Imagem retirada deste blog http://movimentum-blogando.blogspot.com/ numa homenagem a Che Guevara
RE-partindo
Sei que contigo vão partir
memórias de um tempo partilhado,
dias breves que hoje são passado
e podiam no entanto ser porvir.
Sei que levas na bagagem a lembrança
dos olhos nimbados de tristeza
mas também o brilho da bonança
que alimenta a tua natureza.
Mas se partes, apenas uma parte
vai contigo rasgando o mar e o vento:
que outra parte de ti já se reparte
na minha memória e pensamento.
24 de Agosto de 2008
FERNANDO PEIXOTO
Teatro da Solidão
É difícil estar só, com tanta gente
Que ao nosso lado aumenta a solidão!
Saber que estar só é ser diferente,
É ser apenas um na multidão!
É difícil sentir que, de repente,
Somos menos que um átomo: um neutrão,
Um fogacho de luz, um comburente
Do cosmos gigantesco em combustão.
Difícil é saber qual o papel
Que vamos na Vida interpretar
Na plateia que iremos enfrentar.
Buscamos no outro a sua pele,
Assumimos de um outro a dimensão
Pra ser o que não somos: Ilusão!
Setembro – Funchal 2006
FERNANDO PEIXOTO
Memóriade de Um Soldado que Veio da Guerra
Regressei à minha terra
vindo de Alcácer-Kibir.
Trouxe a memória da guerra
nesta forma de sentir
a morte por todo o lado
uivando como um coiote.
Trago a memória da morte
no sonho despedaçado.
Trouxe a memória dos gritos
dos corpos semi-desfeitos,
trago a memória dos mitos
de orgulhos e preconceitos.
Trouxe nos olhos poentes
e horizontes esfumados
dos jovens ludibriados
por mentiras indecentes.
Trouxe comigo a derrota,
a mentira, a cobardia
e a miséria que suporta
um resquício de agonia.
Trouxe a mágoa reflectida
no rosto de uma mulher
que já não sabe o que quer:
— se quer a morte ou a vida.
Trago a saudade no peito,
trago uma esperança adiada,
trago esta forma sem jeito
de saudar a madrugada
no filho que irá nascer
e nos teus braços dormir,
no cravo que hás-de parir
quando a Paz reverdecer.
Não veio comigo o Rei.
Em Alcácer nunca o vi
e no tempo em que lutei
nunca ao meu lado o senti.
Estava longe, parece,
longe de mim, da Verdade.
Longe de mim, na Cidade
o Rei jaz morto e apodrece.
Vendo bem, não trouxe nada
do muito que então levei.
Trouxe a memória pesada
da vergonha que encontrei
e que regressa comigo:
— o povo que conheci
e contra o qual me bati
não era um povo inimigo!
FERNANDO PEIXOTO
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Fernando Peixoto, Mestre em História Moderna e Doutorado em História Contemporânea, dedicou a sua vida à História , ao Teatro e às Minorias Religiosas. Investigador da Fundação da Ciência e Tecnologia e do Gabinete de Estudos de História da Vitivinicultura Duriense (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), acabou recentemente o seu doutoramento. Dramaturgo e encenador, leccionava História do Teatro na Escola Superior Artística do Porto e na Escola Superior de Educação do Porto. Tem várias obras publicadas nos domínios da História e do Teatro, além de uma vasta colaboração em revistas científicas portuguesas e estrangeiras, abarcando áreas diversas das Ciências Humanas.
Até Sempre, Fernando!