
Desde que o amigo Flávio nos apresentou ao intenso mundo da Massagem Tântrica, estávamos curiosos para ir além, mais fundo, aprender alguma técnica, descobrir mais sobre esse mundo novo que nos desafiara. Por recomendação sua, procuramos o site do Metamorfose, onde vários cursos estão voltados em maior ou menor grau para o assunto. E, por sorte, conseguimos duas vagas para o curso de Massagem Êxtase Total, que se realizaria no fim de semana passado. "Você está disponível este fim de semana?", perguntou
Mestre Dexter. Imagina se não... E lá fomos nós.
O curso duraria um fim de semana inteiro, das 9 às 18h nos dois dias. Mas será que havia tanto assunto? Ô se há!
Ao todo, éramos 12 pessoas, seis casais, todos héteros. Nos apresentamos e descobrimos que havia um número significativo de engenheiros e advogados. Bem, talvez o mundo tenha salvação, no final das contas...
A parte inicial nos apresentou ao conceito do Tantra, de forma bem elementar, e à fisiologia dos genitais masculino e feminino, mais elementar ainda. Com muita conversa sobre o encontro do Divino e do Sagrado no contato entre Shaktis e Shivas, ou seja, entre a mulher e o homem, meu ateísmo e o paupérrimo senso espiritual que me preenche começaram a se inquietar. Não, eu não estava ali para me curar de nenhum trauma ou frustração, nem para me tornar uma pessoa melhor para um mundo mais harmônico, muito menos pensando em como contribuir para o equilíbrio das energias no universo. Eu estava ali para aprender mais sobre algo que podia (ou não) acrescentar prazer a algo que já me é muito prazeroso ao lado de meu parceiro e cúmplice: o sexo. Sem disfarces ou pretextos. Ponto. Pode ser?
Colocadas as ressalvas quanto ao misticismo da coisa toda, fomos finalmente à prática. Formados os casais (e só nós dois éramos algo parecido com um casal real, os demais não se conheciam até então), daquele momento em diante tratados como Shaktis e Shivas, ficamos frente a frente, mergulhando no olhar e no espaço do outro. A trilha sonora era boa até demais, considerada a situação e a expectativa. OK, incluía a indefectível Enya - mas com o tema do filme O Gladiador, "Now we are free". Dessa, eu gosto. Me dá vontade, sempre, de alisar uns triguinhos. E o Russel Crowe saradaço daquele filme é uma boa inspiração para as circunstâncias. Ai!

Após os salamaleques iniciais, de conexão com o outro, começamos nós, as Shaktis, deitando nos colchonetes, para a prática chamada Sensitive. Uma interminável e deliciosa sequência de levíssimos toques feitos com a pontinha dos dedos e as unhas sobre todo o corpo - frente, verso, lado direito, lado esquerdo. Para quem recebe, uma maravilha. Para quem aplica e não tem o preparo físico de um atleta olímpico, um desafio a músculos que, no dia seguinte, latejarão de dor. Se duvidam, experimentem ficar mais de uma hora alisando daqui pra lá, de lá pra cá, ida e volta, volta e ida, de cócoras, ajoelhados, de quatro, esticando e puxando, sem perder a conexão com o corpo do parceiro. Caras, isso cansa. Mas vamos que vamos.
A certa altura do alisamento, a orientadora pede aos Shivas que espalhem óleo mineral sobre coxas e ventre de suas Shaktis. Todos os homens vestem luvas de látex e confesso que sempre que escuto o barulhinho de uma luva de látex sendo esticada me dá um arrepio de tesão... coisas de uma fetichista empedernida, que adora um fisting, mas é melhor tirar esse pensamento nada zen da cabeça. Aos poucos, o óleo vai sendo espalhado para a região da virilha e, de lá, para a vagina. Hummm. Lá vamos nós pra montanha russa!
A sequência de toques é de matar um monge budista de impaciência. Primeiro, uma longa massagem nos lábios da vagina, para cima e para baixo, ida e volta, passando por cima do clitóris. Depois, mais uns minutos de pressão do polegar sobre o nervo clitoriano. Daí, um processo muito esquisito que ela chama de extrusão do clitóris: dois movimentos que beliscam (sic) e alongam (sic, sic, siiiic) o dito cujo, que se ressente da agressão. Porra, isso dói! Mas a instrutora informa que a dor é psicológica, que vem de nosso condicionamento. Pode até ser, mas esse "condicionamento" vai se manifestar por pelo menos uma semana... ufa!

A certa altura dos acontecimentos, a moça manda os Shivas ligarem um bullet vibrador na potência mínima e, com ele, passearem pela lateral do clitóris até acharem o ponto em que as Shaktis vão reagir. Por reação, leia-se: REAÇÃO. Quando o aparelhinho encosta no ponto certo, o orgasmo é violento e inevitável. Ao redor, a mulherada se esbalda, ri, gargalha, chora, grita, uma zona total. A mulher manda aumentar a intensidade do vibrador. A balbúrdia aumenta. Na intensidade máxima, a maioria pede penico - quantos orgasmos uma mulher pode ter antes de desmaiar???
- Morram, Shaktis... morram...!
Nem precisa mandar...
Aos poucos, a loucura se esvai e nos permite relaxar, ali mesmo, desmontadas, suadas e lambuzadas de óleo, sobre os lençóis embolados ao nosso redor. Agradecemos aos Shivas a dedicação com que nos honraram e saímos para um sábado de chuva e calor, quase surpresos de ainda estarmos em São Paulo, em plena Vila Madalena, e não em algum lugar do Tibet...
De volta da pausa para o almoço, é a vez de invertermos os papéis. Cabe agora às Shaktis se aplicarem aos corpos de seus Shivas. Com a sensação de intimidade que nos dá o orgasmo coletivo, me permito ficar só de top e calcinha (sim, eu levei uma, para variar, depois de uma conversinha básica com o Flávio...rsrs) para a maratona de toques do Sensitive. Para quem, como eu, adora fazer cafunés nas pessoas queridas, é uma viagem deliciosa. Só que, prolongada por uma hora, começa a impor seu preço a tudo quanto é articulação, músculo e terminação nervosa, de resto já esgotados da jornada da manhã. Enfim, noblesse oblige e meu amado está ali, entregue a minhas mãos. Nada de fazer corpo mole! E toca tocar mais e mais.

Quando finalmente acaba a primeira etapa, é hora de dar toda a atenção ao lyngan - ou pênis - de nossos Shivas. Gosto disso, juro. Vestindo as luvas (a vontade é de dizer que não, obrigada, pele na pele é bem melhor, mas no Tibet como os tibetanos, melhor ficar quieta e não criar mais caso), começamos a espalhar o óleo pelas coxas, as virilhas, o saco e o pênis. Com a mão espalmada, massageamos o saco para cima, até a ponta do pênis. Depois, pressão ao longo de todo o nervo até a base da glande. Pontinha do indicador ao redor da glande. Estica e prende a pele do pênis na base e começa a trabalhar a glande, com a mão em conchinha, chuveirinho, e torção para um lado, para outro... a coisa vai ficando cada vez mais interessante. As manifestações de orgasmo são ouvidas daqui e dali, à medida que aumentamos a velocidade dos movimentos e a intensidade da pressão. Uns berram, outros suspiram, outros mergulham para dentro de seu próprio prazer. Vale tudo. E tome óleo! No final, relaxamento e até amanhã. Sim, porque no dia seguinte tem novo round, desta vez com pares trocados. Tudo em nome da troca de energias, claro. Então tá.
No final das contas, feito o balanço do evento, o saldo é pra lá de positivo. Conhecemos pessoas interessantes, outras nem tanto, mas o clima estava muito gostoso. Agora falta praticar mais, claro. Nessas coisas físicas, a repetição é que garante a excelência...