Os barcos que na ria
traçam rápidas vias
de espuma e o meu dia desafiam
saltam à luz que é musica
aumentando
até quase tornar
impossível abrir os olhos neste dia
que verdadeiramente não parece
meu como noutra idade eu o sentia
O sol dilata e faz subir o céu
desconhecidos
os corpos contra a água
verde e azul agora calma frente à casa
Nenhum barco
já passa há um
silêncio que só o diminuto
murmúrio da maré crescendo molha
Mas outros barcos vêm e recortam-se
velozmente na água que retalham
Gastão Cruz ( Faro 1941)