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"A luz apagou-se! Um grito calado ecoou…a luz, a minha luz, a nossa luz! Instalou-se uma azáfama invulgar, um corre-corre na procura da solução para a escuridão do espaço. Acendem-se as velas, uma a uma, como se de um ritual se tratasse. O meu refúgio é invadido por uma luz ténue mas cheia de calor. Projectam-se, nas paredes brancas, sem cor, as sombras de mim e dos meus desejos. Fiquei totalmente despida. Olhares desconhecidos percorrem o meu corpo… sinto um arrepio que me percorre o pescoço. A respiração acentua-se. A vontade de gritar é iminente. Lentamente, volto a colocar todas as peças que outrora cobriam a minha figura. Sinto as fragrâncias que circulam em meu redor. Viajo! Sinto a água a bater no rosto e a purificar a alma. Uma torrente invade, sem pedir licença, os meus olhos e essa água salgada e cristalina palminha cada centímetro do meu corpo. Sinto o tactear de cada gota a explorar os sítios inexplorados do meu ser. Está a ficar frio. Acendo mais uma vela, mais um pouco de calor para afagar a ansiedade. De novo uma sombra. Espera! É um vulto diferente dos outros. Tem uma silhueta indefinida, capaz de hipnotizar o meu olhar e sacudir todas as minhas certezas. Fiquei sem defesas! Escureceu. Restam as sombras da certeza. Uma gargalhada atravessa as chamas. A luz ganha nova força. Torna-se rápida, ardente, quente, sufocante. Velas para quê? A luz acendeu-se!"
Escrito por Menina Bonita