Daniela Santiago, obrigado por ter autorizado postar esta linda foto que você tirou no município de Conceição do Mato Dentro/MG no meu blog e que me inspirou escrever:
31 de outubro de 2007
Rio imaginário
30 de outubro de 2007
Mais um blog...
mais um blog... Pensava que era diferente dos outros e conseguia resistir a criar um blog pessoal, onde poderia escrever o que quisesse, sobre qualquer coisa que me atravesse o pensamento...
e que pudesse partilhar essa ideia com os outros...
pensava que era diferente... os amigos e principalmente a minha filha estavam sempre insistindo que seria uma maneira de divulgar a minha poesia (já estava desiludido, sem esperança no meu país sem vergonha, sem letras e sem cultura... poesia não enche barriga... mas, alimenta o espírito e fortalece a alma).
não resisti...criei o blog.
hoje faz um mês... espero que eu continue... neste vale de palavras, de poemas e de versos... que eu continue... continue...
Não duram muito
Porque não precisam.
O que precisa durar para sempre
é o que elas representam: o amor
As flores são frágeis
para que as mãos que oferecem sejam fortes.
As flores murcham depressa
para que o gesto de gentileza não acabe nunca.
É por isso que as flores não duram muito.
29 de outubro de 2007
Tudo é abstrato
Tudo é abstrato nesta vida
As idéias que norteiam o mundo
O amor que impulsiona o coração
A fé que alimenta o homem
A esperança que sustenta os ânimos
Abstrato é o poeta
diante da própria poesia.
A lição de vida
O que eu sei da vida
todo mundo sabe.
É ilusão pensar ao contrário.
Mas o que eu consigo prender
nos meus versos e poemas
só o que eu já passei e vivi
ficam para sempre.
O resto aprisiono nas palavras
para que os outros possam entender.
Os homens estão sempre à margem do rio
olhando as águas que correm para o mar.
Enquanto seus pensamentos voam.
24 de outubro de 2007
Asas ao vento
que nunca foram ditas
por nós dois.
O amor nunca foi feito de palavras
apenas de gestos e de manhãs muito claras.
E o nosso amor
é feito de tempo e de asas ao vento.
para pegar as migalhas do pão.
Eles, coitados, não sabem contar
as horas prazer,
os dias de euforia
e os anos de cumplicidade.
Deixa os pássaros voarem.
Eles, coitados, só têm asas.
Nós temos sonhos e desejos.
23 de outubro de 2007
haicais
a abelha vive muito
porque só carrega o que pode
– é o excesso que mata
quem só busca as palavras
não encontrará nada
só o coração traz os bens
quem lavra a terra seca
mendigará no verão
e não colherá coisa alguma
o que separa o grão da casca
não é o tamanho do pilão
– a força que é empregada
o telhado que retém o frio
é o mesmo que na tempestade
protege a casa dos ventos
é verdade que a beleza
não põe a mesa
nem a preguiça enche os pratos
não são as asas nem o vento
que levam a abelha ao mel
– o desejo em construir a casa
só os vivos sabem que vão morrer
os mortos não sabem nada
– um cão vivo vale muito mais
o preguiçoso observa o vento
para plantar a semente
o trabalhador a estação propícia
não é a força nem o tamanho
que mantém o leão vivo
– a paciência e a persistência
mais feliz que o pássaro
e todos os homens juntos
é aquele que ainda não nasceu
uma canoa à beira do rio
é mais útil ao viajante
do que as suas vestes de cetim
deixar um vício
não é só trocar de roupa
é também mudar de pele
a lagartixa pra não morrer
come o próprio rabo
porque conhece a sua natureza
nem tudo que tem asas
e voa é pássaro
– cuidado com os morcegos!
os animais não são bichos
bichos são os homens
que matam roubam e fogem
Traçar caminhos
que só o coração sabe
é deixar a alma
deslizar nas asas do vento.
O rumo do coração
é o universo azul
que só o amor conhece.
A direção do coração
é o lugar colorido
que só a paz descobre.
Nesta vida sou caminheiro
que a passos largos e constantes
segue todos os caminhos.
16 de outubro de 2007
Todas as palavras de Minas Gerais
Ditadura / Nunca Mais
Meus pais dormem, o sono eterno,
Desarmardos de amarras e necessidades.
Do meu pai, ganhei a emancipação e o espirito livre;
Da minha mãe, herdei o delírio e a paixão.
Mas, da minha avó, aprendi a ter paciência
Ela, na boca de um forno a lenha,
Assava os bolos e as brevidades.
Só então compreendi que os maus
Podem dominar a escuridão da noite
Mas não conseguem segurar os raios do romper
De um novo dia.
2
O meu filho mais velho,
nasceu no dia do primeiro comício das Diretas Já.
Eu acho que é da dor do parto,
Da minha mulher, que renasceu a esperança
Para um povo oprimido e violentado
Por uma ditadura tão improcedente
Feroz e cheia de dentes.
Eu pai de primeira viagem contente.
Meu filho chorava no berço.
Minha mulher suava na cama.
E o comício agitava o Vale do Anhagabaú.
E eu embalando uma dor e uma alegria.
3
Eu estava lá.
Quando o poeta Thiago de Melo,
no teatro Brigadeiro Luís Antônio,
trouxe o seu livro de poesias de baixo do braço.
Mas não era poesia não
Era o "Estatuto do Homem"
E ele, com a sua voz de nortista,
começou a declamar o primeiro verso:
"Todo Homem tem direito..."
E eu, que estava lá, só arrepiei.
4
Eu estava lá.
Quando o poeta Ferreira Gullar,
na livraria Civilização, do conjunto nacional,
ali bem no começo da avenida Paulista.
Com os cabelos compridos e a boca grande
Lançou os seus poemas sujos de tantas lutas,
idas e vindas clandestinas para passar um País a limpo.
E eu, que estava lá, entrei na fila para pegar um autógrafo.
5
Eu estava lá.
Quando o maluco do Raul Seixas,
no teatro Bandeirantes na avenida Brigadeiro Luís Antônio,
começou o seu show gritando palavras de ordem.
E a polícia do exército fechou as portas a ponta-pés.
Rasgando as cortinas do palco e encerrando o espetáculo.
E eu, que estava lá, não recebi o meu dinheiro de volta.
Quando estou ao teu lado
Quando a minha boca
a tua boca toca
Quando o meu corpo
o teu corpo arranha
um ardente desejo / assanha.
Quando a minha mão
a tua mão segura
apanho toda / ternura.
Quando estou ao teu lado
na tua vida
deixo o meu amor nas / alturas
15 de outubro de 2007
Artifíces
Procura na lama e nos cascalhos
Um precioso mineral
Que traz poder e riqueza.
O músico extrai dos instrumentos,
da imaginação e da sensibilidade
Sons novos e timbres diferentes
que falem de alegria e de tristeza.
O poeta tem a sua ferramenta
Para lapidar as suas preciosidades
Seja nos vales, nos rios e na alma
Para extrair idéias e belezas.
Enfim, todos são artifíces
Do próprio ofício da vida
Pois, tudo no fundo é uma lida.
que não identifico
apenas fico calado apreciando
enquanto a noite sustenta as estrelas
eu fico, na janela do meu quarto,
com as mãos espantando a insônia
o que o dia me rouba
a noite clara não devolve
só a poesia me satisfaz e completa
o sorriso não purifica ninguém
porque a boca é oca
e a língua impura
a cigarra escolhe as tardes quentes
para cantar até morrer
e os girassóis ficam altivos ao meio-dia
os meus braços nunca foram fortes
para guardar e preservar os carinhos
que a minha mãe me dedicou
a minha cidade foi erguida
na curva de um rio de água doce
por isso nasci sobre pedras e me fiz poeta
eu não escrevo nada ou quase nada
apenas respiro e tento manter-me vivo
e sei que nem vento pode varrer a poesia
Outono
Estou com saudades
de lonjuras distantes.
Um pouco, porque é outono,
e ele me traz tristeza e sono.
As folhas caiem e cumprem seu destino,
mas as árvores, não.
Ainda é tempo delas,
embora não sejam eternas.
As outras estações chegarão,
e as árvores vão arvorear novamente.
Quem sabe, eu também?
Luiz Dias
12 de outubro de 2007
a nossa alegria seria muito mais duradoura
As mulheres são cristais
As mulheres usam pulseiras e colares
Para ficarem parecidas com a lua
A lua com seus véus de prata
As mulheres usam saltos altos
Para passearem entre as nuvens e as estrelas
E se confundirem com os diademas e os arco-íris.
As mulheres foram feitas de cílios e unhas compridas
Para tocarem no ventre e no útero divinos
É por isso que elas são etéreas e luzes.
As mulheres são sedas brancas e pedaços de fita
Com as mãos de finos cristais transparentes.
10 de outubro de 2007
Um dia, eu voltarei, sim!
O brilho das águas do Rio Doce
As sombras dos buracos da rua
O beijo molhado da amada
O abraço apertado do amigo
As lágrmas do choro materno
Os versos nos livros encadernados.
(nada mais pude carregar / as malas ficaram vazias
e no peito um coração cheio de saudades)
Eu embarquei no trem (e parti).
(um dia, eu voltarei, sim!)
Para ser aquele mesmo menino
Hoje, um poeta estranho e estrangeiro,
Mas que ainda sente saudades:
Do clarão da lua e do brilho das águas
Das sombras da rua e do beijo da amada
Do abraço do amigo e do choro materno.
(um dia, eu voltarei, sim!)
Só para levar estes versos cheios de saudades.
Ah, Rio Doce das enchentes!
as suas águas barrentas
levando o meu coração
entre pedras caladas
e ilhadas solidões.
Ah, Rio Doce das Gerais!
o seu longo leito
seguindo lá pro mar
e eu tão distante vagando
por terras sem cais.
Ah, Rio Doce da vida!
os seus caíques navegando
contra as correntezas
e eu tentando a vida encontrar.
8 de outubro de 2007
Tudo é urgente na vida
À sombra da montanha cresce a relva
e o rumor da água que sonha com o mar.
Por isso não posso esperar os frutos nem o sal.
Tudo é urgente na minha vida.
Amanhã é muito longe e hoje é distante.
Preciso guardar o frescor da tarde
e a umidade do orvalho matinal.
Tudo é urgente na minha vida.
Tudo. Até o amor efêmero e eterno.
Na vida a dois,
não se inventa milagres
nem se guarda rancores.
Se há amor
é no recomeço
que se chega mais longe.
que nunca foram ditas por nós dois.
apenas de gestos e de manhãs muito claras.
é feito de tempo e de asas ao vento.
4 de outubro de 2007
Em homenagem à minha filha:
vai com cautela, menina!
o caminho é de pedra
e a vida passa muito depressa
Se amo,
porque me amam
não é amor, é causa.
O amor fino
não busca causa
nem fruto.
Se amo,
para que me amem
não é amor, é fruto.
Se amo,
porque me amam
não é amor, é obrigação.
Quem ama
porque o amam
não é amante, é agradecido.
O amor de verdade
não busca causa
nem fruto, simplesmente ama.
Amor não é ciência
nem conhecimento
é puro sentimento.
Amor não é ciência
porque não tem causa
sem causa não há efeito.
Quem diz que ama mais
sente um amor imperfeito
porque amor não cresce nem aumenta.
Quem estima vidros,
pensando que são diamantes
estima diamante e não vidros.
Quem ama defeitos,
cuidando que são perfeições,
ama perfeições e não defeitos.
Os homens não amam
aquilo que cuidam que amam.
Amam aquilo que imaginam.
Amar por razões de amar,
isso todos fazem
Amor de amar é fineza.
3 de outubro de 2007
Escrevo não porque gosto.
Escrevo por necessidade do meu cérebro errante.
Escrevo porque quero.
Escrevo porque não tenho uma profissão.
Não sou lírico.
Sou um ser despedaçado pelas palavras
e pelas letras que um dia me dominaram.
Escrevo porque sou um vinho de uma safra passada
num cálice de ouro de um altar sacrossanto da vida.