Como devia ser do conhecimento geral, mas não é, qualquer aquisição de experiência implica raciocínios, condição indispensável para posterior a reiteração do interiorizado. Sucede que qualquer raciocínio, por mais elementar que seja, é sempre elaborado com palavras. Noutros termos, pensamos através de palavras e só através delas. Donde resulta que sem um sólido domínio de pelo menos uma língua, não é possível progredir seja em que matéria for. É uma lástima, mas é assim.
Isto para abordar a entrevista concedida por Eugénio Almeida, presidente do IPT, ao CIDADE DE TOMAR, onde defende assaz bem a posição do estabelecimento de ensino que dirige. Infelizmente, quando sustenta que aquela casa prepara os seus estudantes para aprenderem a aprender, em conformidade com as orientações da Declaração de Bolonha, tem razão mas não é credível. Tem razão, pois esse deve ser o caminho -dar a cada um uma cana de pesca e ensinar-lhe a pescar, em vez de o presentear com peixe já cozinhado e tudo. Não é credível porque a sua língua de trabalho o traiu: Quando se é doutorado por um estabelecimento idóneo, é inadmissível dizer "ocorrem-me sempre um conjunto", quando o correcto seria "ocorre-me sempre um conjunto de questões", ou em alternativa "ocorrem-me sempre questões que nunca vi abordar".
Nas altas camadas do saber académico, testemunhado por documentos, está-se permanentemente num exigente exercício de equilíbrio, sem rede de protecção, em que o mais pequeno desvio pode ser a morte trágica do artista. Quem não controla o discurso, também nem sempre consegue raciocinar adequadamente...
E chegamos à questão do novo empréstimo, a solicitar pela autarquia tomarense, noticiado no MIRANTE e na página 4 de CIDADE DE TOMAR. Trata-se de pedir à banca mais 987.691, para pagamento da participação autárquica na empreitada da Cerrada dos Cães e no Elefante Branco da Levada. Debatido o assunto na reunião extraordinária da passada terça-feira, acabou por ser aprovado por unanimidade. Situação inesperada, uma vez que Hugo Cristóvão, presidente do PS local e seu líder na Assembleia Municipal, garantiu há um mês que o PS não votaria favoravelmente mais nenhum empréstimo, quando afinal... Ou será para chumbar no parlamento local? Situação inesperada também, e mesmo algo incongruente, dado que as justificações apresentadas pela relativa maioria "não encaixam". Se não erro, a empreitada designada por Envolvente ao Convento de Cristo subdivide-se em duas: uma com a candidatura a fundos europeus já aprovada, no valor de 648 mil euros; outra ainda em fase de apreciação, num total de 1milhão e 800 mil euros. Quanto ao Elefante Branco da Levada, o painel informativo colocado junto à Ponte Velha, que entretanto foi removido, indicava um investimento de 6 milhões de euros. Sendo assim, como a participação obrigatória da autarquia é no mínimo de 20%, temos: Cerrada dos cães 120 mil euros; Envolvente ao Convento (se entretanto a candidatura a fundos comunitários for aprovada) 360 mil euros; Elefante Branco da Levada 1 milhão e 200 mil euros. Ou seja, um total de 1 milhão 680 mil euros, caso não haja qualquer derrapagem nos preços, o que seria caso raro, praticamente único. Nestas condições, os 990 mil euros agora a solicitar à banca, vão servir realmente para quê? Para ir entretendo a oposição até ao próximo e inevitável empréstimo?
Admitindo que consigam a aprovação da Assembleia e um banco que esteja para aí virado, ficarão com uma dívida global de 35 milhões de euros = 7 milhões de contos. Que será paga como, quando, com que fundos e por quem? Esperam vir a encontrar petróleo algures no concelho? Ou contam com a reabertura das minas de ouro do Poço Redondo?