se foi;
E eu aqui fiquei, sentindo a dor de amar
e nem saber sequer o que pensar
de um beijo que não mata e me destrói...
Fugiu, fugiu o amor de mim e me deixou
matando sensações que já nasciam
e em meu peito moravam e dormiam
Matou quem eu já fui e já não sou
e nunca mais direi que me faltou
o tempo, pois no tempo acabariam
os beijos de quem nunca me beijou...
(Felipa Monteverde)
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O caracol
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"Caracol, caracol, põe os corninhos ao Sol... "
Este desenho acompanha-me desde criança. Não propriamente este, pois foi desenhado há apenas três anos para uma experiência com o Painting, mas uma imagem igual (ou parecida).
Um dia descobri que desenhar caracóis é muito fácil, e bastava acrescentar uma folhinha para compor a coisa. Gostei do resultado. E então desenho caracóis sempre que me apetece fazer um desenho diferente, sem bonecos, florinhas ou corações...
A onda
mas era apenas um anzol com que eu pescava amores...
atirei-o ao mar das ilusões
mas ficou preso no regaço dos meus sonhos.
E eu fiquei ali, queda e muda olhando o mar
esperando ternuras e marés do teu amor...
Que jamais beijou os meus sentidos
que jamais abraçou a estrela que escondo no meu peito
nem secou jamais as minhas lágrimas
amargas e escurecidas
como a noite em que me deixo adormecer...
(Felipa Monteverde)
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Um poema de José Saramago
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
(OS POEMAS POSSÍVEIS - Editorial CAMINHO)
domingo, 29 de novembro de 2009
Voo de ave
Meu coração
Sai-me do peito, voando
Rasando o chão.
Voo de ave, andorinha
Meu coração
Rasando o tempo, buscando
Sua paixão.
Voo de ave, andorinha
Meu coração
Voando firme, buscando
Tua afeição.
Voo de ave, andorinha
Meu coração
Voa suave, pousando
Na tua mão...
(Felipa Monteverde)
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Cantigas
Como em noites de Verão
Lembro o que me tens negado
E o que tenho chorado
Por não ter teu coração.
Meu coração te entregava
Não o quiseste aceitar
Hoje em dia to negava
Que as lágrimas que eu chorava
Não as quiseste enxugar.
Desprezaste o que te dava
Recusaste beijos meus
De ti não recebi nada
Que era outra a tua amada
A dona dos beijos teus.
Nosso tempo já passou
Já passaram esses dias
Em que eu era o que não sou
E hoje em dia já não dou
A ninguém mais simpatias.
Passou o tempo, cresci
Evoluí e medrei
Já nem me lembro de ti
E o que aqui escrevi
São cantigas que inventei...
(Felipa Monteverde)
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
O tempo passa
Hoje disseram-me: «estás tão velha!»
e eu respondi:
«ainda bem, é sinal de que não morri nova!»
Brincadeiras à parte
a verdade é que o tempo passa e deixa marcas
umas mais leves, outras nem por isso
mas todas fazem parte desse tempo que vivemos,
da idade que (graças a Deus!) hoje temos...
O mar enrola na areia,
vira, revira e vai batendo,
vai batendo, vai batendo...
Alguém pára para pensar
que a areia já foi uma grande rocha
depois um seixo, um seixinho
até finalmente ser um minúsculo grãozinho?
O mar enrola na areia
vai batendo, vai batendo...
Assim o tempo vai passando
avançando, abrindo sulcos e deixando
a sua marca no coração e no rosto das pessoas...
«Estás tão velha!» - disseram...
E o mar enrola na areia
vai batendo, vai batendo...
(Felipa Monteverde)
domingo, 22 de novembro de 2009
Setembro
conversas de café, neblina feita de fumos de cigarros e
esperanças difusas e agressivas
que passavam pela mente de quem te amava e não queria...
Era Setembro, e bastou-me ouvir o som das
primeiras chuvas nos vidros da janela para entender
que tudo entre nós havia terminado.
O nosso amor foi para ti apenas um encontro de Verão
de passeios pela praia e conversas ao luar
mas eu ainda recordo os bailes
no salão da Comissão de Festas da Senhora do Mar
em que dançámos pela primeira vez, as idas ao
café da dona Alice, que nos recebia coscuvilhando sobre
a tua familia, a tua terra e o teu trabalho; e a desilusão
nos olhos da Cindinha quando começámos o namoro,
quando andámos de mãos dadas pela primeira vez...
Ainda recordo o doce sabor do teu beijo, o
calor do teu abraço e o odor que exalavas,
mistura de After-shave e de fumo de cigarro. Recordo
todos os nossos passeios, as nossas conversas e até
aquela vez em que o Rodrigo te escondeu a bicicleta
e tu pensaste que fui eu, para que não fosses embora e
ficasses comigo até mais tarde...
Recordo tudo tão nitidamente que às vezes sinto que
a vida me atou a esse tempo e me aprisionou a esse amor.
E recordo o dia em que partiste e tudo acabou.
Era Setembro quando foste embora,
quando acabaste as férias e partiste para sempre. Não,
não penses que guardo mágoas ou rancor, apenas sinto
de quando em vez esta saudade que me rouba ao presente
e me transporta àquele tempo,
àquele Verão em que Setembro foi o fim...
(Felipa Monteverde)
sábado, 21 de novembro de 2009
O sol amuou
I - O sol amuou e escondeu-se e a chuva aproveitou para tomar conta do dia.
II - O sol continuou amuado, durante todo o dia e a chuva tornou-se companhia para todas as pessoas que se sentiam sós...
III - O sol aborreceu-se de estar amuado e resolveu dar um ar da sua graça, mas entretanto tinha chegado a noite...
IV - O sol amuou novamente e foi dormir...
V - De manhã acordou mais bem disposto e resolveu deixar-se de amúos... brilhou durante todo o dia.
VI - As pessoas ficaram contentes e a chuva aproveitou para descansar.
VII - O sol brilhou... brilhou... e depois amuou novamente e foi dormir, que já era noite e ele estava cansado.
VIII - As estrelas apareceram e riram-se de tantos amúos do astro-rei, dizendo umas para as outras que o sol era maluco.
IX - O sol estava a dormir e não ouviu esta conversa.
X - Felizmente! Senão amuava outra vez...
(Felipa Monteverde)
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Um capricho do bebé
Porquê? Nem ele sabia,
nem lhe importava sequer...
Talvez o dia chuvoso,
a manhã cinzenta e fria
... ou outra causa qualquer.
O caso foi que o bebé
resolveu a certa altura
reclamar, batendo o pé:
- Quero a caixa da costura!
- Para què? - diz a mamã.
- Decerto que não lha dou!
Ontem mesmo, de manhã
o menino se picou
nas agulhas que lá estão!
Não lha dou, decerto não!
Ao ouvir esta resposta
o maroto, que não gosta
de se ver contrariado,
rompeu em tal alarido
que nem um doido varrido
seria tão mal-criado.
E não contente com isto
começou a quebrar tudo
que por ali encontrou.
O resultado, está visto
foi um açoite taludo
que em certo sítio levou...
Quando ouvi contar a cena
disse, com bastante pena
muito de mim para mim:
«Talvez nem guerras houvesse
se aos "crescidos" se pudesse
dar dois açoites assim...»
(AS HISTÓRIAS DO AVOZINHO, texto de Raul Correia - Amigos do livro, editores, Lda)
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Opinião
Penso que o amor deveria vir com rótulo, para que soubéssemos utilizá-lo correctamente e não chatear ou aborrecer os entes queridos, a quem dedicamos esse mesmo amor. Ciúme, possessão, obsessão, são sentimentos que o amor traz. Mas se trouxesse também um rótulo sobre o melhor modo de usar esses sentimentos, sobre o melhor modo de suprimir os que se tornassem negativos (todos) viver o amor seria uma coisa maravilhosa, tanto para quem o dá como para quem o recebe.
Todavia, a vida é uma aprendizagem, estamos aqui para aprendermos e nos aperfeiçoarmos. Assim, depois de vários amores (falhados ou não) temos experiência suficiente para vivermos o próximo (ou o actual) sem cairmos nos mesmos erros... digo eu...
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Quando te sentires morrer
e tiveres vontade de dormir em paz
lembra-te que alguém te ama:
os teus pais, os teus irmãos, os teus amigos
ou apenas o teu gato...
não desprezes esse amor,
renuncia a teres pena de ti próprio
e segue em frente
caminhando de encontro à esperança...
Cansei a alma
que esqueci a vida e o sol que me aquecia.
Cansei a alma e o sol se afastou
e eu fiquei para sempre como estou:
cansada, aborrecida e tão sozinha
que nunca mais serei quem me sabia...
(Felipa Monteverde)
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Amei um sonho
que me atrofia a alma e o pensamento
e me dá ambições do teu amor...
(Felipa Monteverde)
domingo, 15 de novembro de 2009
Pensamento livre
(Felipa Monteverde)
sábado, 14 de novembro de 2009
Um poema de Manuel Alegre
Vou de camelo pelo buraco de uma agulha
vou de camelo e não encontro o reino.
A porta é estreita mas os ricos
estão a comprar passagem e estão a entrar.
Vou de camelo pela oferta e a procura
e há quem pense que o céu também tem preço.
Tens de vir outra vez para dizer
que não pode servir-se a dois senhores.
Vou de camelo pela porta estreita
vou de camelo e não consigo entrar.
Tens de vir outra vez que os fariseus
não nos deixam entrar não nos deixam entrar.
(LIVRO DO PORTUGUÊS ERRANTE - D. QUIXOTE)
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Passei na rua dos teus olhos
e senti uma fogueira em teu olhar
incendiou-se o sonho e o meu medo
e perdi a timidez de te falar.
Falei contigo no meu pensamento
mas não te disse tudo o que queria
mesmo perdendo o medo, receei
dizer-te mais que aquilo que devia...
(Felipa Monteverde)
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Até amanhã...
a espera que amanhecerá os teus olhos por dentro do meu olhar.
Mas se, dormindo, te afastares das marés e tempestades do meu peito
guarda-me um cantinho no teu beijo, é lá que quero morar...
Faço um apelo ao tempo, antes de me deitar e adormecer:
que vele e guarde o meu sono, que dele afaste amarguras e temores:
eu quero acordar contigo, quero saber-te comigo
sob os mesmos cobertores...
(Felipa Monteverde)
A corda
e sentes que os pensamentos se perturbam
lembra-te de mim, escuta esse suspiro
que do meu peito sai como um gemido
em que as pedras do silêncio se derrubam...
Lembra-te que existo, que sou a tua alma
que tudo em mim precisa do que é teu:
o teu abraço, o teu carinho, a tua calma
a tua vida, a tua força, a tua cama
onde o meu sonho um dia adormeceu...
Ouve o que o vento diz e te recorda
escuta a sua voz e compreende
que tudo em mim és tu, tu és a corda
que no meu peito uma palavra borda
com grandes letras que ninguém entende...
(Felipa Monteverde)
sábado, 7 de novembro de 2009
Pensamento
(Felipa Monteverde)
Um poema de Manuel Alegre
Já lá vai Pedro Soldado
num barco da nossa armada
e leva o nome bordado
num saco cheio de nada.
Triste vai Pedro Soldado.
Branda rola não faz ninho
nas agulhas do pinheiro
nem é Pedro marinheiro
nem no mar é seu caminho.
Nem anda a branca gaivota
pescando peixes em terra
nem é de Pedro essa rota
dos barcos que vão à guerra.
Nem anda Pedro pescando
nem no mar deitou a rede
no mar não anda lavrando
soldado a mão se despede
do campo que se faz verde
onde não anda ceifando
Pedro no mar navegando.
Onde não anda ceifando
já o campo se faz verde
e em cada hora se perde
cada hora que demora
Pedro no mar navegando.
E já Setembro é chegado
já o Verão vai passando.
Não é Pedro pescador
nem no mar vindimador
nem soldado vindimando
verde vinha vindimada.
Triste vai Pedro Soldado
e leva o nome bordado
num saco cheio de nada.
II
Soldado número tal
só a morte é que foi dele.
Jaz morto. Ponto final.
O nome morreu com ele.
III
Deixou um saco bordado.
E era Pedro Soldado.
(retirado de NAMBUANGONGO, MEU AMOR - Dom Quixote)
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Dois poemas de António Aleixo
Há dias pus-me na frente
Dum espelho onde me ria...
E ri, ri... ri francamente,
Porque não me conhecia.
Fui no meu rosto encontrar,
Por sobre o sulco dos anos,
A máscara que os desenganos
Me forçaram a usar.
No que o mundo me tornara!...
Quando ri, tornei a rir
De raiva - pra não cuspir
Na cara da minha cara.
Ri mais, porque só a rir
A mim mesmo me iludia...
Mas, se pudesse fugir
Com nojo de mim, fugia!
II
Pensei uma vez assim:
«Paciência... tinha que ser...
Cuspi sangue, foi o fim...
Acabou-se, vou morrer!»
Os amigos, afastados,
Diziam-me, sem me olhar,
Que não me vinham falar,
Pra não serem contagiados.
Ao ver esses fugitivos,
Dizia, com desconforto:
«Morri, antes de ser morto,
Pra aqueles que vejo vivos.»
E quando os via afastar,
Sentia, com mágoa infinda,
Vontade de lhes gritar:
«Não fujam, sou vivo ainda!»
Então, já desesperado,
Preso nas garras do mal,
Era como o condenado
Esperando o golpe fatal...
Vemos o fugaz encanto
Da vida - que é falsidade -
Na morte - que dura tanto
Quanto dura a eternidade!
(retirado de ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO II - editora Casa das Letras)
E de repente tudo acabou...
Acabaram-se as zangas, os problemas, os ciúmes,
Os conflitos...
Tudo acaba, porque a morte tudo leva.
Resta a saudade...
As velas, as flores, as orações;
De repente, tudo deixa de ter importância
E só queremos de algum modo estar junto de quem partiu...
(recordando o dia 5 de Novembro de 1998)
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Um poema de Mário de Sá-Carneiro
Quando eu morrer batam em latas
Rompam aos saltos e aos pinotes
Façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!
(retirado de MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO, poesias - editora Ulisseia)
Um poema de Eugénio de Andrade
Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?
Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?
Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei meu coração;
mas se o rapaz mo pedir
- mãe, dou-lho ou não?
(retirado de PRIMEIROS POEMAS/AS MÃOS E OS FRUTOS/OS AMANTES SEM DINHEIRO - edições Quasi)