Eu estava lá,vestida com a camisa que herdei dele,por isso sinto-me no direito de sair com ela por aí,pelas avenidas movimentadas,pra ver se encontro algo que lembre um pouco da felicidade quando aquela camisa,agora grudada no meu corpo,estava nele, quando ele estava na minha casa,comigo.Ah como queria que uma dessas pessoas tivesse o sorriso dele,ficaria tão feliz,capaz até de tirar a camisa herdada e fazer loucuras,mas acontece que não existe,era singular.Pelas vidraças vejo famílias felizes,nas ruas vejo pessoas discutindo,amando,querendo amar,mas em mim,o que vejo?nada além de uma camisa cheia de letrinhas que me mostram uma avalanche de lembranças que juro por tudo que quero esquecer,nesse asfalto eu queria correr,desse céu queria que caísse uma chuva que levasse tudo de mim,e me repusesse uma nova alma,sem falhas,sem escolhas falsas,sem lembranças e principalmente sem ele tomando conta de mim,desse meu corpo,que não aguenta mais vê-lo em flashes nessa mente cansada e nesses braços fatigados de bater nessa cabeça oca,pra ver se essa memória sai de mim,se ele sai de mim,mas não dá,nem adianta,tudo lembra,até o que não foi feito pra lembrar e sim para esquecer.Tento ler,tento chorar,tento rir,mas não dá ,não tenho expressão,isso é assustador mas não dá.Amanhã tenho que acordar cedo e já é quase meia noite e não consigo imaginar quanto tempo fiquei sem pensar naqueles tempos,naquela vida e o porquê dessa camisa ainda está grudada nesse meu corpo molhado de chuva,que não me levou a alma.