novembro 25, 2010

Teoria de Grafos

A rede social determina os seus individuos e enreda-os, sob pena de isolamento e evaporação, num comportamento dito normal. Quanto maior for o grau de ligação aos outros, quantas mais dependências se formarem, menor a mobilidade, menor a escolha de opções 'perigosas' ou, salientando a definição, associais. Ao cortar laços, ao aumentar a distância invisível porque implícita aos outros, aumenta a possibilidade dessa rede, também ela um sistema imunitário, reagir de forma violenta, exilando, emprisionando, ridiculizando quem assim se afasta (é dificil controlar alguém descomprometido). Por isso, o subtil de cada passo, a necessidade de silêncio -- e com quem conversar, uma vez tomada a via? -- a vigilância. Também neste lado da fronteira, Spleen considera que não se pode largar o irredutível mínimo do medo, a parte útil, o alarme biológico que nos relembra que estamos sozinhos. Talvez o medo seja um preço da consciência, talvez mesmo um preço da vida, e como saber sem dar esse último passo irreversível? Queimar o pânico, de perder tudo, todos, de obliterar aquilo que não somos, o assassino que nos deixa imóveis. Depois, o segundo passo.

novembro 22, 2010

Compromisso

Dentro de nós vivem multidões e consensos. A diversidade é tanta, desde os biliões de células neuronais até aos sistemas mentais que constróem a ilusão do eu, que apenas um certo grau de abstracção ou indiferença permite a narrativa que somos seres indivisos. Mas não nos devemos esquecer que o corpo age, muitas vezes, contra o eu que encerra. A repulsão, o pânico, o contágio das multidões (o bocejo), podem ser impossíveis de controlar mesmo por uma mente experiente, inteligente, habituada a bem usar a razão e as emoções em situações mais normais. A mente que me define controla este animal que socialmente me identifica. Mas é uma situação que exige um esforço constante. Por isso os automatismos, talvez até o sono. Por isso, também, a dissolução no descontrolo.

novembro 13, 2010

Pendor

«We don't start out with a moral duty to "reduce bias", because biases are bad and evil and Just Not Done. This is the sort of thinking someone might end up with if they acquired a deontological duty of "rationality" by social osmosis, which leads to people trying to execute techniques without appreciating the reason for them. [...] Rather, we want to get to the truth, for whatever reason, and we find various obstacles getting in the way of our goal. These obstacles are not wholly dissimilar to each other - for example, there are obstacles that have to do with not having enough computing power available, or information being expensive. It so happens that a large group of obstacles seem to have a certain character in common - to cluster in a region of obstacle-to-truth space - and this cluster has been labeled "biases".» Eliezer Yudkowsky, Less Wrong

novembro 02, 2010

Constituição

O cérebro não evoluiu para efectuar qualquer tipo específico de pensamento. Este orgão não é excepção na regra que a selecção natural não tem um determinado fim à vista. As mentes e as culturas humanas originaram-se a partir das restrições e capacidades cognitivas do cérebro humano mas isso não significa que estamos irremediavelmente reféns dessas limitações. Há hoje já demasiada evidência para a irracionalidade da mente humana e da nossa capacidade sub-óptima de tomar decisões com a informação disponível [1, 2, 3]. Mas temos ferramentas para lidar com este problema, como a matemática, a lógica, a ciência ou a filosofia, que nos permitem acumular e aperfeiçoar conhecimento ao longo de gerações, criando, mantendo e melhorando conceitos abstractos, teorias e modelos, ou instrumentos tecnológicos que minimizam a falibilidade dos nossos sentidos e do nosso raciocínio. Se seguirmos certos protocolos de acção, se mantivermos uma dúvida sistemática, se controlarmos os nossos preconceitos, podemos avançar mais longe e com a liberdade possível na descoberta do mundo. Se aplicarmos, em resumo, uma das muitas faces do que se designa por método científico, estaremos mais preparados para descobrir, lidar e corrigir o erro que está e sempre esteve ligado ao ser pessoa. Nesse aspecto, o método científico é a constituição não escrita da razão humana.