...hoje com 32 anos eu consigo entender, coisas que me falavam quando tinha apenas um dígito de idade, consigo entender todos os tantos, mas eu tinha outros planos, planos tão bem elaborados, guardados, que esqueci ee realizar, eu queria que me falassem coisas pertinentes ao meu tamanho, mas parece que até mesmo aqueles que sabem tudo, esquecem que não sabiam, na medida que crescem.
Do meu primeiro amor, disseram para não sufocar, para dar espaço, e para jamais dizer te amo, eu não entendia, nos gostávamos tanto, antes de namorar eu já sabia que quando casasse ia sarar, mas nunca me disseram, sarar do que. Sobre Aids disseram que se não me cuidasse iria pegar, de camisinha ninguém falou. Ensinaram palavrões, gírias, folclore, coisas místicas, aprendi sobre inflação, corrupção, religião, sexo, aprendi a malandragem, ninguém nunca falou sobre paixão, sobre desejo, sobre realização.
Me pediam para acender cigarro no fogão enquanto jogavam baralho, e eu, me sentia privilegiado, invejado, ainda mais, quando preparava os cubas para tios, primos, pra quem jogava, coca cola, dois dedos de vodka e na falta ia cachaça, ali eu aprendi a esconder o jogo, deixei de ser novo, eu aprendi, não exatamente ali, aprendi inclusive a roubar, pé de goiaba, manga, ameixa, eu era a contravenção em pessoa, assaltos diários e assassinatos, tortura em série, eram sapos fritos com sal, patinhos estrangulados, gatos sem bigode, aprendi com os "melhores", nem sei mais sobre o que estou falando, eu só queria, eu queria tanto...