Em tempos que já lá vão,
Houve, em terras de Barcelos,
Crime de certa emoção
Que fez nessa ocasião
Arrepiar os cabelos !...
Andou o povo alarmado
E, de medo, nem dormia !...
Quem seria o desalmado
Que a tanto se atrevia ?...
A todos foi perguntado,
Mas ninguém, ninguém sabia !...
E um Juiz, para sossego
Desse povo espavorido,
Condena à forca um galego
Que lhe diz:
“Protesto e nego
Tal crime ter cometido;
Sou um pobre peregrino
Devoto de Sant’ Iago;
Compostela é o meu destino
Com esta fé que em mim trago.”
E a quem se achava presente,
O galeguito , coitado,
Houve, em terras de Barcelos,
Crime de certa emoção
Que fez nessa ocasião
Arrepiar os cabelos !...
Andou o povo alarmado
E, de medo, nem dormia !...
Quem seria o desalmado
Que a tanto se atrevia ?...
A todos foi perguntado,
Mas ninguém, ninguém sabia !...
E um Juiz, para sossego
Desse povo espavorido,
Condena à forca um galego
Que lhe diz:
“Protesto e nego
Tal crime ter cometido;
Sou um pobre peregrino
Devoto de Sant’ Iago;
Compostela é o meu destino
Com esta fé que em mim trago.”
E a quem se achava presente,
O galeguito , coitado,
Jura encontrar-se inocente,
E ao ver a turba indiferente,
Diz então desesperado :
“Vedes esse galo assado
Que ali pôs a Providência ?...
( E aponta um cesto a seu lado )
Cantará alto e afinado
Antes de eu ser enforcado,
Provando a minha inocência !...
Que a morte , a mim , não me assusta;
Sei que um dia há-de chegar ;
E, no fundo, o que me custa
É essa sentença injusta
De morrer com falta de ar !...
E tudo riu a bom rir
Pelo insólito e inesperado,
Pois ninguém pensou ouvir
Coisa assim a um condenado
Patíbulo já preparado,
Eis que tocam as trombetas !...
Sobe à forca o desgraçado,
O galo estica as canetas
E desata a cantar tretas
Frente ao povo embasbacado !...
E perante o inaudito
A execução é suspensa !
Vem à forca o Juiz, aflito,
Revogar a tal sentença,
Dar o dito por não dito .
E o galego agradecia,
Comovido e com fervor,
Ao galo que lhe valia
E a Graça que recebia
Do seu Santo protector :
Sant’ Iago, eu bem sabia,
Santinho, que não deixavas
Que, por crime que outrem fazia,
Galego pagasse as favas !...
E arranca caminhos fora
Té Compostela vizinha,
Coração mais livre agora,
Mais livre que uma andorinha !...
Do milagre recebido
Não se esqueceu o Romeiro,
Que algum tempo decorrido
Erguia aqui um cruzeiro .
Cruzeiro que simboliza
O mundo de pesadelos
Que um “ Galego da Galiza “
Vivera cá em Barcelos !...