quarta-feira, julho 28, 2004
«"Reduzir o tempo passado a ver televisão deveria tornar-se numa prioridade de saúde da população", afirmou Robert Hancox, especialista em medicina preventiva da Universidade de Dunedin, que realizou o estudo.» Correcto. E a resolução do problema talvez se encontre nos intervalos. Nos intervalos privilegiados. A televisão devia, pura e simplesmente, calar-se. Devia submeter-se à opacidade do ecrã, ao negrume que a dignifica. Se não em todos os minutos, pelo menos durante o chamado horário nobre. (Seria essa, aliás, a sua maior nobreza.) Em nome da saúde pública. Em homenagem à lucidez que ainda resta. Em prol de uma sociedade culta e civilizada. Em benefício da evolução física, mental e espiritual do ser humano.
José Ferreira Borges in "A Oeste Nada de Novo" - blogue da Periférica
terça-feira, julho 27, 2004
JPIT – Como encara a nova escrita em Portugal?
AAN – Existe?
JPIT – Bem, seja! E os novos escritores?
AAN – Dos novos escritores sei pouco. Apeei-me do carrossel das novidades por tédio acumulado. Problema meu, bem sei. Mas a escrita está a atravessar uma fase de expansão e de alargamento dos seus escribas. Dos que conheço, há por aí uma rapaziada com pintarola e estilo que assaz me diverte. Mas são muito poucos. Os restantes, mais valia que estivessem manietados, ou então, que fosse emitida licença de porte de pena (risos) apenas para os mais válidos e esforçados. Quanto aos dinossauros, continuam a sua saga hermética e pesadíssima. Ademais, qualquer tipo que passe muito tempo a escrever, tal como o meu psiquiatra, deve ter um problema psicológico grave, ou uma adolescência mal resolvida, tal como o Pedro Paixão (risos). Há ainda o caso de certa “literatura” que só faz sentido, se algum sentido tiver, ao ser adaptada para cinema de segunda categoria, convenhamos. A lamechice pacóvia e a estética barata e berrante é o que mais prolifera. Modernos? Não me lixem, pá!
JPIT – É então apologista de um universo da escrita que seja apenas para cultos e eruditos?
AAN - Não de todo. Até porque a loucura e a criatividade não carecem ser fundamentadas. Precisam somente de jorrar com naturalidade. Haja talento quanto baste. Hajam autodidactas com pujança e arreganho. E, é claro, leitores com elasticidade mental. No entanto, o universo restrito que evocou, sempre existiu e sempre existirá. Compreendo-o e aceito-o, mas não o sustento porque é cada vez mais alienígena em oposição à realidade.
JPIT – E como encara o mundo dos media?
AAN - Hoje em dia padece-se do síndroma do consumo da comunicação. Mas a maior parte dela não passa de pura bacorada, informação desnecessária, ou de mero ruído no canal. Pior ainda, trata-se de tudo isto, mas, somente, com a finalidade de comércio desenfreado e caótico apoiado num sensacionalismo bacoco que já está institucionalizado.
E no domínio do entretenimento é o horror supremo. As pessoas vão ficando esvaziadas de paixões reais e preenchem esse vazio embasbacando-se com a virtualidade fácil da televisão. As avós já nem fazem filhós. Vêem telenovelas. (risos)
JPIT – Acusam-no frequentemente de ser elitista e de ter uma postura arrogante. Tem consciência disso?
AAN – É óbvio que sou elitista: acredito muito precisamente em mim. Defino-me como anarco-totalitário. (risos) E quanto a arrogância... Bom, tive uma infância feliz e uma juventude revolucionária e activa que muito me ensinou e fortaleceu, tendo deixado marcas indeléveis no comportamento ou nos desvios do mesmo. (risos) Posteriormente, evoluí no sentido diametralmente oposto – a interiorização. Desde então, tenho gerido a minha liberdade com o devido à-vontade. Não tive qualquer aprendizagem mafiosa, nem sou detentor de ambição desmesurada. Logo penso que a postura arrogante virá, inevitavelmente, do aprumo do espírito, da nobreza do carácter, da franqueza do discurso, da luminosidade do ser, da superioridade do sangue, da candura da alma, do brilho da mente, da loucura grávida de porvir, do ser conservador pela preservação da individualidade, da capacidade de amar ou da incapacidade de aturar bestas, e, muito depois disto tudo, dos motivos que queiram encontrar. Muito obrigado. (risos)
JPIT – Projectos para o futuro? Não tem de revelar os secretos... (risos)
AAN – Sonho vir a escrever, no domínio da ficção, a primeira página mais brilhante e genial jamais criada. O resto da obra serão trezentas páginas em branco, onde o leitor poderá participar activamente. Literatura interactiva de última geração. (risos finais)
quarta-feira, julho 21, 2004
O SULturas - versão papel, Nº2 2ª série está, finalmente, nas ruas, vielas, becos e demais bueiros. É apanhá-lo ó vilanagem! E reavivando a vossa memória deixo-vos com um cheirinho do Nº1...
Terror literário para os destinatários, um a um
So-le-tra-da-men-te e es-tu-pi-da-men-te ler-do e im-be-cil co-mo és, lês: “A Mi-nha Mor-te!” Tro-pe-ças no sen-ti-do da fra-se, que, em-bo-ra não o sai-bas é, e-vi-den-te-men-te, só um, he-si-tan-do a-ssim o su-fi-ci-en-te pa-ra que a mes-ma sur-ta e-fei-to, e-co-an-do du-ma ma-nei-ra ful-gu-ran-te, na tua dé-bil e i-nú-til ca-be-ça de sí-mio. I-rre-ver-si-vel-men-te o teu crâ-nio co-me-ça a es-ta-lar. Os o-lhos es-bu-ga-lham-se e re-ben-tam se-ca-men-te. A pi-la pe-tri-fi-ca e tom-ba. As vei-as e ar-té-ri-as di-la-tam, trans-bor-dam e es-pi-rram es-gui-cha-da-men-te, a-té ao pon-to de se-cu-ra de u-ma mú-mia. Fal-ta-te o o-xi-gé-nio nos pul-mõ-es e su-fo-cas a-té fi-ca-res es-car-la-te. Os o-ssos des-fa-zem-se tri-tu-ra-dos em pó. Em to-do es-te pro-ce-sso na-tu-ral, em-bo-ra sem in-ter-ven-ção lar-var, tens a-pe-nas tem-po de pro-nun-ci-ar bal-bu-ci-an-do: Deveria ter aprendido a ler melhor e nunca ter embirrado com um mestre de nada que possa vir a ser a antítese de tudo. Ja-zes a-go-ra des-fei-to e já de-com-pos-to, e num úl-ti-mo es-ter-tor, co-mo uma de-rra-dei-ra des-car-ga e-lé-ctri-ca num can-ti-nho do teu cor-tex, a-pa-gas de vez pa-ra a e-ter-ni-da-de. E mo-rres mes-mo! A-men!
segunda-feira, julho 19, 2004
No Correio do Brasil de 15 de Julho, Paula Ribeiro escreve no seu editorial: ...O senhor que é o novo primeiro-ministro de Portugal, coitado, não é muito querido pelos colegas do partido dele. O novo lider dos socialistas ainda ninguém sabe quem é, mas aquele outro senhor, o do partido bem pequenino, ja tem quatro ministérios e não sei quantas secretarias de estado. Estes senhores que agora mandam em Portugal são muito risonhos, saem em muitas revistas, aparecem sempre na televisão e usam uns ternos (fatos) muito bem feitos. Tambem têm todos um problema com o barbeiro. Mas que importância tem isto se eles são os únicos que querem ficar quando todos os outros se foram embora?
quinta-feira, julho 15, 2004
E à laia de esclarecimento aqui vai:
FICHA TÉCNICA
e outros indícios
SULturas – Pasquim Regional de Incontinência Mental
Periodicidade: Imprevista
Editor: Nuno Elmano Assis Mota da Cruz (nesta publicação o editor é que manda)
Director: José da Procura Incessante de Tacho
Chefe de Redacção: António Andróide da Nação
Ausência de fotografia: Nikon Flash de Absinto
Publicidade: O próprio no local do carcanhol
Colaboraram neste número:
Mário Bacelar: Warm-Up, Um contributo...para nada, ideias conceptuais avulsas, jornaleiro no sotavento e motorista da redacção quando embriagada
Bruno Andrade (NAMELESS design): grafismo e artifícios afins
Distribuição: ao molho e como nos der na real gana
Tiragem: uma imensa carrada de exemplares
Propriedade: Nuno Elmano & Alma
Contactos: 967950063
sulturas@mindless.com
elmano@portugalmail.pt
Impressão: “Cá nos desenrascamos Limitada”
Registo I.C.S. Nº 120875
SULturas Light
Depois de um interregno pleno de fazer nada, o SULturas (Pasquim Regional de Incontinência Mental) volta à carga com uma nova designação light. O epíteto tem a dupla função de aligeirar o espírito da coisa e avacalhar, simultaneamente, a coisa-literatura com esse mesmo espírito. No preciso momento histórico em que qualquer palerma edita e lança livros, seria bom vê-los editarem agrafos na boca e lançarem-se de seguida ao mar, numa atitude vanguardista louvável. Não somos de rancores mas já basta o que basta. Com o intuito de repor no mundo o lugar de destaque da loucura, como forma de pensamento multifacetado e abrangente, o SULturas empenhar-se-á pela preservação do espírito crítico e pela frescura das ideias e dos ideais (caso ainda hajam por aí). Subverter, subverter, subverter. Sempre !
“DE PÉ, Ó VÍTIMAS DA ABSTINÊNCIA”
“DE PÉ, FAMÉLICOS DE LAVAGANTE”
terça-feira, julho 13, 2004
Vírgula
do único António Maria Lisboa
Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças - Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.
A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.
Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
- constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.
E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
- são da máxima importância as Velhas Concepções
pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.
Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade descontente
E abstraindo dos versos que neste poema se referem
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como frágil véu que nos separa vedados e proibidos.
segunda-feira, julho 12, 2004
Lembro-me perfeitamente de ler em parangonas descomunais, inscritas em paredes ainda mais evidentes - corriam os anos da revolução de Abril, a seguinte frase: “Vamos acabar com os ricos!” Presumo que tenham sido esses mesmos a retaliarem depois, inscrevendo em paredes contíguas: “Vamos acabar com os pobres!”
Volvidas quase três décadas, achamos que a questão deve começar a ser resolvida, pois o impasse mantém-se. Assim sendo, nós, pessoas de bem, que não pretendemos pertencer a qualquer um dos grupos atrás citados e que nos norteamos pela liberdade de ser o que se faz e ter o que se é, achamos que deveriam, os mesmos supracitados, começar a exterminarem-se mutua e rapidamente, de modo a permitirem, aos seres equilibrados e perfeitos, uma vida mais sã e uma existência plena. A vossa presença e os circuitos que criais, contaminam a possibilidade de uma sociedade melhor. Matem-se (ou mesmo, suicidem-se) a bem do progresso!
domingo, julho 11, 2004
sábado, julho 10, 2004
Era assim a alvorada do SULturas (pasquim regional). No milénio anterior.
EDITORIALISSIMAMENTE
Não canto, nem encanto. Incomodo ! A questão afinal trata-se apenas de definirmos a nossa ínfima posição no mundo em que temos de viver. A estupidez, a vil prepotência, a brutalidade, a violência gratuita ou com cheque visado, a boçalidade dos modernaços e o seu mau gosto, a hipocrisia, a mediocridade descontrolada, o abuso do poder (para não mencionar o sacana do poder em si, seja qual for a sua forma), a corrupção, o tudo-está-à-venda, o mete-bem-esta-merda-na-tola-senão-lixas-te, os conservadores da injustiça, os progressistas da alienação, a falta de convicções, a falta de sentido crítico, os obsoletos dirigentes em todas as frentes, a ganância desenfreada dos fedelhos-ignorantes-armados-em-sabichões, “Ó valha-me Deus que não vou ter espaço para descrever toda a merda”; são todas formas densas, insidiosas mas concretas, que constituem o espírito reles do nosso mundo cão. Contra este rol de grotescos seres e suas atitudes só há uma coisa a contrapor: SER LIVRE. A liberdade é uma substância não tóxica mas é extremamente incómoda para as almas mirradas. Um ser livre dispõe normalmente de uma alma incomensurável, facto que causa inveja aos apertadinhos de espírito. Contudo, e porque não somos rancorosos, gostaríamos de agradecer a todos os safardanas, pulhas, canalhas, salafrários, bisbórrias, sacanas, burgessos, biltres, vilões, ineptos por conta de outrem e mentecaptos por conta própria, filhos-da-puta e demais cães ou bandidos, o facto de nos darem matéria constante para prosseguirmos a saga da contestação, em nome de um mundo mais polido e feliz. Se V. Exas. não existissem, arriscávamo-nos a ter de pôr em prática a “Pátria de Anjos” do Joaquim Pessoa, o que, apesar de ser lindo, se tornaria num tédio medonho. Como sabemos que V. Exas. jamais estarão extintos, resta-nos continuar a incomodá-los com método. Muito agradecidos.
sexta-feira, julho 09, 2004
Varech
Eu estimo sobre tudo os teus olhos incolores
as tuas mãos inúteis, a tua boca verde
Eu falo somente dos relógios caídos, dos autocarros
Eu falo somente dos pés vermelhos
Eu falo... eu falo... eu falo...
No vigésimo século as nuvens são árvores
e os pássaros mais pequenos grandes paquidermes
Sim, é verdade, os cabelos loiros
Então, meia-noite!
Senhora, se me dá licença, este dia acabou
por este dia
simplesmente
A criança é porca, é inútil
Muito obrigado.
quarta-feira, julho 07, 2004
seguido de aterragem forçada em plena realidade
Estive, nos últimos dias, em processo de auto-exposição solar em praia recôndita com vista a retemperar a estrutura corpórea e concomitantemente esvaziar a alma de mágoas recentes e respectivos resquícios que uma ausência abrupta me provocou. Foda-se, apaixonar-me com esta idade. Pois agora só tenho de passar os fins de semana em Londres e em Outubro passar a visitá-la em Varsóvia. Haja juízo alma estarola! Mas o que é que vocês têm a ver com isto? Eu que nem costumo ser bufo dos meus assuntos do coração. Pois bem, estou de volta ao linguarejar que este ofício de bloguista nos impulsiona. De volta à Terra dei pelo facto de a pátria estar mais insuflada, de que gás não sei, sem no entanto ter estoirado com a combustão da vitória, mas também não ficando gaseada com a derrota. Ficou a grande questão helénica de nos vermos gregos no princípio e no fim. Pelo meio embandeirámos em arco e até parecíamos uma grande nação. Pena que agora voltemos às questiúnculas da política mirrada. Ah! Fosse o destino português todo ele uma bola de futebol e que o Sampaio soubesse dar uns toques. Mas não! Estamos somente de volta à tacanhez do nosso carrossel chamado “desejos, desventuras e desvarios de uma periferia”. Dom Barroso cansado de ser um suburbano europeu arrumou malas e acenou com o seu lenço branco à maralha, garantindo que doravante se falará mais português europa adentro. O que já não é pouco, pois não nos resta muito mais que esta latinice patenteada da língua portuguesa. Dom Santana terá todo o meu aval, se decretar a obrigatoriedade de existência de vastas e profícuas garrafeiras de vinhos tintos, de castas lusitanas, em todos os bares nocturnos e discotecas do país - A bem da Nação!
sábado, julho 03, 2004
Ser poeta é ser mais alto, é bater com os cornos no tecto...
É ter de mil desejos o esplendor, e ficar frustrado frente ao televisor!
É ter cá dentro um astro que flameja, e na estupidez circundante
ser só uma vela que almeja!
É ter garras e asas de condor, e levar chumbada da maralha agachada!
É ter fome, é ter sede de infinito, não ter cinco euros p’ró bitoque e
beber meio tinto na tasca do jacinto!
É condensar o mundo num só grito, e ficar roufenho vociferando
esse tamanho berro quejando!
E é amar-te assim, embriagadamente...
É seres corpo e sexo e sábado à noite em mim
E dizê-lo em karaoke a toda a gente!
em versão actualizada
Porque sei que você, caro utente turístico do Algarve, é um potencial boémio, e como tal um pouco despassarado, vou alertá~lo para o custo de uma diária de férias. Preste atenção e passe bem:
Sumo de laranja 2,00€
Tosta mista 2,00€
Café duplo 1,50€
Maço de Marlboro 2,35€
Jornal do dia 1,00€
Gasolina para as voltinhas 10,00€
Águas para o dia 2,00€
Parqueamento da viatura na praia 3,00€
Aluguer de toldo e "espreguiçadeira" 10,00€
Almoço na praia 15,00€
Gelado mais ou menos rasca 1,00€
Gin-tónico da tarde 3,50€
Cuba-livre de fim da tarde 4,00€
Jantar em tasca mediana 20,00€
Cigarrilhas 6,00€
Filha-da-puta da máquina de poker 25,00€
4 Vodkas num bar 20,00€
1 grama de coca (do Zimbabwe) 50,00€
4 Jamesons numa discoteca 32,00€
1 dormida condigna 50,00€
TOTAL------------------------------------------- 260,35€
N.B. -Não incluí o custo de uma queca avulso ou das despesas inerentes à obtenção da mesma através dos métodos de engate ortodoxos.
N.B.2 – É claro que, perante esta realidade orçamental, ainda há por aí alguns calhaus preocupados com o preço dos géneros no supermercado.
N.B.3 – De salientar que não referi a amálgama de artigos de higiene, de bom cheiro e etc., e os de manutenção, tais como guronsans e kompensans, bem como vestuário de última hora e outros afins, que apesar de supérfluos são duma utilidade imperiosa.
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