Certa vez peguei Vovó chorando em compulsão de dor bem grande e o Vô com os olhos vermelhos. Quis saber o que era e ninguém falou nada.
Dias depois soube por uma conversa entre minhas tias que a mais nova estava grávida e seria mãe solteira.
Fui perguntar o Vô porquê aquilo de ser mãe solteira era tão triste. Ele veio dizendo que não era assunto pra mim, que só gente grande falava disso. Mas, insisti.
_ Vô, o que tem ser mãe solteira?
Ele ficou calado me olhando, como se não soubesse o que responder. Acho mesmo que ele não sabia.
_ Mas Vô, ser mãe não é a coisa mais linda do mundo?
_É.
_Quando eu estava na barriga da minha mãe você chorou também?
_ Claro que não.
_ Então o bebê da tia não vai saber que te vi chorando quando ele tava lá dentro, tá?
_ Por quê?
_ Ele não precisa saber...
_ Hum...Um dia você entende.
_ Coração de gente não sabe quando se nasce de mãe solteira, sabe?
_ Não.
_ Só sabe que nasce, não é?
Ele ficou me olhando e os olhos encheram novamente. Chegou pertinho e falou:
_ Obrigado.
Nem respondi, na hora não entendi o que aquilo significava...
Há uma janela, entre minha cidade e a dela, por onde conversam asas. abro, espio e as vejo em brasas no balanço mineiro do sino; também Tilim tino também Tilim tino também Tilim tino e passo em desatino ao outro lado: - mas logo no coração, Cupido Afobado?! logo no coração?!
sábado, 10 de julho de 2010
Do dia em que fui flor
Quando me fizeram de flor na escola, cheguei em casa contente pra contar pro meu avô.
Ele pediu que eu imitasse como flor fazia e eu fiz. Fiquei quietinha e de vez enquando balançava devagar. A mãe veio da cozinha braba e disse que eu tinha que ficar paradinha, que flor não se mexia e que eu ia fazer feio. E eu quis saber como fazia se ventasse. Ela ficou quieta. O vô veio e me abraçou rindo, depois disse:
_ Que bom que flor criança não tem espinhos!
Ele pediu que eu imitasse como flor fazia e eu fiz. Fiquei quietinha e de vez enquando balançava devagar. A mãe veio da cozinha braba e disse que eu tinha que ficar paradinha, que flor não se mexia e que eu ia fazer feio. E eu quis saber como fazia se ventasse. Ela ficou quieta. O vô veio e me abraçou rindo, depois disse:
_ Que bom que flor criança não tem espinhos!
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