Há uma característica que dizem
ser muito portuguesa que é a típica atração pelo acidente. Dos outros, pois
claro. São os chamados orçamentistas. No Crash do Cronenberg esse atraimento
era pessoal e inclusivo, por isso mais honesto e moral. Não é disso que se
trata. Aqui, em lusas terras, é de quem está do lado de fora. Ou pensa estar. Porque
não fazendo parte da desgraça, olha de cima, numa clara sensação de
superioridade. Quero acreditar que é uma generalização abusiva ampliada pela
Bíblia do desastre e da calamidade, o Correio da Manhã, e que a maior
parte dos portugueses, como todos os povos saudáveis, respeitam o infortúnio do
próximo, especialmente quando estamos a falar de desporto.
O Benfica, o maior e mais
glorioso clube nacional, ficou ferido no sábado. Muito ferido. Não perdia há
mais de sessenta anos, por três golos em casa, com o seu rival de Lisboa. É
normal que sejam horas terríveis para o Benfica e momentos de excitação para o
Sporting de Lisboa. Porém, o diretor do jornal A Bola em vez de apontar o dedo
para a inédita vitória dos do Lumiar, enfia violentamente o dedo na ferida do
bicampeão. São estilos, como diria o excedido Pedro Guerra.
Que oportuno encher hoje as
bancas com Taarabt, Carcela, Cristante, Djuric, Talisca e Lisandro. 27 Milhões
fora do relvado, escreve nas paragonas. Seis casos, sobre os quais muito se
podia escrever e analisar, mas todos diferentes entre si e que juntos não fazem
uma teoria. E nem sequer é situação exclusiva do Benfica. Querem fazer as
contas aos milhões do Sporting e do FCP que também não calçam? Não querem, porque
não vende, pois a onda que se deve surfar é a crise do bicampeão nacional.
No entanto, pergunto-me se algum
adepto do Benfica, nestes dias de descontentamento, sente vontade de comprar o
jornal? Encontrará nele alguma esperança nestas notícias? Ou o público-alvo são
os outros? Aqueles cujo clube que professam é o anti-benfiquismo?
Provavelmente.
A questão não é meramente
pontual. Desde o início da época, o bicampeão, o clube que mais venceu nos
últimos dois anos, tem sido atacado de forma contínua e ininterrupta. Tem sido
um fartote. Não há página, não há programa, não há artigo, que não enfatize o
mau momento, a crise, as opções. Tornou-se fácil bater no Benfica. Não dá
trabalho. Não custa. E pelos vistos, rende.
O que seria se o Benfica
contratasse um treinador à socapa e este andasse fugido e escondido durante
várias noites? E se o Benfica tivesse meses e meses de insucesso para conseguir
uma empresa interessada em patrocinar a camisola? E se tivesse um ex-dirigente
em tribunal, acusado de clara corrupção, em nome do clube? E se porventura
comprasse um jogador com a ajuda de um fundo e depois ficasse com o dinheiro da
venda? E se fosse eliminado da liga dos campeões e estivesse aflito no grupo da
liga europa, com equipas de segunda ordem?
E se investisse como nunca e mesmo assim, não liderasse o campeonato? E
se o Vieira passasse dias e dias a atacar o rival, delirando infantilmente sobre
jantares com champanhe?
Hipoteticamente, os nossos jornais
seriam os mais lucrativos do mundo. Porque nunca foi tão fácil atacar o Benfica
JL