JOGOS PARA A ETERNIDADE (18) - Meias-finais europeias
CARL ZEISS JENA, Taça das Taças 1980-81
A primeira presença do Benfica numa meia-final que a minha memória alcança, data de 1981.
O treinador era o húngaro Lajos Baroti, e a equipa encarnada constituída por jogadores de grande classe, e não menos carisma, como Bento, Pietra, Humberto Coelho, Carlos Manuel, Alves, Shéu, Chalana ou Nené.
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UNIVERSITATEA CRAIOVA, Taça UEFA 1982-83
Dois anos decorridos, e o Benfica estava de volta a umas meias-finais, desta vez na Taça Uefa, e desta vez com melhor sorte.
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STEAUA DE BUCARESTE, Taça dos Campeões 1987-88
Não me irei alongar muito sobre um jogo ao qual dediquei precisamente o primeiro episódio desta rubrica – o que é, desde logo, significativo daquilo que ele representou para mim, e para toda a minha geração.
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Equipa: Silvino, Veloso, Mozer, Dito, Álvaro, Elzo, Sheu, Diamantino, Pacheco, Rui Águas e Magnusson.
MARSELHA, Taça dos Campeões 1989-90
A final de Estugarda parecera uma oportunidade única, desperdiçada ingloriamente. Após tantos anos de ausência, ninguém supunha que o Benfica voltasse tão cedo a repetir uma final da Taça dos Campeões Europeus. O que é certo é que, apenas dois anos volvidos, e lá estava o Glorioso em Viena, para discutir com o Milan o título europeu.
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Muitos questionarão o facto deste jogo aqui figurar, pois o mesmo não foi exactamente uma meia-final.
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Do grupo do Benfica constavam ainda o Sparta de Praga, o Dínamo de Kiev, e o Barcelona de Cruyff, grande favorito (favoritismo que, de resto, confirmaria, ao apurar-se para a final, e ao vencê-la em Wembley diante da Sampdória, naquele que foi o primeiro título europeu do clube catalão). Foi também no primeiro jogo deste grupo, em Kiev, que Rui Águas se lesionou de forma arrepiante (fractura exposta). Derrota inglória nessa partida, empate a zero em casa diante do Barça, e dois empates na dupla jornada frente aos checos do Sparta, pareciam traçar o destino do Benfica na prova. Mas uma robusta vitória sobre o Dínamo de Kiev na Luz (5-0), e uma conjugação favorável de resultados de terceiros, trouxe de novo a esperança aos homens de Eriksson.
À entrada da última jornada, a classificação trazia o Barcelona em primeiro, com 7 pontos, o Benfica em segundo com 5, e por fim as duas equipas de leste, ambas com 4 pontos, e já fora das contas do apuramento. As vitórias ainda valiam apenas dois pontos, mas o empate entre Benfica e Barcelona na Luz (a que me lembro de assistir) fazia com que um triunfo encarnado em Camp Nou garantisse vantagem no confronto directo entre ambos, e apurasse o Benfica para Wembley. Ou seja, ganhando este jogo, o Benfica estaria na final. Mais meia-final que isto, não há.
É preciso dizer que, em 1988, o Benfica tinha chegado à final da Taça dos Campeões, em 1990 tinha repetido o feito, e agora, novamente com um ano de permeio, tinha oportunidade para voltar a marcar presença no jogo decisivo. Mas se nessas duas temporadas precisou de vitórias caseiras sobre Steaua de Bucareste e Marselha, agora precisava de vencer em…Barcelona.
Aconteceu aquilo que se esperava. Em apenas 20 minutos, Stoichkov fez gato-sapato do lateral-direito José Carlos, e o Barça chegou a 2-0. Um golo de César Brito, já na segunda parte, nem daria para alimentar a esperança. De notar que Paulo Sousa realizou então uma das suas melhores exibições com a camisola do Benfica, saltando nessa noite para a ribalta do futebol internacional, onde faria uma carreira de grande sucesso.
O Benfica acabou o grupo em terceiro lugar (o Sparta ganhou o último jogo), mas esta partida de Camp Nou foi uma verdadeira, ainda que pouco esperançosa, meia-final.
Equipa: Neno, José Carlos, Rui Bento, Paulo Madeira, Veloso, Paulo Sousa, Jonas Thern, Vítor Paneira, Rui Costa, Isaías e Yuran.
PARMA, Taça das Taças 1993-94
Era altura em que, de dois em dois anos, o Benfica lá estava a brilhar na Europa. Final em 1988, final em 1990, meia-final em 1992, e nova meia-final em 1994. Longe estávamos então de imaginar, que só 17 anos, e Vale e Azevedo depois, os encarnados voltariam ao galarim internacional.
Voltemos ao passado. Designadamente ao ano dos 3-6 em Alvalade, e dos não menos inesquecíveis 4-4 de Leverkusen. Foi justamente essa noite épica a qualificar o Benfica para as meias-finais da Taça das Taças.
Vale a pena lembrar um pouco desse jogo. A primeira-mão trouxera um cinzento 1-1 na Luz, com um golo de Isaías no último minuto a evitar a derrota. Ao quarto-de-hora da segunda-parte do jogo de Leverkusen, os alemães venciam por 2-0, e tudo parecia definido. A meia-hora que se seguiu entrou para a eternidade como um dos mais empolgantes jogos de toda a história do Benfica. Num ápice, golos de Abel Xavier, João Pinto e Kulkov viram o resultado, dando vantagem, aparentemente confortável, aos comandados de Toni. Já nos últimos dez minutos, dois golos de rajada voltam a colocar os alemães na frente, parecendo sentenciar uma derrota inglória. Novo golo de Kulkov, a quatro minutos do fim, estabelece o 4-4. Uhff, até cansa só de lembrar. Que alegria! Que festa!
E aí estava o Benfica na meia-final, onde tinha por opositor o então fortíssimo Parma de Itália, país que na altura dominava o panorama futebolístico internacional.
A equipa italiana tinha vários internacionais, entre os quais as estrelas Zola (depois jogaria no Chelsea), Thomas Brolin (sueco), Sensini (argentino) e Faustino Asprilla (colombiano, e um dos melhores jogadores do mundo nessa temporada). O guarda-redes era Bucci, que estaria em foco na eliminatória.
A primeira-mão foi na Luz, e fez recordar as grandes enchentes das épocas anteriores. Mais de 100 mil devotos (eu, naturalmente, também não faltei) criaram um clima inesquecível de apoio ao Benfica. E os encarnados corresponderam com uma grande exibição.
Não havia ainda muito tempo de jogo, e já Rui Costa isolava Isaías para o primeiro golo da noite. Pouco depois, Zola empatou para o Parma, colocando um cubo de gelo nas emoções portuguesas. Já no início da segunda parte, foi o jovem maestro a recolocar o Benfica na frente do marcador, para alguns minutos mais tarde Vítor Paneira desperdiçar uma grande penalidade (defesa de Bucci), que elevaria a contagem para 3-1. Pelo meio, muitas oportunidades perdidas, e uma grande exibição de Yuran. No fim, um magro 2-1 a saber a pouco para tanto futebol.
A segunda-mão, no Ennio Tardini, foi marcada pela expulsão precoce de Mozer, que viu dois cartões amarelos ainda na primeira meia-hora de jogo. O Benfica foi resistindo, e mesmo com dez, a um quarto de hora do fim mantinha a sua magra vantagem construída em Lisboa. Um golo de Sensini seria fatal, e os encarnados, muito desgastados por uma longa época, não mais conseguiram ameaçar as redes contrárias.
O destino ditou uma eliminação inglória, perante um adversário que, pelo que se havia visto, sobretudo na Luz, estava ao alcance do Benfica.
Equipa: Neno, Veloso, Mozer, Hélder, Schwarz, Kulkov, Vítor Paneira, Rui Costa, João Pinto, Yuran e Isaías.
Seguiu-se um período de trevas. Nas três temporadas seguintes o Benfica ainda chegaria aos quartos-de-final por duas vezes. Mas o valeeazevedismo deitou tudo a perder, e quase matou o próprio clube.
Com um futebol muito diferente, com competições totalmente reformuladas, o Benfica volta agora, passados todos estes anos, a uma meia-final. Que seja para ganhar.
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JOGOS PARA A ETERNIDADE (17) - Os Mundiais e as Finais 1978-2006
ARGENTINA 78
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ESPANHA 82
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MÉXICO 86
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ITÁLIA 90
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ESTADOS UNIDOS 94
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FRANÇA 98
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JAPÃO/COREIA 2002
ALEMANHA 2006
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JOGOS PARA A ETERNIDADE (16) - OS MEUS TÍTULOS
Recordo-me de um total de nove títulos (este poderá ser o décimo). Desde 1977, tempos de Chalana, Nené e Mortimore, até 2005, já com Simão, Luisão e Nuno Gomes. Vamos então relembrá-los um a um:
1976-77
Depois de uma época marcada pela impressionante recuperação classificativa face ao Sporting (que na primeira volta chegou a dispor de seis pontos de avanço, que hoje equivaleriam a nove), o Benfica sagrou-se campeão a três jornadas do fim, em jogo com o Beira-Mar no Estádio da Luz.
A festa estava prevista apenas para a semana seguinte, mas as derrotas de Sporting e FC Porto anteciparam a decisão. 4-0 foi o resultado, a que se seguiu uma volta triunfal ao campo, carregando aos ombros o treinador inglês John Mortimore.
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Na altura este era o 14º título em 18 anos, pelo que as comemorações seriam naturalmente comedidas.
A equipa-base dos encarnados era composta por: Bento, Pietra, Alhinho, Eurico, Alberto, Toni, Shéu, Vítor Martins, Nelinho, Nené e Chalana (que na sua primeira temporada como sénior foi a grande estrela da equipa).
1980-81
Este sim, foi o primeiro título que vivi com verdadeiro entusiasmo de campeão. Pôs fim a três temporadas de jejum (uma eternidade para a altura), e foi obtido numa época quase perfeita dos encarnados, a qual incluiu também a Taça de Portugal, a Supertaça e umas meias-finais europeias. Foi também nesta temporada que assisti ao meu primeiro jogo no Estádio da Luz, precisamente um Benfica-Altay Izmir para a 1ª eliminatória da Taça das Taças.
O treinador era o húngaro Lajos Baroti, e a conquista foi selada na penúltima jornada, com uma goleada ao Vitória de Setúbal (5-1), testemunhada por um Estádio da Luz a rebentar pelas costuras, e já preparado para as festividades. Julgo ter sido o último jogo da carreira de Toni, que já não era titular, mas entrou para os minutos finais.
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A equipa-base era a seguinte: Bento, Veloso, Humberto Coelho, Laranjeira, Pietra, Carlos Manuel, João Alves, Shéu, Chalana, Nené e César.
1982-83
Um maior distanciamento temporal vai permitir um dia perceber onde enquadrar a actual equipa de Jorge Jesus, entre as que melhor futebol praticaram no Benfica do pós-Eusébio. Deixando esse exercício para depois, entregaria o prémio, por agora, ao conjunto de 82-83, orientado por Eriksson (na sua primeira época), e que encantou o país e a Europa.
Foi uma temporada inesquecível, com vitórias no Campeonato, na Taça de Portugal, na Supertaça e uma caminhada épica até à final da Taça Uefa, perdida na Luz diante do Anderlecht. Mais do que os resultados, o futebol de ataque praticado em todos os campos (fosse em casa, fosse fora) ficou na retina de muita gente, catapultando o treinador sueco para uma carreira internacional de grande sucesso .
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Equipa-base: Bento, Pietra, Humberto Coelho, Bastos Lopes, Álvaro, Carlos Manuel, João Alves, Shéu, Chalana, Nené e Filipovic
1983-84
No ano seguinte, ainda com Eriksson, a superioridade benfiquista voltou a ser inquestionável. Numa temporada em que apenas cedeu oito pontos, o Benfica sagrou-se campeão na penúltima jornada, em casa, e uma vez mais diante do eterno rival.
Nem foi preciso vencer, pois, à mesma hora, o FC Porto perdia no Bessa, e como tal, bastou um empate a um golo com o Sporting, a que se seguiu a tradicional invasão do relvado.
A grande aposta dos encarnados, depois de alcançada a final da Uefa no ano anterior, era a Taça dos Campeões Europeus. O sonho acabou por morrer aos pés do…Liverpool, com uma derrota por…4-1 (daquela vez em plena Luz, depois do 1-0 de Anfield), o que, numa altura em que ser campeão era corriqueiro, acabou por deixar um travo ligeiramente amargo, que nem o título nacional apagou inteiramente.
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Equipa-base: Bento, Pietra, Bastos Lopes, Álvaro, Sheu, José Luís, Carlos Manuel, Stromberg, Chalana, Diamantino e Manniche.
Chalana e Stromberg seriam vendidos para França e Itália respectivamente, Eriksson também abraçaria o Cálcio, e esse desinvestimento (necessário para Fernando Martins completar o terceiro anel do estádio) revelar-se-ia fatal nos anos seguintes.
1986-87
Depois de um bi-campeonato portista, com Artur Jorge, o Benfica voltou aos triunfos, aproveitando muito bem o enfoque dado pelos nortenhos à Taça dos Campeões Europeus, que venceriam em Viena com o calcanhar de Madjer.
O Benfica vinha de uma temporada aziaga, em que perdera tudo em poucas semanas, depois de uma caminhada empolgante. A inesperada eliminação europeia aos pés do acessível Dukla de Praga (com um golo fatal, sofrido em casa, nos últimos minutos da segunda mão), e, principalmente, o título perdido na penúltima jornada, em plena Luz, diante do Sporting (1-2, o primeiro derby a que assisti ao vivo), abriram feridas na confiança dos adeptos face à sua equipa. Mais feridas ainda deixou a histórica goleada sofrida em Alvalade - os célebres 7-1 - e a relação com o regressado John Mortimore ressentiu-se de tudo isso, não mais voltando a ser a mesma.
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Só que a história não se repetiu. Desta vez, praticamente na mesma situação, e também com 120 mil nas bancadas, o Benfica ganhou por 2-1 (golos de Chiquinho e Nunes), conquistando o título nacional, ao qual iria juntar, alguns dias mais tarde, a Taça de Portugal. Foi a última dobradinha do clube da Luz até à data.
Este foi o primeiro dos dois títulos que festejei em pleno estádio (o outro seria o último, o de 2005). Fui ver esse derby, presenciei a invasão de campo, e toda a euforia que tomou conta da família benfiquista. Recordo-me, como se fosse hoje, de ir festejar com as pessoas com quem vi o jogo, a um restaurante de Setúbal chamado “O Quintal” (não faço ideia se ainda existe). Comi cherne grelhado, regado com vinho rosé. Tinha eu os meus fabulosos 17 aninhos.
Equipa-base: Silvino, Veloso, Dito, Oliveira, Álvaro, Sheu, Nunes, Chiquinho, Diamantino, Rui Águas e Manniche
1988-89
Terá sido dos títulos menos sofridos que a história recente do Benfica nos apresenta. Talvez por isso, talvez fruto do desencanto de uma eliminação europeia precoce (com o improvável Liegeois), talvez também por ter, à época, 19 anos, e nessa idade as prioridades estarem muito para lá do futebol (raparigas, noitadas, festas, raparigas, faculdade, raparigas, etc, etc), terá sido também dos que menos me entusiasmou.
Foi o ano das vitórias por 1-0 conseguidas no último minuto, com golos de Vata (o surpreendente Bola de Prata nessa época), em que a contratação falhada de Quinito como técnico do FC Porto (substituído depois de uma copiosa derrota em Eindhoven) cedo deixou o caminho livre aos encarnados. Ainda assim, diga-se que com o regresso de Chalana (já longe do fulgor dos primeiros anos), e com as contratações de Valdo, Ricardo e Magnusson, o Benfica tinha uma extraordinária equipa, cuja base esteve na origem de duas finais da Taça dos Campeões Europeus nos anos imediatamente anterior e posterior a este. É verdade que haviam saído Dito e Rui Águas (como resposta do FC Porto à contratação de Ademir, no qual os azuis-e-brancos estariam interessados), mas as ausências pouco se fizeram sentir.
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Curiosamente, estive em vias de presenciar ao momento da consagração. Foi em Setúbal, a três jornadas do fim, quando uma vitória poderia ser suficiente para fazer a festa. Um golo de Aparício, já nos momentos finais (estabelecendo o 2-2), retardou o título, e obrigou a multidão que enchia por completo o estádio do Bonfim a guardar as bandeiras e cachecóis para a semana seguinte.
Foi em casa com o Estrela da Amadora, que uma vitória por 3-0 selou as contas. Não faço a menor ideia onde estaria a essa hora, e nesse dia. Mas estava certamente feliz.
Equipa-base: Silvino, Veloso, Mozer, Ricardo, Álvaro, Sheu, Vítor Paneira, Valdo, Chalana, Diamantino e Magnusson.
1990-91
Eriksson havia regressado, e na primeira temporada tinha levado a equipa à sétima final da Taça dos Campeões da sua história. Em parte por isso, em parte por influência de um sistema tentacular que já à época invadia a arbitragem, o campeonato de 89-90 fugiu para o FC Porto, que, com Bandeirinhas, Kikis, Demols, Tozés e Vlks, conseguiu bater o Benfica de Valdo, Thern, Magnusson e Ricardo. Foi esse, aliás, o primeiro dos campeonatos ganhos pelo FC Porto de forma imoral, e fruto da sua crescente influência na arbitragem.
Em 1990-91 os encarnados viram-se precocemente afastados da frente europeia, ao perder com a Roma logo na primeira eliminatória da Taça Uefa. E, dedicando-se em exclusivo ao campeonato, partiram para uma caminhada imparável rumo ao título, que teve o seu apogeu nos célebres 0-2 das Antas, com dois golos de César Brito.
Lembro-me de ouvir o relato desse jogo (que a poucas jornadas do fim decidiu quase tudo), como me lembro, também via rádio, da partida que garantiu o título, no Funchal diante do Marítimo (vitória por 0-2, também).
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Recordo-me que a RTP transmitiu em directo os últimos dez minutos da jornada final, e a festa que se lhe seguiu.
Este foi o último campeonato de um período em que o Benfica, ganhando ano sim, ano não, ainda mantinha, ou pelo menos repartia, a hegemonia do futebol português. Daí em diante só conquistaria mais dois títulos, ambos em circunstâncias muito especiais.
Equipa-base: Neno, José Carlos, Ricardo, William, Veloso, Jonas Thern, Vítor Paneira, Valdo, Pacheco, Isaías e Rui Águas.
1993-94
Depois de um verão muito quente, com Sousa Cintra a aproveitar-se alarvemente da crise financeira do rival, e a aliciar muitos dos seus principais jogadores (que tinham os salários em atraso, e, como tal, podiam rescindir facilmente os contratos), o Benfica partiu para a temporada futebolisticamente fragilizado, mas com o seu orgulho ferido. Isso revelar-se-ia determinante, até porque na luta pelo ceptro teve no Sporting o mais directo opositor.
Paulo Sousa e Pacheco mudaram-se para Alvalade, João Pinto foi resgatado in-extremis numa viagem do presidente Jorge de Brito a Torremolinos, e Rui Costa, Isaías e Neno foram também abordados, mantendo-se todavia na Luz. Futre tinha sido vendido para Marselha, mas ainda assim, os que ficaram, formavam uma grande equipa. Restava saber se haveria condições de retaguarda (desde logo financeiras) para levar a nau a bom porto. E nesse particular o trabalho desenvolvido por Toni foi fundamental, segurando pelas pontas um grupo muito talentoso mas desorganizado e indisciplinado, que tinha nos russos Kulkov, Yuran e Mostovoi as principais dores de cabeça.
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O grande momento deste campeonato foi naturalmente a vitória por 3-6 em Alvalade, jogo em que João Pinto, um dos protagonistas do defeso anterior, terá feito a exibição da sua vida. Mas o título só ficou seguro duas rondas depois, em Braga, numa partida com o Gil Vicente (numa altura em que ninguém se lembrava de reclamar por os clubes pequenos mudarem os jogos grandes para estádios onde pudessem obter maiores receitas), em que foi uma vez mais João Pinto a brilhar, marcando os dois primeiros golos de uma vitória por 0-3.
Na altura eu fazia parte de uma equipa (se é que se pode chamar-lhe assim) de futebol de cinco que, ainda disputou alguns torneios na região. O jogo de Braga foi durante a semana, num fim de tarde de, salvo erro, quarta-feira, e ouvi o relato durante um treino, som vindo do auto-rádio de um dos colegas que estacionara junto ao ringue. Quando o jogo acabou estava, recordo-me bem, a tomar banho, e seguiu-se naturalmente uma jantarada. Mas a maior dose de euforia tinha sido servida com o triunfo em Alvalade.
Na semana seguinte o Estádio da Luz encheu para receber os campeões. Era a penúltima jornada, e o adversário o Vitória de Guimarães. Não arranjei bilhete, e faltei à cerimónia. Nem a minha ausência, nem o empate a zero retiraram brilho às festividades.
Equipa-base: Neno, Veloso, Mozer, Hélder, Schwarz, Kulkov, Vítor Paneira, Rui Costa, Yuran, João Pinto e Isaías.
2004-05
Obtido em circunstâncias particularmente difíceis, na sequência de um longo jejum, com um plantel muito limitado e uma concorrência extremamente forte (FC Porto campeão europeu, Sporting finalista da Uefa, Boavista ainda nos seus bons tempos, Sp.Braga a nascer para aquilo que é hoje), depois de um campeonato verdadeiramente espectacular (o melhor de que me lembro), este foi para mim o título mais reconfortante de todos os que vivi.
Cedo comecei a acreditar na equipa, e momentos houve em que me pareceu ser o único a fazê-lo. Levei a peito aquela equipa, aqueles jogadores, e aquela temporada. No fim, como nos filmes, tudo acabou em bem.
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A decisão final foi apenas na última jornada, no Bessa, em tarde para recordar durante uma vida. A procissão de carros pela A1 acima, o leitão da Mealhada, em restaurante à pinha onde os cânticos slb,slb emergiam à medida que o vinho escorria pelas gargantas, o dramatismo de um jogo que, pela primeira e única vez na vida, quase me obrigou a sair da bancada, tal o estado de nervos que me tolhia o corpo e a alma. No fim foi o que se viu. Talvez tenha sido dos poucos benfiquistas a estar, nessa noite, no Bessa, no Aeroporto, e no Estádio da Luz, com um belo jantar pelo meio, e festa até de manhã. Só me deitei depois de ler “A Bola” de segunda-feira.
Este campeonato ficou porém desde logo alinhavado na semana anterior, no também inesquecível derby do golo de Luisão. Já aqui recordei esses dois momentos.
Equipa-base: Quim, Miguel, Luisão, Ricardo Rocha, Dos Santos, Petit, Manuel Fernandes, Nuno Assis, Geovanni, Nuno Gomes e Simão.
Agora, venha o próximo…
Publicada por LF à(s) 21.4.10 9 comentários
JOGOS PARA A ETERNIDADE (15) - Europeu de 1984
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Respeitando rigorosamente a periodicidade com que foi instituído – de quatro em quatro anos -, desde 1960 que esta competição foi progressivamente ganhando força até se transformar naquilo que é hoje: pouco menos que um verdadeiro Mundial, havendo até quem defenda ser o Euro mais exigente que a própria prova da FIFA, dado o grande equilíbrio entre as selecções normalmente apuradas.
Das edições anteriores recordo-me de sete, precisamente desde 1980, tinha eu dez anos.
Apesar de ter uma memória difusa de um Bayern de Munique-Benfica disputado em Março de 1976, não me recordo, nem ao de leve, do Europeu disputado três meses depois em Belgrado, o tal em que Panenka inventou uma forma diferente de marcar penáltis, que Postiga e Zidane décadas depois repetiriam com sucesso.
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O Europeu que mais me marcou foi obviamente o de 2004 - pela carreira da selecção nacional, pelo inolvidável ambiente de festa gerado no país, e pelo facto de o ter vivido de perto com presença em vários estádios. Mas o primeiro Europeu que me tocou verdadeiramente, como de resto a toda a minha geração, foi o de França em 1984, no qual a equipa nacional conseguiu uma participação brilhante, ficando a apenas cinco minutos de uma final, que durante mais de setenta anos fugiu ao futebol português. Este épico torneio constituiu a segunda presença da história da selecção nacional numa grande prova internacional, depois da saga dos “Magriços” dezoito anos antes. A qualificação para a fase final foi naturalmente difícil, para mais num grupo fortíssimo do qual faziam parte Polónia (terceira classificada no Mundial anterior) e a URSS, finalista de três (60, 64, 72) das seis edições até aí disputadas. A Finlândia fechava o grupo e na altura não tinha futebol para entrar nas contas do apuramento.
A chave da qualificação portuguesa acabou por ser a dupla vitória frente aos polacos (2-1 numa bela tarde de domingo na Luz e, sobretudo, 1-0 numa noite de nevoeiro em Chorzow com um golo de Carlos Manuel), que permitiu chegar à última jornada, em casa frente à URSS, em condições de passar, mesmo depois da copiosa derrota em Moscovo por 5-0, que custou a substituição do seleccionador Otto Glória por uma comissão técnica constituída por Fernando Cabrita, António Morais, Toni e José Augusto. No último jogo, em Novembro de 1983 perante um Estádio da Luz praticamente cheio, um golo solitário de Jordão, na transformação de uma grande penalidade bem cavada por Chalana, pôs o país em festa. Dezoito anos depois dos “Magriços”, dois anos antes de “Saltillo”, aí estava Portugal, com um conjunto brilhante de jogadores, mas uma organização fora de campo ainda rudimentar, a disputar uma prova importante diante dos melhores.Efectivamente a selecção nacional de então tinha grandes jogadores. Bento, Carlos Manuel, Jaime Pacheco, Diamantino, Chalana, Nené, Gomes e Jordão, eram apenas alguns dos nomes que se destacavam de toda uma geração que nunca tinha tido tão boa oportunidade para brilhar - pelo menos ao nível de selecção pois Benfica e F.C.Porto tinham sido finalistas europeus pouco antes. Faltava todavia ao futebol português uma estrutura técnica e dirigente que pudesse garantir o rigor de um trabalho sólido e coerente. Neste âmbito tudo era ainda muito amador, funcionando na base da carolice de uns quantos, situação que se revelou devastadora dois anos depois em Saltillo.
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Neste Europeu terão desde logo surgido alguns problemas, nomeadamente fruto da extrema rivalidade já então existente entre Porto e Benfica, com a agravante de a quase totalidade dos seleccionados pertencer a esses dois clubes (ao contrário do que se veio a verificar mais tarde, com a emigração massiva dos melhores jogadores portugueses) e não existir uma liderança técnica reconhecida por todos. Na verdade António Morais era o técnico dos jogadores do F.C.Porto, enquanto Toni era o dos do Benfica, e Cabrita apenas procurava apaziguar os ânimos.
Nos jogos de preparação antes da prova ficou no ar alguma preocupação. Derrota no Jamor por 2-3 com a Jugoslávia, e empate no Luxemburgo adensaram duvidas sobre o que podia Portugal fazer num grupo em que teria de se haver com Espanha e Alemanha, para além da estreante Roménia.
Mas no primeiro jogo, diante dos germânicos, a alma portuguesa gritou bem alto que estava disposta a entrar para a história. Contra os campeões europeus e vice-campeões do mundo, Portugal impôs um empate a zero, num jogo em que até desfrutou de algumas boas ocasiões para marcar. Para a época, empatar com a Alemanha era um estrondoso êxito, e abria as melhores perspectivas.
A equipa apresentada, num cauteloso 4-5-1, seria repetida no segundo jogo, e teria poucas alterações até final. Bento, João Pinto, Lima Pereira, Eurico, Álvaro, Carlos Manuel, Jaime Pacheco, Frasco, Sousa, Chalana e Jordão. Além destes onze, só Gomes e Diamantino viriam por uma vez a alcançar a titularidade.
Faltei às aulas para ir ver o jogo a casa. O ano lectivo estava no fim, tinha faltas para dar, e aproveitei-as até aos limites nos dias dos principais jogos da tarde. Julgo que as férias grandes terão começado durante a competição.
A sensação de ver aqueles equipamentos vermelho-verde vivos, novinhos em folha, a entrar no estádio de Estrasburgo, numa era em que a televisão a cores ainda era uma jovem novidade, ficará para sempre marcada na minha memória. Não sou do tempo do Mundial 66, e aquela era a primeira ocasião em que podia ver a selecção do meu país, pela qual sempre nutri grande carinho, a jogar num grande palco.
No segundo jogo, disputado em Marselha num domingo de intensa trovoada no nosso país – que durante a tarde me deixou em pânico por faltar a electricidade, colocando em risco a possibilidade de ver o jogo -, a nossa selecção colocou-se em vantagem perante a Espanha já na segunda parte com um magnífico golo de Sousa, mas não conseguiu segurar o resultado, pois o temível goleador Santillana, num ressalto dentro da área, acabou por estabelecer a igualdade. Chalana realizou uma exibição soberba, começando neste dia a destacar-se verdadeiramente como a grande estrela da equipa portuguesa.
Portugal entrava para a última jornada com a necessidade imperiosa de vencer a Roménia, e sob um manto de críticas pela atitude demasiado defensiva adoptada nos primeiros jogos, sobretudo diante da Espanha, onde se esperava mais alguma audácia. Muitas das críticas passavam pela não utilização de Fernando Gomes no ataque, e pelo reforço do meio-campo com cinco médios, na altura considerado um total exagero.
Para o jogo com a Roménia em Nantes, a comissão técnica fez a vontade aos críticos, colocando Fernando Gomes ao lado de Jordão no ataque luso. Teria pois que sair um médio, e aí é que o caldo se entornou. As pressões de F.C.Porto e Benfica eram muitas, o balneário estava totalmente dividido em dois, e a dúvida que se punha era entre Carlos Manuel ou Jaime Pacheco. Decidiu-se pelo primeiro.
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As coisas começaram mal, com a lesão de Chalana, já muito claramente o jogador em melhor forma, logo na alvorada do desafio, e que o obrigou a sair de maca. Temeu-se o pior, mas o pequeno genial ainda reservava muito futebol para esta prova.
Seria outro benfiquista, Nené, saltado do banco já na fase de desespero, a marcar o golo decisivo a nove minutos do fim da partida. Cruzamento do lado direito, e Nené com o sentido de oportunidade que lhe era característico, atirou à meia volta para dentro da baliza romena, ponde em delírio os emigrantes portugueses presentes – nesse tempo poucos eram os que se poderiam deslocar de Portugal a França para ver futebol. Ao mesmo tempo, no Parque dos Príncipes, um golo do central Maceda em cima do minuto noventa, eliminava surpreendentemente a Alemanha, guindando assim os dois países ibéricos à presença nas meias-finais.
Nessa mesma quarta-feira, outro tema dominava a actualidade do país. Tinha sido desmantelada a rede bombista FP-25, e detidos os seus alegados responsáveis, entre os quais o até então prestigiado Otelo Saraiva de Carvalho. A passagem de Portugal às meias-finais não terá pois merecido o destaque mediático que os dias de hoje normalmente conferem a feitos dessa natureza. Ainda assim foi causa de grande felicidade de todos os que de perto viviam o fenómeno desportivo, e a presença da selecção no Euro. De certa forma era o reviver da saga dos “Magriços”, agora com o pseudónimo de “Patrícios”.
Mas este Euro estava destinado a ser de algum modo acidentado para mim. Depois de ter de faltar às aulas no primeiro jogo, depois de me ver sem electricidade em casa poucas horas antes do segundo, eis que no sábado das meias-finais frente à anfitriã França partiu-se a antena da televisão.
Foi de grande angústia toda essa tarde, sem saber em que condições poderia ver o jogo. Acabei por o ver a preto e branco, e com o ecrã cheio de “chuva”. Mas vi-o.
A França, além de jogar em casa, era a melhor equipa da prova. Dispunha de uma equipa formatada desde o Mundial de 1978, e que no Espanha 82 atingira as meias-finais, sendo apenas derrotada, de forma dramática, no desempate por penáltis frente à Alemanha, numa noite de Sevilha que os franceses demoraram dezasseis anos a digerir. A equipa gaulesa, orientada pelo experiente Michel Hidalgo, contava com um super-Platini – hoje presidente da Uefa - na sua melhor forma de sempre, e que aliava uma capacidade técnica fora do comum, com uma notória liderança em campo e com uma veia goleadora impacável. O “dez” da Juventus marcou nove golos em cinco jogos (!), e foi a grande figura da prova, pedindo meças àquilo que Maradona viria a fazer dois anos depois no Mundial do México, onde de resto Platini voltou também a brilhar.
Para além de Platini, brilhavam no meio-campo francês Giresse e Tigana, dois artistas que eram protegidos pelo operário Luís Fernandez. Um dos melhores meio-campos de que há memória no futebol europeu das últimas décadas.
O jogo com Portugal no Velodrome de Marselha foi inesquecível, e ficará na história como um dos melhores de sempre dos campeonatos da Europa. Foi decidido no último minuto do prolongamento, depois de duas horas de grande emoção, intensidade e espectáculo.
Na equipa portuguesa deu-se a entrada de Diamantino para o lugar de Gomes, e de Jaime Pacheco para o lugar de Carlos Manuel, trocas mais uma vez envoltas em azedas polémicas dentro do grupo. Veja-se a preocupação que havia com os equilíbrios entre Benfica e F.C.Porto, sem a qual é difícil imaginar onde poderia ter chegado este conjunto de brilhantes jogadores portugueses.
Até meio da segunda parte do tempo regulamentar o domínio foi totalmente francês. Num livre directo em que todos esperavam o remate de Platini, Domergue diparou para o fundo da baliza de Bento pouco depois dos vinte minutos de jogo. Daí em diante assistiu-se a um vendaval de ataque da equipa da casa, com o guardião do Benfica a realizar seguramente uma das melhores exibições da sua carreira.Como quem não marca sofre, Portugal acabaria por chegar ao empate, contra a corrente do jogo, após um cruzamento primoroso de Chalana, ao qual Jordão, sozinho na área, correspondeu com um cabeceamento perfeito batendo Joel Bats. Por portas e travessas, estava reposta a igualdade que nos levaria a um inesperado prolongamento, não sem que antes Fernando Gomes, entrado no segundo tempo juntamente com Nené, tenha tido nos pés a oportunidade de tudo decidir.
No prolongamento, dado o adiantamento dos franceses, o jogo tornou-se cada vez mais partido e espectacular. Ainda nos primeiros quinze minutos, Chalana entra em dribles sucessivos pela direita, cruza para o segundo poste, onde Jordão, falhando aparentemente o remate, acaba caprichosamente por colocar a bola no ângulo superior da baliza francesa, colocando Portugal em vantagem, e calando o Velodrome.
Contra todas as previsões e expectativas, Portugal via-se a poucos minutos de alcançar o momento mais alto da sua história futebolística, com uma presença numa final de uma grande competição internacional.
Ainda antes da mudança de campos, Nené, desmarcado uma vez mais por Chalana, isolou-se diante de Bats, e por muito pouco não fez o 1-3 que arrumaria a questão.A segunda parte do prolongamento foi penosa para Portugal, que sem capacidade física para resistir à avalanche gaulesa foi perdendo bolas sucessivas e foi-se remetendo às imediações da sua área. Faltavam apenas seis minutos para segurar a magra vantagem, quando Domerge, novamente ele, aproveitou uma confusão na área portuguesa para repor a igualdade. O lateral-esquerdo Domergue, que nem era normalmente titular, marcou nessa tarde-noite os dois únicos golos da sua carreira internacional.
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Tudo parecia então ir para penáltis, mas a força dos franceses, impulsionados por um público cada vez mais entusiasta, acabou por lhes valer o terceiro golo, a um minutos do final. Tigana arrancou pela direita, foi deixando adversários prostrados no relvado, e cruzou para a pequena área onde Platini não perdoou, colocando a França na final.
O desespero tomou conta dos portugueses. A imagem de seis ou sete jogadores estatelados na relva é a prova evidente de que a diferença neste jogo se acabou por fazer pela capacidade física e ritmo competitivo das duas equipas. Seja como for, perder uma oportunidade daquelas para disputar uma final, daquela forma, foi absolutamente dramático. Esta derrota foi das maiores tristezas que tive com a selecção nacional.
A poderosa equipa francesa seguiu para a final, onde venceria a Espanha com alguma sorte – e ajuda do árbitro. Olhando à competição no seu todo, foi a França a melhor equipa. Portugal deixou boa imagem, mas não estava ainda, por diversos motivos, à altura de lutar por um título.
Este jogo e este Europeu ficaram contudo a marcar brilhantes páginas da história da selecção nacional.Chalana e Jordão foram os que mais alto brilharam, conseguindo o extremo benfiquista uma milionária transferência para o Bordéus, onde com Tigana, Giresse e outros, chegaria às meias-finais da Taça dos Campeões da época seguinte. Depois, as lesões comprometeram-lhe o resto da carreira.
Publicada por LF à(s) 4.6.08 2 comentários