Saturday, October 22, 2005
O que é a inteligência?
Esta pergunta tem surgido vérias vezes no meu pensamento nos últimos dias. Ao pensar nisso acedo a um estado de consciência exterior à razão humana (ou lá na periferia) em que observo todos os conceitos completamente forjados por humanos como vazios. Aquilo que, em senso-comum, entendemos por inteligência não é bem o mesmo que sentimos quando nos deparamos com uma manifestação de inteligência.
Eu sinto simplicidade e perfeição.
(É uma ideia bem geral de inteligência a ser adaptda em vários contextos.)
Metaforicamente, é como se montássemos bem um qualquer tipo de puzzle e não distinguíssemos o encaixe das peças.
E isso eu vejo em todo o lado, não só naquilo que a nossa espécie produz.
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Esta pergunta tem surgido vérias vezes no meu pensamento nos últimos dias. Ao pensar nisso acedo a um estado de consciência exterior à razão humana (ou lá na periferia) em que observo todos os conceitos completamente forjados por humanos como vazios. Aquilo que, em senso-comum, entendemos por inteligência não é bem o mesmo que sentimos quando nos deparamos com uma manifestação de inteligência.
Eu sinto simplicidade e perfeição.
(É uma ideia bem geral de inteligência a ser adaptda em vários contextos.)
Metaforicamente, é como se montássemos bem um qualquer tipo de puzzle e não distinguíssemos o encaixe das peças.
E isso eu vejo em todo o lado, não só naquilo que a nossa espécie produz.
swarm intelligence
Swarm significa enxame. E um enxame possui uma inteligência colectiva emergente que ultrapassa cada indivíduo na sua singularidade.
De manhã, à hora de ponta, seremos mais que insectos sociais?
Já observaram bem a vossa consciência (ou mente) na plataforma à espera do metro? Como pode uma mesma pessoa ser térmita no metro e mais logo estar num escritório a escrever uma tese de doutoramento sobre super-condutores? Somos seres esquisitos, com o interruptor 'térmita' e o interruptor 'sapiens sapiens', sempre a alternarem.
Aceitem o desafio de quebrar mais vezes o bando, se isso for sequer possível.
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Swarm significa enxame. E um enxame possui uma inteligência colectiva emergente que ultrapassa cada indivíduo na sua singularidade.
De manhã, à hora de ponta, seremos mais que insectos sociais?
Já observaram bem a vossa consciência (ou mente) na plataforma à espera do metro? Como pode uma mesma pessoa ser térmita no metro e mais logo estar num escritório a escrever uma tese de doutoramento sobre super-condutores? Somos seres esquisitos, com o interruptor 'térmita' e o interruptor 'sapiens sapiens', sempre a alternarem.
Aceitem o desafio de quebrar mais vezes o bando, se isso for sequer possível.
PS: caros leitores, a minha vida na capital está a impossibilitar uma frequência de 'postagem' muito maior que 1/semana. Não é só espaço no tempo, é espaço nas ideias.
Saturday, October 15, 2005
Auto-organização
Quem decide quando acaba um aplauso? Como é gerida uma multidão nesse momento? Porque decidem as pessoas parar de aplaudir a certa altura? O que as leva a fazerem-no?
Quem dirige um bando de aves? Quem decide por onde voam?
Nós, como tudo na Natureza, estamos sempre dependentes de feedbacks positivos ou negativos. Estamos constantemente à espera dos outros para agir; até alguém tomar alguma iniciativa e nos guiar para um lado qualquer e a seguir se esconder e outro, depois, pegar nessa direccção e fazer qualquer coisa dela e assim por diante.
Por isso é que cada um neste planeta tem uma palavra a dizer sobre o rumo de todos.
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Quem decide quando acaba um aplauso? Como é gerida uma multidão nesse momento? Porque decidem as pessoas parar de aplaudir a certa altura? O que as leva a fazerem-no?
Quem dirige um bando de aves? Quem decide por onde voam?
Nós, como tudo na Natureza, estamos sempre dependentes de feedbacks positivos ou negativos. Estamos constantemente à espera dos outros para agir; até alguém tomar alguma iniciativa e nos guiar para um lado qualquer e a seguir se esconder e outro, depois, pegar nessa direccção e fazer qualquer coisa dela e assim por diante.
Por isso é que cada um neste planeta tem uma palavra a dizer sobre o rumo de todos.
Sunday, October 09, 2005
Arte e cérebro (sorriso escondido)
O nosso cérebro lê a realidade de determinada maneira. Provavelmente essa maneira é menos perfeita do que a realidade em si mesma, mas isso é díficil de avaliar. Particularmente, a visão, um sentido bem nobre, é fácil de falsificar. As artes plásticas inconscientemente vêm brincando com a nossa percepção visual desde que existem, praticamente. Aliás, a arte em geral consiste na manipulação das nossas percepções levando-nos a determinados estados emocionais, consequentemente. Só agora começamos a conseguir explicar as partidas visuais de vários artistas (que os próprios também não sabiam explicar, claro).
O melhor exemplo disso é a Mona Lisa de Leonardo da Vinci. O seu sorriso enigmático intrigou a neurobióloga Margaret S. Livingstone, que desvendou a ilusão. Ela reparou que a Gioconda tinha um sorriso maior quando não se olhava directamente para ele. Enquanto que centrando a visão no seu sorriso ele se desvanecia um pouco. A chave para este fenómeno está nas diferenças entre a nossa visão central e a periférica. O nosso campo visual não tem todo a mesma definição. Se tentarmos ver qualquer coisa com o canto do nosso olho vêmo-lo bem desfocado. Enquanto que se depois centrarmos a visão nesse objecto notamos uma diferença muito grande. É como se a nossa visão central tivesse mais pixeis, logo, maior definição, e a visão perfiférica menos pixeis. DaVinci soube aproveitar este fenómeno para desenhar um sorriso que só quando meio desfocado se revela completamente, camuflando-se numa observação directa, pormenorizada. Quando, na sua investigação, Livingstone desfocou todo o quadro e olhou directamente para o sorriso ele, de facto, intensificava-se.
O mesmo fenómeno pode ser observado em quadros de técnica pontilhista. Se nos concentrarmos nos pontos podemos nem perceber bem o que estão representando. Se desviarmos um pouco o olhar revela-se uma composição bem mais clara.
Para explorar fenómenos visuais estranhos ir aqui (recomendo, por exemplo, a blind spot experiment).
Imagens: acima, a "Gioconda" de da Vinci; em baixo, "The Siene at La Grande Jatte" de Seurat
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O nosso cérebro lê a realidade de determinada maneira. Provavelmente essa maneira é menos perfeita do que a realidade em si mesma, mas isso é díficil de avaliar. Particularmente, a visão, um sentido bem nobre, é fácil de falsificar. As artes plásticas inconscientemente vêm brincando com a nossa percepção visual desde que existem, praticamente. Aliás, a arte em geral consiste na manipulação das nossas percepções levando-nos a determinados estados emocionais, consequentemente. Só agora começamos a conseguir explicar as partidas visuais de vários artistas (que os próprios também não sabiam explicar, claro).
O melhor exemplo disso é a Mona Lisa de Leonardo da Vinci. O seu sorriso enigmático intrigou a neurobióloga Margaret S. Livingstone, que desvendou a ilusão. Ela reparou que a Gioconda tinha um sorriso maior quando não se olhava directamente para ele. Enquanto que centrando a visão no seu sorriso ele se desvanecia um pouco. A chave para este fenómeno está nas diferenças entre a nossa visão central e a periférica. O nosso campo visual não tem todo a mesma definição. Se tentarmos ver qualquer coisa com o canto do nosso olho vêmo-lo bem desfocado. Enquanto que se depois centrarmos a visão nesse objecto notamos uma diferença muito grande. É como se a nossa visão central tivesse mais pixeis, logo, maior definição, e a visão perfiférica menos pixeis. DaVinci soube aproveitar este fenómeno para desenhar um sorriso que só quando meio desfocado se revela completamente, camuflando-se numa observação directa, pormenorizada. Quando, na sua investigação, Livingstone desfocou todo o quadro e olhou directamente para o sorriso ele, de facto, intensificava-se.
O mesmo fenómeno pode ser observado em quadros de técnica pontilhista. Se nos concentrarmos nos pontos podemos nem perceber bem o que estão representando. Se desviarmos um pouco o olhar revela-se uma composição bem mais clara.
Para explorar fenómenos visuais estranhos ir aqui (recomendo, por exemplo, a blind spot experiment).
Imagens: acima, a "Gioconda" de da Vinci; em baixo, "The Siene at La Grande Jatte" de Seurat
Sunday, October 02, 2005
Cidade (na noosfera a partir de Lisboa)
"Era uma cidade de que não me lembro e era na cidade um quarto e era no quarto a noite toda.
É na cidade que existe que existe a cidade que não existe. É na cidade que não existe que nós existimos e nos encontramos porque só nos encontramos não na realidade que temos sim na que acreditamos porque não somos senão ficção uma miragem na cidade habitada.
Uma cidade é feita da substância de que são feitas as histórias. E é a cidade, no seu enredo de acasos e destino, que cria as suas ficções como se secretamente sussurrasse as histórias dos seus habitantes por entre as ruas onde eles se cruzam.
Um dia deixou de habitar a cidade e passou a ser passageiro dela.
Passava pela cidade como pelo trailer de um filme nunca realizado.
O único roteiro fiel a uma cidade é o acaso."
Excertos dum texto de Nuno Artur Silva.
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"Era uma cidade de que não me lembro e era na cidade um quarto e era no quarto a noite toda.
É na cidade que existe que existe a cidade que não existe. É na cidade que não existe que nós existimos e nos encontramos porque só nos encontramos não na realidade que temos sim na que acreditamos porque não somos senão ficção uma miragem na cidade habitada.
Uma cidade é feita da substância de que são feitas as histórias. E é a cidade, no seu enredo de acasos e destino, que cria as suas ficções como se secretamente sussurrasse as histórias dos seus habitantes por entre as ruas onde eles se cruzam.
Um dia deixou de habitar a cidade e passou a ser passageiro dela.
Passava pela cidade como pelo trailer de um filme nunca realizado.
O único roteiro fiel a uma cidade é o acaso."
Excertos dum texto de Nuno Artur Silva.